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Episódio 31

Três Divãs
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64 Plays13 days ago

João Didelet, actor e encenador.

Transcript

Introdução: Psicanálise, o mundo e o rock'n'roll

00:00:10
Speaker
3 Divãs, a Psicanálise, o Mundo e o Rock'n'Roll.
00:00:19
Speaker
O disco de hoje cai que nem ginjas.
00:00:23
Speaker
Não fosse a censura, a mãe da metáfora.
00:00:27
Speaker
Candeia que vai à frente, não é figura de gente.
00:00:32
Speaker
Ainda ontem o rei, que de retórica também nada sabe, corria nu.
00:00:39
Speaker
Ironia trágica esta, quando o espectador é o amor, antagonicamente responsável pela sua nudez.
00:00:49
Speaker
Se os meus olhos te despem e te acolhem, é por te saberem censurada à nascença, que no dia em que nasceste, castraram-te e nunca chegaste a crescer porque te cortaram o pio.
00:01:04
Speaker
E agora corres desenfriado a experimentar todos os buracos à espera de encontrar o teu.
00:01:11
Speaker
Sabes, nunca de saíste, porque?
00:01:14
Speaker
Também não sabes, mas a linha da tua sedução é o contorno desse mesmo buraco, que não reconheces porque nunca soubeste o que ia para dele.
00:01:24
Speaker
Lugar tão desejado, mas inalcançável.
00:01:29
Speaker
O medo de saltar o controle e perder o contorno é do tamanho da tua vergonha que é transparente, pela sua falta e, por isso, impedida de provar a mãe de todas as adições, a única fecunda, acessível a quem consegue aceitar que não foi amado como queria, foi como podia.

Impacto de Chico Buarque no Brasil dos anos 70

00:01:55
Speaker
O disco de hoje acrescenta um divã ao três porque se chama Chico Buarque e é do Chico, claro.
00:02:04
Speaker
1978 estava ao Brasil nas amarras que acabei de descrever.
00:02:08
Speaker
Foi o João de Idelé quem o escolheu, na sua ignorância sábia, no dia do 81º aniversário do Chico, no passado dia 19.
00:02:18
Speaker
Ao João temos de agradecer por não se ter amarrado, desculpem, armado em carapau de corrida e nos ter trazido a força em forma de simplicidade.
00:02:29
Speaker
A Patrícia Câmara e eu vamos receber-te, João, como eu nunca te recebi na minha casa, mas porque moramos muito longe um do outro.
00:02:39
Speaker
João Didelê, sejas bem-vindo ao Três Divãs e à Casa do Comum.

