Reinvenção pessoal e alternativas
00:00:10
Speaker
Três divãs, a psicanálise, o mundo e o rock'n'roll.
00:00:20
Speaker
Uma possibilidade que a vida nos dá, na minha opinião uma das mais desafiantes de todas, é a possibilidade de nos reinventarmos.
00:00:29
Speaker
De cada vez que nos reinventamos, encontramos uma alternativa à invenção ou reinvenção anterior.
00:00:38
Speaker
E o que é o encontrar de uma alternativa que não é um sinónimo de saúde?
00:00:43
Speaker
Como dizia ontem um sábio médico, a divisão celular, com a divisão celular, temos sempre células novas e as velhas desaparecem.
Divisão celular e envelhecimento
00:00:53
Speaker
Estamos sempre a ficar mais novos.
00:00:55
Speaker
Os nossos tecidos renovam-se e são sempre diferentes.
00:01:00
Speaker
Envelhecemos porque, com o passar do tempo, as células vão perdendo a capacidade de se dividir.
00:01:06
Speaker
Os telómeros perdem a capacidade de partilhar o material genético e instala-se a senescência.
00:01:14
Speaker
O disco de hoje tem mais covers do que originais.
Álbum icônico e suas capas
00:01:18
Speaker
Creio que está na memória dos que o conhecem por conter um dos melhores covers da humanidade com uma interpretação soberba e inesquecível no Woodstock.
00:01:29
Speaker
Uma reinfeição a partir de uma partilha de bases tão diversas, uma coexistência harmoniosa, uma inovação, um objeto propulsor de saúde.
00:01:40
Speaker
Estávamos em 1969 e o título dado ao álbum diz tudo isto.
00:01:46
Speaker
A amizade, fulcral para esta criação.
Amizade como fonte de criatividade
00:01:50
Speaker
Os amigos como fonte criativa, os amigos como fonte de amparo.
00:01:55
Speaker
Eu diria, os amigos como a fonte mais desinteressada do amor.
00:02:01
Speaker
Os amigos a amparar a nossa renovação pessoal e as amizades a requerer também a sua reinvenção, também pelo risco de senescência.
00:02:12
Speaker
A Paula dir-me-ia, só se perde o que se tem.
00:02:16
Speaker
Eu digo, então podemos perder um amigo, porque só assim chamamos àqueles que sabemos que o são, àqueles que sabemos que temos.
00:02:25
Speaker
É bem verdade que, se também forem de verdade, ficam sempre, até sempre, dentro de nós.
00:02:32
Speaker
É por isso que às vezes dizemos que não nos víamos ou ouvíamos há tanto tempo e foi como se estivéssemos estado ontem.
00:02:41
Speaker
Afinal, não se perde, precisamente porque se tem a exceção.
00:02:48
Speaker
O reconhecimento do outro assente na diferença a dar lugar ao encontro.
Memórias nostálgicas e reencontros
00:02:54
Speaker
Nós ouvíamos religiosamente esta canção no Alentejo, num bar que tinha a família que eu escolhi.
00:03:00
Speaker
Ali amávamos os que ouviam, ou não, a mesma canção.
00:03:05
Speaker
Temos-nos perdido e temos-nos encontrado ao sabor da circunstância.
00:03:10
Speaker
Seguimos todos caminhos diferentes.
00:03:12
Speaker
Mas nos finais de tarde de sexta-feira, só nos reinventamos sempre na minha memória.
00:03:18
Speaker
E assim continua o rock'n'roll.
Introdução a Isabel Leal
00:03:22
Speaker
Com um pouco de ajuda de meus amigos, do Joe Cocker, o disco escolhido por Isabel Leal, a convidada de três divãs, com quem hoje, eu e a Patrícia Câmara, no Dia Mundial da Saúde Mental, vamos conversar aqui, ao vivo, no ISPA.
00:03:39
Speaker
Bom dia, professora.
00:03:45
Speaker
Pode-se apresentar.
00:03:46
Speaker
Posso-me apresentar.
00:03:47
Speaker
Mas pronto, sou a Isabel Yal e como pessoa eu diria que sou uma pessoa divertida.
Teoria prática segundo Kurt Lewin
00:03:59
Speaker
De bem que a vida, acho que é o que me defina.
00:04:05
Speaker
Se eu quisesse escolher uma frase, daquelas frases que as pessoas gostam de ter como temas, acho que era uma de um colega nosso, o Kurt Lewin, ou Lewin, como quiserem dizer.
00:04:16
Speaker
que é que não há nada mais prático como a boa teoria.
00:04:19
Speaker
E eu gosto desta frase porque cola com a maneira como eu sou ou estou, que é, por um lado, a dimensão da utilidade das coisas, e isto tem que ver com uma faceta que...
00:04:38
Speaker
que eu reconheço como minha, o fazer acontecer, o gostar de projetos, um certo pragmatismo.
00:04:48
Speaker
E depois o resto, o que está relacionado com a teoria, que é a importância da concepção das coisas.
00:04:55
Speaker
de uma dimensão mais de fundo, mais estratégica, mais pensada, mais cognitiva.
00:05:03
Speaker
E, portanto, acho que essa frase me serve para explicar.
Psicologia na vida de Isabel
00:05:10
Speaker
Fora disto, que é o essencial, tive a sorte, tenho a sorte, de ter, ao longo da vida, encontrado áreas de conhecimento,
00:05:25
Speaker
neste caso a psicologia, que se foi transformando em organizador central da minha forma de ser, estar, trabalhar.
00:05:40
Speaker
Tenho, portanto, uma profissão, e isso é uma sorte, tenho uma profissão que é também uma mundovisão e...
00:05:57
Speaker
E tudo o que eu tenho feito nos muitos anos em que estou ligada à psicologia, que vem para aí dos anos 70,
00:06:14
Speaker
Reconstrói-se cada fase da vida, porque a vida tem fases e as pessoas reinventam-se e às vezes, outras vezes não, mas enfim, e reformulam os interesses e as coisas e portanto ao longo da vida eu tenho com base nisto que eu chamo de organizador, não sei se já tinha ouvido falar da psicologia como organizador, mas pronto, foi o meu curso de base e é também as minhas múltiplas atividades ao longo da vida
00:06:44
Speaker
tem sempre esse caráter central de um conhecimento que é a psicologia.
