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28 Plays2 months ago

Mário Cordeiro, Médico Pediatra

Transcript

Introdução e Música

00:01:37
Speaker
Três Divãs, a psicanálise, o mundo e o rock'n'roll.
00:01:51
Speaker
No fim de semana passado, almocei com a minha tia.
00:01:54
Speaker
A conversa à mesa era sobre o próximo convidado de Três Divãs.
00:01:59
Speaker
Que disco escolheu ele?
00:02:00
Speaker
Perguntou ela.
00:02:02
Speaker
Olha, escolheu Les 50 plus belles chansons do Serres e foi interrompida pelo nome Regiani.
00:02:09
Speaker
Como é que sabes que é Regiani e não Gainsbourg?
00:02:12
Speaker
E ela respondeu, porque me parece que o teu convidado tem um compromisso com a vida que é mais próximo da forma como o Serres Regiani também se comprometeu com ela.
00:02:23
Speaker
fez-me sentido e não esmiuçámos mais, muito embora esta afirmação pudesse ser a premissa de uma outra conversa.
00:02:30
Speaker
Mas ouvir Régia Ani pronunciado pela minha tia levou-me a um tempo onde o tempo parava para ouvirmos as suas canções num giradiscos vermelho que também era mala e de uma coluna rofenha ecoavam visceralmente muitas palavras e expressões
00:02:47
Speaker
que nada me acrescentavam à semântica, mas que me mostravam que existem pessoas e poemas que, quando cantados ao mundo, jamais voltarão a caber na coluna da mala vermelha, que também era giradiscos.
00:03:01
Speaker
De facto, o compromisso com a vida pode ser medido através da intensidade com que a vivemos.

Encontro com Mario Cordeiro

00:03:08
Speaker
E essa intensidade não é mais do que o lugar em que um abraço, uma gargalhada,
00:03:14
Speaker
Um beijo, um copo, um livro, uma conversa, uma luta, um almoço, uma sombra ou uma brisa, encontraram o lugar onde um abraço, uma gargalhada, um beijo, um copo, um livro, uma conversa, uma luta,
00:03:30
Speaker
um almoço, uma sombra ou uma brisa encontraram um lugar.
00:03:36
Speaker
Por isso a vida, intensamente vivida, é o fio condutor das mais belas 50 canções de Serres, escolhidas por Mário Cordeiro, que trouxe o Regia Ni, a Chasing Rabbits, para este segundo episódio de Três Divãs,
00:03:52
Speaker
Olá, Mário.
00:03:53
Speaker
Olá.
00:03:53
Speaker
Como está?
00:03:54
Speaker
Muito bem.
00:03:55
Speaker
Então, e o que o traz por cá?
00:03:56
Speaker
Não podia sentir melhor.
00:03:58
Speaker
Me traz por um amável convite vosso, em primeiro lugar, que não demorou mais de um décimo de segundo a aceitar.
00:04:05
Speaker
Que nós agradecemos.
00:04:08
Speaker
Nada.
00:04:09
Speaker
E por outro lado, a ideia que presidei este podcast, no fundo, as coisas centrarem sobre a música.
00:04:19
Speaker
Eu costumo apresentar-me como pediatra, que é o que sou, professor, que estou aposentado.
00:04:28
Speaker
Eu gosto da palavra aposentado, dá-se um ar muito ilustre, reformado, achara mais a conformado, portanto, aposentado.
00:04:38
Speaker
Escritor, também o assumo.
00:04:41
Speaker
E finalmente, melómano.
00:04:44
Speaker
Porque aprendi a gostar de música, porque cresci sempre com música.
00:04:48
Speaker
Não consigo referenciar quando é que ouvi a minha primeira música.
00:04:54
Speaker
Acho que foi sempre, provavelmente na barriga da minha mãe.
00:04:58
Speaker
E curiosamente, num giradiscos, igualzinho àquela que está ali, e ouvindo também a rádio, várias coisas, e ainda me recordo perfeitamente de um dia em que, em novembro de 63, em que uma das minhas irmãs estava a ouvir rádio,
00:05:19
Speaker
exatamente ali e vem a correr a dizer mataram o Kennedy e eu não me esqueço disso, tinha sete anos na altura e de facto tudo isto, esta transmissão de som através
00:05:37
Speaker
de microfones, depois feito em discos, em colóquios, em conferências, em coisas, mas sobretudo através da música, é muito apelativo para mim.
00:05:46
Speaker
Gosto muito, muito, muito de música e era, aliás, incapaz de viver sem música.
00:05:53
Speaker
É a primeira coisa que faço quando chego ao consultório.
00:05:57
Speaker
ligar a música e é a última que faço antes de sair.

