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Episódio 32

Três Divãs
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151 Plays3 months ago

Luís Serra Santos, designer gráfico, motion designer e poeta.

Disco: The Doors - The Doors

https://open.spotify.com/album/1jWmEhn3ggaL6isoyLfwBn?si=5zYEYELAS6WIinwFg_Mq2g



Transcript

Introdução ao podcast 'Três Divãs'

00:00:10
Speaker
Três Divãs, a psicanálise, o mundo e o rock'n'roll.
00:00:22
Speaker
Passaram 30 minutos desde que me sentei para escrever e ainda me pergunto como é que estou sem palavras para a introdução deste disco.
00:00:32
Speaker
Ouço e as memórias são tão ávidas que fico no campo sensitivo.
00:00:38
Speaker
Tantas vezes desejei ser a Pamela, a do Bob e a do Jim.
00:00:43
Speaker
Ao Bob dava beijinhos por toda a casa.
00:00:48
Speaker
Ao Jim, bom, do Jim queria tudo e o querer era tanto que o êxtase contraditoriamente me sossegava.

Natureza transitória da música e memórias

00:00:59
Speaker
Alguém me dizia no outro dia que o orgasmo é a única angústia finita.
00:01:05
Speaker
É verdade, quando a música acabar, acenda a luz, dizia ele também.
00:01:12
Speaker
Inconsciente e desejo, o princípio e o fim.
00:01:17
Speaker
E um cato sem picos, com o líquido da queda para dentro em forma de alucinação.
00:01:24
Speaker
Não foram convidados para o Woodstock e não memória destes anos que não os toque.
00:01:30
Speaker
Talvez as palavras me saiam quando iniciarmos a nossa conversa, porque agora mesmo continuo a ter a grande vontade de que esta sensação pubertária nunca desapareça.
00:01:44
Speaker
O que sentia quando chegava ao meu bar favorito e eles saíam das colunas é igual ao que sentia quando os imaginava a entrar no decine, que também é igual ao que sentia quando imaginava o andar das suas calças de cabedal.

Introdução de Luis Serra Santos e o álbum dos Doors

00:02:01
Speaker
O Oxley, o Brecht, o Édipo e a Nico, todos a inspirar.
00:02:08
Speaker
E o Rei, Rei Manzarek, o Rei que é Rei e também consegue que esta sensação se perpetua até ao infinito chamado incógnito.
00:02:20
Speaker
O primeiro disco dos Dors, de nome de Dors, é o escolhido pelo Luís Serra Santos, o nosso convidado do Três Divãs, hoje gravado no lugar onde eu e a Patrícia Câmara fechamos todas as portas para que a ressonância fique dentro.
00:02:36
Speaker
Olá Luís, sejas bem-vindo Olá Ana Tereza, olá Patrícia Muito obrigado Estou um bocadinho sem palavras, mas sim, mas vamos Porquê que estás sem palavras Luís?
00:02:49
Speaker
Porque eu tenho ouvido os teus podcasts e convido as pessoas fantásticas E ainda não percebo porque é que me convidaste a mim, mas pronto, mas estou Tu não te achas fantástico?
00:03:03
Speaker
Não tenho essa ideia de mim, mas pelo menos, quer dizer, eu consigo fazer algum autoelogio, mas não sou conhecido, não sou uma pessoa conhecida, mas pronto.
00:03:12
Speaker
Por quem é que tu não és conhecida?
00:03:14
Speaker
Agora está a ver a análise, agora é mesmo.
00:03:17
Speaker
É que ele está a entrar em... Sim, porquê é que tu não és conhecida?
00:03:21
Speaker
Tu tens convidado atores, tens convidado músicos, pessoas que qualquer um conhece, que os meus pais conhecem, sei lá, que a minha filha conhece.
00:03:31
Speaker
que a maioria das pessoas conhecem, a maioria das pessoas não me conhece a mim.
00:03:35
Speaker
As pessoas não te conhecem Mas o nosso podcast não se faz de pessoas conhecidas E por isso é que eu vim Porque gosto muito de vocês E gosto muito E temos sempre boas conversas Pronto, isso é ótimo E acho muito bem Agora, o que eu acho que é interessante Que tu não sabes Porque para além de estares aqui Porque eu acho que és uma pessoa Que de facto tem imensas qualidades E com quem eu gosto muito de conversar
00:04:05
Speaker
Tu estás aqui também porque há uma particularidade neste podcast que é a diversidade daquilo que as pessoas fazem.