00:06:53
Speaker
Não sei se isto chega, mas não chegar, vocês dizem outras coisas.
00:06:58
Speaker
É uma excelente introdução.
Educação nos anos 70
00:07:00
Speaker
É uma excelente introdução, mas disse-me aí uma profissão comum de visão e eu fiquei logo aí com essa frase.
00:07:06
Speaker
Então, uma profissão comum de visão.
00:07:15
Speaker
Uma das que, às vezes, eu consigo... Eu fiz Psicologia num tempo, portanto, eu fiz Psicologia nos anos 70.
00:07:24
Speaker
Nos anos 70 havia um bocadinho a ideia... As pessoas licenciadas,
00:07:29
Speaker
Eram poucas, não tem nada a ver com o que acontece hoje, não é?
00:07:33
Speaker
E doutoradas então eram inexistentes, eu acho que quando me doutorei havia 0,4% da população portuguesa doutorada, portanto está a ver o estranho que era.
00:07:44
Speaker
Mas tínhamos muita ideia, que não é a ideia de hoje, que quando fazíamos um curso estávamos destinados a ter como profissão aquilo que era como se os cursos fossem profissionalizantes.
00:07:54
Speaker
Eu acho que hoje em dia não é bem isso, é, antes pelo contrário,
00:07:59
Speaker
A maior parte dos cursos propicia um conjunto de conhecimentos que as pessoas depois aplicam em empregabilidades diferentes.
00:08:08
Speaker
Mas quando eu me licenciei, havia muito essa ideia de contínuo.
00:08:15
Speaker
E, portanto, eu fui muito fruto da época, no sentido em que tinha uma grande curiosidade em relação à Psicologia.
Influências culturais na educação
00:08:22
Speaker
E tive a oportunidade e a sorte, na altura em que fui para a Psicologia, havia o ISPA, não havia mais nada, não havia...
00:08:28
Speaker
Era na Feira Popular, não era?
00:08:30
Speaker
Não, não, não, eu fui para o ISPA, era na altura anunciado, e portanto era um sítio muito dinâmico, isto foi em cima do 25 de Abril, havia, digamos, as marcas culturais, foi um tempo gigilíssimo, tem imensa pena que...
00:08:52
Speaker
que não seja contável, narrável, a sorte que nós tivemos de viver naquele período histórico, porque chegávamos os ecos do Woodstock, exatamente, a Ana estava a referir, enfim, o Joe Cocker, que aparece exatamente no Woodstock, mas chegávamos os ecos do Woodstock,
00:09:13
Speaker
mas chegavam-nos também os ecos dos movimentos estudantis em França, portanto havia uma série de coisas que eram culturalmente muito relevantes e muito diferentes, que, enfim, que fazia que o estar na universidade fosse um...
Psicologia e visão de mundo
00:09:34
Speaker
Sim, e um privilégio absoluto, e uma experiência de vida, e era, enfim, tenho imensa pena não continuar a ser assim, acho que ainda continua a ser, de algum modo, um tempo especial na vida das pessoas, mas quer dizer...
00:09:49
Speaker
como foi naquele tempo, duvido que possa ser hoje.
00:09:54
Speaker
Até porque é uma coisa muito institucionalizada, muito adquirida, portanto.
00:09:58
Speaker
Mas isto para dizer que quando eu fui para a Psicologia, tive a oportunidade, só via o ISPA, tive a oportunidade de fazer tudo aquilo.
00:10:08
Speaker
Eu fiz estágios em todos os sítios.
00:10:10
Speaker
Quando acabei o curso, tinha mais experiência profissional que alguns psicólogos têm hoje, ao fim de 10 anos de profissão.
00:10:15
Speaker
porque podia estagiar, estagiai, sei lá, no Miguel Bombarda, na Estefânia, no Julio de Matos, enfim, podia fazer isso, não é?
00:10:26
Speaker
Tinha disponibilidade e podia fazer isso.
00:10:28
Speaker
Portanto, conheci-me essa gente giríssima, em Portugal e no estrangeiro, que depois me veio a ser útil,
00:10:35
Speaker
porque eu fui fazer o doutoramento para a Lovaina e, portanto, acabei por conhecer pessoas em Paris.
00:10:44
Speaker
Na altura, nós éramos francófonos, portanto, tínhamos uma grande ligação aos países de língua francesa.
00:10:51
Speaker
E, portanto, foi muito giro
00:10:54
Speaker
essa... E, portanto, quando eu digo que, no fundo, a psicologia me dá uma forma de... uma forma de olhar o mundo, o mundo à visão particular, é porque eu fui construindo a ideia que é que... Enfim, não sei se mantenho, se fui modificando até chegar... Hoje, enfim, diria... Digo desta maneira.
00:11:18
Speaker
Eu percebi que havia...
Crescimento pessoal e mudança
00:11:21
Speaker
um mundo social e cultural que era aquele que nós encontrávamos quando chegávamos e que depois trabalhávamos no sentido de ir ajudando a modificar e a facilitar mas depois havia outra coisa que era o nosso domínio o nosso domínio psi que era a maneira como nós lidávamos com as coisas e isto
00:11:51
Speaker
Eu, na altura, era muito novinha e acho que isto me marcou, definitivamente, no sentido de organizar a minha forma de ver o mundo.
00:12:01
Speaker
Eu acho que há um mundo exterior a mim e do qual eu posso interferir.
00:12:09
Speaker
Mas tenho sempre a intenção que o mundo não foi feito especialmente para mim, o mundo existe.
