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Episódio 33

Três Divãs
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109 Plays1 month ago

Ana Teresa e Patrícia Camara

Concerto: Live Aid

https://open.spotify.com/album/0kenHkk55M5xQXbEqlFoOT?si=5gSWJycqSWiGVCxLEwRZYg

Transcript

O impacto do Live Aid e a união musical

00:00:10
Speaker
3 Divãs, a Psicanálise, o Mundo e o Rock'n'Roll.
00:00:22
Speaker
13 de julho de 1985.
00:00:25
Speaker
Tinha eu seis anos e a Patrícia cinco.
00:00:29
Speaker
Eu estava em casa, extremamente curiosa.
00:00:33
Speaker
Creio que ainda não tinha estrutura para o entusiasmo sobre o que ali seria passar, porque toda a gente passou a semana inteira a falar do acontecimento musical em direto na televisão para ajudar as crianças em África.
00:00:50
Speaker
Tudo começaram umas largas semanas antes com a saída de dois singles que foram diretamente para o top e que divergiam, já, no público que os ouvia incessantemente.
00:01:02
Speaker
Chegaram ao top os dois.
00:01:04
Speaker
Os mais novos a vibrar com o Do They Know It's Christmas e os mais velhos com o We Are The World, a Europa tão separada da América pela cação que as unia.
00:01:17
Speaker
O live-8 foi determinante para a minha saúde.
00:01:20
Speaker
Vou dizer outra vez porque não quero explicar o óbvio.

Espírito comunitário e desafios do Live Aid

00:01:32
Speaker
O Live Aid foi determinante para a nossa saúde.
00:01:36
Speaker
Como é que é possível não conseguirmos voltar ali?
00:01:40
Speaker
Há um momento em que, mesmo na expectativa de um pulo para o patamar seguinte, todos estavam de alma e coração no mesmo lugar.
00:01:49
Speaker
Como?
00:01:50
Speaker
Andámos tanto para trás e não pode ser símbolo a descontinuação do concorde.
00:01:56
Speaker
Não pode.
00:01:58
Speaker
O motivo deste podcast contar com três é esse mesmo.
00:02:03
Speaker
É que o outro existe.
00:02:07
Speaker
Um dos dias mais felizes da minha vida foi o dia do Live Aid.
00:02:11
Speaker
Outro foi o dia em que alguém que se esqueceu de tudo, mas não se esqueceu de me oferecer o Live Aid.
00:02:18
Speaker
E outro ainda é o dia da pessoa para quem o Live Aid sou eu.
00:02:22
Speaker
Com todas as salvaguardas de limite, claro, são inúmeras.
00:02:27
Speaker
Tantas que se torna insuportável ser saudável.
00:02:30
Speaker
E não é tão bom querermos andar todos meio doentes.
00:02:34
Speaker
Porque a doença não é a ausência de vida, a morte sim.
00:02:38
Speaker
A doença é o sítio onde podemos gritar a dor em silêncio.
00:02:43
Speaker
É o lugar do desespero sem o live aid, ao qual estamos agora todos entregues nesta impotência assistida pela inteligência artificial.
00:02:54
Speaker
Porra é esta De não querermos sair do lugar De topo Mas não se esqueçam O Nick Kershow tocou no mesmo palco Que o Bowie E um momento mais honesto Um momento em que o Brian Ferry Cantou o Jealous Guy Agora pensem Mesmo que demore muito tempo Oh Patrícia, vão 40 anos Tens a certeza
00:03:21
Speaker
Sim, fez agora no dia 13 de julho, 40 anos do Live Aid, a Antena 1 até fez uma emissão especial ali no Capitólio, que foi muito gira, para recordar os momentos do Live Aid.
00:03:35
Speaker
Que eu não sei se tu tens, o que é que tu tens presente?
00:03:37
Speaker
Tu lembras-te?
00:03:38
Speaker
O que eu me lembro é que eu estava a pensar por causa da pergunta que tu tinhas feito.
00:03:41
Speaker
E quando pergunto isto, é uma certa sensação de intemporalidade, não é?
00:03:46
Speaker
ou da temporalidade de alguma maneira e por isso dizia a brincar tens a certeza que passaram 40 porque por um lado claro se a gente for pensar isto cronologicamente quase que nem faz sentido nenhum eu não me lembro exatamente assim não me lembro do dia me lembro é da sensação de comunhão que havia não é?
00:04:03
Speaker
cantada pelas pessoas à minha volta, principalmente do Yard World, claro.
00:04:07
Speaker
Mas essa sensação desse lugar de comunhão, que acho que é isso que também estás a falar, a pergunta é como é que essa intemporalidade é tão rasgada tantas vezes,