Carreira e paixões de Luis

00:04:11
Speaker
Pá, Luís, e tu vais-te apresentar e tu vais ter que explicar um bocadinho às pessoas porque há imensa gente que me pergunta mas o que é que ele faz?
00:04:17
Speaker
Exato.
00:04:19
Speaker
E eu quero que tu expliques o que é que é o teu trabalho, o que é que tu normalmente fazes no teu dia-a-dia.
00:04:24
Speaker
Mas pronto.
00:04:25
Speaker
Apresenta-te como tu gostas e como tu pensaste e vamos daqui se tu quiseres.
00:04:30
Speaker
Diz-me.
00:04:31
Speaker
Ora bem, eu ganho a vida, eu meto o pau na mesa tanto a fazer design gráfico e produção de vídeo ou pós-produção de vídeo.
00:04:39
Speaker
A produção de vídeo é diferente.
00:04:42
Speaker
Faço, componho imagens, faço design gráfico e pronto, e é assim que eu ganho a vida.
00:04:49
Speaker
Vá, digamos, na área da imagem.
00:04:52
Speaker
O curioso, aquilo que eu mais gosto de fazer está ligado à escrita, à poesia, mas não a poesia.
00:04:59
Speaker
Tem textos, tenho contos infantis, tenho pequenos romances, tenho pequenos guiões e gosto muito de poesia.
00:05:08
Speaker
Se bem que a poesia é uma coisa que sai voluntariamente, um romance ou um conto são coisas que se calhar eu me sento e escrevo de propósito e até também textos cómicos.
00:05:23
Speaker
A música, que é algo que eu não tenho absolutamente de jeito nenhum, mas está no meu ranking pessoal de artes, está em primeiro lugar.
00:05:34
Speaker
Em segundo, que é o que mais comunica comigo, em segundo virá a escrita, literatura, poesia...
00:05:42
Speaker
E em terceiro lugar é que vem a parte visual, imagem, seja pinturas, seja design gráfico, ou seja, eu trabalho no terceiro ranking, se bem que design não é bem uma arte, há essa discussão se design é arte ou não é, mas pronto, eu trabalho no terceiro ranking, no meu terceiro ranking pessoal de arte.
00:06:07
Speaker
Mas sim, mas sempre estive muito ligado a artes E é assim que me descrevo um bocadinho Eu preciso disso Sim Ó Luís Como é que foste parar aí?
00:06:23
Speaker
Por isso mesmo Por perceber que Estás a trabalhar no terceiro Como é que foste parar aí?
00:06:29
Speaker
Imagina porque Estás a ver se são três divãs Ela diz uma coisa desta, estás a trabalhar no terceiro
00:06:35
Speaker
Exato, exato.
00:06:37
Speaker
Bom, está.
00:06:38
Speaker
É arte, tens razão.
00:06:40
Speaker
Mas o mais curioso é que eu acho que com 18 anos ou 17 somos muito novos para escolher uma área e imagina, se calhar não sabes isto de mim, eu fui para a engenharia, ou seja, não tem nada a ver com isto, eu fui para o técnico
00:06:55
Speaker
Não, eu sabia que tu tinhas ido para o técnico.
00:06:56
Speaker
Eu fui para o técnico e estive sete anos, porque chumbei dois, o técnico não é fácil, e no quinto ano desisti.
00:07:06
Speaker
Pronto, e fui e dediquei-me então a esta área de design gráfico e de vídeo.
00:07:13
Speaker
Isso é que eu não sabia, que tu tinhas assistido no quinto ano Não, eu não acabei o curso Engenharia de quê?
00:07:18
Speaker
Engenharia e Gestão Industrial, sim, inaugurei esse curso É sério?
00:07:23
Speaker
É sério, em 91, 92, sim, eu fui pioneiro nesse curso Aparece-me também dos cursos, espera aí, eu estava a ver a lista dos cursos de Engenharia Este parece-me o mais fácil, e eu fui para esse
00:07:36
Speaker
Porque os meus amigos iam todos para a Engenharia.
00:07:39
Speaker
Eu andei num colégio interno, daí também vem este álbum, e falamos nisso, e antigamente havia a área A, a área B, a área A era saúde, a área B era a área técnica, a área de engenharias, e o colégio só tinha a área A e B. C era Economia, D era Direito... Humanidades, Direito, Exato.
00:08:04
Speaker
E era as artes núcleos, não havia isso E eu como fiquei até ao fim Pronto, segui a área B Imagina, vou para a área B, área técnica e acabo Portanto em design gráfico e em produção de vídeo Sim
00:08:21
Speaker
Pois é, muitas voltas dá a vida, não é?
00:08:24
Speaker
Então eu diz-me uma coisa, tu estavas a dizer que consegues produzir algum autoelogio, então vamos lá, que pessoa és tu, Luís Serra Santos?
00:08:40
Speaker
Olha, não sei se eu te consigo responder a isso, é mais fácil, olha, que tu conheces um bocadinho, é mais fácil dizeres.
00:08:49
Speaker
Mas dizia, como é que dizia a nossa colega Tânia, que por acaso vem-te connosco, mas ainda não está aí, que ela dizia que o filho lhe perguntava, oh mãe, quem sou eu?
00:09:00
Speaker
Eu, oh filho, nem eu sei.
00:09:02
Speaker
Exato.
00:09:04
Speaker
Tens tempo de... Mas o auto-elogio, eu prefiro os elogios dos outros.
00:09:10
Speaker
Claro, mas eu também não estou pedindo necessariamente o teu elogio.
00:09:13
Speaker
Mas tu consegues dizer assim, dizer só, o que é que tu és?
00:09:18
Speaker
Que pessoa é que tu és?
00:09:22
Speaker
Ana Teresa, olha, é assim, não sei, não te consigo responder a isso Mas isso é uma resposta brilhante e vai ao encontro do álbum Mas espera aí, espera Deixa-se a folga
00:09:35
Speaker
que é uma resposta existencialista fenomenológica.
00:09:38
Speaker
Eu sou aventureiro, e eu meti-me agora numa aventura, eu com 54 anos, com 8 anos numa empresa onde eu gostei muito de estar, é Digital Azul agora, uma portora de vídeo, e passa aqui esta pequena publicidade.
00:09:56
Speaker
Admiti-me porque, ou admiti-me, ou chegámos a acordo, porque eu tenho que fazer as minhas coisas.
00:10:04
Speaker
E têm-me dito, até a tua amiga Suzana aqui, é preciso muita coragem, falámos ali um bocadinho em baixo e várias pessoas me disseram, é preciso muita coragem aos 54 anos.
00:10:16
Speaker
Sim, e admiti-me porque...
00:10:20
Speaker
Eu trabalho bem, mas custa muito trabalhar e canso-me.
00:10:27
Speaker
E trabalhando 8 horas numa empresa, ou 7 horas, ou aquilo que for,
00:10:35
Speaker
Não me deixa tempo para fazer o resto que eu quero, que é coisas ligadas à escrita.
00:10:42
Speaker
Eu tenho cinco livros de poesia e não tenho nenhum fora ainda.
00:10:49
Speaker
Pronto, agora quero ver se finalmente em novembro se lança um livro.
00:10:53
Speaker
Portanto, o primeiro e depois começar daí em diante.
00:10:57
Speaker
E também ganhar algum nome.
00:10:59
Speaker
Porque ganhando o nome é mais fácil As coisas encadeiam-se todas Tenho contos infantis, tenho bandas desenhadas Tenho textos cómicos E eu acho que também vai ser mais fácil daí Lançar-me numa área mais profissional a nível de escrita Sim
00:11:20
Speaker
E na poesia não existe isso, não o profissional, não cursos de poesia, pode haver workshops ou escrita criativa, mas a poesia, como diria o Agostinho da Silva, somos todos poetas, nascemos poetas,
00:11:40
Speaker
uns que escrevem e outros que não escrevem Mas eu penso que está ao critério de cada um Sentar-se e deixar as ideias rolar Muito bem Então, vamos lá, e porquê este disco?

Impacto da música dos Doors na vida de Luis

00:11:59
Speaker
Tu escolheste um disco maravilhoso, não é?
00:12:01
Speaker
O primeiro disco dos Doors, que se chama The Doors Porquê que tu escolheste os Doors?
00:12:08
Speaker
Eu nem tenho ouvido muito Dorse, atualmente, sempre que eu se gosto, sempre que à noite passa uma música dos Dorse, imagina, estamos no Incógnito, no Jamaica, Roterdão, e passa uma música para a Clark Danso,
00:12:23
Speaker
Não ouço atualmente muito em casa.
00:12:26
Speaker
Este disco marcou-me imenso.
00:12:30
Speaker
Eu fui ver a data deste disco.
00:12:32
Speaker
Este álbum lançaram em 67.
00:12:33
Speaker
Eu penso que ouvi este disco em 87, 20 anos depois.
00:12:45
Speaker
E para mim foi um marco.
00:12:46
Speaker
Eu estava no décimo ano, tinha 16 anos.
00:12:49
Speaker
Estava no colégio militar.
00:12:53
Speaker
E no décimo ano, para compreender uma coisa, o colégio militar divide-se em quatro companhias.
00:12:59
Speaker
Os mais novos, os... pronto, e até... A quarta companhia é a dos mais velhos, é o décimo e décimo primeiro ano.
00:13:06
Speaker
E quando chegamos à quarta, nós chamamos a quarta, nós somos uns senhores.
00:13:13
Speaker
não horas de ir para a cama, podemos fumar, claro, os oficiais que não vejam, mas os oficiais também fechavam os olhos, mas somos uns senhores.
00:13:23
Speaker
É quase como se fôssemos donos de nós mesmos Eu até aí, até ao décimo ano, ouvia da música Sempre gostei da música, mas ouvia o que?
00:13:33
Speaker
Ouvia o toque mais Lembras-te daquele programa que havia?
00:13:36
Speaker
Sim, sim, sim Para sei lá, o Final Countdown e... Final Countdown, sim, sim, sim I just called to say I love you do Stevie Wonder, que é maravilhoso
00:13:44
Speaker
Mas o que é que acontece?
00:13:45
Speaker
Eu tinha um colega no colégio militar que é o Carlos Geraltes Que era... Epá, é das pessoas com mais estilo que eu conheci na minha vida É uma mistura do Sidney Poitier com o Paul Newman, imagina?
00:13:59
Speaker
Sim, sim Giríssimo Tu nunca o conheceste?
00:14:02
Speaker
Epá, não, era um... Era giríssimo, um gajo com pinta, com estilo E era um gajo que estava à frente na música E era um tipo bom E...
00:14:13
Speaker
E deu-me a conhecer, de repente, na quarta companhia, chegava a camarada e de repente conheci Sex Pistols, conheci Joy Division, conheci Dorse, conheci o Kyura e conheci uma série de bandas que realmente mudaram algum tipo de paradigma em mim.
00:14:41
Speaker
E a banda com que eu mais me identifiquei naquela altura foram os Dorsey E a figura do Jim Morrison E eu adorava E aliás, e deste álbum talvez a minha música preferida Mas é um álbum todo bom Talvez seja o Diande Tem ali, não sei o Diande, tem um carisma especial É o fim, mas acho que também ali um grande início E para mim foi um início
00:15:11
Speaker
E foi o início de uma forma de ver a vida E este álbum teve muita importância para mim E depois vieram outros Mas este álbum, se eu tiver que eleger um álbum que me marcou Foi este E quando tu dizes que mudou um paradigma antigo Que paradigma é esse?
00:15:34
Speaker
Eu passei a ver a vida com outros olhos Uhum
00:15:38
Speaker
e passei a fazer mais questões, a questionar mais coisas e não comecei... Portanto, a minha relação com a escrita começou muito tarde.
00:15:52
Speaker
Começou com 35 anos, imagina.
00:15:55
Speaker
Portanto, eu naquela altura não pensava sequer escrever ou sequer ficar ligado à imagem digital.
00:16:03
Speaker
Eu não sabia muito bem o que eu queria.
00:16:05
Speaker
Mas agora, despertou-me foi para uma certa rebeldia, eu acho que uma certa revolução.
00:16:12
Speaker
Todas estas bandas, no fundo, são um bocadinho... Falam sobre revolução, uma revolução de ideias.
00:16:21
Speaker
Não é?
00:16:21
Speaker
Joy Division, Doors, Sex Pistols, são os Ramones.
00:16:29
Speaker
E foi tudo de repente, graças a esse meu amigo...
00:16:33
Speaker
E acho que ganhei estilo, como diz o Bukowski Às vezes as pessoas dão muito estilo Acho que é verdade E eu ganhei muito estilo à conta do Carlos Geraltos Se me estás a ouvir, um grande abraço
00:16:46
Speaker
Isso é verdade É verdade e tu tens imenso estilo Obrigado Se formos dançar com o Lichard Santos Estamos a dançar com o Jäger quase É muito engraçado Olha como naquele dia em que tivemos com os Beach Boys É verdade Que história é essa O The End Falaste no The End Que é a canção que tu apontas Como tua favorita
00:17:12
Speaker
Mas antes de irmos ao The End, eu e a Patrícia também queremos falar aqui um bocadinho do disco, não é?