00:12:17
Speaker
está lá eu tenho capacidade de intervenção e vou tendo em diferentes áreas e em diferentes momentos mas de facto o meu material sou eu própria e portanto é a minha capacidade de ajustamento é a minha capacidade de transformação a minha agora estou a falar uma minha pessoal é a minha de cada um de nós é a minha capacidade de ajustamento por um lado e de transformação por outro que vai determinar a forma como
00:12:46
Speaker
não só como eu estou no mundo, como a vida me corre.
00:12:49
Speaker
E, portanto, isto é mesmo uma forma de estar no mundo e uma forma, eu diria, quase ideológica, quer dizer, não digo isto assim com o ideológico muito forte, não há nenhuma ideologia a propósito, mas eu diria que para mim é uma primeira ideologia, no sentido que eu me guio por isto e que eu olho o mundo desta
Identidade e percepção do mundo
00:13:13
Speaker
uma forma identitária, não é?
00:13:17
Speaker
Sim, é como eu sou, a maneira como nós vemos o mundo acaba por ser necessariamente identitária, a maneira como nós o sentimos e como fazemos.
00:13:30
Speaker
Queria dizer uma coisa só porque, sabe, foi a primeira professora, foi a primeira aula que eu tive aqui no ISPA, foi consigo, isto já há uma data de anos, não posso dizer há quanto tempo.
00:13:37
Speaker
Claro, claro, claro.
00:13:40
Speaker
Mas isto porque estava a falar desta ideia e do pensar, no fundo, qual é o papel da psicologia, não é?
00:13:44
Speaker
Porque eu lembro-me uma das primeiras coisas que nos disse, era um auditório cheio de gente, e disse, olhem bem uns para os outros, e agora pensem o que é que estão aqui a fazer.
00:13:52
Speaker
E eu lembro-me que é para nenhum cagasse com
00:13:56
Speaker
para mim até aquele momento, realmente foi um momento de introspecção, de estarmos ali todos a pensar, depois questionava, foi uma altura que havia imensa falta de trabalho para quem era da área psicologia, e portanto também questionava, até a noção de que tudo isto não se traduzirá, com certeza, em trabalho para toda a gente, mas simultaneamente foi importante, porque nos deu um contacto direto
00:14:21
Speaker
Com este movimento que está a dizer, que começa desde o princípio, não é?
00:14:23
Speaker
No fundo, já era este princípio de um dividência que estava falando.
00:14:28
Speaker
E a Patrícia está a dizer isto e é uma coisa que eu tenho de fazer, enfim, não estou a dizer que tenha feito sempre, mas que fazia normalmente, que era quando os alunos chegavam à clínica, eu sempre dei clínica, não é?
00:14:40
Speaker
E é uma coisa que eu interrogava as pessoas, porque objetivamente nós precisamos,
00:14:45
Speaker
maioritariamente e clínicos, não é?
00:14:47
Speaker
maioritariamente nós lidamos com o sofrimento humano ninguém vai ter connosco a dizer eu estou na maior era um contracenso, não é?
00:14:56
Speaker
e portanto, quer dizer e quando vão nós dizemos enfim, aí pensamos outras coisas mas quer dizer, não é isso que acontece
00:15:05
Speaker
uma pessoa não pode querer ter como trabalho e como atividade uma coisa que é gira porque é gira, porque está na moda, porque... E a psicologia tem estado em vários momentos na moda, voltou a estar na moda, continua.
00:15:16
Speaker
Acho que estará sempre mais ou menos na moda, porque...
00:15:21
Speaker
Porque existem seres humanos, se vocês quiserem falamos disso.
00:15:26
Speaker
Mas é preciso ter consciência que quando se quer trabalho, não é em psicologia genericamente, é em psicologia clínica, nós vamos trabalhar especificamente com as pessoas que estão em sofrimento.
00:15:36
Speaker
E ó percebemos isso.
00:15:38
Speaker
Eu que tive muitos anos, enfim...
00:15:42
Speaker
devido ao hospitalar, trabalhei 30 anos em hospitais, uma das coisas que eu percebi a certa altura que eu tinha que fazer, eu dou-vos um exemplo, eu trabalhei muitos anos, 20 anos na Alfreda Costa,
00:15:55
Speaker
E tinha muita gente a querer estagiar lá, porque na altura a Alfreda Costa era muito central, estava muito ina, e as pessoas diziam, ah, bebês estão giros e tal.
00:16:07
Speaker
O problema é que nós, os bebês, propriamente dito, bonitinhos e gorduros, não passavam por nós.
00:16:11
Speaker
O que nós víamos era, os bebês tinham nascido com problemas, que...
00:16:17
Speaker
ficávamos com o resto, não é?
00:16:20
Speaker
As mulheres que tinham dificuldade de engravidar, que faziam abortos contínuos.
00:16:27
Speaker
Quer dizer, o que ficava, esse é o nosso mundo, não é propriamente risonho.
00:16:35
Speaker
E ainda é maioritariamente.
00:16:37
Speaker
Felizmente, a psicologia fez o seu percurso e hoje...
00:16:42
Speaker
Eu devo dizer que eu não acho a maior graça a isso.
00:16:47
Speaker
Hoje em dia, nas notícias, houve-se uma coisa espantosa, houve um acidente, morreu alguém, recebeu apoio psicológico.
00:16:56
Speaker
Eu, que durante anos, isto é ridículo, eu que durante anos ensinei as pessoas, gerações de pessoas, a fazer apoio psicológico, fico-me irritada.
00:17:08
Speaker
porque acho que isto é uma maneira de dizer, epá, não sofreu muito porque havia ali alguém que lhe tirava o sofrimento.
00:17:14
Speaker
É uma desconsideração, é uma banalização, não gosto.
00:17:17
Speaker
Estão a ver que... Não, acho importantíssimo estar a dizer isso.
00:17:21
Speaker
Fica assim... Mas pronto, mas obviamente a psicologia fez o seu caminho e, portanto, hoje é uma parte integrante da vida das pessoas, as pessoas já falam com...
00:17:33
Speaker
e já procuram ativamente mas eu acho que temos sempre que distinguir aquilo que é o fenómeno de moda e portanto as pessoas que vão à procura de um psicólogo porque gostam de falar delas quem não gosta?