Críticas à incapacidade atual de unir-se como no Live Aid

00:04:17
Speaker
não é?
00:04:17
Speaker
E se de repente somos confrontados e quase obrigados a olhar para uma temporalidade crua, é essa a tua pergunta também, não é?
00:04:25
Speaker
É. É um bocadinho difícil não estarmos...
00:04:29
Speaker
Por um lado desesperados, por outro lado a ter que perceber, e utilizando até os nossos próprios conhecimentos, que temos que nos despertar para não adormecer faça tanta ausência deste lugar que tu tão bem descreves no teu texto.
00:04:43
Speaker
Mas é que é incrível porque...
00:04:48
Speaker
Além do desafio que estes músicos tiveram, não é?
00:04:53
Speaker
Estes músicos e todos os técnicos, todas as pessoas que colaboraram neste acontecimento.
00:05:02
Speaker
Pela primeira vez iam fazer uma coisa que ia ser transmitida em satélite, que ia ser feita em dois países, que ia estar em direto para a televisão para todas, do mundo inteiro.
00:05:12
Speaker
E tu veres as pessoas do mundo interpoladas à televisão porque queriam ver aquele acontecimento, não é?
00:05:19
Speaker
E até mesmo a forma como os músicos queriam participar nisto, que eu falava aqui no texto, que obviamente todos queriam estar porque todos queriam ser vistos, mas todos queriam participar nesta iniciativa de poder ajudar o outro.
00:05:34
Speaker
Que era maior do que o que era Exatamente E como há assim Eu falo por mim Sinto uma tristeza Por isso não se conseguir Fazer isto hoje E nós estarmos a precisar tanto disto Porque nós estamos a assistir Estamos a assistir em direto Em direto A morte de crianças Na faixa de Gaza
00:06:06
Speaker
E como é que é possível não podermos fazer nada?
00:06:08
Speaker
Como é que é possível, não é?
00:06:10
Speaker
Esta sensação de impotência em que nós sentimos hoje com estes regimes que querem abraçar uma coisa totalitária,
00:06:24
Speaker
E este totalitarismo não ser o amor, não é?
00:06:27
Speaker
O totalitário devia ser o amor, não devia ser o desamor.
00:06:31
Speaker
Ou seja, o Live Aid conseguiu num dia fazer uma coisa totalitária amorosa, que é espetacular.
00:06:40
Speaker
E agora estamos aqui mesmo no campo do desamor que é esta crueldade de nem sequer as crianças.
00:06:50
Speaker
Como é que é possível matar crianças daquela forma?
00:06:56
Speaker
Deixa andar para trás um bocadinho.
00:06:58
Speaker
É que eu acho que este é o lugar que nós não podemos deixar matar, não é?
00:07:00
Speaker
Este lugar que se consegue e que por justiça é possível de ser feito, não é?
00:07:03
Speaker
Ah, claro, sim.
00:07:04
Speaker
E portanto, de alguma maneira, esse sítio dessa intemporalidade, desse encontro que tu disseste e maravilhosamente, que imenso trabalho, não é?
00:07:11
Speaker
É esta parte que é importante.
00:07:13
Speaker
trabalho, o encontro trabalho, é preciso de alguma maneira fazer gestão de identidade, não é?
00:07:18
Speaker
Para conseguir construir alguma coisa que é maior do que nós.
00:07:21
Speaker
E este trabalho que dá o encontro é que de alguma maneira também parece ser um pouco audível atualmente, como se... A facilidade com que tu gritas realmente é diferente da facilidade com que tens que modular a voz para transmitir uma ideia.
00:07:36
Speaker
É incrível, porque agora que pegaste nisso, vamos aqui um bocadinho à música outra vez, que é incrível a força do Bob Geldof, que de repente tem esta ideia e começa a mexer tudo, não é?
00:07:46
Speaker
Que é mesmo incrível, o Lionel Richie depois na América também teve, não é?
00:07:51
Speaker
E pá, é incrível como é que... Eu por acaso ainda não vi, tenho que ver, mas sei que as pessoas que viram gostam muito para ver o... Eu não sei, acho que é na Netflix que está o documentário.
00:08:03
Speaker
E que acho que está muito bom, que as pessoas gostam muito do que têm, que as pessoas que viram gostam.
00:08:11
Speaker
Mas, sim, voltando aí, porque, sim, isto requer um empenho e uma vontade de vida muito grande.
00:08:19
Speaker
E a consciência que se vai tendo à medida que se vai fazendo, que aquilo que vai sendo construído é maior do que essa individualidade que tu dizias, o que não significa abnegação da individualidade, significa de um reconhecimento justo que é sempre maior, quanto maior é aquilo que se produz.
00:08:30
Speaker
E esta ideia, como vamos falando, do entusiasmo, que é ver acontecer qualquer coisa, é muito engraçado que tu disseste o satélite, porque é mesmo numa atmosfera que é comum,
00:08:43
Speaker
que é comum, mas que tem isto, não é?
00:08:45
Speaker
um encontro entre as pessoas que é possível porque um respeito pela singularidade.
00:08:50
Speaker
E é esse respeito pela singularidade nesta gestão de trabalho que o permite fazer tão grande, não é?
00:08:54
Speaker
E que permite falar realmente em mundo, não é?
00:08:56
Speaker
Mundo de evidência, não é?
00:08:58
Speaker
E acho que é disso que estás a falar, não é?
00:09:00
Speaker
Porque este... Isso não é uma coisa.
00:09:02
Speaker
Não é uma coisa, exatamente.
00:09:03
Speaker
Porque este cru que tu falavas, não é?
00:09:06
Speaker
É impensável, isto quer dizer impensável.
00:09:08
Speaker
Pensarmos no que está a acontecer é domínio do impensável e o que me preocupa
00:09:13
Speaker
É isto que nós também sabemos, que para lidar com o impensável é uma parte de nós que às vezes vai congelando e esta consciência que nós temos que ter e nós que sabemos disto temos mesmo que ter e temos que fazer acontecer, que é não permitir que isso se assim e portanto há um despertar de consciência permanente que temos que fazer face a esta dimensão do que está a acontecer e nas micro pequenas coisas do dia a dia onde ele vai acontecendo, nós sabemos que...
00:09:34
Speaker
Quando alguém diz uma coisa violenta, nós tendemos a silenciar-nos, como quase uma resposta defensiva de sobrevivência, mas também sabemos que isto nos mata, se não nos despertarmos, não é?