Atmosfera introspectiva da música dos Doors

00:17:20
Speaker
Patrícia, porquê é que tu não queres falar do disco?
00:17:23
Speaker
E eu estou adiando, é para fazer o princípio, não era?
00:17:26
Speaker
Queres começar por aí?
00:17:27
Speaker
Então vá, então mas que Deus... Do Luís que me faz muito sentido.
00:17:30
Speaker
Então vá.
00:17:31
Speaker
Força.
00:17:31
Speaker
Não, mas começa, então.
00:17:33
Speaker
Não, o que eu estava a usar é aquilo que o Luís disse, que eu acho que se sente no álbum todo, eu também tenho essa... Está a pensar na atmosfera noturna, não é?
00:17:40
Speaker
Que a mim me... Para que me convoca sempre este álbum, por todos os motivos e mais, alguns pelo rockline, pelo hook, e não...
00:17:47
Speaker
Para o sítio de novo e pela primeira vez, acho.
00:17:50
Speaker
Mas também para a atmosfera noturna do próprio disco.
00:17:52
Speaker
Mas neste noturno de despertar, sem querer ir ao básico, mas de porta, de alguma maneira, deste sítio que se abre de infinito, sempre presente.
00:18:01
Speaker
E sabes que eu pensei, quando era para escolher a música, também pensei, fiquei presa no diante.
00:18:08
Speaker
E lá, eu não posso dizer ainda qual é que é a minha, não é, na trécia?
00:18:11
Speaker
Não é porque eu fiz a volta para aquela que é a mais curta tu Do diante foi, que é a mais curta Mas que eu acho que também é a porta do infinito Que é a dos olhos, como é que se chama?
00:18:20
Speaker
Não sei Não quer dizer mal
00:18:25
Speaker
Olha, isto é o cansaço, desculpe, devia ter aqui.
00:18:28
Speaker
O que nem se quer, eu tenho aqui o disco aberto, quer dizer.
00:18:30
Speaker
Não faz mal, assim também fica bem porque fazemos esta coisa assim.
00:18:34
Speaker
I look at you.
00:18:35
Speaker
I look at you.
00:18:37
Speaker
É que tu gostas mais.
00:18:39
Speaker
Não sei se é que eu gosto mais, mas eu acho que o que gosto mais é o diante.
00:18:42
Speaker
Mas depois, quando olhei outra vez para o álbum, pensei, espera lá, mas esta chamou-me, chamou-me também pelo momento atual.
00:18:47
Speaker
mas a minha ideia ou o que fica dentro de mim é ecoar é mesmo isso eu também sinto isso, como se houvesse qualquer coisa de paradigma que se transforma, que muda e que abre porta para um infinito qualquer da possibilidade de poder esvaguear também por esse lugar num lugar onde as coisas podem ser outras, pelo menos é esta sensação que eu tenho sempre portanto está, não acaba pelo contrário é a possibilidade de nada acabar
00:19:11
Speaker
Quando se abre a porta, para dizer, usando agora a brincadeira do terceiro que tu dizias bocado, da terceira escolha, quando chegas à quarta, quando se chega a esse lugar, passando essa porta, realmente as coisas ficam acessíveis de uma outra forma, muito mais dentro do simbolismo dessa relação que depois vai se estabelecendo ao longo da vida com aquilo que vai fazendo o mesmo sentido, até encontrar esse lugar de escrita, que eu acho que é fantástica aos 35.
00:19:35
Speaker
aos 35, imagina.
00:19:37
Speaker
A atmosfera vai se criando de outros, não é?
00:19:39
Speaker
Mas gostavam muito de ler sempre, mas a escrita surgiu depois, sim.
00:19:44
Speaker
Mas eu estava aqui a ouvir e estava a pensar, porque ainda bocado um amigo também me disse a propósito deste disco, e vai parar agora o que o Serra Santos estava a dizer, ou o que o Luís Serra Santos estava a dizer, porque estas duas coisas que vocês estavam a dizer é que, de facto, este disco mostra também que não se escreve, que os caminhos não são escritos sempre na mesma direção, não é?
00:20:05
Speaker
E é isso Agora, eu acho que é quase impossível Não Não gostarmos Todos do The End Embora eu acho que isto está cheio Ditos dos Doors, não é?
00:20:20
Speaker
Eu acho que A minha canção favorita dos Doors não está aqui É o LA Woman É mesmo a minha favorita Agora, quer dizer É a minha favorita, mas quer dizer Porque desperta outras coisas em mim Mas passei
00:20:34
Speaker
Horas a ouvir o The End em repeat, não é?
00:20:36
Speaker
Como passei... Até mesmo o Light My Fire... Está nos estrangeiros ou não?
00:20:41
Speaker
O Light My Fire... Epá, eu não me lembro.
00:20:43
Speaker
Sim, não interessa.
00:20:44
Speaker
Eu tinha que ver aqui porque eu não me lembro.
00:20:46
Speaker
Mas eu também não ouço muito este álbum.
00:20:48
Speaker
Ouço mais o LA Human, que até tenho em vinil, e o Morrison Hotel.
00:20:52
Speaker
Não tenho este álbum em vinil.
00:20:54
Speaker
Mas ouço mais o LA Human do que este álbum... Se eu for ouvidor-se, que nem tenho ouvido muito, ouço mais o LA Human...
00:21:01
Speaker
Para mim a canção, o Elle A Woman é perfeita, em termos de rock and roll, coisa entre o blues, o que tem blues, como é óbvio, mas para mim é a melhor canção de rock and roll, é o Elle A Woman e gosto de, e ouço imensas vezes e se passasse um passo e é espetacular.
00:21:24
Speaker
Agora, tu falaste aí numa coisa que eu acho que é importantíssima, Luís, e eu acho que é bom pegar nela, pá, que foi as horas de trabalho diárias, o movimento que o Luís faz, de não se pode trabalhar tanto e eu tenho que ir fazer mesmo aquilo que gosto.
00:21:44
Speaker
E eu acho que é uma coisa que podíamos tocar aqui Não, Patrícia, embora se calhar te apeteça a dizer A Patrícia está-me a fazer uma cara, tipo, como é que ela este salto?
00:21:56
Speaker
Mas nós estamos em associação livre, certo?
00:21:58
Speaker
Nós estamos aqui no 3 de Ivãs E nós podemos pegar isto logo a seguir Porque tu podes querer dizer alguma coisa Antes disto, é porque eu acho que era importante Falar no excesso de trabalho É, mas esta, eu estava a pensar na última No último
00:22:12
Speaker
Do the end?
00:22:13
Speaker
Sim, ajudem-me nos últimos versos.
00:22:15
Speaker
Na última estrofe, na última frase, na última sim.
00:22:18
Speaker
Está um bocadinho, não é a resposta, mas não quer fechar.
00:22:21
Speaker
Mas está um bocadinho isto que tu exemplificas na tua própria vida, não é?
00:22:26
Speaker
It hurts to set you free, but you'll never follow me.
00:22:31
Speaker
Não é?
00:22:31
Speaker
No fundo também é este lugar de alteridade que tu consegues nesta passagem, que é esta possibilidade, não é?
00:22:37
Speaker
uma parte de libertação, eu acho que tem muito a ver com isto, não é?
00:22:39
Speaker
Com as amarras das coisas que tu sentes que são os teus lugares de percebido a conforto, não é?
00:22:45
Speaker
E como é que, de que maneira, aqueles podem ser... Não queria dizer ultrapassados, porque eu acho que não é ultrapassados.
00:22:52
Speaker
É outro lugar.
00:22:52
Speaker
Olha, pode ser elaborados, não é?
00:22:54
Speaker
Mas é transgredidos.
00:22:55
Speaker
Mais no sentido de...
00:22:58
Speaker
de membrana, pronto, de passar por dentro.
00:23:01
Speaker
Transformá-los noutros.
00:23:03
Speaker
Eu não estou nada... Isso passou um mês, não é?
00:23:05
Speaker
Eu não estou nada arrependido com esta minha opção e acho que eu não me vou arrepender.