João Didelê: De biólogo marinho a diretor

00:02:44
Speaker
Olá.
00:02:45
Speaker
Olá.
00:02:45
Speaker
Obrigado.
00:02:46
Speaker
Apresenta-te, João.
00:02:50
Speaker
Eu apresento-me.
00:02:52
Speaker
Eu sou o João Didelê, como tu já disse.
00:02:55
Speaker
Sou ator algum tempo, nem sempre foi este o meu objetivo.
00:03:04
Speaker
Pensei um dia que ia ser biólogo marinho, imagina.
00:03:10
Speaker
Mas, entretanto, a coisa não deu por aí, porque eu dispersei-me da ciência em direção a outros voos mais...
00:03:22
Speaker
Ontem eu me sentia mais livre, não tão presa à ciência, por assim dizer.
00:03:30
Speaker
Portanto, ator, encenador, também conto com algumas traduções de peças de teatro,
00:03:41
Speaker
Fiz o conservatório Isto é para fazer o currículo?
00:03:44
Speaker
É o que tu quiseres Se quiseres fazer o pino também podes Não se vai sentir no som Se calhar vai que eu caio logo para lá Acho que sim Não sentes o barulho do mundo Sinto completamente
00:04:00
Speaker
E, não, é sério, mudei radicalmente, radicalmente não, mas mudei porque não me sentia completo na parte científica e fui à procura de qualquer coisa que me preenchei mais.
00:04:15
Speaker
E acho que encontrei-me nesta casa de ser ator.
00:04:19
Speaker
Encontrei-me aí e é onde eu me sinto bem, sinto-me feliz, sinto que posso aportar qualquer coisa, pelo menos para mim, espero que para os outros também.
00:04:29
Speaker
Sim.
00:04:31
Speaker
Porque acho que este é um caminho que nós temos que fazer e então temos que perceber onde é que nos sentimos melhor.
00:04:40
Speaker
Muito bem.
00:04:41
Speaker
Não sei, chega-te?
00:04:42
Speaker
Chega, não, chega não Chega e muito mais Mas olha, agora disseste aí uma coisa muito Portanto, que não te sentias realizado como biólogo marinho Ou melhor, na parte científica, não é?
00:04:57
Speaker
Porque não chegaste a me saber Nem cheguei lá Mas que é sempre, portanto Que é um caminho descoberto e como a ator te sentes bem A ator e não a ator Estás a fazer mais coisas Sim, sim Também
00:05:10
Speaker
A criação é uma coisa fantástica.
00:05:13
Speaker
Nós criarmos, seja como ator, como ensinador, pegarmos em qualquer coisa e começares a construir do zero.
00:05:22
Speaker
Do zero, nunca é do zero, porque já temos um texto e ele já está.
00:05:24
Speaker
De alguma forma, um mole.
00:05:28
Speaker
Mas de qualquer maneira temos alguma liberdade, depois a partir daí criarmos.
00:05:33
Speaker
E esse lado da criação dá-te uma liberdade...
00:05:37
Speaker
que é uma coisa fantástica, a liberdade é o mais importante.
00:05:40
Speaker
Sim, sim, sim.
00:05:43
Speaker
Porque sentimos, porque podemos escolher vários caminhos,
00:05:48
Speaker
podemos fazer opções podemos sempre mas a criação tem qualquer coisa de sei lá, eu quando estou nesse lado de criar qualquer coisa seja uma personagem, seja uma encenação é como se o meu cérebro sentisse que o meu cérebro tivesse mais ligações mais choques elétricos a passar há mais sinapses, não é?
00:06:11
Speaker
e há?
00:06:12
Speaker
e pode haver, sim porque é uma coisa muito estimulante para ti e portanto
00:06:17
Speaker
Sim, sim, sim.
00:06:18
Speaker
E acho que é isso que eu procuro, acima de tudo, esse prazer, acho que sim, é prazer.
00:06:27
Speaker
Esse prazer, esse gosto, e depois poder comunicar com os outros.
00:06:32
Speaker
E também tem outra coisa presenteirosa, que é, a partir do momento que tu pôres, largas a coisa...
00:06:39
Speaker
Pois cada um faz o que quiser com ela.
00:06:42
Speaker
Tu não dominas nada disso.
00:06:44
Speaker
E isso é só prazeroso?
00:06:45
Speaker
Hã?
00:06:45
Speaker
Essa ideia é prazeroso, não é?
00:06:47
Speaker
Cada um fazê-lo.
00:06:48
Speaker
Ok.
00:06:49
Speaker
Sim.
00:06:49
Speaker
Não, mas na realidade... Nós às vezes queremos controlar a comunicação e eu estou a fazer isto para as pessoas pensarem assim, ou cozido, frito.
00:06:59
Speaker
Claro que temos que criar uma linha, temos que criar um pensamento sobre o que estamos a abordar.
00:07:06
Speaker
Mas na realidade... A ideia é abrir.
00:07:10
Speaker
E mesmo que tu não queiras abrir Abre-se na mesma É parecido com o que nós fazemos Sim, porque a referência Cada um tem as suas referências Cada um vem de sítios diferentes E vai ter leituras Diferentes da minha Felizmente E isso é que também é bonito É bonito e é importante É rico Porque tu disseste uma coisa mesmo muito extraordinária Que é E isso é uma daquelas coisas que
00:07:39
Speaker
mesmo que nos cortem a raiz ao pensamento, é possível fazer.
00:07:43
Speaker
Se tu tives esse sentido de criatividade, tu és muito livre internamente.
00:07:47
Speaker
E precisamente para aquilo que tu estava a dizer, porque no imaginares qualquer coisa e no criares qualquer coisa, estás automaticamente a fazer escolhas.
00:07:54
Speaker
E fazer escolhas é a liberdade.
00:07:56
Speaker
É a liberdade.
00:07:58
Speaker
E depois é tão bom passares isso.
00:08:01
Speaker
É uma partilha, não é?
00:08:02
Speaker
Sim, é uma partilha.