A Importância da Música na Vida

00:06:04
Speaker
Uma vez houve um problema qualquer elétrico e não estava a conseguir ouvir e senti-me completamente amputado.
00:06:12
Speaker
Desamparado.
00:06:13
Speaker
Completamente.
00:06:14
Speaker
Isto não é exagero, foi muito difícil fazer a consulta nessa manhã em que não consegui arranjar uma alternativa
00:06:22
Speaker
Porque... e não estou realmente ali a ouvir música, não é?
00:06:26
Speaker
Mas havia qualquer coisa que faltava naquele ambiente.
00:06:30
Speaker
A continuidade de fundo, não é?
00:06:34
Speaker
É uma companhia.
00:06:36
Speaker
É algo de mim.
00:06:36
Speaker
Eu acho que a música está dentro de mim.
00:06:41
Speaker
e portanto foi uma autêntica amputação e sofro muito sem música claro, não estou 24 horas por dia obviamente a ouvir música mas adormeço com a música e diria que provavelmente mais de metade do tempo do meu dia é embalado pela música
00:07:05
Speaker
Ó Mario, e agora uma curiosidade, a propósito disso disco, adormece ouvir música mas coloca um disco ou adormece ouvir rádio?
00:07:15
Speaker
Era geralmente rádio, agora não, graças a estas novas tecnologias e plataformas escolho geralmente um disco que me apeteça na altura e tenho descoberto coisas muito interessantes
00:07:31
Speaker
Aqui um tempo descobri, através, por acaso, de uma playlist de uma estação de rádio que estava a ouvir enquanto passeava o cão à hora de almoço e descobri um basco, o Benito Lerchundi, que é, de facto, para mim, fabuloso, não percebendo uma única palavra do que ele diz, como é natural, mas consegui fazer uma recolha e eu próprio fazer o meu disco...
00:07:59
Speaker
de Benito Lertundi e, por exemplo, é um dos que eu mais ouço para da região e dos franceses em geral, mas da região em particular, o Moustaki também, e também portugueses e brasileiros, sobretudo.
00:08:13
Speaker
E Saman Garfong.
00:08:14
Speaker
Vai-se fazendo a banda sonora de existência.
00:08:17
Speaker
Talvez, talvez com ênfase para algumas músicas, aliás eu hesitei muito entre este disco e o Simon Garfunkel no Central Park e designadamente a música dele do American Tune.
00:08:33
Speaker
não porque acho interessante falar da imigração, sempre foi interessante, mas cada vez mais urgente, mas por outro lado, por terem ido buscar o núcleo
00:08:47
Speaker
da música às cantatas e à oratória de Bach e à paixão de São Mateus portanto essa ligação temporal, cósmica entre Bach e Samen and Garfunkel entre as igrejas ou as catedrais e o Central Park afigurou-se-me com alguma piada mas o Vios Serres continua a ser um dos meus preferidos é muito temporal
00:09:17
Speaker
O intemporal é temporal.
00:09:18
Speaker
É, intemporal.
00:09:19
Speaker
Então eu vou perguntar, pronto, então, e porquê?
00:09:22
Speaker
Porquê que o Serres se sobrepôs ao Simon e ao Garfunkel?
00:09:27
Speaker
É sempre difícil dizer o porquê.
00:09:30
Speaker
É engraçado quando vejo aqueles...
00:09:33
Speaker
eu acho que impropriamente chamados questionários de Proust, em que perguntam qual o melhor livro, qual o melhor filme, qual a melhor praia, qual o melhor vinho, qual o melhor... Eu confesso que responderia sempre, não faço a mínima ideia, ou então responderia com uma câmera.
00:09:49
Speaker
uma cartilha tão grande que não caberia nos jornais.
00:09:54
Speaker
Mas, realmente, sempre fui educado num estilo francófono, porque, aliás, o francês era a língua dominante.
00:10:05
Speaker
Eu comecei no atual quinto ano, o correspondente ao atual quinto ano, que era o primeiro a aprender francês, e o inglês veio depois.
00:10:12
Speaker
O francês era a língua dominante.
00:10:14
Speaker
da música era a língua dominante da literatura científica também aliás, a pediatria por exemplo era sobretudo franco-suíça e canadiana também em parte e os americanos não davam assim grande coisa ou não eram muito conhecidos e os próprios ingleses também enfim, depois surgem claro, os Beatles e outros mas eram sobretudo os franceses
00:10:43
Speaker
porque mais expressivos.
00:10:44
Speaker
Quando, ainda ontem por causa, a propósito de uma conversa sobre aprendizagem de línguas num liceu, eu tive a ocasião de dizer, enfim, um bocado ironicamente, que enquanto os franceses, Moustakir, Regénie e outros, Piaf, sei lá, tantos, Gainsbourg, conseguem
00:11:06
Speaker
Como os brasileiros também, aliás, o movimento popular brasileiro consegue arranjar excelentes poemas e musicólogos, e portugueses também fazem isso, a Brunhosa, tantos outros.
00:11:20
Speaker
É a partir de um poema que, no fundo, diz-se o poema musicando-o.
00:11:27
Speaker
Não vou generalizar porque isso seria de uma injustiça e de uma arrogância enorme, seria pedante.
00:11:31
Speaker
Mas os ingleses começam com músicas, com poemas paupérrimos.
00:11:39
Speaker
She Loves You, Ye, Ye, Ye, fez sucesso e lançou uma banda acima de qualquer suspeita.
00:11:48
Speaker
Mas realmente, ao analisar as letras, são muito, muito pobrezinhas.
00:11:54
Speaker
Eu sempre, como sempre, cristã também de literatura, preciso dessa simbiose de música e literatura.
00:12:02
Speaker
Este é um álbum de poesia.
00:12:04
Speaker
É, é um álbum de poesia.
00:12:05
Speaker
Podia ser dito, aliás, ele é mais desert do que Chantal.

A Influência da Música Francesa

00:12:10
Speaker
Mas eu tenho que lhe dizer uma coisa, porque os Beatles, sim, She Loves You, mas depois aqueles riffs de rock and roll...
00:12:21
Speaker
Aqueles ricos de rock and roll compensam.
00:12:24
Speaker
Ah, exatamente, do aspecto musical, sim.
00:12:27
Speaker
Eu também sou suspeito porque gosto de poesia muito, mas de poesia latina, em língua portuguesa, francesa, italiana, espanhola.
00:12:40
Speaker
Já, por exemplo, poesia inglesa ou americana tenho mais dificuldade, não apenas pela língua, ou não pela língua, mas porque acho que é mais uma prosa que conseguem, até os românticos ingleses fazem uma prosa que vão dividindo, esquartejando em versos.
00:12:59
Speaker
E não consigo achar... Uma coisa, por exemplo, na poesia que eu gosto é a melodia das palavras.
00:13:07
Speaker
É a métrica e é a rima.
00:13:11
Speaker
coisa que os ingleses não têm tanto embora não seja obrigatório ter poesia com rima muitos exemplos mas eu pessoalmente a mim me cumprimento a dizer isto prefiro poesia com rima tenho alguma dificuldade a entrar numa poesia mais surrealista por exemplo mas isso é um problema mais meu do que provavelmente do autor
00:13:36
Speaker
Então diria que este disco é escolhido mais pela poesia do que propriamente da parte melódica.
00:13:44
Speaker
É pelas duas coisas.
00:13:45
Speaker
É pelas duas coisas e até, pelo que muitas vezes se dizia, ser a não-voz de Sérgio Regiani.
00:13:54
Speaker
Aliás, é como a não-voz de Rod Stewart.
00:13:58
Speaker
várias não-vozes que acabam por ser mais interessantes que as vozes.
00:14:05
Speaker
O cantar rouco, o cantar, não digo desafinado, porque isso não é bem assim, mas é um misto de cantar e dizer, que no fundo para mim representa comunicar.
00:14:16
Speaker
Não é apenas cantarular.
00:14:18
Speaker
Dá espaço a outro.
00:14:19
Speaker
A voz do Regénio espaço a outra.
00:14:21
Speaker
Dá.
00:14:22
Speaker
E estes poemas são poemas que me dizem muito.
00:14:28
Speaker
E é engraçado porque os acompanho desde a minha adolescência, no fundo, mais de 50 anos, e mantêm-se comigo.
00:14:38
Speaker
Portanto, fazem parte da minha existência.
00:14:41
Speaker
Acabam, ou da minha essência, lá, e continuam as salas, porventura, cada vez mais atuais.
00:14:48
Speaker
E necessários.
00:14:49
Speaker
necessários, fundamentais, estão entranhados em mim.
00:14:54
Speaker
Ao mesmo tempo, no outro dia, ao fazer uma pequena listagem, vai lá, dos cantores franceses, que ouço hoje, cheguei à conclusão que fora um ou outro estão todos mortos.
00:15:11
Speaker
Todos.
00:15:12
Speaker
Piaf, Mulud, Barbará, Rejani, Mustaqui, Brassens, Ferra, Leo Ferré, enfim, todos eles morreram todos.
00:15:26
Speaker
Os Nabusa.
00:15:27
Speaker
E depois também acho curioso uma coisa que também é atrativo e que liga um pouco com a questão da imigração.
00:15:34
Speaker
Se formos ver destes cantores todos,
00:15:37
Speaker
Eu acho que nenhum era verdadeiramente francês.
00:15:40
Speaker
A Piafra, sim, era francesa.
00:15:42
Speaker
Mas todos os outros vieram da Grécia, da Itália, do Canadá, da Bélgica.
00:15:47
Speaker
A Brel era francófono, mas era belga.
00:15:51
Speaker
Vieram todos de outros lados.
00:15:53
Speaker
Mulut Giva e da Tunísia, o Heber Pagani também, e de Israel.
00:16:01
Speaker
Ou seja, acabaram todos por emigrar de outros países, por várias razões,
00:16:07
Speaker
Acabaram em França e são os representantes da chanson francese, o que também me diz muito da França de então.
00:16:16
Speaker
Um país de acolhimento, um país de abertura, um país culto, um país que não olhava ainda, entre parênteses, às diferenças raciais ou outras.
00:16:28
Speaker
Aliás, o Regiani fugiu e a família é o Mussolini.
00:16:31
Speaker
Exatamente.
00:16:32
Speaker
agora que falou na piada ele teve um romance tórrido com a piada acho que foi muito rápido mas foi muito tórrido, dizem eu creio que todos tinham romances tórridos com todos e quando fala no Gainsbourg e a gente pensa na Jane Birkin e na Bardot e outros tais de facto eu acho que o romance tórrido fazia parte da vida deles como fazia o cigarro como fazia o vinho enfim, eu acho que
00:17:00
Speaker
fazia tudo parte desse ensemble.
00:17:03
Speaker
Era uma fúria de viver.
00:17:05
Speaker
É verdade, não era o James Dean que era o único que tinha fúria de viver.
00:17:08
Speaker
Mas estava a falar nesta questão de que todos morreram e de facto, inclusivamente