Mudanças na carreira e foco na escrita de Luis

00:23:10
Speaker
Atenção, eu tenho alguma confiança em mim em termos de design gráfico e composição de imagem.
00:23:16
Speaker
Tenho... Sei aqui... E, aliás, e dei durante muito tempo, dei aulas.
00:23:20
Speaker
Portanto, eu sei a série deste, disto.
00:23:24
Speaker
e o design gráfico é daquelas áreas e pós-produção de vídeo, motion design que com alguma facilidade se encaixam, não é tanto como um arquiteto, um arquiteto é complicado, estamos a falar de uma casa, estamos a falar já de uma coisa, o design gráfico muito ele apoia-se em pequenas peças
00:23:46
Speaker
que podem ser feitas com pequenas avenças ou trabalhos à peça ou até voltar, portanto um trabalho a tempo inteiro nisto, mas não era uma coisa que eu queria, mas é uma hipótese.
00:24:00
Speaker
Mas por isso é que eu não estou com muito receio deste passo que eu fiz, mas quero mesmo agora dedicar-me à escrita.
00:24:09
Speaker
o receio era não, eu há um bocado depois não li o resto do verso, porque este é que era este é que é esse lugar, the end of nights we try to die não é?
00:24:19
Speaker
sim, sim, sim chega, não é?
00:24:22
Speaker
chega qual é este outro lugar onde é possível chegar quando se faz este movimento
00:24:29
Speaker
Concordo, acho que defino bem O D&D, essa música tocou-me logo imenso, achei uma coisa Gosto do álbum todo, o Soul Kitchen, o Bury Control, é tudo fantástico Aliás, como é que é possível um álbum ser tão bom do principal filmes
00:24:53
Speaker
mas também são todos os dos The Doors são todos bons e músicos que não conseguem conseguem uma música boa num álbum e eles conseguem todas mas o The End
00:25:07
Speaker
O de And tem, repara, eu era um adolescente, eu tinha 16 anos, tem aquela mística também um bocadinho apressiva, tem aquela coisa toda do feco, feco, feca e as tantas.
00:25:21
Speaker
Exatamente.
00:25:25
Speaker
Mas tem uma letra fantástica E acho que luz No final dessa música Abre, é uma música que te abre Sim, sim, sim E que te faz companhia nesse percurso Porque eu acho que é essa parte que está aqui Que é extraordinária Aliás, todo o álbum faz companhia no percurso É isso que tu dizias Faz companhia e abre
00:25:46
Speaker
Tu chamaste-me doutora, Patrícia Câmara.
00:25:49
Speaker
Foi o que tu agora fizeste, chamaste-me doutora.
00:25:52
Speaker
Por acaso, uma discussão que eu tenho constantemente, é que eu não gosto nada que me chamem doutora.
00:25:57
Speaker
Mas a Marota costumava perguntar quem é esse.
00:25:59
Speaker
Exatamente, eu faço um bocadinho isso, porque não nos acrescenta absolutamente nada, e às vezes...
00:26:10
Speaker
nos empobrece porque nos coloca numa qualquer gaveta que limita ao espaço e o tempo.
00:26:20
Speaker
Mas pronto, eu estava aqui a falar nisto, porque isto que o Serra Santos me disse, que eu acho que o Serra nos disse agora aqui, que precisava de fazer mais aquilo que gosta mesmo e não trabalhar tanto tempo.
00:26:35
Speaker
Eu às vezes penso nisto para porque gosto muito de trabalhar e acho que o trabalho me organiza bastante, mas de facto sobra pouco tempo para fazermos as coisas que gostamos para além do trabalho, porque gosto muito de trabalhar, mas muitas coisas para além do trabalho que eu gosto de fazer.
00:26:56
Speaker
E claro que isto me leva logo a pensar noutras coisas como as pessoas que trabalham 14 horas por dia e com baixos rendimentos e que passam o tempo sem sequer poder sonhar com a possibilidade de ter tempo para fazer aquilo, coisas que gostam ou sequer ir descobrir as coisas que gostam mesmo de fazer.
00:27:20
Speaker
E acho que eu não sei o que é que vocês pensam sobre isto, de que forma é que nós, como sociedade, nos poderíamos organizar, que não à volta do trabalho.
00:27:33
Speaker
Não acham que isto é uma discussão política muito séria para este podcast?
00:27:38
Speaker
Não, mas eu às vezes penso, eu até vou um bocadinho mais longe do que quando vês os genocídios que aconteceram.
00:27:47
Speaker
Imagina a Segunda Grande Guerra Mundial, os milhões de vidas que se perderam.
00:27:53
Speaker
Crianças, quantas obras é que nós não vimos porque essas pessoas morreram demasiado cedo?
00:28:03
Speaker
E agora vou voltar ao teu caso, ou àquilo que tu estavas a falar, quantas obras nós não vemos ou nunca serão conhecidas?
00:28:12
Speaker
Por as pessoas não querem tempo e trabalharem 14 horas por dia ou 10 horas.
00:28:20
Speaker
A arte precisa de tempo.
00:28:22
Speaker
A arte precisa de tempo.
00:28:29
Speaker
E o mundo precisa de arte.
00:28:31
Speaker
E de tempo também.
00:28:33
Speaker
E de tempo, pois.
00:28:35
Speaker
Pai, deixem-me agora a questão de estar aqui.
00:28:36
Speaker
Mas o próprio trabalho dentro dele mesmo também precisa Não é?
00:28:41
Speaker
Pois, claro Também o que é que nós estamos a chamar de trabalho, não é?
00:28:46
Speaker
Pois, exato, eu estava a pensar naquilo que tu estavas a dizer Tu gostas de trabalhar, mas tu também gostas muito daquilo que faças Exatamente Isso é muito importante Mas pessoas que não precisam da sensação de que estão a produzir alguma coisa E há pessoas que precisam dessa sensação Eu gosto da sensação de produzir alguma coisa Mesmo que, inclusivamente, até podíamos ter aqui uma discussão Sobre a Ana Arente e o trabalho e o labor Quando eu nem sequer uso as mãos para trabalhar
00:29:15
Speaker
Usa as mãos simbolicamente para trabalhar.
00:29:17
Speaker
Portanto, eu nem sequer considero que estou a produzir.
00:29:21
Speaker
Vamos ver.
00:29:22
Speaker
Eu nem sequer sinto que esteja a produzir alguma coisa, porque eu passo o dia a desenvolver relações com pessoas e a conversar com pessoas.
00:29:30
Speaker
E portanto nesse sentido aquilo que eu posso sentir como uma produção minha é de alguma forma o meu relacionamento com aquelas pessoas poder proporcionar-lhes um olhar diferente sobre a vida que lhes possa proporcionar mais bem-estar.
00:29:51
Speaker
e nesse sentido gosto muito daquilo que faço mas não me sinto propriamente a produzir embora eu goste muito de produzir e por exemplo a escrever um texto eu me sinto mais a produzir a fazer este podcast eu me sinto mais a produzir e é neste sentido que eu gosto do trabalho talvez pela utilidade ou pelo impacto que eu possa ter no mundo e na interação com os outros
00:30:19
Speaker
mas também acho que quando é em excesso nos retira a liberdade
00:30:26
Speaker
Estava a pensar assim, muita coisa ao mesmo tempo, até tenho medo de entrar por esse sítio sem fim, mas espera, ia dizer isto.