00:17:47
Speaker
e das outras que são as pessoas que de facto por qualquer razão estrutural, de personalidade ou de vida ou de circunstância estão sem instrumentos para lidar com uma situação e são dois níveis diferentes não que um tenha mais dignidade que o outro
00:18:03
Speaker
Não é isso, obviamente, que não faz mal de nenhum as pessoas gostarem de falar delas, ou quererem falar delas, ou precisarem de significar os seus conteúdos e os seus vazios internos.
00:18:18
Speaker
Mas, de facto, quando nós trabalhamos institucionalmente em instituições, no que nós apanhamos sobretudo...
00:18:25
Speaker
É este caso das pessoas que estão em situações muito difíceis, não é?
00:18:30
Speaker
Ou aconteceu-lhes coisas muito difíceis, ou têm personalidades muito difíceis, e portanto são trabalhos duros, não é?
00:18:36
Speaker
Aliás, lembro-me da professora fazer exatamente, alertar até para a questão do insucesso, não é?
00:18:40
Speaker
O que nós imaginávamos que era o sucesso não era o sucesso, o sucesso seria aquilo que era possível fazer com cada pessoa, de acordo com as...
00:18:46
Speaker
E foi também um alerta importante, não é?
00:18:48
Speaker
Estou da consciência, por ainda se lembrarem do que eu dizia há quantos
Auto-consciência e terapia para psicoterapeutas
00:18:52
Speaker
Eu já não consigo fazer contas, mas já deve ter sido há 20 e tal.
00:18:56
Speaker
Eu não sei, eu posso dizer... Eu tenho 44, foi há 20 e... Eu sei exatamente porque a professora Isabel Liel disse uma coisa que foi assim um reconhecimento extraordinário, porque eu achava que estava naquele caminho.
00:19:08
Speaker
Há duas coisas que a professora Isabel me disse em aulas diferentes.
00:19:13
Speaker
mas que uma delas foi se querem ser psicólogos ou se querem ser psicoterapeutas porque a dada altura na nossa aula que tínhamos era a mesma aula de psicoterapias e portanto isto foi para aí em 2001 porque a professora diz isto se querem ser psicólogos bons psicólogos e se querem ser psicoterapeutas comecem já a fazer terapia e eu na altura já estava há um ano portanto fiquei toda contenta
00:19:42
Speaker
achei que ter dito aquilo.
00:19:45
Speaker
Pensei, uau, ainda bem já estou a fazer.
00:19:47
Speaker
Estava desde 2000, por isso é que sei que foi em 2001, porque eu lembro-me.
00:19:50
Speaker
Mas também foi outra coisa que me marcou a propósito das psicoterapias e do estar com as pessoas, quando a professora, inclusivamente, a falar um bocadinho sobre o processo psicoterapêutico, mas a introdução que fez foi qualquer coisa deste género.
00:20:08
Speaker
Mas o diagnóstico é importante, claro que é, mas nós em 5 minutos percebemos se aquela pessoa é psicótica ou se é neurótica.
00:20:16
Speaker
O processo depois é que tem uma importância extrema e uma profundidade extrema.
00:20:23
Speaker
Eu lembro-me, não é?
00:20:25
Speaker
Eu na altura não sabia ainda se sabia distinguir um psicótico do neurótico, aliás...
00:20:30
Speaker
teoricamente sabia, mas na prática não sabia isto, lembra-me ter ficado há cinco segundos, pois realmente é uma coisa e disto me ter ficado que é de facto é importante percebermos se temos um psicótico, se temos um neurótico à frente é como é óbvio, mas para quem é psicoterapeuta e no processo psicoterapeuta muito importante é perceber mesmo quem é que temos ele à frente e com o tempo de que mora a fazer isso?
00:20:57
Speaker
É muito rápido, não é?
00:21:00
Speaker
O treino vai dando.
00:21:06
Speaker
Eu acho que já estou numa fase em que prefiro que sejam pessoas mais novas a dar aulas.
00:21:14
Speaker
Porque uma das coisas que a investigação mostra é que, eventualmente, à medida que nós vamos tendo muita experiência e, portanto, ficamos muito confortáveis com a nossa experiência e com o nosso conhecimento, começamos a cometer erros.
00:21:31
Speaker
E eu sou muito consciente disso.
00:21:33
Speaker
E eu acho que um erro...
00:21:35
Speaker
é presumir que os outros percebem o que nós dizemos e que para nós é uma obviedade, porque estamos lá, não é?
00:21:46
Speaker
E depois perder a consciência do que é que é relevante e do que é que não é relevante, porque há coisas que para nós são óbvias, não é?
00:21:54
Speaker
E, portanto, eu acho que às vezes é mais útil, e tento nas aulas e tal, ter gerações de pessoas diferentes, exatamente porque, quer dizer, como é que se explica o óbvio, não é?
00:22:06
Speaker
Não nos ocorre, não é?
00:22:10
Speaker
E agora estava a ouvir a Ana dizer isto e estava a pensar, depois, como vocês agora já sabem, há coisas que são... Quer dizer, que com o treino nós chegamos lá e quando trabalhamos em instituições e em clínica privada, enfim... Quer dizer, ao fim de 10 anos já vimos centenas de pessoas.
00:22:28
Speaker
Então quem trabalha em instituições, ao fim de... Ao longo de uma vida nós vemos milhares de pessoas.
00:22:35
Speaker
E, portanto, temos um conhecimento feito da experiência e do contacto
00:22:40
Speaker
que nos torna óbvio coisas que têm que ser explicadas, não é?
00:22:46
Speaker
Portanto, eu acho que... Mas sim, quer dizer, toda a psicoterapia, no fundo, e está a ver, isso é uma coisa que... Eu acho que há psicólogos, eu acho que há psicoterapeutas, dentro dos psicólogos, nem todos os psicólogos são psicoterapeutas, e uma das coisas que eu acho que me tem divertido na vida...