Violência e a urgência de ação consciente

00:09:45
Speaker
As coisas que vamos falando em pequenas coisas no dia-a-dia têm mesmo que ser acordadas, porque de repente eu não sei o que é que senti-se, mas eu sinto isto e eu penso que tu senti-se igual...
00:09:52
Speaker
De repente fala-se imenso e bem da violência nas escolas, do bullying, e de repente está todo o mundo inteiro a fazer bullying e toda a gente acha normal.
00:09:58
Speaker
Portanto, uma... Não é toda a gente acha normal, é disparado, mas muita gente que... É como se fossem coisas diferentes, esta incapacidade de ver que do micro ao macro... Eu acho que o que está a ser desconcertante é a quantidade de notícias que nos vão chegando em que não qualquer olhar sobre o outro e que estão a ter tendência a ser normalizadas, não é?
00:10:17
Speaker
Porque...
00:10:21
Speaker
está, à velocidade em que elas estão a cair, mesmo uma tendência a normalizar isto, porque não se aguenta isto... É uma insuportabilidade que adormece, não é?
00:10:30
Speaker
Depois há outra coisa, a insuportabilidade que adormece e portanto que torna o movimento mais difícil às vezes, mas depois também um lado muito primário, muito com sentido, não é?
00:10:43
Speaker
Em que eu posso resolver o meu desamparo
00:10:45
Speaker
a atacar quando posso resolver que não posso nem mas criou esta ilusão tremenda que posso resolver o desamparo atacar porque é como se houvesse uma validação total de um pensamento primário permanente que existe é isto é que é tremendo porque o pensamento primário a solta quer dizer é selvajaria máxima
00:11:03
Speaker
Claro, e não simbolismo, não há nada, portanto não pode haver elaboração de nada.
00:11:08
Speaker
Esta ideia é muito triste, não é?
00:11:10
Speaker
E o que tu dizes, a tristeza realmente é o sentimento base, não é?
00:11:13
Speaker
Como é que esta regressão tão patética ao umbigo.
00:11:18
Speaker
Eu não costumo adjetivar, mas acho que é quase impossível não fazer isto, não é?
00:11:21
Speaker
Porque chega a ser risível, não é?
00:11:23
Speaker
Esta maneira como as pessoas estão a agarrar o umbigo e acham que isso é salvação.
00:11:26
Speaker
É uma coisa profundamente ignorante.
00:11:30
Speaker
Sim.
00:11:32
Speaker
É uma profundamente ignorante e...
00:11:36
Speaker
E em última instância se pararem para pensar, que acho que não o fazem, não é?
00:11:42
Speaker
Porque não conseguem pensar.
00:11:44
Speaker
E uma ignorância que não escuta aquilo que vai sendo a investigação científica.
00:11:47
Speaker
Exatamente.
00:11:48
Speaker
A ignorância... Exatamente.
00:11:50
Speaker
A não escuta do outro, mas além da não escuta do outro, independentemente da evidência científica, não é?
00:11:56
Speaker
Mas a não escuta... Nem a evidência que tu bem sabes.
00:11:59
Speaker
A investigação que nós vamos fazendo, clínica, científica... Ah, mas eu percebi tu teres dito a palavra evidência.
00:12:04
Speaker
Espero que não, só.
00:12:06
Speaker
Sim, mas a não escuta do outro Fecha-te num lugar muito isolado Em que de facto só ficas comigo Não consegues pensar mais, não é?
00:12:17
Speaker
Sim, portanto não Mas quer dizer, o pensar que isso é possível E não perceber que se está permanentemente a depender do outro É mesmo assustador
00:12:28
Speaker
Sim, sim, e as narrativas que se constroem para justificar o injustificável, não é?
00:12:32
Speaker
Como se houvesse qualquer coisa que permite não olhar a mais para atingir fins.
00:12:37
Speaker
Eu acho mesmo que isto é o pânico no seu expoente máximo, não é?
00:12:41
Speaker
Que é a expressão maligna do pânico, se pudesse conceber assim, não é?

Metáfora do concerto e espírito coletivo

00:12:49
Speaker
Por isso é preciso resgatar esta... Quando tu sugeriste este álbum... Este concerto, no fundo isto é um concerto, não é?
00:12:57
Speaker
Porque há de haver desde isto, mas é um concerto.
00:12:59
Speaker
Amiga, claro, isto é um clichê, o que eu vou dizer, muito básico, mas é muito... Tu disseste concerto, é mesmo isso.
00:13:03
Speaker
É uma tentativa até de concertar.
00:13:05
Speaker
Concertar é um bom bom.
00:13:08
Speaker
Mas sim, quando propuseste, eu me lembrei até da sensação que se vivia, não é?
00:13:12
Speaker
Essa sensação dessa comunhão.
00:13:16
Speaker
Porque eu acho que nós ainda por cima...
00:13:19
Speaker
E havia esta atmosfera de um desejo de comunhão e da consciência do prazer da comunhão.
00:13:24
Speaker
Portanto, é assustador, sim.
00:13:25
Speaker
Agora, uma coisa muito lateral, mas me lembraram de uma aula que dei uma vez, repara que isto é micro, não é?
00:13:31
Speaker
Mas não deixa de ser um lugar para nós pensarmos.
00:13:34
Speaker
Mas uma aula que dei, das multas que dava para desempregados de longa duração, uma vez dei a um grupo que me fizeram imensas advertências, a dizer que o grupo era muito complicado, que havia uma pessoa que era muito difícil, etc.
00:13:47
Speaker
E eu, na altura, achei que percebia mais daquilo do que as pessoas que me estavam a alertar.
00:13:53
Speaker
Não, ia com muita esperança que aquilo pudesse não ser verdade, acho que eu ia tentar não levar aquilo para a frente da relação com as pessoas.
00:14:00
Speaker
E a coisa correu muito bem, nos primeiros tempos correu muito bem.
00:14:02
Speaker
Na última aula, era eu a formadora, aquilo tinha vários formadores, e a última era eu que ia se distribuindo.
00:14:10
Speaker
E era a avaliação da formação toda, que não é uma avaliação formal, era uma avaliação...
00:14:17
Speaker
ou não formamos de outra maneira, não era nenhum teste, era uma apresentação de trabalhos que tinham sido realizados ao longo do curso, etc.
00:14:24
Speaker
E as pessoas chegaram uma hora depois da hora que era suposto ser a formação, uma hora e tal, bêbadas.
00:14:30
Speaker
E eu pensei, isto não é possível, isto é um boicote completo ao próprio... estamos falando de adultos, não é?
00:14:35
Speaker
Ao próprio...
00:14:39
Speaker
ajuda-me ao próprio curso, não é a própria concretização para si mesmo, mas não é?
00:14:42
Speaker
Pensei, isto é uma loucura, o que é que se passa com estas pessoas?
00:14:43
Speaker
E claro que também pensei, e comigo?
00:14:45
Speaker
Eu que investi tanto nestas pessoas e acreditei tanto nelas, fazem-me isto logo a mim.
00:14:50
Speaker
Fiquei chateadíssima, e disse.
00:14:52
Speaker
Aquilo era inconcebível, quer dizer, que era impossível fazer a avaliação daquelas condições, porque metade das pessoas estavam mesmo bêbadas a sério, não eram bêbadas um bocadinho.
00:14:58
Speaker
E há uma tipa que se está a rir, assim, com um riso muito sádico, muito perverso, e eu digo-lhe, mas está-se a rir de quê?
00:15:06
Speaker
E era a tal tipa que me tinham avisado, que eu não tinha lido.
00:15:09
Speaker
E ela olhou para mim, e entre outras coisas, eu dizia, mas como é que é possível vocês fazerem isto a vocês próprios?
00:15:14
Speaker
Pai, fazerem comigo, desculpem lá.
00:15:15
Speaker
Eu que realmente investi e que não acreditei que vocês não fossem ser capazes de fazer isto.
00:15:20
Speaker
E ela olha para mim, quer dizer, com aquele sorriso e diz, mas o quê?
00:15:23
Speaker
Achou que era especial.
00:15:26
Speaker
E a parte mais depressiva de mim pensou, foi apanhada no meu narcisismo.
00:15:30
Speaker
Mas depois tive um rasgo de lucidez e consegui segurar aquilo.
00:15:35
Speaker
Mas disse-lhe, não, eu pensava era que a não sei quantas também eram.
00:15:38
Speaker
Exatamente, é isso mesmo.
00:15:39
Speaker
Pois é isto, mas é duríssimo, não é?
00:15:41
Speaker
Sim, claro.
00:15:42
Speaker
Este lugar onde nós, isto para quê?
00:15:44
Speaker
Para alertar o lugar depressivo, que é essencial, mas que também nos pode aniquilar.
00:15:49
Speaker
E é esta gestão tão difícil, tão terno, que nós andamos a tentar fazer.
00:15:53
Speaker
E este sítio onde é preciso aguentarmos neste lugar é tremendo.
00:15:56
Speaker
Sim, sim, porque tu estavas a dizer, e bem, que deve ser dito, não podemos calar, temos que estar mais interventivos em tudo, não é?
00:16:05
Speaker
Eu costumo dizer, e faço e...
00:16:08
Speaker
É impensável para mim não dizer bom dia e bom trabalho às pessoas com quem me vou cruzando na rua.
00:16:12
Speaker
É impensável.
00:16:13
Speaker
Isto é uma coisinha, não é?
00:16:15
Speaker
Porque, na realidade, nós estamos permanentemente em lugares em que conversas, em que nós, de facto, discordamos, atitudes que nós vemos que discordamos e, de facto, temos de estar mais ativos e temos de ser mais interventivos.
00:16:29
Speaker
Não podemos ficar confortáveis a passar pelo pingue da chuva, porque os pingues da chuva mostraram-nos que chegámos todos aqui.
00:16:37
Speaker
A vontade de ficar num sítio confortável E não nos envolvermos em conflito As pessoas têm muito medo do conflito E da confrontação com ele Trouxeram-nos este lugar horrível Onde de facto tu tiveres medo E se te afastares sempre do conflito E da confrontação com as coisas Vai haver alguém que pega no rebanho E eu acho que Isso que tu estás a dizer Esse exemplo É muito bom
00:17:03
Speaker
Porque é mesmo um exemplo em que essa pessoa destilou ódio para cima de ti, não