Reflexões sobre Envelhecimento

00:17:14
Speaker
estes letristas, porque este disco, muitas das canções são de letristas diferentes, músicos diferentes.
00:17:21
Speaker
Sim, sim.
00:17:22
Speaker
E praticamente todos morreram, inclusivamente agora, muito recentemente, em 2020, não muito vítima do Covid, mas quer dizer, com certeza é uma questão da idade, mas também, muito provavelmente, como consequência daquilo que foi um bocadinho e que nós ainda não sabemos bem o impacto que terá a longo prazo, que foi esta questão dos confinamentos em 2020.
00:17:45
Speaker
É por isso que nós temos que fazer ressuscitar estas...
00:17:49
Speaker
Não nos podemos deixar morrer.
00:17:51
Speaker
Nem o que diziam.
00:17:52
Speaker
Não.
00:17:53
Speaker
Esta é a nossa ideia, não é resgatar.
00:17:55
Speaker
E o tempo passa e quando eu penso que os ouvia com 15, 16 anos, passou meio século e eles eram cantores consagrados, enfim, não eram imortais, não são imortais.
00:18:12
Speaker
Aliás, a propósito disso, li uma coisa interessantíssima num livro do Aramburu pouco tempo e que desfez um mito que eu próprio tinha dentro da minha cabeça.
00:18:26
Speaker
A ideia de que, com o progresso, tecnologia, chame-se como se quiser, que o ser humano ia viver mais tempo.
00:18:37
Speaker
E também, por causa do que a Organização Mundial de Saúde, e o que eu tenho de debitar aos alunos, diz que a esperança média de vida aumenta.
00:18:47
Speaker
E, de repente, ele abre-me os olhos, isto foi no verão que li esse livro, e diz assim, o homem das cavernas, das centenas de milhares de anos, ou mesmo milhões, viviam mesmo que o de hoje.
00:19:06
Speaker
Nós hoje não duramos nem mais um ano do que nesse tempo.
00:19:14
Speaker
Assim como um cão não dura nem mais um ano do que duravam os cães nesse tempo.
00:19:19
Speaker
A questão é outra.
00:19:20
Speaker
muito mais pessoas a chegarem lá.
00:19:23
Speaker
Mas, portanto, aquela ideia mítica e mística e de Plain God que temos.
00:19:30
Speaker
A imortalidade.
00:19:30
Speaker
A imortalidade.
00:19:32
Speaker
Este ano vamos chegar aos 150.
00:19:33
Speaker
É ver se vamos ser imortais.
00:19:36
Speaker
Chegaremos aos 300 e em breve aos mil.
00:19:39
Speaker
É uma profunda mentira, é uma fraude, porque nós não ultrapassaremos nunca...
00:19:47
Speaker
A nossa mortalidade.
00:19:50
Speaker
E a nossa mortalidade chegarão mais aos 100 anos.
00:19:54
Speaker
Haverá mais Manoês de Oliveira, seguramente.
00:19:57
Speaker
Mas não irão mais do que isso.
00:20:00
Speaker
Mas é preciso que cheguem vivos, não é, Mano?
00:20:02
Speaker
Exatamente.
00:20:05
Speaker
E vão chegar mais.
00:20:06
Speaker
Mas vivos, verdadeiramente vivos.
00:20:07
Speaker
Vivos vivos.
00:20:08
Speaker
E isso é um perigo.
00:20:11
Speaker
E mesmo antes da Covid, porque a Covid é um episódio que realmente reduz a espécie de vida, por todas as razões sabidas quando das pandemias, mas os estilos de vida...
00:20:22
Speaker
que estamos a abraçar nesta sociedade que nós dizemos ser avançadíssima, muito progressiva, espantosa, maravilhosa e, enfim, banha da cobra para vender, está a fazer com que, de facto, a esperança média de vida, mesmo excluindo a pandemia, comece a diminuir, indesignadamente, entre as mulheres.
00:20:46
Speaker
E isso é uma coisa que me preocupa, porque realmente, não a expressão de vida global, mas como é que as mulheres que sempre tiveram uma expressão de vida maior do que a dos homens, começam a regredir por causa de coisas que eram tidas como...
00:21:06
Speaker
entre aspas, nota-me uma visão se calhar um bocado dicotómica e machista da sociedade, há hábitos masculinos, mas eu diria que há hábitos que foi pena repetirem-se ou extraírem-se do modo de ser dito masculino, como os acidentes, como o tabaco, como uma série de coisas que acabam por retirar não apenas anos à vida, como vida aos anos.
00:21:34
Speaker
E isto é preocupante.
00:21:36
Speaker
É como dizia a Patrícia.
00:21:37
Speaker
Viver até aos 100 poderá ser excelente.
00:21:40
Speaker
Mas viver até aos 100, estando 50 anos preso a uma máquina de diálise, é capaz de não ser tão interessante.
00:21:46
Speaker
Sim, sim.
00:21:47
Speaker
E é uma diálise interna, não é?
00:21:49
Speaker
É um pouquinho ainda mais difícil.
00:21:51
Speaker
E a propósito disso, a sua música favorita deste disco é Le Tank et Rest.