00:23:10
Speaker
Eu sei que isto pode parecer esquisito e divertido, mas eu acho que nós temos que ter... Lidar com o sofrimento das pessoas não é propriamente um prazer, certo?
00:23:25
Speaker
E dar-nos, obviamente, porque somos pessoas, desgaste...
00:23:31
Speaker
e ocasiona ao longo da nossa vida, em diferentes fases, diferentes tipos de processos.
00:23:35
Speaker
Mas a perceção que temos que ter necessariamente do nosso trabalho, do nosso investimento, tem que ser uma coisa, eu não diria boa, para não pôr as coisas em termos de bom e de mal, porque não é bem isso, mas no fundo nós temos que ter a ideia, acho eu,
00:23:56
Speaker
Dá algum prazer mesmo que secundário, é no sentido que eu falo de divertimento, quer dizer, acaba por ter uma sensação de prazer, o facto, e depois cada um não significa isto de outra maneira, alguns de nós dizemos, ah, eu faço isto porque, sei lá, dou aulas, ou sou psicoterapeuta porque me sinto a fazer a diferença, mas...
00:24:22
Speaker
Muitas vezes as pessoas dizem isso, exatamente porque há esse contacto direto, estão a ver.
00:24:28
Speaker
É engraçado quando você diz, eu lembro-me aquilo que disse há 20 e tal antes e de qualquer maneira ficou cá.
00:24:34
Speaker
Eu fico a pensar, olha, afinal, das coisas... Valoriza, confirma a nossa atividade.
00:24:47
Speaker
Mas acho que temos que ter, e eu tive a sorte de poder fazer isso ao longo da vida, diferentes coisas que não me tornaram prisioneira só de uma atividade.
00:24:59
Speaker
Porque acho que ser, fazer só uma coisa sempre, acaba por poder ser muito exaustivo, não é?
00:25:05
Speaker
E, portanto, o poder... Sim, sem dúvida.
00:25:09
Speaker
Estar na academia, fazer investigação, também tive muitos anos ligada à divulgação, acabei por ter muitas coisas também ligadas à gestão e, portanto, tudo isso...
00:25:26
Speaker
acabou por me dar esta... Isto que ele começava por dizer... Enfim, dar esta sensação de... De evidência.
00:25:36
Speaker
De boa disposição, se quiser.
Alegria nas conexões humanas
00:25:40
Speaker
E acho que há uma coisa nesta profissão que é o prazer de estar com o outro acima de tudo, não é?
00:25:50
Speaker
ou seja como dizia e bem é muito desgastante lidar com o sofrimento do outro mas eu acho que é uma coisa que todos nós temos enquanto profissionais e seres humanos profissionais seja da psicologia seja da psicoterapia que é o verdadeiro prazer de estar com o outro e que vai e que nos vai ajudando a equilibrar esse desgaste porque eu acho que temos mesmo o prazer na relação se não não faríamos isto
00:26:21
Speaker
Sim, acho que sim.
00:26:21
Speaker
Isso em relação à psicoterapia, porque apesar de tudo...
00:26:28
Speaker
Isso em relação especificamente à psicoterapia.
00:26:32
Speaker
Apesar de tudo, eu assumo como psicoterapeuta, claro, mas também como professora.
00:26:42
Speaker
Tenho passado muito tempo da vida a escrever, não sou escritora por causa disso, mas tenho passado muito tempo como investigadora.
00:26:49
Speaker
Portanto, nessas múltiplas facetas, eu acho que arranjei algum...
00:26:55
Speaker
equilíbrio, que para mim faz sentido.
00:26:57
Speaker
Estou a dizer isto?
00:26:58
Speaker
Eu acho que há pessoas que conseguem o equilíbrio não nessa forma cotidiana, mas de outras maneiras, ou não conseguem tudo.
00:27:07
Speaker
Não conseguem tudo.
00:27:09
Speaker
Fazendo diferentes coisas que têm, digamos, a mesma... que têm a mesma... o mesmo centro e o mesmo conhecimento que é a psicologia, mas têm campos de aplicação diferentes.
00:27:19
Speaker
Diferentes, claro.
00:27:21
Speaker
Vamos à música um bocadinho.
00:27:25
Speaker
Com um pouco de ajuda dos meus amigos, do Joe Cocker, porquê?
00:27:32
Speaker
A canção, que eu acho que quando a Ana de Vida estava a apresentar, acabou por dizer também para si,
00:27:45
Speaker
uma coisa que... um sentimento que eu acho que é comum a muitas gerações, não é?
00:27:51
Speaker
O aparicimento do Joe Cocker não é sequer da minha geração.
00:27:55
Speaker
Portanto, eu apanhei nas gerações seguintes o eco.
00:28:05
Speaker
De qualquer maneira, eu vi o Joe Cocker a cantar várias coisas que não me lembro, mas em particular lembro-me muito bem do A Little Help Do My Friend,
00:28:15
Speaker
Nos anos 80, já não posso precisar, numa coisa que havia e que vocês já não sabem o que é, que era o dramático de Cascais, que era um pavilhão ginóidesportivo horroroso, frio gélio, não é?
00:28:29
Speaker
Onde, que foi durante muitos anos, onde se faziam os festivais de jazz e onde vinham os grupos, era o pavilhão Atlântico da época, não é?
00:28:40
Speaker
E eu lembro-me de o ver lá nos anos 80,
00:28:44
Speaker
não sei dizer 80, meados ou 80 países.
00:28:54
Speaker
O que eu gosto é um conjunto de coisas, sobretudo é o timbre da voz, é a voz, porque a maior parte das coisas que eu gosto acabam por ter.
00:29:06
Speaker
É aquele fundo, independentemente depois de ser mais rock ou menos rock num momento ou outro, mas aquele fundo solo que ele tinha.
00:29:20
Speaker
E, de facto, eu lembro-me da interpretação.
00:29:23
Speaker
Quer dizer, eu não posso lembrar porque já passaram tantos anos, tantos anos, que não garanto que o que eu me lembro foi o que eu vi, ou de um filme, ou disto.