Investimento pessoal e fé na humanidade

00:17:07
Speaker
é?
00:17:07
Speaker
A insuportabilidade dela em perceber que de facto houve alguém que investiu nela, não é?
00:17:15
Speaker
E como houve alguém que investiu nela, a insuportabilidade dela se sentir reconhecida nisso, que deve ser um lugar completamente impossível, de pânico, não é?
00:17:26
Speaker
Deve ser um lugar onde ela nunca esteve e quer muito estar, mas nunca esteve e portanto não sabe.
00:17:33
Speaker
faz, sim o impacto em ti é muito violento e depois teres que te reorganizar para dar uma resposta que coloca as coisas no lugar isto mesmo muito trabalho mas também imenso trabalho isto que estás a dizer é mesmo verdade é este sítio que nós não podemos desistir
00:17:52
Speaker
Mas também não desistir da humanidade, não é?
00:17:54
Speaker
Não desistir desta humanidade que está dentro de nós.
00:17:56
Speaker
Porque faça isto, claro que a minha vontade foi pensar, vão... Vão à vossa vida, não é?
00:18:02
Speaker
Afinal, eles tinham todos razão.
00:18:05
Speaker
Todos.
00:18:06
Speaker
Também não vou para os estudos de uma unidade voluntária, porque também ninguém tinha uma visão da impossibilidade total, mas havia alertas, não é?
00:18:11
Speaker
Mas eu pensei bolas a todas.
00:18:12
Speaker
Portanto, não desistir...
00:18:16
Speaker
independentemente do movimento independentemente da nossa vontade porque quando apanhas este tipo isto que tu estavas a dizer a negação total daquilo que está a acontecer em Gaza às crianças e ouça do
00:18:32
Speaker
Eu ponho assim aos adultos também Eu ainda me pergunto, muitas pessoas estão ainda A negação da violência sobre isto É estrondosa É enlouquecedora É estrondosa A minha pergunta é para manutenção de uma narrativa De negação completa disto É o mesmo lugar Tu vais e dizes qualquer coisa boa Mas onde é que está o lugar da humanidade aqui E a resposta é muito idêntica A este movimento desta mulher
00:19:03
Speaker
Sim, sim, é isso mesmo E outra coisa Ana Eu acho que a gente também vai falando Mas eu acho que esta coisa também Que é difícil, que é não cairmos nós Numa espécie de braço de ferro com a loucura Nós sabemos, por exemplo, uma negação completa De uma situação que é evidente, é psicótica Sim, mas era mesmo isto que eu te ia falar Não, eu ia dizer isto Porque acho que o Jung falava disto De psicose coletiva, não é?
00:19:30
Speaker
E eu acho que está a acontecer E a perda da complexidade Porque uma total perda de capacidade de pensar em complexidade De repente as pessoas deixam de ter valor por si próprio Começam a ser Mas que é isso mesmo a psicose, não é Patrícia?
00:19:44
Speaker
A psicose é a ausência de complexidade Entre outras coisas E de contornos Exatamente E portanto é mesmo difícil Mas nós também sabemos que se tentamos tirar um delírio A dizer que aquilo que a pessoa está a ver É um não lugar
00:19:58
Speaker
Amplia o delírio.
00:19:59
Speaker
Portanto, estamos todos a ter que lidar, como tu dizia bem, com uma coisa que é uma espécie de psicose coletiva, mas muitas vezes lidamos de forma linear também.
00:20:07
Speaker
A resposta tem ampliado ainda mais.
00:20:09
Speaker
Exatamente.
00:20:10
Speaker
Porque, Patrícia, eu tenho ficado muito espantada com conversas com pessoas que inclusivamente são capazes de refletir e de pensar e que não conseguem atingir o alcance disto nelas próprias.
00:20:24
Speaker
Ou seja, pessoas que acham que o movimento que está a haver relativamente, por exemplo, a gasa, que não as vai atingir numa onda... Então tem que ver aquela coisa do nariz da criouca.
00:20:33
Speaker
Exatamente.
00:20:34
Speaker
Ou as asas, como é que era?
00:20:35
Speaker
Agora sou capaz de me lembrar, mas é isso.
00:20:37
Speaker
Eu acho que isto é que... E acho que isto é o sítio onde se torna mesmo muito também difícil lidar com isto.
00:20:45
Speaker
Porque como é que se acordam...
00:20:50
Speaker
Como é que se combate isto?
00:20:52
Speaker
Claro que é no dia-a-dia, nas nossas intervenções diárias, mas como é que se combate isto?
00:20:58
Speaker
Não é?
00:21:00
Speaker
É porque é uma sensação de impotência tão grande, tão grande, que também nos adoece.
00:21:05
Speaker
Sim, sim, claro.
00:21:07
Speaker
Adoece, claro que sim.
00:21:08
Speaker
E psicosomaticamente falando, que isto tem repercussões tremendas do ponto de vista psicofisiológico.
00:21:12
Speaker
É uma burrice coletiva.
00:21:14
Speaker
Isto é mesmo uma estupidez coletiva.
00:21:16
Speaker
É a mesma ideia de que achar-se... É a mesma ideia, é a mesma forma como se está a olhar para a saúde, não é?
00:21:21
Speaker
Exatamente.
00:21:21
Speaker
Partir e despartilhar a saúde aos bocados, como se isso desse verdadeiramente saúde a alguém.
00:21:25
Speaker
Um pensamento a curto prazo muito doente, também muito perturbado.
00:21:30
Speaker
Sem uma visão global e desta coisa que nós vamos sabendo perfeitamente, mais uma vez, a atmosfera que se vive tem um impacto psicofisiológico.
00:21:36
Speaker
Às vezes já me até se grita, mas não sei bem mais como fazer.
00:21:40
Speaker
Esta ideia de que a atmosfera congelada não te causa nenhuma problemática, seca as pessoas, por um lado, e por outro lado as que não se deixam secar completamente para se manterem vivas, para ter regulações tremendamente...
00:21:54
Speaker
Tremendas, tremendamente tremendas.
00:21:56
Speaker
Mas a verdade é esta.
00:21:57
Speaker
É brutal para tu não te deixares adormecer.
00:21:59
Speaker
A quantidade de esforço interno que se traduz em produção de substâncias.
00:22:06
Speaker
E isto preocupa-me muito porque sempre aquela sensação de que quem ainda sente ainda pode ficar mais doente.
00:22:11
Speaker
Sim.