Carpe Diem e o Valor do Tempo

00:21:57
Speaker
Vamos ouvi-la e depois conversamos um bocadinho sobre esta canção.
00:22:00
Speaker
Com certeza.
00:22:23
Speaker
Combien de temps?
00:22:25
Speaker
Combien de temps encore?
00:22:28
Speaker
Des années, des jours, des heures?
00:22:30
Speaker
Combien?
00:22:32
Speaker
Quand j'y pense, mon cœur bat si fort, mon pays s'est lavé.
00:22:38
Speaker
Combien de temps encore?
00:22:40
Speaker
Combien?
00:22:45
Speaker
Je l'aime tant le temps qui reste.
00:22:49
Speaker
Eu vou rir, courir, pleurar, falar, ver, acreditar, dançar, cria, comer, nagear, brudir, desobedecer.
00:22:58
Speaker
Eu não tenho terminado, eu não tenho terminado.
00:23:00
Speaker
Voler, chanter, partir, repartir, sofrer, aimer.
00:23:03
Speaker
Eu l'aime, eu o tempo, o tempo que resta.
00:23:30
Speaker
Eu não sei onde eu sou, nem quando.
00:23:32
Speaker
Eu sei que não tempo que meu país é a vida.
00:23:36
Speaker
Eu sei também que meu pai disse, o tempo é como o pain, guarda-se para amanhã.
00:24:19
Speaker
Combien de tempo?
00:24:21
Speaker
Combien de tempo ainda?
00:24:23
Speaker
anos, dias, horas, horas.
00:24:24
Speaker
Quero que eu quero histórias, viajes.
00:24:28
Speaker
Eu tenho tant de pessoas a ver, tantas imagens.
00:24:31
Speaker
Des filhos, mulheres, grandes homens, pequenos, marrons, triste, inteligentes e com.
00:24:37
Speaker
É estranho, os cons, são repos.
00:24:41
Speaker
É como o folhamento no meio das rosas.
00:24:48
Speaker
Combien de tempo?
00:24:49
Speaker
Combien de tempo ainda?
00:24:51
Speaker
Des anos, dias, horas, eu m'en fico, amor.
00:24:55
Speaker
Quando o orquestra se arrumou, eu dançarai ainda.
00:24:57
Speaker
Quando os aviões não voarão mais voaraii todo seul.
00:24:59
Speaker
Quando o tempo se arrumou, eu t'aimerai ainda.
00:25:00
Speaker
Eu não sei onde, eu não sei por como, mas eu t'aimerai ainda.
00:25:17
Speaker
com?
00:25:47
Speaker
Mas esta a questão, quer dizer, como bem de tão... E esta letra é muito bem construída, é do João Lu da Abadi, um cordeiro a escolher um Lu, tem algo também, com certeza, que vocês interpretarão de uma forma mais analítica.
00:26:08
Speaker
Mas é engraçado porque, de facto, não é só...
00:26:13
Speaker
Le ton que reste para dançar, beber, nadar.
00:26:19
Speaker
Há aqui umas palavras que Rejane ou que Dabadi usa.
00:26:25
Speaker
Sofrir, pleurer.
00:26:28
Speaker
desobeir.
00:26:31
Speaker
O tempo que resta não pode ser um tempo de resignação.
00:26:34
Speaker
O tal tempo da reforma, do reformado que come telenovelas porque não mais nada a fazer.
00:26:42
Speaker
Que espera que o tempo passe.
00:26:43
Speaker
Que espera a morte, no fundo.
00:26:46
Speaker
Um pouco como no poema...
00:26:48
Speaker
Debreu, Léviê, que ouvem o relógio, que diz oi, que diz oi, que diz oi, que diz oi, que diz oi.
00:26:56
Speaker
No fundo essa revolta contra uma evidência que é o tempo é finito.
00:27:08
Speaker
E adoro este pormenor, este pequeno verso, que é... E, no fundo, eu acho que esta mistura de sentimentos.
00:27:16
Speaker
Viver, porque há uma coisa que às vezes me torce um bocado.
00:27:34
Speaker
Que apareceu sobretudo uma ideia depois do Clube dos Espetos Mortos, do Carpe Diem, da frase Carpe Diem, porque é muito antiga, e que tem sido corrompida por uma noção que para mim é altamente irritante.
00:27:52
Speaker
É a oposta.
00:27:53
Speaker
É que é a oposta, que é vive o teu dia como se fosse o último.
00:27:57
Speaker
Que não é Carpe Diem, é Carpe Agarra o Dia, não é?
00:28:02
Speaker
Agarra o Dia.
00:28:04
Speaker
E ele diz claramente, seize the day, não é?
00:28:07
Speaker
Agarra o dia.
00:28:08
Speaker
É agarra com garra, não é?
00:28:10
Speaker
Agarra com garra.
00:28:11
Speaker
Agarra.
00:28:12
Speaker
Mas agarrar o dia não é ficar apenas com ele.
00:28:18
Speaker
E esta ideia que viver como se fosse o último, eu acho perigosíssimo.
00:28:23
Speaker
Acho que é fazer tábua rasa do superego e deixar o idade tomar conta de tudo.
00:28:28
Speaker
É, ou abandonar.
00:28:30
Speaker
que não sei, não responde por mim, como diria o outro.
00:28:34
Speaker
Portanto, ainda bem que o meu superego, com algumas fraquezas de vez em quando, mas ainda vai, ainda me vai controlando e que a própria sociedade, o superego social, também me controla.
00:28:46
Speaker
Porque eu não sei o que seria.
00:28:47
Speaker
Portanto, essa ideia de que temos de viver o dia como se fosse o último, eu creio que não.
00:28:54
Speaker
Temos de viver bem, ou seja...
00:28:57
Speaker
E é não embarcar nas chamadas parvoícias e estupidezes.
00:29:02
Speaker
Sermos muito criteriosos em relação aos momentos, às pessoas, às coisas em que embarcamos ou não.
00:29:10
Speaker
E eu creio que, provavelmente, aprendemos isso muito tarde.
00:29:17
Speaker
E não creio, e a minha grande desconfiança globalmente no sistema de ensino-aprendizagem e o sistema social, é que não vejo grande vontade de se ensinar às pessoas a saber dizer não de vez em quando.
00:29:35
Speaker
E a deixar pousar o tempo, não é?
00:29:36
Speaker
Estava a pensar pela palavra, até o resto, não é?
00:29:39
Speaker
É, então que o resto.
00:29:40
Speaker
Exatamente.
00:29:41
Speaker
Justamente.
00:29:43
Speaker
E acabamos por estar sempre em atividade, numa atividade frenética, numa atividade adrenalínica, plenos de cortisol, a parte endorfínica é completamente... Hiperestimulada.
00:30:00
Speaker
E as endorfinas são vistas... Se alguém disser assim, eu ontem não fiz nada e maravilhei-me com o pôr-do-sol, com as nuvens do pôr-do-sol,
00:30:10
Speaker
Este deve ser um parasita da sociedade, para se dar ao luxo, não fazer nada, não é?
00:30:15
Speaker
E deve ser ou um poeta ou um pateta para se inebriar com as nuvens.
00:30:20
Speaker
Ou então me perguntar, foi um momento feliz, as nuvens, onde é que compraste essas nuvens?
00:30:25
Speaker
E isto, enfim, caricaturando um pouco, ou se calhar nem tanto... Infelizmente é nem tanto.
00:30:32
Speaker
Ou se calhar nem tanto, não é?
00:30:34
Speaker
Expressa realmente a ideia de que esta ganância, esta bulimia de viver o cotidiano está a prejudicar...