00:29:34
Speaker
Mas fiquei com uma fortíssima impressão daquela apresentação.
00:29:40
Speaker
E, portanto, enfim... E outro dia tinha estado também a fazer, a escolher uma playlist, e lembro-me que estive a fazer uma playlist e escolhi o Joe Cocker, eu escolho sempre o Joe Cocker, não é?
00:30:00
Speaker
e também eventualmente o conteúdo a canção não tem conteúdo praticamente a não ser quer dizer o título resume tudo a letra não é propriamente brilhante mas também não é preciso
00:30:13
Speaker
porque acho que sintetiza bem aquilo que é relevante em todas as gerações, acho eu, que é como as coisas são mais fáceis, ou como a vida corre melhor, ou com amigos, não é?
00:30:32
Speaker
E nós hoje sabemos, olha, a investigação em psicologia mostra isso mesmo, uma das variáveis mais consistentes sempre em tudo, e mais um par de botas...
00:30:40
Speaker
É o suporte de Seattle, não é?
00:30:42
Speaker
E portanto continua atual, continua... E eu gosto muito, continuo a ouvir.
00:30:50
Speaker
Uma coisa que eu sei que era dos Beatles e que eu nunca ouvi, quer dizer, eu já sou daquela geração de transição dos Beatles, já não é o aparecimento deles, já sou do tempo dos 10 years after, e digo isto porque os 10 years after, eram 10 years after os Beatles, não é?
00:31:09
Speaker
mas não me lembro de todo deste tema cantado pelos Beethoven, nem acho que nunca o vi, não sei se vocês alguma vez a ouviram, mas acho que transmite em gerações...
00:31:29
Speaker
provavelmente há temas que são intemporais, não é?
00:31:34
Speaker
E este me parece intemporal.
00:31:36
Speaker
Então vamos ouvi-lo e já voltamos para conversar sobre ele.
00:31:44
Speaker
Patrícia, with a little help from my friends.
00:31:49
Speaker
O que é que tu tens a dizer, Silvio?
00:31:50
Speaker
Tenho a dizer que se não fosse isso, não estava viva.
00:31:55
Speaker
Mas que agradeço imenso a sua escolha, acho fantástica.
00:31:58
Speaker
E só para reiterar o que já disse, acho que não há muito a acrescentar, é verdade que esta frase sintetiza tudo, não é?
00:32:04
Speaker
E sintetiza tudo aquilo que realmente nos faz falta.
00:32:06
Speaker
neste sentido de amizade que a Ana também falavas no princípio tão bem, que é esta abnegação na relação com o outro, que nos permite construir e ser construídos pelo outro e portanto lá está, suportar as agruras da vida de outra maneira, esta tal rede de suporte que nos mantém unidos e acho incrível o coro
00:32:23
Speaker
Esse cor que tu estavas a ver.
00:32:24
Speaker
O cor, sim, que é espetacular.
00:32:25
Speaker
É incrível, porque transmite esta ideia de companhia, não é?
00:32:27
Speaker
De que aquela voz que vem do fundo, porque disso não é soul voice, realmente, vem mesmo do fundo e arrasta, mas para esta companhia e por isso também se permite existir, eu acho que isso é. Sim, e é incrível, porque mesmo ainda há bocado, mesmo aqui agora, antes de começarmos o nosso podcast, estava a conversar com a Patrícia,
00:32:44
Speaker
Isto que a Patrícia está a dizer, portanto, o coro como companhia e o Jô Caco era a apelar à ajuda dos amigos e ao estar com os amigos como uma possibilidade de avançar para qualquer coisa, mas como no álbum todo se denota isto, porque é incrível, o que eu achei, e quando estava ontem, eu escrevi esta introduçãozinha ontem à noite, e quando estava a escrever estava a pensar, é tão incrível, porque ele vai buscar
00:33:09
Speaker
pessoas completamente distintas.
00:33:12
Speaker
O álbum, metade dele é de originais dele.
00:33:14
Speaker
A outra metade, aliás, acho que tem mais covers do que originais.
00:33:17
Speaker
Ele tem o Bob Dylan, ele tem os The Band, ele tem a Nina Simone, ele tem... São imensas bandas.
00:33:23
Speaker
Ele vai buscar canções dessas pessoas, dá-lhe esta performance espetacular, porque acho que em todas as canções há mesmo um cunho muito do Joe Coffey.
00:33:36
Speaker
Mas o que eu achei é que ele vai buscar tudo muito à volta disto, que é o ficar só, mas precisar do amparo do outro para continuar.
00:33:45
Speaker
Quase todas as músicas, eu estive-me a perceber, porque fui ver que letras é que ele escolheu, é quase tudo isto.
00:33:52
Speaker
Há uma certa sensação de abandono, isto é a minha interpretação, não é?
00:33:57
Speaker
Como se ele sentisse um abandono permanente...
00:34:01
Speaker
a necessidade de ir buscar o outro para sair desse abandono e de um sentimento que me parece até de solidão e depois este resgate sempre com o outro ao mesmo tempo e o que eu depois pensei foi é incrível porque ele vai buscar músicas de pessoas completamente diferentes mas de facto isto completa o título o álbum todo dá voz a este título
00:34:25
Speaker
E é por isso que eu também gosto tanto do disco.
00:34:32
Speaker
Mas sim, era isto, fundamentalmente, foi isto também que me saltou à vista ontem, quando estava a analisar mais profundamente as canções.
00:34:45
Speaker
Que a sua favorita é esta, sim.
00:34:48
Speaker
Eu gosto genericamente de...
00:34:53
Speaker
Eu gosto genericamente do João Cocker, como vos disse, porque ele tem interpretações, há muitos outros temas dele, que de facto, dele quer dizer, interpretados por ele, que tem essa força única, e...
00:35:16
Speaker
E o facto de ter este fundo solo, independentemente de... Eu não sei como é que é de chamar, não é?