Criatividade e liberdade pessoal

00:08:05
Speaker
É como nós falamos quando as músicas passam a ser nossas É a mesma coisa Tu escreves uma canção, a seguir Gravas e depois é do mundo Como um filho Como um filho Tu fazes o filho e a seguir E ele vai partilhar Vocês estão a dizer coisas lindíssimas Mas eu ando preocupada com outra coisa Diz Eu também acho isso tudo Mas atualmente acontece uma coisa Atualmente está-se a verificar com mais força
00:08:31
Speaker
O que é, nós fazemos esse movimento, lançar qualquer coisa e a ideia é abrir, mas é facilmente pervertível, não é?
00:08:37
Speaker
Claro.
00:08:38
Speaker
A minha questão aqui também é, por isso é que estava a achar graça, isto é provocatório, mas não é. Porque estão a pensar um bocadinho como é que nós podemos gerir, porque a ideia de abrir é aquela que me faz sentido, mas não se sente isto, que uma abertura que está a ser virada contra a própria abertura, vocês não sentem isto?
00:08:52
Speaker
Uma abertura fechada?
00:08:54
Speaker
Uma abertura que é aberta, mas que é fechada, não é?
00:08:57
Speaker
É fechada porque é, escuta, estou a pensar nisto só, há qualquer coisa que nós lançamos e depois é...
00:09:02
Speaker
é esgotada pelo outro pela ausência de capacidade criativa do outro.
00:09:07
Speaker
capacidade criativa ou de contacto até do ponto de vista crítico às vezes fala-se da massa crítica as pessoas terem uma capacidade de opinião de falar das coisas mas com algum conhecimento, convém e acho que estamos numa fase que não pode coar venha dizer-nos qualquer coisa faz parte
00:09:36
Speaker
Faz, mas é dolo.
00:09:37
Speaker
Essa dói-me um bocado.
00:09:38
Speaker
Dói, eu sei.
00:09:39
Speaker
Por acaso, isso é uma questão engraçada, porque...
00:09:46
Speaker
Eu acho que temos aqui um problema das pessoas terem acesso à cultura, mas se calhar antes disso, e as coisas às vezes estão um bocadinho ligadas, ter o acesso à educação.
00:09:57
Speaker
Exatamente.
00:09:57
Speaker
Uma boa educação.
00:09:58
Speaker
Exatamente.
00:09:59
Speaker
Uma educação que vos faça pensar.
00:10:01
Speaker
Exatamente.
00:10:01
Speaker
Que vos faça ter capacidade de decidir, ter conhecimento.
00:10:06
Speaker
E quando estes dois componentes começam a fraquejar...
00:10:11
Speaker
Tu começas a ter uma... Um movimento da aniquilação até dessa tal massacre.
00:10:15
Speaker
Sim.
00:10:16
Speaker
Deixa de haver e começa-se a dizer coisas que as pessoas... Às vezes os discursos são tão... São tão extremos que as pessoas nem duas frases são capazes de contradizer.
00:10:30
Speaker
Contradizer a frase anterior e nem têm consciência disso.
00:10:33
Speaker
Isso faz-me confusão.
00:10:35
Speaker
Faz-me confusão, sim.
00:10:37
Speaker
Mas andamos por aí.
00:10:40
Speaker
Eu acho que provavelmente o que faz confusão é, de acordo com o teu percurso, tu perceberes que há percursos completamente diferentes do teu, não é?
00:10:50
Speaker
Nesse sentido e de um sentido de educação que tu estavas a falar.
00:10:55
Speaker
O que eu acho que é importante é se há alguém que de facto é nosso interlocutor num bilhão, alguém é interlocutor da canção que eu escrevi, do livro que eu disse, do texto que eu escrevi, não é?
00:11:10
Speaker
é espetacular.
00:11:11
Speaker
É espetacular.
00:11:12
Speaker
Pronto.
00:11:12
Speaker
Claro que depois sofremos quando sentimos que estamos a ser estrangulados pela falta de interlocutores, que é disto que tu estás a falar, não é?
00:11:21
Speaker
Isso é outra coisa, a apropriação de uma letra, estava a pensar nisso no outro dia, porque uma aluna minha até a propósito de um disco, não era este disco do Chico, era outro, mas dizia, a professora gosta, tem letras tão fraquinhas.
00:11:36
Speaker
Mas ao mesmo tempo havia uma apropriação daquelas letras, esvaziada completamente do conteúdo.
00:11:42
Speaker
Era o... Desculpa.
00:11:45
Speaker
É uma que eu adoro.
00:11:46
Speaker
Ainda percebem-me, era uma que eu gosto muito, eu vou ver, digo já.
00:11:49
Speaker
Mas isso tem a ver com os interlocutores,