Memória do Live Aid como lembrete de unidade

00:22:12
Speaker
Por isso é que é preciso garantirmos que nos juntamos todos uns aos outros e que conseguimos fazer este concerto permanentemente.
00:22:18
Speaker
Eu acho que é a altura em que temos mesmo que nos lembrar da força deste concerto dentro de nós e não o largar de maneira nenhuma.
00:22:25
Speaker
Mas...
00:22:27
Speaker
Repara, os próprios músicos sentem, porque a música ajuda a resolver muita coisa, não é?
00:22:36
Speaker
Ou seja, para além dos bombeiros e tudo, não é?
00:22:40
Speaker
Os músicos também aparecem sempre para ajudar.
00:22:43
Speaker
E os próprios músicos não se conseguem organizar desta forma.
00:22:47
Speaker
Os próprios músicos não conseguem estar desta forma, não conseguem ter esta linguagem.
00:22:54
Speaker
Vamos lá ver, no outro dia quando estava a ouvir a emissão da Antena 1 e eles estavam a conversar sobre o facto do Bob Geldof,
00:23:02
Speaker
a minutos daquilo começar ainda não sabia se ia resultar porque podia haver falhas nos satélites mas tu colocares de ti isso tu arriscares este ponto em prol de qualquer coisa maior as pessoas não o fazem não o fazem mas a pergunta que ocorre mais entre as pessoas que querem de facto um mundo diferente daquele que se tem vindo a desenhar é como é que se faz isto hoje
00:23:31
Speaker
Não podem ser cobardes na relação com os outros.
00:23:33
Speaker
Têm que assumir as coisas que pensam e sentem.
00:23:35
Speaker
E sofrer as consequências disso.
00:23:36
Speaker
E sofrer as consequências.
00:23:37
Speaker
Mas não largar aquilo que vão sentindo.
00:23:39
Speaker
E eu penso que é agora mais do que nunca.
00:23:40
Speaker
Quer dizer, há coisas que a gente não pode ouvir e deixar passar.
00:23:43
Speaker
O que não significa entrar em contraditório literal.
00:23:46
Speaker
Significa impor a complexidade ao pensamento.
00:23:51
Speaker
Mesmo que se atordou, não é?
00:23:52
Speaker
Mesmo que se atordou, temos de estar capazes de despertar uns aos outros sem sentir que o despertar que o outro não está a fazer é uma ofensa, não é?
00:23:57
Speaker
Sei lá, as coisas que nós vamos falando até, olha, uma com a outra, não é?
00:24:02
Speaker
Desperta isto, aquilo, o que é que pesas de... Eu no outro dia tive uma situação em que me senti vítima de um abuso.
00:24:13
Speaker
e o abusador veio ter comigo e eu estou a chamar-lhe abusador porque a pessoa que veio ter comigo para tentar esclarecer o que é que eu tinha sentido com a ação dela em vez de me pedir desculpa no sentido de, olha, independentemente daquilo que aconteceu ou do que é que tu possas ter sentido não foi a minha intenção e se eu fiz não foi a minha intenção esta pessoa resolveu dizer-me qualquer coisa como
00:24:40
Speaker
tu deves estar enganada porque eu não te fiz isso uma coisa que eu senti que testemunhas e que houve pessoas que viram e eu automaticamente porque nem consigo fazer isto de outra forma coloquei o limite e disse não fizeste e a conversa pode acabar por aqui e esta pessoa ainda me disse que eu estava assim muito reativa
00:25:08
Speaker
E eu, nesse momento, tive que dizer, olha, eu não estou a ser reativa, a tua atitude para comigo foi abusiva e tu és um abusador, eu quero que tu me saias da frente agora.
00:25:21
Speaker
Pronto.
00:25:26
Speaker
Isto...
00:25:28
Speaker
É mesmo muito desconfortável.
00:25:29
Speaker
Tu teres que fazer isto diariamente.
00:25:31
Speaker
Sim.
00:25:31
Speaker
Eu estou a dar isto como um exemplo, mas isto acontece, e principalmente na vida das mulheres, com as mulheres, isto acontece de manhã à noite.
00:25:40
Speaker
Mas isso que tu estavas a dizer, eu pouco estava a falar com um amigo meu sobre esta situação, e que este amigo relembrou-me, mas tu tens que pensar que essas não são as tuas pessoas.
00:25:53
Speaker
E que, portanto...
00:25:55
Speaker
pessoas que pensam como tu e é com essas pessoas que tu tens que estar.
00:25:59
Speaker
Porque de facto não se podem admitir abusos.
00:26:02
Speaker
E os abusos têm que ir sempre travados.
00:26:05
Speaker
Se não paramos nisto.
00:26:07
Speaker
No sítio onde o senhor quer trocar a receita da Coca-Cola.
00:26:13
Speaker
Mas agora... Mas diz isto.
00:26:15
Speaker
que estás a dizer que acho que é ótimo, mas para ver o funcionamento da perversidade, não é?
00:26:19
Speaker
Porque tu o que disseste?
00:26:20
Speaker
Deixas estar perto das pessoas que pensam como tu.
00:26:22
Speaker
Agora, se fosse uma abordagem perversa, isto é para darmos aqui o exemplo em direto, eu acho que isto vai não bem.
00:26:26
Speaker
Se fosse uma abordagem perversa, seria dizer assim.
00:26:28
Speaker
Então ainda bocado tu disseste que era importante estar com o pensamento diverso e agora dizes que tens que estar perto das pessoas que pensam como tu.
00:26:36
Speaker
Não é assim que a perversão está a funcionar?
00:26:37
Speaker
É assim, exatamente E agora o que é que se responde à perversão?
00:26:41
Speaker
O que se responde à perversão é que o pensamento diverso não seria nunca totalitário Pensar como eu significa pensar em complexidade É que é fazer esta Porque isto é a toda a hora Isto é um ataque a toda a hora Sim, sim, sim Tu dizes isto e uma ambivalência que automaticamente há um lugar de uma suposta incoerência que não é, claro que não é uma incoerência porque é um olhar linear mas que nós temos mesmo que mostrar o que é isto que estamos a dizer
00:27:03
Speaker
Porque senão estamos sempre a ouvir estas coisas.
00:27:06
Speaker
Desculpa, era para aproveitar o que estava a dizer.
00:27:07
Speaker
Não, não, não, mas é que é isso mesmo.
00:27:10
Speaker
Mas é que é isso mesmo.
00:27:14
Speaker
É isso mesmo, até porque a diversidade do pensamento é que também te permite haver muitos lugares onde tu possas existir sem ficar aniquilado nessa...