00:30:34
Speaker
Mas acho que estamos a falar também da pessoa a escolher, não é?
00:30:36
Speaker
A possibilidade de escolha que se apresenta, é isso que estávamos a falar nas circunstâncias da vida, não é?
00:30:42
Speaker
Mas deixa-me dizer-te isto, porque tenho plena consciência de que sou privilegiada quando estou a dizer isto, e cada vez que falo em coisas que me tocam o privilégio,
00:30:54
Speaker
lembro-me sempre do lugar oposto, de onde ele não existe.
00:30:59
Speaker
E portanto, isto eu percebo quando estás a dizer, estamos aqui a falar de tantas coisas e estamos, é porque eu não consigo falar de uma sem falar da outra.
00:31:05
Speaker
Entendes?
00:31:06
Speaker
sempre um sítio, e principalmente ao nível do trabalho, em que um lugar em que eu tenho a certeza...
00:31:14
Speaker
meu, de privilégio, que me leva sempre a pensar no sítio onde ele não existe e como é que as pessoas lidam com o trabalho dessa forma.
00:31:21
Speaker
Sim.
00:31:21
Speaker
para fazer aqui uma... Sim, sim.
00:31:24
Speaker
Mas vai lá.
00:31:24
Speaker
Não, não, vai ao encontro disso, que é isso também no outro sentido, não é?
00:31:28
Speaker
Porque eu não sei se é um privilégio que nem sequer parás para pensar sobre a importância do...
00:31:33
Speaker
do sucesso e da forma como estás a olhar para o teu próprio trabalho, ou seja, o que eu quero dizer com isto é de maneiras muito diferentes, mas as circunstâncias, ou seja, não as quero comparar, nem vou entrar por aí, mas o que eu quero dizer é, as circunstâncias em que é impossível o movimento de contemplação, sejam elas quais forem, eu penso, nós chamamos de trabalho a isto, não é?
00:31:51
Speaker
Mas é pobre, não é?
00:31:52
Speaker
É muito pobre, é uma visão pálpérrima de qualquer coisa que possa vir a ser feita Estava a pensar nas Vidas Perfeitas que se chama o filme do Wim Wenders Aquele filme agora, é fabuloso É, é, é, é,
00:32:09
Speaker
Eu posso ver no estante Enquanto vocês É sim, estamos assim É um perfeito live Eu acho que é Mas pronto, a ideia é Um senhor, não vou estar aqui a contar a história do filme Mas a parte que realmente é extraordinária É que ele limpa as casas de banho de Tóquio Sim, sim, sim As casas banho públicas de Tóquio
00:32:27
Speaker
E é extraordinário todo o movimento que é feito, todos os pequenos movimentos, os pequenos pormenores que lhes estendem o tempo e que lhes dão um outro lugar.
00:32:36
Speaker
É o olhar.
00:32:37
Speaker
Qual é o lugar do olhar perante as coisas?
00:32:39
Speaker
Tem esse movimento de contemplação que tu também estavas a falar, Luís, e eu acho que é isso também que estás a falar na outra...
00:32:43
Speaker
Esse movimento, essa possibilidade de encontrar-se esse lugar é um luxo, é um privilégio.
00:32:47
Speaker
Das circunstâncias, é verdade.
00:32:49
Speaker
Mas é em toda a sua complexidade também.
00:32:53
Speaker
Era que eu estava a querer reforçar.
00:32:55
Speaker
Porque realmente pensando nas coisas que nós estamos a falar atualmente.
00:32:58
Speaker
É o perfect day.
00:32:59
Speaker
É, é o filme, é o Perfect Day, chama-se assim?
00:33:03
Speaker
Perfect Day, e acaba exatamente com ele a conduzir o Perfect Day de Louis Ritchie Exatamente, sim, é verdade, é verdade, exatamente É espectacular que é uma cena linda porque ele vai altamente emocionado, não é?
00:33:13
Speaker
Exatamente Porque, vamos ver, isso que tu estás a dizer do lugar em que ele consegue contemplar ao longo do dia É uma escolha, ele escolheu É uma escolha e ele gosta daquilo que faz Exatamente
00:33:24
Speaker
Agora, uma solidão acompanhada ali, não é?
00:33:30
Speaker
Porque um lugar de solitude nele, mas também há solidão e a dada altura, quando ele se permite também estar com o outro ou ter um contato maior com a família, também qualquer coisa mais catártica dentro dele e esse final é muito bonito porque mostra-nos isto, é uma escolha.
00:33:50
Speaker
Mas é uma escolha que também tem um custo, como todas, não é?
00:33:54
Speaker
E a emoção que ele mostra ao longo dessa cena final é muito espetacular E é mesmo catártica, sim Mas desculpa, interrompi-te hoje Não, não, é por esta emoção Hoje...
00:34:08
Speaker
Olha isto, isto, isto.
00:34:10
Speaker
Sublinhado várias vezes.
00:34:11
Speaker
Vais levar com esta no próximo, garantidamente.
00:34:14
Speaker
Agora é que eu não tenho capacidade de resposta.
00:34:16
Speaker
Mas... Não, eu só acho que as circunstâncias e a complexidade das circunstâncias não podem ser menosprezadas e claro que estamos a falar de riscos psicossociais seríssimos, vulnerabilidades tremendas e portanto é incomparável, nem sequer vou entrar por aí.
00:34:30
Speaker
Mas na mesma, creio que uma das razões pelas quais também estamos neste estado calamitoso
00:34:35
Speaker
É esta impossibilidade.
00:34:37
Speaker
Não um... Pegando um bocadinho na ideia até do tempo que se abre, não é?
00:34:42
Speaker
Não esta possibilidade deste tempo que se abre neste dia-a-dia que nós temos estado a viver, não é?
00:34:46
Speaker
Quer dizer, não há.
00:34:47
Speaker
Temos que, de alguma maneira, encontrar as circunstâncias.
00:34:50
Speaker
Mas resgatar este sítio, não é?
00:34:52
Speaker
Resgatar este sítio, de poderes olhar e ver as pequenas coisas E destas pequenas coisas fazes o infinito um infinito, aliás, neste disco eu acho que também se sente muito isto um infinito sempre presente Sim Em cada pequena coisa Tu sentes um infinito a expandir-se, não consigo por isto muito melhor Mas este lugar de infinito que se expande, não é?
00:35:10
Speaker
E que faz movimentos múltiplos de expansão e de contrato É que também, por isso é que eu estava a dizer, acompanhei também neste processo Este processo de poderes te ir aproximando cada vez mais daquilo que é o centro Porque...
00:35:20
Speaker
para dizer isso, eu pensei que eu não quero ir para porque eu acho que coisifico muito se vou para esse lugar.
00:35:24
Speaker
Para qual?
00:35:25
Speaker
Para o lugar do hiperconcreto, ou seja, eu posso dizer o que eu penso, é que eu tenho andado a olhar para as coisas e pensar, mas eu não preciso disto, pá.
00:35:31
Speaker
Porquê que eu tenho isto?
00:35:33
Speaker
Porquê que eu, afinal, tenho mais isto?
00:35:34
Speaker
Mas porquê que eu tenho isto duas vezes?
00:35:35
Speaker
Ao chegar ao consultório, eu pensei, mas eu tenho isto livre em casa.
00:35:39
Speaker
Estes sítios, pá, que eu de antes não pensava, não é?
00:35:41
Speaker
Mas o que eu quero dizer é que...