A arte e suas interpretações equivocadas

00:11:51
Speaker
não é?
00:11:51
Speaker
Tu vais sempre encontrar pessoas que não percebem, não é?
00:11:53
Speaker
Tem a ver, mas espera que eu queria só acabar esta ideia.
00:11:54
Speaker
Tem a ver com os interlocutores, mas ainda há outro sítio.
00:11:56
Speaker
Mas eu acho que ainda outro sítio, que eu acho que é esse que tu vais falar.
00:12:01
Speaker
Mas o que já que estás aí, que é depois o sítio, que é onde apropriação, não é?
00:12:07
Speaker
E depois, a apropriação como um discurso próprio, quando é um discurso próprio, a apropriação como um discurso próprio esvaziado.
00:12:16
Speaker
Quando não é teu, não percebeste nada, mas vais usar como teu.
00:12:19
Speaker
Exatamente, era isso mesmo que eu ia falar.
00:12:20
Speaker
Eu achava que era isto.
00:12:21
Speaker
É, isso mesmo, boa.
00:12:23
Speaker
Somos ótimas interlocutoras uma da outra, se é que eu gosto de meter.
00:12:27
Speaker
Mas é isto, não é?
00:12:28
Speaker
Que é?
00:12:29
Speaker
Acontece isto, que a Patrícia estava a dizer, quer dizer, houve uma coisa, qualquer coisa deste género, o Chico Buarque é espetacular, então eu vou ouvir o Chico Buarque, não percebo nada do Chico Buarque, mas vou apropriar das palavras do Chico Buarque para, no fundo, seduzir, aliciar.
00:12:47
Speaker
É para acontecer até, mas quem é o Chico Buarque?
00:12:49
Speaker
E é simpática.
00:12:50
Speaker
Exatamente, às vezes é isso que acontece.
00:12:52
Speaker
Sim, sim, sim.
00:12:53
Speaker
Fundo e de ler, e por falar em Chico Buarque, tu escolheste um disco do Chico Buarque chamado Chico Buarque.
00:13:02
Speaker
Chico Buarque.
00:13:03
Speaker
Porquê que escolheste este disco?
00:13:07
Speaker
porque isto tem uma história engraçada isto comecei eu vou confessar tudo eu comecei por escolher o outro algo anterior que não sei se é anterior mas eram os meus caros amigos uma questão afetiva porque foi o meu primeiro LP da vida mas e foi quando a Ana Tereza falou comigo é este é o primeiro LP mas na realidade depois fui ouvir o LP
00:13:34
Speaker
E disse assim, epá, mas eu lembro-me de outra coisa.
00:13:38
Speaker
Estou aqui um bocadinho a ficcionar, não me lembro, lembrava-me bem do que é que... E disse assim, não, mas outras letras, outras músicas que na realidade, não é que eu não goste dos meus caros amigos, mas este, acho que é mais, põe mais os dedos em algumas feridas.
00:13:58
Speaker
Sim.
00:13:58
Speaker
E achei interessante por isso.
00:14:01
Speaker
Que era mais apropriado.
00:14:03
Speaker
Mais apropriado para o dia de hoje, ou os dias de hoje, ou o que vivemos hoje.
00:14:08
Speaker
Foi tão fixe, porque o João Dido lê, quando me liga a pedir para alterar o disco, quando me diz o disco e me liga a pedir para alterar o disco, era quando o Chico fez, foi no dia dos anos do Chico.
00:14:18
Speaker
Eu senti.
00:14:18
Speaker
E foi super engraçado, porque ele não sabia, eu é que lhe disse, opa, tu sabes que eu acho que faz anos, e ele, é sério, e estávamos a conversar sobre ele nesse dia.
00:14:28
Speaker
Então, escolhi este álbum, porque acho que é mais acutilante, e é engraçado porque o álbum passa a ter o nome dele, eu acho que ele quis fazer ali um statement, no fundo, quis mesmo fazer ali uma diferença, porque fala de coisas...
00:14:46
Speaker
Delicadas não, não coisa... Fala do que ele achava que tinha que falar para aquele momento e eu achei que tinha muito a ver com o que estamos a passar hoje e daí também o tema que eu escolhi, que eu acho que é muito engraçado, porque uma das coisas que eu gosto no Chico é a escrita.
00:15:05
Speaker
Agora o que ele escreve?
00:15:06
Speaker
Os poemas.
00:15:08
Speaker