Poder da música e conexão autêntica

00:27:32
Speaker
Olha, nesse sítio que te aprisiona e que não te deixa viver.
00:27:37
Speaker
Normalmente o que o abuso faz com o outro.
00:27:43
Speaker
O que o abuso faz quando as pessoas se sentem abusadas é isso mesmo que sentem.
00:27:48
Speaker
Que é o sítio onde podem estar naquele lugar e não podem existir de outra forma e estão à mercê do que o outro pensa.
00:27:55
Speaker
E sente.
00:27:59
Speaker
Olha...
00:28:02
Speaker
Eu estava aqui a pensar, estava a falar disto tudo e estava a pensar também numa outra coisa, que era que eu tive um namorado que dizia que gozava a toda hora com as músicas dos anos 80.
00:28:14
Speaker
Dizia mal das músicas dos anos 80, assim, tudo era excelente na década de 60, de 70 e de uma série de coisas, mas as músicas dos anos 80 tinham vindo estragar isto tudo.
00:28:25
Speaker
Pronto, gostos musicais, cabemos todos, não é?
00:28:29
Speaker
E para todos e, portanto, cada um, mas...
00:28:33
Speaker
Eu lembro-me de, e isto é uma coisa se calhar um bocado nostálgica.
00:28:36
Speaker
Mas ama-se alguém que não ouve a mesma cansa.
00:28:40
Speaker
Eu acho que sim.
00:28:41
Speaker
Eu acho que é possível, sim.
00:28:43
Speaker
Mas está a a responder a mesma coisa da época.
00:28:46
Speaker
Agora, o que eu pensava muitas vezes quando ouvia isto, é porque eu achava que independentemente do que acontecia na década de 70, em 80, e foi quando este foi este concerto, eu era muito pequenina.
00:29:02
Speaker
Mas as memórias que eu tenho é que era uma memória da mesma maneira que tu sentes a atmosfera que tu falavas, mas eu agora vou falar numa atmosfera mais pequena que é uma atmosfera diária na rua, em que tu permanentemente estás a sentir agressividade e ódio e uma certa tensão no ar, nesta altura...
00:29:21
Speaker
havia uma coisa de entreajudo e de encontro que se sentia e por isso também acho que foram possíveis fazer estas canções que eu estava aqui a falar no texto We Are The World e o Do They Know It's Christmas Time porque havia de facto um espírito de entreajuda que agora desapareceu que desapareceu mesmo eu acho que não desapareceu
00:29:53
Speaker
Eu percebo o que é que estás a dizer e não quero... Mas o que eu quero dizer é para não podermos... Não desaparecer porque nós estamos aqui, por exemplo.
00:30:00
Speaker
Sim.
00:30:01
Speaker
Mas acho que está aminguado.
00:30:03
Speaker
É isso que estás a dizer.
00:30:04
Speaker
Está aminguado porque nem está a ser estimulado.
00:30:06
Speaker
É isso, não é?
00:30:07
Speaker
Sim.
00:30:07
Speaker
uma ausência de estimulação para a possibilidade de fazer qualquer coisa em conjunto e de entrega e de vulnerabilização e de pertença ao outro e de pertença ao próprio e...
00:30:16
Speaker
E a vida está de facto tão difícil Que as pessoas estão a desistir desse lugar Ficam em pressuposto básico Pois essa é a preocupação É que o pressuposto básico toma conta da capacidade Mas eu acho Que nesta altura...
00:30:32
Speaker
isso se via mais de uma forma por exemplo, a luta da Madonna por determinadas coisas sim era uma coisa mesmo evidente o que estás a dizer é que poucos músicos atualmente que fazem este movimento não, não são os músicos eu sei, mas é que estou falando de músicos sim, mas por exemplo, eram coisas que se sentiam como, era uma evidência que agora não é tão evidente pronto hum
00:31:04
Speaker
É isto O que é que nós podemos dizer mais Patrícia?
00:31:09
Speaker
Podemos dizer esta parte Que é o que está aqui Se eles não sabem como é que tu dizes Do que?
00:31:15
Speaker
Se eles não sabem que é Natal Como é que é a música Do they know It's Christmas time Não perdemos esse lugar Dentro de nós Porque eu penso que é a única forma De lidar com isto tudo agora Independentemente da única maneira De não deixar que a violência nos mate mesmo
00:31:33
Speaker
É não deixarmos que este lugar desapareça, não é?
00:31:36
Speaker
Mesmo que nos queiram assustar, porque tentam, não é?
00:31:39
Speaker
Vem lá, vais dizer isto, vais dizer aquilo.
00:31:41
Speaker
Eu não tinha ouvido dizer isto e disseste aquilo publicamente.
00:31:43
Speaker
Olha as repercussões.
00:31:44
Speaker
Tu ouves estas coisas, eu também souço, não é?
00:31:46
Speaker
Sim, sim, sim.
00:31:47
Speaker
É não desistirmos todos deste lugar, porque este lugar é o único que nos pode manter vivos.
00:31:55
Speaker
E de alguma maneira estas pessoas Também não desistiram deste lugar Por isso que isto pôde acontecer Mesmo nesta altura Os anos 80 aconteceram porque as pessoas não desistiram Porque os anos antes Pelo menos em Portugal não demoriam assim de grande coisa Portanto houve pessoas que nunca desistiram É isto que nós temos que nos lembrar Se as pessoas não desistiram, nós também não vamos desistir
00:32:14
Speaker
Claro, mas é assim, nós nunca vamos desistir, é óbvio, não é?
00:32:19
Speaker
Mas o não desistir não... Por isso é que não podemos desacreditar o Natal, estás a ver na sua metáfora, não é?
00:32:26
Speaker
Neste sítio de magia relacional, não é?
00:32:28
Speaker
O que acontece, mais esta coisa que eu estava a tentar dizer bocadinho, depois interrompi-te, mas não é mesmo este sítio daquilo que tu não podes ver, a magia que está no espaço que tu não podes ver, que era isso que tu também está a dizer bocadinho que faltava, não é?
00:32:39
Speaker
Sim, sim.
00:32:39
Speaker
Tu tens que acreditar num momento a seguir, não sabes como é que ele vai correr.
00:32:42
Speaker
Mas até há uma, ajuda-me, o espanto, a surpresa daquilo que é o acaso do momento a seguir.