00:35:24
Speaker
Estou a chamar assim porque é o... Aliás, até acho que se nós não soubéssemos que ele era branco, ficaríamos a achar que não era.
00:35:35
Speaker
E tem uma sonoridade que é muito dele.
00:35:37
Speaker
E tem essa expressividade até física.
00:35:41
Speaker
Eu imagino que seja cantar a mesma canção
00:35:45
Speaker
milhares de vezes, não é?
00:35:49
Speaker
Mas apesar de tudo, ele continua sempre a cantá-la com vigor e com entrega, vou dizer de outra maneira mais sofisticada, a atualizar a emoção, não é?
00:36:03
Speaker
E encarná-la, não é?
00:36:07
Speaker
E isso é importante, é importante em todos os aspectos da vida, não é só numa performance artística, não é?
00:36:13
Speaker
Mas é um autor, eu ia dizer, autor não é o autor que eu gosto, é o cantor que eu gosto, é o intérprete que eu gosto.
00:36:23
Speaker
Vamos ouvir outra canção, que é a favorita da Patrícia.
00:36:27
Speaker
Don't Let Me Be Misunderstood.
00:36:44
Speaker
Patricia, please don't let me be misunderstood.
00:36:51
Speaker
Mas eu tenho uma paixão por esta música também catada pela linha Simone.
00:36:56
Speaker
E portanto acho que as duas versões trazem este sítio interno de...
00:37:00
Speaker
Mas que apela a este lugar de compaixão.
00:37:02
Speaker
Eu acho que não é possível falar em saúde mental, sempre falamos neste lugar onde temos disponibilidade para tentar compreender aquilo que se passa com o outro.
00:37:07
Speaker
E portanto também esta escolha teve a ver com isto, com sentir que às vezes nós estamos certos atualmente de algumas coisas, que deixamos de ter este lugar e parece-me que isto nos tem estado a adoecer de alguma forma.
00:37:21
Speaker
E, portanto, para mim, acima de tudo, esta música sempre me apelou a qualquer coisa, claro, que não é um arrastado ficar eternamente na compreensão do outro que nos pode fazer mal, não é isto.
00:37:31
Speaker
É tentar compreender do ponto de vista relacional as nossas vulnerabilidades e de que forma é que elas nos impelem nem sempre a fazermos as coisas mais... mais... não queria dizer certas, porque não é certas o que eu quero dizer, é mais saudáveis no limite.
00:37:45
Speaker
Sim, e a propósito disso que falaste aí, hoje é o Dia Mundial da Saúde Mental, é por isso que estamos aqui, não só por isso, mas foi assim um três em um, não é?
00:37:57
Speaker
Vamos contar com a professora Isabel e vamos tentar ir ao ISPA no Dia Mundial da Saúde Mental, que está a ser comemorado, se pode dizer assim, se calhar não fica tão bem, como é que nós poderíamos dizer comemorar o Dia da Saúde Mental?
00:38:12
Speaker
Se calhar podemos, não é?
00:38:13
Speaker
Brindar à saúde mental.
00:38:17
Speaker
Não sei aquilo que... Eu não gosto particularmente... Agora há tantos dias de tanta coisa... Esmaçam-se... Esmagam-se uns aos outros.
00:38:29
Speaker
Mas apesar de tudo...
Reconhecimento da saúde mental
00:38:32
Speaker
Acho que as coisas têm o seu tempo histórico e para nós eu acho que ainda faz sentido escolher um dia e aproveitá-lo, enfim, como os dias de ânsia, essas coisas, não é?
00:38:45
Speaker
Aproveitá-lo um bocadinho para chamar a atenção da relevância, enfim, daquilo que o dia celebra no sentido de chamar a atenção.
00:38:59
Speaker
Eu acho que nestes últimos anos, e não por boas razões, enfim, eu acho que, de facto, a pandemia trouxe para a praça pública e para o conhecimento generalizado das pessoas.
00:39:13
Speaker
As pessoas perceberam, de repente, e voltamos ao...
00:39:19
Speaker
do primeiro disco do tema que eu escolhi como é relevante a presença dos outros as pessoas deram conta que sair de casa para andar de comboio beber um café trocar três dedos de conversa com o senhor do não sei de que
00:39:38
Speaker
E aquelas coisas todas que sempre acharam irrelevantes, afinal não eram irrelevantes.
00:39:43
Speaker
E nós sabíamos que não era, porque objetivamente nós vivemos a espelho dos outros, nós precisamos...
00:39:50
Speaker
Nós precisamos, todos nós precisamos dos outros, não tem mal nenhum, é assim.
00:39:55
Speaker
E se isso não acontece, se nós estamos virados para nós próprios, permanentemente,
00:40:08
Speaker
sem interações, sem trocas afetivas, nós vamos desfinhando, nós vamos ficando mais pobres.
00:40:20
Speaker
E, portanto, Deus conta disso a propósito da pandemia, que não foi bom, mas acho que, pelo menos uma geração, tomou consciência.
00:40:30
Speaker
A saúde mental existe mesmo, já não é um problema de saúde física, não é por causa do Covid, é mesmo por causa da...
00:40:37
Speaker
do estar sozinho é mesmo por causa da falta do outro não é?
00:40:45
Speaker
Também por isso, hoje em dia, há uma relevância, quer para a nossa atividade como psicólogos, como psicoterapeutas, há uma relevância social que eu acho reconhecida e fico contente por isso, mas nem sempre se traduz do ponto de vista dos poderes instituídos em acessibilidades, não é?
00:41:11
Speaker
E quando se diz aquela coisa que é, ah, mas nem há cirurgiões suficientes, como é que pode haver psicólogos?
00:41:19
Speaker
Não é uma coisa ou outra, não é?
00:41:21
Speaker
Não é uma coisa ou outra.
00:41:24
Speaker
Há um conjunto de... Não é preciso estabelecer hierarquias.
00:41:29
Speaker
E às vezes as hierarquias, estabelecidas, não estão bem formadas.
00:41:35
Speaker
São coisas diferentes, nós precisamos de...