E gosto muitas vezes da maneira como ele dentro do próprio poema, depois ele o desconstrói e ao desconstruí-lo vários significados.
00:15:17
Speaker
Um bom exemplo desse é a construção.
00:15:20
Speaker
Sim, sim, sim, sim.
00:15:23
Speaker
do operário que se suicida, não é?
00:15:26
Speaker
Mas ele conta toda uma história e conta de várias maneiras, por assim dizer, e aquilo ganha várias texturas.
00:15:34
Speaker
Mas aqui, neste caso, aquele, posso dizer o nome já?
00:15:40
Speaker
Claro que sim, o João escolheu o Cálice, é a música favorita deste álbum.
00:15:45
Speaker
O cálice tem essa dimensão.
00:15:50
Speaker
Estamos a falar evidentemente da Igreja Católica, mas não só.
00:15:55
Speaker
Estamos a falar de uma questão mais assistencial.
00:15:59
Speaker
Estamos a falar também, o cálice naquele coro, naquela ocrescitação, pode parecer que é cálice.
00:16:07
Speaker
Que uma censura, uma autocensura, que há uma luta do ser humano para superar esta pressão toda, esta rede toda que existe, que nos quer levar num sentido e, portanto, acho que fez todo o sentido para mim esta escolha.
00:16:32
Speaker
E uma ainda... Quer dizer, eu sou apaixonado por música, a orquestração, os arranjos, acho que aquilo é fantástico.
00:16:41
Speaker
O meu de nascimento da multidão também faz parte desta parceria.
00:16:46
Speaker
Eu estava aqui a ver que depois... Porque a música foi censurada.
00:16:50
Speaker
Pois, então, eu estava com a amestade.
00:16:53
Speaker
Sim, sim, sim.
00:16:53
Speaker
Estava a ver porque eu tirei esta nota, que a música foi... Portanto, ela foi gravada em 1973, mas foi censurada.
00:17:01
Speaker
E depois foi em 78, eu acho que isto também tem a ver um bocadinho com o que estavas a dizer, porque depois em 78 saem muitas coisas que o Chico fez.
00:17:11
Speaker
E que tinham sido censuradas e em 78 podem sair.
00:17:14
Speaker
Isto fazendo a associação ao statement, que tu estávamos a falar.
00:17:20
Speaker
Até ali calaram-no em duas ou três canções, ou mais, que saíram neste álbum.
00:17:26
Speaker
Porque é engraçado, o percurso dele, os primeiros álbuns, ele foi um grande sucesso no Brasil.
00:17:32
Speaker
E era quase de uma espécie de...
00:17:34
Speaker
sexo sim, é um rapaz lindo e tal e ainda hoje é um homem bem bonito mas ele era mais discreto na forma como dizia as coisas quando começou a querer falar a sério das coisas pronto, teve que sair do país
00:17:55
Speaker
Quando quis ser o Chico Buarque, não pôde.
00:17:59
Speaker
Naquela altura, pelo menos.
00:18:02
Speaker
E é engraçado que nós começamos a receber coisas, em pós-revolução, evidentemente, porque até também pouco... nós não conseguíamos ter...
00:18:14
Speaker
Eu conheci este álbum, pronto, os meus caros amigos aparecem, agora voltando aos meus caros amigos, acho que eu tive o álbum em 76, portanto já foi no período de pós-revolução.
00:18:26
Speaker
Mesmo ali, res vezes.
00:18:29
Speaker
Sim, mas a verdade é que a seguir à revolução começou a aparecer, era impressionante, começou a aparecer o mundo, a nível de autores, de música, começou a surgir uma série de coisas que nós não tínhamos a dizer.
00:18:44
Speaker
Tínhamos acesso se ouvíssemos fora, não é?
00:18:47
Speaker
Em escondidos.
00:18:48
Speaker
Lentestinamento.
00:18:50
Speaker
Uma das coisas que eu me lembro, o meu pai tinha livros que tinham uma capa, estavam forrados.
00:18:55
Speaker
Sim.
00:18:55
Speaker
E havia outros que não estavam forrados.
00:18:57
Speaker
Isto era mais pequenino.
00:18:58
Speaker
Mas o pai, mas o que é que este livro está forrado?
00:19:01
Speaker
Ah, porque a capa é muito frágil, filho.
00:19:04
Speaker
E depois estraga-se.
00:19:07
Speaker
mais tarde...
00:19:09
Speaker
e quando tinha nove anos, quando foi o 25 de Abril,