00:32:49
Speaker
E não deixar que isso, que este ferrezinho de impossibilidade de suportar o momento a seguir, se torne uma ditadura da falta de subjetividade, não é?
00:33:01
Speaker
Sim.
00:33:04
Speaker
E é incrível, agora voltando aqui à música outra vez, porque foi exatamente... Tu tiveste aqui muitas bandas e houve, por exemplo, a atuação dos Queen foi extraordinária, foi das melhores... O próprio David Bowie, que, por exemplo, quando canta All Heroes, foi um momento mesmo bonito também, porque é uma versão mesmo muito boa...
00:33:29
Speaker
A forma como as pessoas estiveram em palco foi espetacular Mas uma que se destacou mesmo foi o Bonovox Que foram ao live e que a dada altura ele salta para o das pessoas E começa a fazer aquelas coisas de ir buscar pessoas e de abraçar pessoas E faz ali um medley a cantar pelo meio do... Não sei se foi do... Não, foi do Bad...
00:33:52
Speaker
No meio do bed ele começa a cantar outras coisas e de facto eles próprios não perceberam o impacto que aquela atuação tinha tido.
00:34:00
Speaker
Que aquele gesto estava a ter.
00:34:02
Speaker
Porque ele de facto fez uma entrega brutal.
00:34:04
Speaker
Ele vai ao das pessoas, ele chama as pessoas para o dele e diz várias frases de outras canções muito interventivas do ponto de vista de olharmos o outro e de lutarmos pelos nossos direitos e de ficarmos de e de lutarmos.
00:34:18
Speaker
E de facto depois, para além do espanto das outras atuações, foi esta mesmo que saltou e que pôs o YouTube em cima.
00:34:30
Speaker
E que é espetacular, porque foi mesmo o momento de entrega, não é?
00:34:34
Speaker
Que depois teve o retorno para eles próprios, não é?
00:34:38
Speaker
E que naquele momento, o maior momento de entrega, é...
00:34:46
Speaker
É muito bom sentir que o mundo correspondeu ao momento de entrega.
00:34:50
Speaker
É isto, não é?
00:34:53
Speaker
E que eu hoje me parece que... Está com mais dificuldade a receber.
00:34:58
Speaker
Fazer também o gesto de... É isso que estás a dizer.
00:35:01
Speaker
Isso tu disseste é mesmo bonitona Porque era um gesto espontâneo Não era um gesto à procura de um reconhecimento Eu sou o bono que vou fazer isto Era um gesto espontâneo de humanidade E portanto também trouxe humanidade ao mundo Então estava a pensar que é completamente diferente de dar-te a mão Para te trazer até a um palco Com a humanidade Ou dar-te a mão para te trazer ao meu palco Exatamente, são duas coisas muito diferentes
00:35:25
Speaker
E eu recordo sempre uma coisa que vi do Bruce Springsteen Que eu acho que até te contei Que é o Bruce Springsteen está em palco E eu acho que foi até aqui Foi aqui, foi em Lisboa Isto passou-se em Lisboa Porque eu o vi em outros sítios Estou armada Estou armada em parva Não, mas foi em Lisboa Foi em Lisboa num concerto Em que o Bruce Springsteen leva uma criança Para cima do palco
00:35:54
Speaker
Ele começa a andar cá, andar cá, andar cá e alguém lhe passa uma criança.
00:35:58
Speaker
E ele andava com a criança de um lado para o outro.
00:36:00
Speaker
Estiveram a tocar e sei lá.
00:36:02
Speaker
E é uma criança mesmo pequenina.
00:36:06
Speaker
O Bruce Springsteen tinha à frente dele imensas seguranças.
00:36:09
Speaker
Ele podia tão somente ter entregue a criança a um segurança e o segurança virava-se para a mãe e entregava à criança.
00:36:15
Speaker
E o Bruce Springsteen não.
00:36:16
Speaker
O Bruce Springsteen desceu o palco com a criança ao colo e foi entregar a criança aos braços da mãe.
00:36:21
Speaker
Eu estava a assistir aquilo e estava a pensar.
00:36:24
Speaker
E é nisto que tu estás a falar.
00:36:26
Speaker
É, fizeste um poema agora.
00:36:27
Speaker
É esta a diferença, mas é que é esta a diferença, não é?
00:36:30
Speaker
É esta a diferença, de ir ao encontro do outro comprometido com alguma coisa, eu tenho aqui alguma coisa que é da minha responsabilidade e eu voto, eu encontro porque eu não vou pôr esta responsabilidade em mãos alheias, em minha.
00:36:52
Speaker
E este gesto, como é o gesto do Bono, como foi o gesto do Bono,
00:36:58
Speaker
é isto que faz toda a diferença e que sustenta é que esta e agora ia dizer para a pessoa esta coisa de ser além de cháni e de ter vontade de dizer a palavra porra como disse aqui esta porra é que sustenta depois até a crueldade quer dizer que depois em última instância aparecem sempre os mesmos para dar colo àqueles que nos agridem constantemente
00:37:25
Speaker
Era reforçar isto Porque é o gesto espontâneo mais uma vez Não é porque eu sei que se eu pegar na criança ou colo E foi eu que a foi levar ali E traz uma coisa Porque é o lugar que se despoja disto tudo Sim Porque é uma coisa meio intrínseca Estava a reforçar porque nós falamos sempre De um sítio que parte de uma raiz Interna, profunda E não de um comportamento apreendido
00:37:51
Speaker
É que nem é apreendido Às vezes é mimetizado Mimetizado, obrigada É que às vezes é mimetizado Quando às vezes os meus pacientes Me dizem Ana, eu preciso de ferramentas para lidar com isto E depois eu diz assim Então mas é o que tenho estado sempre aqui a fazer Ah, mas eu preciso de ferramentas específicas Para lidar com isto E depois Vem aquela conversa de...
00:38:22
Speaker
Que é isto, não é?
00:38:24
Speaker
Agora vamos aqui à psicanálise, não é?
00:38:26
Speaker
Também temos estado aqui sem paparar nela, mas vamos aqui à psicanálise, que é o sítio onde de facto uma transformação profunda em que a ferramenta te passa a saltar espontaneamente.