Mudanças na cultura social e noturna

00:35:43
Speaker
Sem querer ir para este lugar demasiado, por isso é que estava a dizer, demasiado concreto, mas na verdade tudo isto que nós temos para pensar que também está, não é um privilégio.
00:35:53
Speaker
Este lugar em que eu tenho um livro em casa, um livro no consultório, também não é um privilégio, é isto que eu quero dizer.
00:35:57
Speaker
Sim, claro.
00:35:57
Speaker
Surge deste lugar de privilégio, mas não é um privilégio.
00:35:59
Speaker
Claro, sim.
00:36:00
Speaker
É isso.
00:36:01
Speaker
Não, mas, mas vamos ver.
00:36:05
Speaker
Isso não é um privilégio
00:36:10
Speaker
Que isso em ti simbolicamente Também ocupa qualquer coisa, não é?
00:36:15
Speaker
Claro Sim, mas o privilégio de que eu estava a falar Tu percebeste?
00:36:20
Speaker
Tem mesmo a ver com Aquilo a que eu me posso permitir na vida De acordo com a minha base Nós temos um privilégio Com certeza E isso é que nós não nos podemos Se nós não soubermos que somos privilegiados Acaba-se já aqui este podcast Não
00:36:36
Speaker
Mas olha lá, olha o que agora zangou.
00:36:39
Speaker
Agora vou-me zangar contigo.
00:36:40
Speaker
Mas uma vez na vida eu disse uma coisa disso.
00:36:41
Speaker
O que eu estou a dizer é a complexidade desse lugar.
00:36:44
Speaker
Eu tenho que olhar para as coisas nos múltiplos sentidos.
00:36:46
Speaker
Eu não estou a apontar para ti.
00:36:48
Speaker
Quem me está a ouvir perceba que se não sabe que é privilegiado, tem que saber que é privilegiado.
00:36:54
Speaker
Sim, mas também tem que saber que não é. Que tu achares que és privilegiada te faz pôr num lugar perante o outro
00:37:00
Speaker
Que é vergonhoso E portanto, o que tu também tens que saber É que esse lugar onde tu te julgas privilegiado É o sítio onde tu tens quatro livros Do mesmo autor, iguaizinhos E nem sequer notas que tens E este sítio, este sítio não é privilégio nenhum É o sítio onde não comunhão nenhuma E é isto que eu estou a tentar dizer Portanto, esta complexidade deste olhar É que eu acho que tem que ser possível de ser feita Tal e qual como está no disco Estende e destende Contrai, é isto que eu estou a tentar dizer Agora, jamais eu acho Por isso é que eu estava a dizer que era perigoso entrar por aqui Porque depois parece que pode estar a dizer O que não se está a dizer de maneira nenhuma
00:37:29
Speaker
Jamais acho que para qualquer um de nós Passaria pela cabeça a achar Que não crescemos numa condição de privilégio Comparativamente ao mundo todo com certeza que sim Agora acho que temos que ter imenso cuidado Mas tu tens ouvido Eu puxei isto, eu disse isto Não era com certeza apontar aqui a nenhum de nós Eu disse isto Mas bem que digas e depois tens dito aquela Que eu te interrompo Será a segunda no mesmo podcast?
00:37:54
Speaker
A questão é, pessoas privilegiadas, e tu ouves podcast, eu ouço podcast atrás de podcast, que não se consideram privilegiadas.
00:38:05
Speaker
Isto, aqui é que está o problema, não é?
00:38:08
Speaker
Era esse sítio que eu estava a querer ir, é que de facto se nós tivermos consciência do privilégio que temos, então não qualquer consciência do outro.
00:38:15
Speaker
É isso Agora o que tu disseste É mesmo O que tu disseste é isso mesmo Porque dentro daquilo que é o nosso privilégio Quando as coisas se tornam supérfluas Portanto um lugar Também em que tu não estás em contato Com o outro Também E estás refém de uma coisa que também está a ser construída Do ponto de vista psicosocial Também está a ser construída como um lugar de pertença
00:38:43
Speaker
também está cheio de vazios e buracos é isso e o Luís acho que sentiu essa necessidade de alguma forma de provavelmente eu não preciso tanto disto como pensava que precisava eu agora quero ir fazer outras coisas
00:38:56
Speaker
Esta conversa toda é um certo extremo, fez-me lembrar aquela do Diálogo, no Annie Wall, que ele diz que a vida divide-se em duas, o horrível e há o triste, e o Will diz, o horrível são aquelas pessoas que nascem aleijadas, cegas, que ele diz, eu nem sei como é que eles conseguem, o triste, somos todos nós, somos os restantes.
00:39:16
Speaker
Ok.
00:39:20
Speaker
É isso mesmo, Luís, é exatamente isso.
00:39:23
Speaker
Não, mas eu também acho que nós somos privilegiados.
00:39:29
Speaker
Repara, vivemos em Lisboa, saímos muito à noite, temos amigos, bebemos os nossos copos.
00:39:34
Speaker
É que se não forem fazer, se não forem criar arte, pelo menos saiam e dancem.
00:39:41
Speaker
Mas não têm tempo, as pessoas não têm tempo para isso.
00:39:45
Speaker
Luís, pior do que isso, existem as pessoas que não têm tempo, existem as pessoas que escolhem não o fazer também, fazem de outras formas, mas existe uma coisa que está a acontecer agora que é cada vez mais as pessoas têm menos vontade de o fazer...
00:40:04
Speaker
E estão a fazê-lo de formas diferentes e esta atmosfera de que nós estávamos aqui a falar noturna, que pode ser ou não noturna, mas que está neste disco, é um daqueles lugares internos que eu estou sempre aqui a falar com a Patrícia que está a desaparecer.
00:40:21
Speaker
Está a se transformar numa outra coisa, mas está a desaparecer um bocadinho, ou seja, este lado que eu acho que até descrevi aqui, ou que está subentendido aqui na minha introdução,
00:40:38
Speaker
Que há um certo entusiasmo por chegar a um lugar comum onde se sabe que se vai pensar e partilhar ideias, há o sabor da música, há o sabor do álcool, há o sabor da liberdade, há o sabor da diferença uns dos outros, este lugar está-se a transformar, de facto, e não é igual a isto que eu descrevi.
00:40:58
Speaker
E tu sabes, e tu sais à noite e sabes que os sítios estão a mudar, as discotecas estão a ficar vazias ou quase vazias e estão a surgir novos lugares em que as pessoas estão de uma outra forma e eu agora até fico contente com o surgimento destes novos lugares porque nós tivemos aqui um período de estagnação em que percebíamos que as pessoas saíam não corretamente
00:41:22
Speaker
saiam pelo consumo de qualquer coisa e não tanto para estar com o outro e para partilhar esta comunhão de ideias ou mesmo esta divergência de ideias que eu acho que são sítios ainda no outro dia o Miguel Esteves Cardoso estava a escrever sobre isto e a dar conselhos a miúdos mais novos a dizer saiam sigam os mais velhos
00:41:41
Speaker
Tentem entrar nos bares onde vocês veem que eles entram, porque ali vai-se fazer arte, ali vão acontecer coisas boas.
00:41:49
Speaker
Tentem entrar naqueles bares onde ninguém vos quer deixar entrar e onde vocês veem que alguns é que conseguem.
00:41:54
Speaker
Tentem, portanto, ele é ir buscar coisas altamente estimulantes.
00:42:00
Speaker
Desta cena de onde saem uma série de coisas musicais E de onde saem uma série de tribos musicais Que hoje não existe E eu estava a ler aquilo E estava a ler aquilo E gostei tanto de ler aquilo E no entanto hoje Parece-me Não quero estar aqui Não tenho a certeza disso Mas daquilo que tenho observado Parece-me que está a mudar bastante E agora até acho que há novas ideias a estudar
00:42:28
Speaker
porque houve aqui uma altura em que os encontros eram feitos para se beber shots não eram encontros para se produzir o que era, e voltamos à palavra produção em shot nem sequer voltamos aqui à produção porque nem sequer ver movimentos em que de facto não produção de qualquer coisa boa não
00:42:52
Speaker
Ainda ontem no bairro, aqueles bares de chotes.
00:42:58
Speaker
Eu passei por um e estava a pensar, aquela maltinha toda ali à porta, estava a pensar o que é que faz uma pessoa estar ali a ver chotes atrás de chotes.
00:43:07
Speaker
Mas eu acho que sei Porque aquilo, ficam bêbados muito rápido Porque eles na verdade não têm muito a dizer É isso mesmo E embedam-se muito rápido, a noite acaba E é o tentar preencher um lugar Desse vazio onde não muito a dizer ou a pensar Sim E vive-se aquilo com aquela intensidade E está feito
00:43:27
Speaker
E aguentam ali duas horas Só que depois fica-se num terreno muito estéril Porque depois não sai esta Não é?
00:43:32
Speaker
Depois não sai isto Não sai esta coisa de Quer dizer Não sai este espanto pela vida Que a gente neste disco E noutros textos, não é?
00:43:41
Speaker
Do espanto ou da revolta Mas a força, por exemplo, que um esclarece tem É, é, não é?
00:43:46
Speaker
Se nós... É, é, é
00:43:48
Speaker
E tu sabes que, e tu conheces-me bem, a nível de música, por exemplo, eu não gosto muito de música, portanto, eletrónica, eu gosto de ouvir voz e gosto de ouvir letras.
00:43:58
Speaker
Atenção, nada contra quem ouve música eletrónica, mas eu gosto de letras e gosto de uma voz, e por isso é que tenho o meu estilo e cada um tem o seu.
00:44:08
Speaker
Mas sim, mas também estamos...
00:44:10
Speaker
Adoro, adoro, adoro, adoro.
00:44:13
Speaker
É rock eletrónico, mas é rock eletrónico, sim, mas tem muita coisa mesmo eletrónica também.
00:44:18
Speaker
LCD, pronto, e depois também ao longo do tempo... Olha, agora andou a ouvir o quê?
00:44:23
Speaker
Non-stop, andou a ouvir Fontaines DC.
00:44:25
Speaker
Que é espetacular, sim, sim, sim, sim.
00:44:29
Speaker
E antes era LCD, Arcade Fire e...
00:44:34
Speaker
E pronto, é assim as coisas Mas coisas novas muito boas, sempre a aparecer sempre coisas boas a aparecer Agora, eu acho que nisto que é o nosso movimento português Que é aquilo que nós conhecemos mais, não é?
00:44:46
Speaker
A noite de Lisboa, estes movimentos todos Mudou bastante E