O Amor e a Vida Plena

00:30:46
Speaker
o tempo que resta.
00:30:48
Speaker
E gosto especialmente deste poema, porque depois de não ser apenas o letão que resta para fazer coisas, é também para sofrer.
00:31:01
Speaker
Je vais pelourir des torrentes de larmes.
00:31:05
Speaker
As lágrimas correm paralelamente aos barcos inteiros de vinho, ou seja, aqui uma transparência líquida que acaba por se misturar, as lágrimas e o vinho.
00:31:19
Speaker
e o final em que de facto nesta caminhada para o fim da existência que está aqui claramente assumida por Tabadi Barra Regeni e dita de uma forma espantosa, dita, cantada, não sei, de uma forma espantosa por ele,
00:31:41
Speaker
Há depois uma coisa, falando até dos cons que infernizam a vida, ele escreve isso no último carteiro antes da noite, aquele livro maravilhoso que ele escreveu com mensagens positivas e negativas e fortes em relação a uma série de pessoas que o acompanharam na vida.
00:32:01
Speaker
Ele acaba por fazer uma coisa, que é o resgatar...
00:32:05
Speaker
o ser humano da morte através do amor.
00:32:09
Speaker
Esta declaração de amor final
00:32:12
Speaker
que não sei onde, não sei como, quando tudo, não música, não avião, não nada, mas ainda te amo.
00:32:25
Speaker
E eu acho isto uma declaração de uma profundidade e de uma, não sei, de uma emoção.
00:32:34
Speaker
O amor resgata as pessoas.
00:32:37
Speaker
Sim.
00:32:38
Speaker
E eu acho que nós, muitas vezes, perdemos demasiado tempo a esquecermos do amor.
00:32:46
Speaker
Como também diz o Abrunhosa, amanhã é tarde demais.
00:32:51
Speaker
E muitas vezes não dizemos hoje o que devíamos dizer à pessoa amada.
00:32:59
Speaker
E sou o primeiro a admitir isso.
00:33:03
Speaker
É realmente necessário resgatarmos o amor, não de uma forma como é visto muitas vezes, lamechas, mas como talvez a expressão mais sublima dos sentimentos humanos.
00:33:18
Speaker
que é muito mais do que uma sensação é para recuperar esta ideia também porque as coisas aparecem como sensações e uma confusão permanente entre a sensação e o estar ligado e o estar envolvido e fazer este movimento que está neste poema que é fantástico queria pegar uma coisa que o Mário disse que eu achei incrível e quando o li não dei por ela este elementar que aparece na transgeracionalidade que é esta passagem de testemunho de existência que está extraordinariamente bem posto no pan deste tempo que permanece
00:33:49
Speaker
Queria agradecer-lhe por ter resgatado esse que me tinha passado.
00:33:52
Speaker
Nós somos, pelo menos na minha visão agnóstica, transportadores da ADN.
00:33:58
Speaker
E somos, no fundo, transportadores de mensagens e de provas de existência.
00:34:08
Speaker
Que esperamos, se calhar estamos iludidos, não é?
00:34:12
Speaker
possam influenciar outros a carregarem alguma coisa de nós.
00:34:18
Speaker
Não creio... Acreditem-me coisas.
00:34:22
Speaker
Gosto de fantasiar.
00:34:24
Speaker
Mas mais ao domínio da ficção científica.
00:34:27
Speaker
Fantasiar que um dia poderia vaguear por em busca do conhecimento, ter até uma visão global do conhecimento seria excelente, não é?
00:34:40
Speaker
Essa libertação.
00:34:42
Speaker
Enfim, é um wishful thinking, mas não passa disso.
00:34:45
Speaker
Mas isso que pegou, pegando aqui na questão do carpe diem e naquilo que a Patrícia estava a dizer de agarrar o dia com garra, é possível com uma perspectiva de futuro.
00:34:57
Speaker
E uma perspectiva de futuro com amor.
00:34:59
Speaker
Porque caso contrário é o vazio e o abandono.
00:35:01
Speaker
Era o sentido que o Márcio escrevia do consultório sem música.
00:35:05
Speaker
Sim, nós nos conseguimos perspectivar no futuro através do amor.
00:35:11
Speaker
e através desta que a Patrícia estava a pegar ajuda-me na palavra que eu agora não vou conseguir dizer obrigada e assim é possível fazermos uma projeção de nós mesmos num futuro caso contrário é um vazio, é um abandono é um cru é um esvaziar uma sensação é a avalanche que falávamos, não é?
00:35:37
Speaker
a avalanche que esvazia
00:35:41
Speaker
e a sociedade que se foi criando a dita sociedade civilizada o primeiro mundo, chama-se o que quiser e que tem muitas vantagens atenção, não estou aqui propriamente a querer voltar à idade das cavernas mas, para alguma coisa as coisas evoluíram, mas é bom ser crítico em relação à situação que temos e, por exemplo esse conjunto geracional
00:36:09
Speaker
é cada vez mais escasso e não apenas porque os avós trabalham e vivem longe ou porque os bisavós isto, não é apenas por essas razões, creio eu, é mesmo por uma questão conceptual e isto é que me assusta, quando é por uma razão circunstancial é ultrapassável, quando é conceptual é mais sólida.
00:36:30
Speaker
E nós vemos isso através deste esquartejamento que de gerações.
00:36:37
Speaker
Até, inclusive, os bebês, os menos bebês, os pré-escolares, os escolares, os escolares, até as próprias crianças, por exemplo, já são esquartejadas em grupos etários, não é?
00:36:48
Speaker
escolas onde é a turma dos dois, a turma dos três, a turma dos quatro... Dois e meio...
00:36:53
Speaker
E depois é engraçado porque um que tem dois, mas faz no dia 31 de dezembro e o outro... Chegamos a este ridículo e depois também na própria sociedade.
00:37:06
Speaker
Eu lembro quando fiz parte de um grupo de trabalho da Lei dos Parques Infantiz e eu e o professor Carlos Neto sugerimos que uma das coisas que devia haver era livre acesso aos parques infantis.
00:37:19
Speaker
E, desigualmente,
00:37:21
Speaker
um escorrega devia ser feito para todas as idades.
00:37:23
Speaker
Exato, adultos.
00:37:24
Speaker
Houve pessoas que subiram pelas paredes a dizer, como é que um velho se ia atrever a descer num escorrega?
00:37:31
Speaker
Era assim uma coisa completamente obscena, um velho atrever-se, atrever-se, foi a palavra usada porque nunca esqueci, a descer num escorrega.
00:37:41
Speaker
Ora...
00:37:43
Speaker
Eu que tenho transportes de Borla, Lisboa, se me apetecer descer num escorrega, porquê que eu não posso descer num escorrega?
00:37:51
Speaker
Vão dar de balões, outra coisa qualquer, convenhamos.
00:37:54
Speaker
Quer dizer, este escortejamento da sociedade, a separação, a não integração, por exemplo, nas escolas, de toda a massa que de pessoas com experiência, isto para mim mostra uma coisa.
00:38:07
Speaker
é o primado da informação sobre o conhecimento e sobretudo sobre a sabedoria.
00:38:13
Speaker
Os velhos, como o Borel cantava, não interessam, não transmitem nada, são os inúteis, não contribuem para a segurança social, pelo contrário, sacam da segurança social.
00:38:27
Speaker
E o que eles têm de precioso, que são as memórias, que são as histórias, é a transmissão de toda essa sabedoria acumulada
00:38:38
Speaker
e do caldear, no fundo, da vivência entre a teoria e a prática, não interessa, porque imediatamente o grande tema de hoje vai passar a ser completamente irrelevante face ao grande tema da manhã e ao grande tema depois da manhã.
00:38:59
Speaker
Como quem diz aqui é um minuto, não é?
00:39:01
Speaker
Às vezes o tema da manhã para o da Ia Mora.
00:39:05
Speaker
Portanto, torna-se desinteressante.
00:39:08
Speaker
E eu acho que este leiton que reste recupera esta necessidade.
00:39:14
Speaker
E eu acho que as palavras da Badi mostram isso.
00:39:19
Speaker
Os velhos Eu não gosto da palavra idoso Idoso Qual é a coisa?