Impactos da Guerra Colonial Portuguesa

00:19:11
Speaker
não é?
00:19:11
Speaker
Portanto, havia muita coisa que não percebia.
00:19:14
Speaker
Sim.
00:19:16
Speaker
E como era o filho mais novo, somos nós, somos quatro irmãos, eles têm todos mais de dez anos que eu, portanto, eu estava, eles estavam, tipo, começaram na universidade e estavam noutras...
00:19:29
Speaker
noutra esfera, noutros andamentos, nem políticos, de contestação e eu estava completamente... Comecei a perceber que um dia houve uma conversa sobre os não sei o quê, os fascistas e eu disse, opa, o que é que é isso?
00:19:43
Speaker
O que é que é isso dos fascistas?
00:19:44
Speaker
E eles de repente ficaram assim muito calados e assim, também não podemos deixar o puto sem resposta.
00:19:49
Speaker
Sim.
00:19:51
Speaker
E simplificaram muita coisa.
00:19:54
Speaker
Os fascistas são os polícias, mas não podes dizer a um polícia que é fascista.
00:19:58
Speaker
Não te metas nisso.
00:20:00
Speaker
E eu, está bem.
00:20:01
Speaker
Fiquei com aquela.
00:20:03
Speaker
Nem tinha noção do que é que se leva para o seguinte.
00:20:06
Speaker
Quer dizer, é engraçado, estávamos em guerra também ao mesmo tempo, não é?
00:20:11
Speaker
Sim.
00:20:12
Speaker
A guerra colonial.
00:20:13
Speaker
Sim.
00:20:13
Speaker
E havia uma, eu lembro de, havia aquelas coisas no ano novo, no ano novo não, no Natal, recebia-se, havia mensagens dos soldados de África, de algum ano às famílias, e isso era filmado e passava depois na RTP, que era a única coisa que havia.
00:20:30
Speaker
Sim.
00:20:31
Speaker
E aquilo, não me dava, ficava muito angustiado com aquilo, porque eu tinha um ar muito... Epá, fogo, eles estavam com um ar desgraçado.
00:20:41
Speaker
Tinha um ar desgraçado, coitado, estavam para... Não sei onde é que eles estavam, porque não tinha bem noção.
00:20:46
Speaker
Mas lembro-me que uma vez eu falei com o meu pai e disse ao pai, eu não quero ir para a guerra.
00:20:54
Speaker
E o meu pai, acho que...
00:20:56
Speaker
Ficou assim, não está a baixo para o Ataquão e disse-me, com sorte não vais para a guerra.
00:21:02
Speaker
E não fui para cá.
00:21:04
Speaker
Felizmente.
00:21:08
Speaker
Andamos na guerra sem ir à guerra.
00:21:09
Speaker
Sim, andamos na guerra.
00:21:10
Speaker
Que é muito diferente.
00:21:11
Speaker
É outra guerra.
00:21:14
Speaker
Pensado nisto, mas acho que a própria canção é um ato de resistência contra o próprio cálice, não é?
00:21:19
Speaker
Isso é extraordinário.
00:21:20
Speaker