Exploração do egoísmo e relações interpessoais

00:44:52
Speaker
não se sente tanto isto Esta vibração que se sentia com os dedores Assim...
00:45:00
Speaker
Mudou, é outra coisa Eu por um lado agradeço a essa mudança Porque nós vamos muito ao incógnito E aquilo incógnito às vezes tu não conseguias estar Que estava completamente à pinha Eu agora gosto muito do incógnito Pá, consigo estar Porque não está totalmente... Perfeitamente porque não está não está à pinha Mas isso também é uma... Mas isso também é uma... Mas isso também quer dizer alguma coisa Exato, quer dizer alguma coisa Era o que tu estavas a dizer Mas sim, mas eu para casa até estou a gostar dessa parte Agora vamos ver...
00:45:29
Speaker
Naquele que toca a ti Somos sempre egoístas Olha, diz isso à Patrícia O quê?
00:45:36
Speaker
O quê?
00:45:37
Speaker
Tu disseste, somos sempre egoístas
00:45:39
Speaker
Ah, eu tenho um texto, depois eu posso enviar, que é Somos sempre egoístas, mesmo quando eu digo que gosto de ti, eu tenho escrito, no fundo eu estou a tentar cativar-te para tu gostares de mim, portanto estou a pensar em mim, e somos sempre egoístas, eu acho que somos sempre egoístas, depois eu monto esse texto.
00:46:00
Speaker
Eu acho que a Patrícia te vai dizer qualquer coisa sobre ela, para saber o que eu digo.
00:46:06
Speaker
Força Patrícia, é bom por causa disto, não é?
00:46:11
Speaker
Força Pode ser, mas no sentido de trazer também para ti qualquer coisa de boa
00:46:17
Speaker
Eu acho que pensamos sempre um bocadinho a nós, sempre O pensamento no fundo vai sempre dar ali um bocadinho ao ego, não sei E está, a poesia é uma coisa, a poesia é quase uma forma de filosofia mais barata ou mais bonita, não tão rica como a filosofia em si A disciplina de filosofia é dita de forma mais bonita
00:46:43
Speaker
Mas é um pensamento, a poesia encerra em si, portanto, um pensamento sobre coisas e sobre o próprio, porque o poeta escreve acima de tudo sobre si.
00:46:56
Speaker
E a poesia acaba por ser uma conversa connosco mesmo, quase uma catarse.
00:47:02
Speaker
E é, portanto, engraçado que descobrimos coisas sobre nós, por isso é que eu acho que é importante escrevermos.
00:47:11
Speaker
Estava a noite a ouvir o Leminski a dizer que a poesia era o coração esmagado, o coração pisoteado, o coração do poeta.
00:47:19
Speaker
Portanto, é engraçado.
00:47:21
Speaker
Mas a poesia força-te a ir-es a olhar para ti e faz análises, que não quer dizer que estejam certas, mas sim, eu acho que todos somos sempre egoístas, mesmo quando dizemos que gostamos dos outros.
00:47:35
Speaker
Sabes o que é que ela está a dizer?
00:47:36
Speaker
Ela sabe que eu te vou dizer que eu... Não, estou a brincar.
00:47:39
Speaker
Não, agora for brincar.
00:47:40
Speaker
Mas olha lá, mas este verso, estava aqui a pensar o tal verso do The End, que diz It hurts to set you free, but you'll never follow me.
00:47:48
Speaker
Que é este fim que abre para um outro lugar, não é?
00:47:52
Speaker
Se este sítio não tiver posto,
00:47:57
Speaker
Eu acho que também não se constrói Verdadeiramente nada, não é?
00:47:59
Speaker
Que no fundo era o que nós estávamos a falar um bocadinho antes Portanto eu penso que Existem dois movimentos ao mesmo tempo talvez Que é, sim é verdade que por um lado Quando eu te digo eu gosto de ti Eu gosto de sentir que tu gostas de que eu te diga isso E isso é para mim também Mas eu gosto também de sentir o que isso produz em ti Para ti E portanto nesse lado Não acho que quando estás a dizer Estás sempre a te trazer para dentro Também estás a dar para fora Para expandir para o outro Sim, também estás Sim
00:48:25
Speaker
Portanto, se for egoísmo no sentido que é mais captativo do que oblativo, não.
00:48:30
Speaker
Se for no sentido que é uma coisa que acontece em simultâneo e por isso também não havia maneira de não ser, porque senão também deixavas de ser.
00:48:36
Speaker
Então está tudo certo e é mais uma coisa não ser.
00:48:39
Speaker
Mas tirava o lado pejorativo da ideia, mas isso também sou eu que estou a olhar para a palavra assim, não é?
00:48:44
Speaker
muitas maneras de olhar para a palavra egoísmo.
00:48:45
Speaker
Mas...
00:48:47
Speaker
Tenderia a pôr a coisa mais no sentido Do prazer que é eu dizer Ana Teresa gosta de ti E ela fica com a contente E eu fico contente de ver contente Porque sou eu que estou a dizer Mas porque também sei que isso é capaz de lhe dar em um lado qualquer Para ela, não é para ela levar Para ela Por exemplo, nós temos muito Eu gosto de ver a Ana Teresa feliz Porque eu vou ficar feliz com isso Pronto, o egoísmo também tem a ver com isto Quando um grande amigo nosso está triste
00:49:16
Speaker
Pá, nós já... Olha, o gajo não estava a ser uma boa companhia.
00:49:20
Speaker
Pronto, mas é assim.
00:49:22
Speaker
E eu se calhar tento ajudá-lo, mas eu prefiro que ele esteja... Pronto, eu prefiro que ele esteja feliz para eu ser mais feliz.
00:49:28
Speaker
Pronto, não sei.
00:49:29
Speaker
Há aqui sempre este jogo.
00:49:30
Speaker
Mas agora uma perspectiva assim mesmo de um egoísmo mais... Posso dizer isto muito rápido.
00:49:34
Speaker
De um egoísmo que fosse mais egoísta, ou talvez mais ego... Ego ou invejoso, como é que podemos dizer isto?
00:49:40
Speaker
Fazer um neologismo assim.
00:49:41
Speaker
Mas...
00:49:43
Speaker
ego e inveja, mas no sentido agora mais de uma coisa mais captativa eu penso que um egoísmo a sério seria um certo prazer com a tua tristeza para tu precisares de mim para eu te pôr bem
00:49:55
Speaker
Não, mas isso é outra coisa.
00:49:56
Speaker
Pois, por isso é que eu estou a dizer, faz lá em um lugar.
00:49:58
Speaker
Não, mas isso é outra coisa.
00:50:00
Speaker
Faz em um lugar.
00:50:01
Speaker
Não, não, porque eu acho que o Luís está a falar num sentido egoísta, mas sem, ou seja, que não é nada pejorativo em relação à palavra, não é?
00:50:09