Solidão e Autodescoberta

00:39:26
Speaker
Assética Paternalista Isso é um bocado uma idiosincrasia minha Mas velho, gosto
00:39:34
Speaker
Preferência com maiúscula.
00:39:36
Speaker
E eram os conselhos dos velhos que havia, não é?
00:39:40
Speaker
Ou dos anciãos dos velhos, não era dos idosos.
00:39:44
Speaker
Porque idosos somos todos, não é?
00:39:45
Speaker
Qualquer pessoa tem idade, não é?
00:39:47
Speaker
Mas é engraçado porque, no fundo, é uma esperança de um tempo
00:39:53
Speaker
onde não haja desistência, onde se façam coisas, onde se partilhem coisas.
00:40:01
Speaker
Isto respeitando outra coisa interessante, que eu acho que se fala pouco, que é a autonomia das pessoas de idade, digamos assim.
00:40:12
Speaker
A autonomia de um casal, por exemplo,
00:40:16
Speaker
Até ir viajar, que às vezes filhos que veem isso mal.
00:40:19
Speaker
Olha, agora têm 70 ou 80 anos e resolveram ir viajar para não sei onde.
00:40:25
Speaker
Agora digo-lhes uma travadinha que pensam que são jovens.
00:40:29
Speaker
Resolveram ir a Paris ou outro lado qualquer, pensam que são jovens.
00:40:33
Speaker
Aliás, a questão, por exemplo, a atitude da sociedade em relação à sexualidade das pessoas de idade é patoglomónica.
00:40:47
Speaker
É evidente, não é?
00:40:48
Speaker
É um misto de tabu e é o mesmo tempo de proibido do impensável.
00:40:56
Speaker
E eu creio que isso tem que ser realmente desmistificado e gostar tanto desta música.
00:41:01
Speaker
A propósito disso, falou da autonomia.
00:41:05
Speaker
Isto não tem tanto a ver com a autonomia, mas quando estava a falar aqui.
00:41:09
Speaker
Nesta questão do tempo de letão que resta e como podemos estar neste tempo que resta, eu tenho que falar aqui com a Patrícia sobre a música favorita dela.
00:41:22
Speaker
Não me estás a ouvir bem, agora me estás a ouvir bem.
00:41:24
Speaker
Sobre a música favorita dela, da Patrícia, que é a canção Ma Solitude, e que eu penso que é importante falarmos um bocadinho, porque eu creio que liga um bocadinho a isto também.
00:41:41
Speaker
Mas vamos ouvi-la primeiro, não é?
00:41:44
Speaker
Como quero.
00:41:45
Speaker
Por ter tão pouco dormido
00:41:52
Speaker
Com a solitude Eu me fiz quase uma amiga Uma linda habitada Ela não me quitte mais um passo Fidhosa como um ombro Ela me seguiu e A quatro cor do mundo Não, não
00:42:22
Speaker
Eu nunca sou seul com a solitude Quando ela está no caos de meu livro Ela toma toda a place E nós passamos de longas nuvens Todos os dois face a face
00:42:50
Speaker
Eu não sei realmente para onde irá essa complicação.
00:42:56
Speaker
Fale-t-il que eu pegue o gozo ou que eu reagisse?
00:43:06
Speaker
Não, não, não, não, não
00:43:22
Speaker
Por ela eu tanto aprendi Que eu perci de larga Se, se, se, se, se
00:43:50
Speaker
A última companhia Não, não, não Eu nunca sou a ver A ver A solitude Não, não, não Eu nunca sou a ver A ver
00:44:20
Speaker
A solitude
00:44:31
Speaker
Patrícia?
00:44:33
Speaker
É a mesma sensação do Mário, depois ouve-se a intensidade.
00:44:37
Speaker
É intensa.
00:44:39
Speaker
Mas agora queria dizer, porque eu acho que os miúdos dizem-nos sempre tudo, não é?
00:44:42
Speaker
Penso que pensamos um bocadinho nos três assim também.
00:44:45
Speaker
Porque eu fui ouvindo o álbum várias vezes no carro com os meus filhos, não é?
00:44:50
Speaker
E ontem à tarde o meu filho disse-me, põe aquela música da companhia.
00:44:55
Speaker
Então é uma coisa fabulosa.
00:44:58
Speaker
Disse tudo, não é?
00:44:59
Speaker
Mas para mim era quase impensável, eu estive a ouvir o álbum várias vezes, era quase impensável sair da zona desta música porque também é da minha infância, não é?
00:45:09
Speaker
Mas pelo menos está aqui e não a conhecia, é cantada pelo Rajani e foi maravilhoso encontrar esse lugar de alguma imperfeição que realmente nos permite dar mais espaço ao outro.
00:45:19
Speaker
Mas sem dúvida, e não encontro do que a Ana Teresa estava a dizer,
00:45:23
Speaker
Claro que está contemplada a capacidade de estar só, sendo que esta capacidade de estar que nós falamos em psicanálise é a possibilidade de ter companhia interna, sem a qual não capacidade de estar só, que não é um paradoxo, é uma simultaneidade, e aliás, é aquilo que possibilita, e que me parece que faz a ligação entre estas duas músicas, acho que é isso que estávamos a dizer, não é, Ana Teresa?
00:45:43
Speaker
Esta possibilidade que o amor traz, esta capacidade de alteridade no limite,
00:45:48
Speaker
é que nos a intimidade que leva ao sítio, não é preciso espartilhar, é onde se aguenta não espartilhar.
00:45:55
Speaker
Isto tu estava fazendo, era nesta direção.
00:45:57
Speaker
Sim, sim, sim.
00:45:59
Speaker
Esta música é realmente, ao som, é difícil escrever, mas também tem para mim muito significado.
00:46:09
Speaker
Talvez desde pequeno, por acaso,
00:46:12
Speaker
por ser o último numa família em que havia um irmão mais velho, seis raparigas e depois eu, e em que na altura se brincava muito sectorialmente, aprendi desde muito cedo a brincar sozinho.
00:46:32
Speaker
E deliciava-me brincar sozinho e ver estar jogos, estar sozinho.
00:46:36
Speaker
Por exemplo, uma coisa que gostei muito, criar esse mundo interno, essa mundo e vivência interna e até fazer o lucro pessoal.
00:46:46
Speaker
Às vezes o meu pai brincava comigo e dizia que a minha profissão seria o lucutor de futebol.
00:46:52
Speaker
porque eu fazia a locução de tudo e vozes e era uma teatralização absoluta das brincadeiras com os doméculos com os outros coisinhos eu lembro-me disso, recordo-me disso e é curioso porque estas duas versões a do Moçakia e esta do Regeni mostram um bocado a diferença eu gosto posso dizer igualmente os dois
00:47:16
Speaker
Eu não sei se igualmente, pronto, se quer não é bem, sim.
00:47:20
Speaker
Se quer um voto mais para o Regeni, porque uma doçura na voz de Regeni, talvez uma ligeira dureza maior em Jóximo está aqui, que resulta provavelmente da vida que tiveram e de todas as ocorrências.
00:47:39
Speaker
A vida de Regeni não foi fácil quando...
00:47:42
Speaker
o problema do alcoolismo quando o filho morreu, tudo isso foram coisas extremamente duras Moustaki também terá tido com certeza na sua vida alguns momentos não foram vidas fáceis como aliás provavelmente nenhum artista, digamos tem uma vida fácil e é engraçado porque o Moustaki também tem aquela música que eu adoro do Le Tant de Vivre Il est trop tard
00:48:10
Speaker
que no fundo é isso, não é?
00:48:12
Speaker
No fundo é cantar, amar, sonhar, o tempo existe.
00:48:15
Speaker
Quando isto passa, as agulhas giram, não é?
00:48:33
Speaker
E temos uma recuperação de uma outra música, realmente deste triunvirato.
00:48:41
Speaker
Que é a tua favorita, não é?
00:48:45
Speaker
Que é o amor, de facto, é um ponto essencial.
00:48:53
Speaker
Mas a capacidade de estar só, de sabendo que o outro existe.
00:48:59
Speaker
É que eu acho que define no meu conceito, e enfim, não é minimamente técnico, porque não sou expert na matéria,
00:49:08
Speaker
O amor oblativo.
00:49:09
Speaker
Exatamente.
00:49:12
Speaker
O outro existe, sabemos que está lá, sabemos que podemos contar com ele, sabemos que nos quer.
00:49:20
Speaker
A palavra meu querido, minha querida, vai perdendo o significado e a origem etimológica do verbo querer.
00:49:29
Speaker
E quando eu quero uma coisa, é uma expressão inérgica e afirmativa de algo.
00:49:33
Speaker
É muito.
00:49:34
Speaker
Eu quero, nós próprios dizemos às crianças, não seja tão afirmativo, não é eu quero, eu gostava, não é?
00:49:43
Speaker
Eu quero um gelado, não, eu gostava de um gelado, portanto o quero é um punho na mesa.
00:49:50
Speaker
E quando digo minha querida, meu querido, é uma afirmação fortíssima, que foi muito banalizada, eu acho que foi muito banalizada, e que não deve ser, e que expressa essa necessidade do outro,
00:50:07
Speaker
Mas ao mesmo tempo é a tal coisa, devemos ser ricos de nós, mas pobres do outro.
00:50:14
Speaker
E essa pobreza do outro obriga-nos a procurá-lo e a riqueza de nós evita que entremos num narcisismo maligno, completamente fora do tempo.
00:50:29
Speaker
É assim que eu interpreto