Ação genuína e crescimento pessoal

00:38:37
Speaker
Claro, lembra-te de uma frase.
00:38:39
Speaker
No outro dia alguém me perguntava, mas quais foram as grandes coisas que lhe disse o seu psicanálise?
00:38:44
Speaker
Ai, meu Deus.
00:38:46
Speaker
Eu lembro-me das que eu lhe contei a ele.
00:38:48
Speaker
Eu lembro-me das conversas, das conversas que eu tinha com ele.
00:38:51
Speaker
Mas frases que ficam a ecoar dentro de nós, não é?
00:38:54
Speaker
Sim, sim, sim.
00:38:55
Speaker
É esse processo de transformação que estás a falar e isso não se agarra assim.
00:38:58
Speaker
Não, e que era aquele movimento, que é aquele lugar onde tu de facto que estavas a falar, que não é uma coisa estratégica e planeada.
00:39:09
Speaker
consciente que é eu agora vou pegar na criança e vou levar à mãe porque fica bem eu levar a mãe à criança porque não que é isto que às vezes também os pacientes vêm à procura acham que vão ter umas frases e umas equações e de facto determinados tipos de terapia que os põem a fazer isto que é eu vou atravessar a estrada ai agora estou aqui ao da estrada está ali um limoeiro eu tenho medo de limões então eu tenho que me girar mais para a esquerda e assobiar três vezes para o medo dos limões me desaparecer não é?
00:39:37
Speaker
Pronto, é mais ou menos isto E com a psicanálise não de facto uma mudança interna Em que é isto Passa a ser espontâneo Aliás, tu deixas de ter medo dos limões E consegues perceber porque é que tinhas medo dos limões Ou ficas com medo e aceitas Ou ficas com medo e aceitas E não tens que estar constantemente A confrontar-te com os limões porque tens que provar ao mundo que
00:40:03
Speaker
Que tens os grandes limões ou que tens o controle, o controle sobre os limões.
00:40:10
Speaker
Que é o controle, tentar ter o controle sobre aquilo que te desorganiza, que é assim também uma coisa que...
00:40:18
Speaker
Enfim.
00:40:20
Speaker
Pronto.
00:40:20
Speaker
Agora é mesmo em associação livre de vaneio, mas estava-se a dizer isto e veio-me logo à cabeça o meu de laranja lima.
00:40:25
Speaker
E o que é que tu lembraste?
00:40:27
Speaker
Lembrei-me disso, desta parte simbólica da vida, não é?
00:40:31
Speaker
Porque esse é o maior temor, não é?
00:40:32
Speaker
Acho que é isto que nós temos, é esta ideia de que um mal-estar se trata, mesmo a ideia de que um mal-estar se trata, é em si mesma já...
00:40:41
Speaker
Se trata no sentido da cura, não é?
00:40:43
Speaker
Que desaparece, não é?
00:40:44
Speaker
Que desaparece dentro de nós.
00:40:47
Speaker
É uma segura, não é?
00:40:48
Speaker
Uma coisa é sofrimento, outra coisa, claro, uma sessão de mal está permanente, outra coisa é isto.
00:40:52
Speaker
Também uma confusão de conceitos, não é?
00:40:53
Speaker
Nós dizemos isto assim, podemos dizer de outra maneira ainda, não é?
00:40:56
Speaker
Mas...
00:40:57
Speaker
Esta ideia de que Passar por dentro de uma coisa Poderes largá-la, perceber qual é o sítio A partir do qual ela não é tua E aceitares isso Mais uma vez, como dizíamos no princípio, muito trabalho Mas é muito bom Mas é mesmo muito bom Estava a pensar naquilo que disseste há bocadinho Mas nós até podemos ir com uma equação A nossa é sempre a mesma, é a equação da complexidade Pois, ou Patrícia A equação do pensamento e da reflexão A ferramenta é o pensamento E a reflexão
00:41:27
Speaker
Pronto, acho que está... We are the world.
00:41:30
Speaker
We are the world, we are the children.
00:41:35
Speaker
E falta dizer outra coisa que é... Que de facto é mesmo muito difícil o que estamos a passar e que não sei que seres humanos é que poderemos ser.
00:41:47
Speaker
E tu fizeste uma partilha no dia de uma coisa muito...
00:41:50
Speaker
Não é bonita, no sentido bonito, quer dizer, é, estética e eticamente humana é muito importante, era o Benini que tu perdeste.
00:41:58
Speaker
Ah, o real do Roberto Benini, mas que é isto, que humanos é que nós podemos ser, com isto a acontecer e estarmos a assistir a isto em direto e que...
00:42:11
Speaker
Que seres é que podemos ser?
00:42:12
Speaker
Ele dizia aquela frase, não é?
00:42:14
Speaker
A partir do momento em que há uma, a pessoa que está a ser ferida desta maneira, estamos todos.
00:42:19
Speaker
E esta ausência de consciência deste lugar é dramática.
00:42:26
Speaker
Então, vamos agradecer ao Bob Geldof, mesmo que ele não nos ouça.
00:42:32
Speaker
Porque temos que agradecer muito ao Bob Geldof e a estes músicos todos que se uniram e que nos fazem companhia para sempre.
00:42:43
Speaker
Temos que agradecer à Climepsi e a nós todas por estarmos aqui, Carolina Patriciana e Teresa Sanganha.
00:42:53
Speaker
E estaremos daqui a um mês.