00:41:38
Speaker
em diferentes grupos etários e em diferentes circunstâncias de diferentes técnicos e de diferentes contributos e de equipes interdisciplinares e de mais uma alta de coisas.
Saúde mental no dia a dia
00:41:49
Speaker
E a saúde mental, de facto, é a coisa de todos os dias, quando eventualmente a maioria de nós pode não precisar de um cirurgião uma vez na vida, não é?
00:42:04
Speaker
Agora, a maioria de nós, alguma vez na vida também, vai precisar, e de uma forma, não é pontual, é de uma forma relativamente continuada, do contacto ou da presença de um psicólogo, porque as nossas sociedades,
00:42:28
Speaker
As nossas educações, as nossas formas de estar, eventualmente não são grandiosas, não estão a promover tudo o que nós gostaríamos e, portanto, muitas vezes as pessoas têm circunstâncias em que não sabem gerir aquilo que têm que gerir.
00:42:43
Speaker
E nós aí temos um papel.
00:42:45
Speaker
Portanto, a saúde mental, de facto, é uma coisa de todos os dias.
00:42:50
Speaker
E acho que, enquanto for assim, faz sentido, pelo menos, enfim, não sei se é celebrar, mas é pelo menos dizer, olha, atenção, que há muitas coisas por fazer do ponto de vista político, sociológico, cultural, que depois têm consequências na maneira como as pessoas se sentem.
00:43:11
Speaker
E a saúde genericamente é muito relevante e a saúde mental em particular é fundamental.
00:43:20
Speaker
Eu diria mesmo que... Eu estava a ouvir... A saúde mental é saúde.
00:43:26
Speaker
E não nos podemos esquecer disto, não é?
00:43:28
Speaker
A saúde mental é saúde.
00:43:30
Speaker
E, portanto, a propósito do dia de hoje, eu continuo a lamentar que não seja mais discutida a saúde mental na Assembleia da República, que não seja mais discutida ainda...
00:43:46
Speaker
ao nível de tudo, pronto porque acaba por é quase como se de repente fica só a palavra mental não é?
00:43:56
Speaker
esquecem-se da wordplay portanto como na minha perspectiva não há saúde sem saúde mental claro, não há creio que sim, temos de continuar a celebrar e a discutir o dia mundial da saúde mental e este é o nosso propósito constante não é?
00:44:15
Speaker
Até mesmo com este podcast.
00:44:17
Speaker
Até mesmo com este podcast, que se pretende leve, mas cheio de significados também.
00:44:27
Speaker
E acho que sim, até pegando na canção que a Patrícia escolheu, Don't Let Me Be Misunderstood, eu estava a ouvir, e estava a ouvir isto que eu acho que também é muito importante ficar a pensarmos, que é o Don't Let Me Be Misunderstood,
00:44:43
Speaker
Acho que é mesmo também um pedido intrínseco nosso, porque há uma diversidade de personalidades, a diversidade é tanta e temos que nos reconhecer, ou não, mas temos que aceitar essa... Como esta própria letra até diz, que há uma parte minha que pode ser tão agradável e de repente há uma parte minha que pode ser tão dura.
00:45:06
Speaker
E eu só peço que me reconheçam e que me tentem compreender de alguma forma...
00:45:12
Speaker
e obviamente vou errar, estou a errar ou falhar, estou a falhar e só peço que haja aqui uma nova possibilidade e uma nova, uma hipótese de reparação e de avançar depois para a frente.
00:45:26
Speaker
Eu acho que isto é mesmo a saúde, não é?
00:45:27
Speaker
E eu só arredo uma coisa que estás a dizer que acho que também é importante que é isso, não é?
00:45:30
Speaker
É ter consciência de que há qualquer coisa que pode ser diferente, mas querer fazê-lo diferente, não é?
00:45:34
Speaker
Não é ficar só em paz com essa qualquer coisa que pode ser diferente.
00:45:38
Speaker
Ah, sim, sim, sim, com certeza, com certeza.
00:45:42
Speaker
Nós já estamos aqui a chegar ao fim.
00:45:43
Speaker
Nós, por norma, passamos três canções e eu também tinha a minha favorita, que até posso dizer e posso dizer porquê, mas não a vamos passar.
00:45:50
Speaker
Porque eu escrevi, não vamos porque eu quero aqui outra coisa.
00:45:55
Speaker
Neste podcast há espaço para tudo, principalmente...
00:45:57
Speaker
para ser à vontade e para o improviso mas eu tinha escolhido a primeira logo do álbum que é o Feeling All Right e que não é por nada em específico porque a letra nem me diz muito mas é precisamente pela interpretação e é uma música muito bem disposta e pelo feeling que o que o que o Joe Cocker lhe dá mas pronto é só para deixar aqui que acho que também é uma boa música mas não a vamos ouvir porque vamos fechar isto não é?
00:46:26
Speaker
nós estamos mesmo a chegar ao fim
00:46:29
Speaker
Querem dizer mais alguma coisa?
00:46:32
Speaker
Muito obrigada por me convidarem.
00:46:36
Speaker
Enfim, é fácil conversar um bocadinho, ainda por cima conversar convosco.
00:46:42
Speaker
E aqui no ISPA, não é?
00:46:45
Speaker
Na nossa casa, não é?
00:46:47
Speaker
Sim, é muito fácil.
00:46:50
Speaker
Então, muito obrigada professora Isabel Leal por ter estado connosco e por este momento.
00:47:15
Speaker
aos Dirty Mac e Okono, que são a canção da nossa introdução.
00:47:20
Speaker
Muito obrigada a vocês por terem estado presentes aqui connosco.
00:47:24
Speaker
Eu sou a Ana Teresa Sanganha e vou-vos deixar com um mimo aqui para a professora, que é esta, uma das suas preferidas também, que é o You Are So Beautiful.
00:47:38
Speaker
E até para o mês que vem.
00:47:55
Speaker
A Psicanálise, o Mundo e o Rock'n'Roll.