Individualidade e Relacionamentos

00:50:30
Speaker
esta música.
00:50:30
Speaker
Absolutamente.
00:50:31
Speaker
Sim, também tem a ver aqui com o non, non, non, je ne suis jamais seul, avec ma solitude.
00:50:38
Speaker
Porque a capacidade de estar só, só é possível com a existência do outro.
00:50:45
Speaker
É isto, não é?
00:50:46
Speaker
Não como sentir, não é?
00:50:49
Speaker
Como é que diz o Afonso?
00:50:50
Speaker
Companhia.
00:50:50
Speaker
Exatamente.
00:50:52
Speaker
E portanto, creio que é por aí.
00:50:56
Speaker
Sim, sim.
00:50:56
Speaker
E esta possibilidade de se aguentarem, também se aguentarem ouvir o próprio pensamento, que é outra coisa que é, portanto, resgatar.
00:51:05
Speaker
Esta possibilidade de nos ouvirmos dentro, à noite, quando nos deitamos mesmo acompanhados, estamos sozinhos.
00:51:09
Speaker
Sim, sim.
00:51:10
Speaker
É preciso suportar ouvir esse momento.
00:51:14
Speaker
Refletir sobre as coisas, pensar sobre as coisas, existe tempo, não é?
00:51:20
Speaker
E é outra coisa que eu encontro muito no meu cotidiano, por exemplo, em relação a adolescentes.
00:51:30
Speaker
Sobretudo os pais dos adolescentes, é a queixa de...
00:51:35
Speaker
Porque quer ir para o quarto dele ou dela.
00:51:38
Speaker
Como se fosse um crime.
00:51:40
Speaker
A vontade é, então, porque ele arranjou um quarto.
00:51:42
Speaker
Então, não arranjo.
00:51:42
Speaker
Eu durmo dores na sala.
00:51:45
Speaker
Não, quer dizer, faço um open space.
00:51:48
Speaker
Mas esta é a ideia.
00:51:50
Speaker
Mas depois a exigência de que os jovens sejam reflexos.
00:51:54
Speaker
Eles não pensam sobre nada, não refletem.
00:51:56
Speaker
Ora, muitas vezes é preciso estar sozinho para refletir.
00:52:00
Speaker
É preciso poder fechar a porta.
00:52:02
Speaker
É, sobretudo em alturas, na adolescência, por exemplo, em que as dúvidas são mais que muitas.
00:52:10
Speaker
Mesmo naqueles que aparecem, aparentemente, porque a adolescência é muito um teatro de sombras, e a sombra que aparece é carregada de certezas, mas por dentro é tudo muito incerto.
00:52:27
Speaker
e de dúvidas, carregado de dúvidas.
00:52:30
Speaker
E eu acho que isso é uma coisa que esta solitude não é bem uma tradução de solidão no sentido de desamparo.
00:52:42
Speaker
É, no fundo, estar amparado, saber que alguém...
00:52:49
Speaker
que é se alguém nos quer e que nós o queremos ou a queremos, mas ao mesmo tempo que um espaço e uma individualidade e uma identidade, a fusão de identidades amalgamadas
00:53:08
Speaker
não me parece que seja uma boa solução.
00:53:10
Speaker
Ainda tenho um bocadinho esta perspectiva, mas não sei se concordam comigo.
00:53:14
Speaker
Também tenho um bocadinho esta perspectiva, porque sim, acho que estamos a falar de solitude, mas eu também tenho esta perspectiva relativamente à solidão, que me parece uma coisa um bocadinho mais difícil de digerir e de transportar.
00:53:30
Speaker
Mas eu penso que da mesma forma que nós temos amor e ódio dentro de nós, temos um coração pulmões, nós todos temos a nossa solidão.
00:53:36
Speaker
E aqueles que entram em contato com ela e há os que não entram em contato com ela.
00:53:41
Speaker
E acho que quando nós entramos mesmo de facto em contato com a nossa solidão, e não é solitude, como uma coisa diferente de solitude, eu acho que nós podemos estar sempre em contato com a nossa solitude,
00:53:54
Speaker
mas também nos poderemos contactar com a nossa solidão.
00:53:59
Speaker
E eu creio que nós nos conhecemos mesmo, entramos na nossa identidade e temos uma intimidade connosco quando tocamos um bocadinho também a nossa solidão.
00:54:11
Speaker
Que também só é possível fazê-lo se houver solitude.
00:54:14
Speaker
Mas pode ser assustador.
00:54:16
Speaker
É assustador, e por isso é que tantos fogem disso, e por isso é que outros não fogem, e por isso assim vamos tantos, não, uns mais, outros menos.
00:54:23
Speaker
Mas creio que nós também fugimos muito disso, e creio que isto, quando a solidão é possível viver com solitude,
00:54:36
Speaker
acho que encontramos mesmo o amor é engraçado que ainda referindo a músicas o contrário disso dessa sensação de o outro estar ao nosso lado e não ser necessário mais nada que não se calhar uma mão dada que expressa a cumplicidade a cumplicidade interdigital aparece o contrário num magnífico poema de uma pessoa mais um que morreu
00:55:06
Speaker
infelizmente num acidente de viação, o Pátio Shandian, no Palabras, nos 20 anos.
00:55:14
Speaker
em que ele expressa a solidariedade compartida que no fundo é duas pessoas na mesma casa que nada tem para dizer nada para fazer e que nem consegue expressar numa canção e solamente palavras porque não consegue sequer ele disse que escrevi-lhe na canção pero nada saliu não consegue dizer nada e é uma
00:55:44
Speaker
é um marasmo e termina realmente com aquela bocado que é ralhada que está esta caça é o frio é a mesma solidão crua do desampar é a mesma solidão de exceção é a exceção no fundo é o momento da exceção total é a exceção
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Speaker
Passamos