Speaker
Nós é que usamos muito essa palavra, às vezes na relação com o outro, com a... Ah, tu és tão egoísta, e esse tão egoísta é isso que eu acho que tu estás a dizer.
00:50:17
Speaker
É claro, sim.
00:50:17
Speaker
Mas eu acho que o que o Luís está a dizer é que de facto, por muito relacionais que nós sejamos, porque isto é sempre através do outro, mas é sempre pela ressonância que tem em ti.
00:50:31
Speaker
Eu digo bom dia a toda a gente porque eu acho importante que é dizer bom dia...
00:50:36
Speaker
Mesmo que eu saiba que aquele bom dia vai deixar aquelas pessoas, eu preocupo-me com elas para que eu mantenha o meu equilíbrio.
00:50:42
Speaker
E é nesse sentido que também é a palavra egoísta.
00:50:48
Speaker
Mas eu acho que são duas coisas ao mesmo tempo que estão a acontecer, não é?
00:50:51
Speaker
Estão a acontecer duas coisas ao mesmo tempo, ou seja, nós todos no exercício do nosso egoísmo estamos em relação com os outros.
00:50:58
Speaker
Mas é uma coisa sempre muito Quer dizer Eu penso como tu Luís Porque eu acho que por exemplo o altruísmo Vem enquanto atitude e não tanto como tu Eu não me considero uma pessoa altruísta Eu faço coisas altruístas Mas eu no fundo sou egoísta Porque eu preciso que o impacto daquilo tenha um impacto em mim Que é aquilo que me sossega, ponto É um bocado isto Eu acho que nós somos Agora, eu acho que estamos sempre em relação Uns com os outros assim
00:51:27
Speaker
Mas acho que é uma coisa que nos serve não só a nós Mas a nossa manutenção de todos E portanto acho que é a boca de mel que nós Não punha tão... não estava a encerrar Naquele livro que tu me ofereceste Razões possíveis para a tristeza Do pensamento do Steiner Ele diz coisas engraçadas Que o pensamento, estamos sempre a pensar O pensamento é sempre sobre o eu Eu, eu, eu, eu É muito engraçado Ele também diz outra coisa que eu acho Lindíssima que é
00:51:54
Speaker
Portanto o pensamento é ilimitado Tudo aquilo que não Ou seja Tudo o que não possas pensar É impensável Sim Mas eu não sei se a poesia não irá para Tudo o que tu não podes pensar É impensável para ti Pois E eu O pensamento sobre o eu Pois é
00:52:24
Speaker
Estamos aqui com os Doors, que nem sequer os ouvimos, porque deixámos de ouvir músicas, porque o Spotify corta-nos as músicas, mas é possível conversar sobre a música sem a ouvir, imaginamos-a.
00:52:38
Speaker
Eu acho que... Eu acho que esta música, ou este álbum, eu tenho ouvido outros podcast deles, que eu tenho que ir procurar as músicas depois, porque deixa-me cá saber como é que é. Sim, porque nós tivemos que retirar as músicas depois.
00:52:50
Speaker
Mas este álbum Quem vai ouvir este podcast Acho que toda a gente conhece este álbum Sim É muito difícil Não conhecerem este álbum E esta música de André Eu tenho uma leve sensação De um dia alguém me ter dito Que não gostava de Dorso Olha o Lulido não gostava de Dorso
00:53:15
Speaker
Mas o Reed também Mas isso cheira-me que havia intrigas Mas eu conheço várias pessoas que não gostam de Orson Sim, mas isso cheira-me que havia intrigas Por causa das Velvet Underground e o Andy Warhol Não, isso cheira-me que havia intrigas Mas, agora fora de brincadeiras São poucas as pessoas que me disseram Eu não me lembro, eu tenho uma vaga ideia Eu mesma miúda me ter dito Ah, eu sei que vocês gostam muito Eu sei que é estranho vocês acharem que eu não gosto Mas eu não gosto
00:53:42
Speaker
Mas é mesmo uma coisa que deram um contributo à música espetacular.
00:53:52
Speaker
Aliás, como foram buscar, como foram beber em imensos sítios, que em primeira mão deram esse contributo à música, o meu favorito continua a ser o Rayman Zarek.
00:54:03
Speaker
é o meu favorito, embora sabes que eu vivo, eu vivo tu estavas no Coliseu eu não fui vê-lo estava o Bobby Krieger e o Ray Manzarek e o Ray Manzarek continua a gostar mais dele até do que do Jim Morrison embora o Jim Morrison mexe em coisas comigo que
00:54:20
Speaker
O Jim Morrison também é uma coisa, na minha adolescência era assim também uma coisa muito erotizada, não é?
00:54:28
Speaker
E o Ray Manzarek não é nada erotizado por mim, nada, mas toca muito bem e aquilo que eu gostava e que vibrava e que vibro na música é mesmo dos Doors não...
00:54:41
Speaker
Vibro mais com as teclas do Manzarek do que com o poema do Jim Morrison.
00:54:45
Speaker
Ok.
00:54:47
Speaker
A Patrícia Câmara risse, porque isto é em psicanálise, nós podemos extrapolar isto.
00:54:51
Speaker
Estava maravilhoso, estava uma narrativa ótima.
00:54:54
Speaker
Eu própria me estava, ou Serra Santos, nós somos muito marotas na psicanálise e nós estávamos aqui, eu estava-me a ouvir a mim mesma e a pensar, tens de te calar porque...
00:55:05
Speaker
a Patrícia vai intervir E vai-te fazer sentir O disparate que tu estás para aí a dizer Bom Acho que Estamos bem, não é?
00:55:17
Speaker
Vamos ver do nosso jantar Luís Serra Santos, gostámos muito de ter aqui E queremos-te desejar O melhor Para as tuas Agora para o teu futuro E para aquilo que vais fazer E para aquilo que queres fazer
00:55:32
Speaker
Que corra tudo pelo melhor e se precisares da nossa ajuda estaremos Em novembro é dizeres a data Pois é, exatamente, em novembro depois é dizeres a data E pronto, vamos nos despedir, não é?
00:55:50
Speaker
Eu vou ter que editar isto, não é?
00:55:52
Speaker
É claro.
00:55:53
Speaker
Acho que não, deixa assim.
00:55:57
Speaker
Muito obrigada a todos por estarem aqui, Luís Serra Santos, Patrícia Câmara, Carolina Pinchela, Ana Teresa Sanganha, que sou eu.
00:56:05
Speaker
Obrigada à Climepsi pelo material fornecido aqui para gravarmos
00:56:11
Speaker
Estas conversas que na realidade às vezes são muito desorganizadas mas que acho que estão cheias de coisinhas boas pelo menos para nós que somos egoístas para vocês não faço ideia Até para o mês que vem Beijinhos 3 Divãs A Psicanálise O Mundo E o Rock'n'Roll