Vivendo Plenamente

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Speaker
a tudo.
00:56:06
Speaker
Temos aqui o oposto disto.
00:56:08
Speaker
Exatamente.
00:56:11
Speaker
Porque o Mário Cordeiro falou em marasmo.
00:56:15
Speaker
Isto é tudo menos marasmo.
00:56:17
Speaker
Il faut vivre.
00:56:18
Speaker
É a minha canção favorita.
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Speaker
Vamos ouvi-la e depois conversamos sobre ela.
00:56:31
Speaker
Il faut vivre.
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Speaker
L'azur ao-dessus como um glaive Prate a tranchar o filo que nos retém deba É preciso viver em tudo, na bou e rêve En aimante à fome, e rêve e a boue É preciso se esquecer de adorar o que passa Um filme à la télé, um olhar na cor Um coração fragil e nascido, sob uma carapace Uma allure de filha ephémere que coure
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Speaker
Eu quero a minha querida e que diz todos os livros do poeta polar, da Bíblia Vermeulho, me dormir quase a jeunha e me réveiller livre, ter o primeiro gesto e não o último.
00:57:18
Speaker
Ter o emoção, de desejo de música, ouvir o silence onde Mozart chante ainda, ter uma memória hypocrite, amnésique, refratante regret.
00:57:30
Speaker
Indulgente ao Romano.
00:57:37
Speaker
Il faut vir, il faut peindre, Avec ou sans palettes, Esculpter dans le marbre, Effrayant du destin, Des élémentes du moulin, De la galette, La robe de marié, O s'endor la putain,
00:57:59
Speaker
É preciso ver Deus descendo uma rueda morna, em sifflotando um air de rancura e de espoir, e o diabo rêve, em aigurando as cornes, que a luz prende sua source no noir.
00:58:14
Speaker
Não mais tempo, o tempo nos a. Ele traine como um flúo de flanhos aos meandres moqueiros, mas eles encontramam um lio de chão de sirene e um sonho acrochado ao passo do remorqueiro.
00:58:29
Speaker
Jamais o que é teña, jamais o que te desgoa, sempre, sempre, sempre o que faz avançar.
00:58:36
Speaker
É preciso beber esses dias em um, goutte a goutte, e não encontrar de l'or que para o depender.
00:58:45
Speaker
Qu'on s'appelle Suzanne, Henri, Serge ou que sais-je Qui dame é vanessante, anonyme, paumé Il faut croire au soleil en levant la neige Et chercher le plus que parfait du verbe aimer Il faut vivre d'amour, d'amitié, de défaite
00:59:06
Speaker
De lir à perte d'âme, éclaté de passion, que l'on puisse écrire à la fin de la fête.
00:59:17
Speaker
Quelque chose a changé pendant que nous passions.
00:59:33
Speaker
Eu creio que é o desfecho daquilo que temos estado a conversar, não é?
00:59:40
Speaker
E gostando eu tanto de rock and roll, porque eu gosto mesmo muito de rock and roll, isto para mim é o rock and roll do Regiane, não é?
00:59:48
Speaker
Porque isto para mim é o rock and roll.
00:59:51
Speaker
que fica aqui pontacente.
00:59:55
Speaker
Nós todos temos um entendimento diferente do que é o rock and roll.
00:59:58
Speaker
Isto para mim é o rock and roll.
01:00:00
Speaker
E para mim o rock and roll é ecouté.
01:00:03
Speaker
Le silence ou Mozart chante encore.
01:00:07
Speaker
Ouça o silêncio onde Mozart ainda canta.
01:00:11
Speaker
Pronto, não é?
01:00:12
Speaker
Portanto, estamos a falar de companhia, estamos a falar de intensidade, estamos a falar de gosto pela vida, estamos a falar de expansão, estamos a falar de encontro, estamos a falar de saborear, estamos a falar de pequenos detalhes, de grandes detalhes, estamos a falar de agarrar o dia.
01:00:31
Speaker
Não é?
01:00:32
Speaker
De facto, essa frase é lindíssima.
01:00:34
Speaker
Aliás, eu penso que o Sacha Guitry escreveu que o silêncio depois de Mozart ainda é Mozart.
01:00:42
Speaker
E o Regenet também tem, junto nesse disco, um poema também fantástico em que ele diz... Viver, viver, même bancal, même à moitié, vivre, vivre, c'est ma dernière volonté.
01:01:01
Speaker
Acho que o título da faixa é Ma dernière volonté.
01:01:08
Speaker
E realmente é esse um bocado, neste tom que resta, é viver.
01:01:17
Speaker
Não, repito, de uma forma bulímica, desastrosa, de uma pseudo-ouvida para dizer que se fazem coisas.
01:01:29
Speaker
Às vezes o não fazer é tão importante como o fazer.
01:01:33
Speaker
Mas para do fazer, e cada vez mais, e aí talvez a reflexão que se vai fazendo ao longo dos anos e com a passagem dos anos, e sabendo, como diz o Aramburo, o que
01:01:47
Speaker
que não vai-me viver até aos 300 anos.
01:01:52
Speaker
O amor tem de ser recuperado mais no sentido da companhia, como falámos, da saudade, que expressa a ausência, no fundo também, da cumplicidade, do respeito
01:02:07
Speaker
em que muitas vezes falhamos por imprevidência não creio que seja a maior parte das vezes por sermos malévolos ou outra coisa qualquer é por imprudência por imprevidência por negligência porque acho que não temos muitas vezes cabeça para estarmos a pensar realmente o que é que estamos a fazer neste Tão que Reste
01:02:38
Speaker
Patrícia, vamos agradecer ao Mário por esta conversa, por nos ter feito companhia, por nos ter trazido o Regiane, que eu estava longe de hoje estar aqui a conversar sobre o Regiane e eu gosto tanto quando somos surpreendidos assim, não é?
01:02:57
Speaker
Obrigada, Mário.
01:02:59
Speaker
para fechar, nós não dissemos, e o Mário quando se apresentou disse que era escritor, mas não disse que tinha um livro de poesia também, pelo menos um.
01:03:05
Speaker
uma coisa que eu tenho que dizer, que isso é forçoso, é que...
01:03:13
Speaker
Essa companhia que nos ajuda a viver a solitude e que nos faz, no fundo, gostar deste tanque rest, pode ser uma pessoa ou pode ser um cão.
01:03:31
Speaker
E eu aqui não consigo me deixar de defender uma das minhas paixões
01:03:38
Speaker
a outra não revela porque é clubística e caía mal, mas uma e é mais terrena, é mais terrena e porventura variar.
01:03:48
Speaker
um outro programa mais efusivo, de facto, agora a sério, os cães, e agora estava a ver ali passar a Grace e de repente ela olhou para mim
01:04:03
Speaker
E é o sinónimo daquilo que deve ser o amor, a gratidão, o amor oblativo, o respeito, a brincadeira, o ar folgazão, a ousadia, a manha, a manipulação, mas no fundo... O quentinho.
01:04:22
Speaker
O quentinho, a humildade...
01:04:25
Speaker
e o nunca mas mesmo nunca usar o outro para abusar seja em que sentido for e é mesmo pegando nisso tudo e no seu livro Fernando Pessoa não tinha calma estou a dizer bem dois dias estava em Paris e falei com o Mário que me disse vai a Vergalan que eu realmente nunca tinha ido
01:04:46
Speaker
e hoje quando abri o livro à procura de um poema para nós, para hoje apareceu-me imediatamente este, coincidência ou não que eu vou ter a ousadia de ler para terminarmos, Mário, muito, muito obrigada por tudo, o poema é Paris, Paris sons idílicos viagens etéreas ao Vergalin em Paris, Henrique IV olha para nós e sorri num misto de pena e comiseração ele sabe o nosso desígnio nós é que não, e tu, meu cão muito obrigado
01:05:19
Speaker
3 Divãs, a Psicanálise, o Mundo e o Rock'n'Roll.