Como é que uma coisa se diz sobre si própria na negação de si própria, não é?
00:21:24
Speaker
Extraordinário.
00:21:25
Speaker
Não tinha pensado nisso.
00:21:26
Speaker
Estava a ouvir agora a letra e estava fascinada com isso.
00:21:30
Speaker
Porque até havia qualquer coisa na letra e na repetição que até me irritava, com ferro.
00:21:35
Speaker
Mas eu acho que é isto, é este lugar que estava implicitamente posto até de um certo sufoco ao pensamento.
00:21:41
Speaker
Exato.
00:21:41
Speaker
Um ataque ao pensamento ao mesmo tempo.
00:21:43
Speaker
É isso que eu digo, o cálice não é o cálice, é cálice.
00:21:47
Speaker
É o cálice, exatamente.
00:21:49
Speaker
que sem essa parte, sentia a coisa em cima, mas não tinha...
00:21:53
Speaker
E acho que é realmente extraordinário, porque o próprio sufoco impresso por essa ideia de não ser possível falar, aparece na maneira como a letra é construída.
00:22:02
Speaker
E é extraordinário.
00:22:03
Speaker
E, portanto, como de resistência contra si mesmo, acho uma coisa incrível.
00:22:07
Speaker
E eu ainda bocado perguntei se a Patrícia gosta ou não gosta, porque conversámos sobre isto.
00:22:12
Speaker
Não conversámos sobre isto especificamente que a Patrícia acabou de dizer.
00:22:15
Speaker
Isto não conversámos.
00:22:16
Speaker
Mas conversámos sobre, tenho que ser honesta, que é pá, o cálice é uma coisa que é difícil.
00:22:22
Speaker
A tua canção favorita desta aula, não é?
00:22:25
Speaker
É difícil sim.
00:22:25
Speaker
É uma coisa difícil.
00:22:28
Speaker
E eu vou-te dizer o que é que eu sinto com o cálice, é que eu sinto que é o sopro, que não é sopro, portanto, sinto que é o voo do abúter, pá.
00:22:39
Speaker
Exatamente, mas é do abutre Umas chicotadas Uma cheira à morte Sim, sim, exatamente Mesmo esta ideia do pai, desculpa, porque é extraordinária, não é?
00:22:47
Speaker
Sem te querer interromper, mas esta ideia do grande pai que está posta Exatamente Está extraordinário É por isso que eu gosto da dimensão desta canção É tão complexida Que tem várias camadas Exatamente
00:23:02
Speaker
evidentemente, remédio imediatamente para a religião, qualquer religião, não é?
00:23:07
Speaker
Mas nós podemos ir para outros caminhos também.
00:23:13
Speaker
O que é o que nós somos, o que é que nós próprios fazemos às vezes, os outros.
00:23:20
Speaker
Não, isto está cheio de referências a uma luta interna ao mesmo tempo.
00:23:24
Speaker
Sim, sem dúvida.
00:23:25
Speaker
Eu acho que é o que nós quantas vezes não lutamos contra nós próprios.
00:23:30
Speaker
E isso é extraordinário, porque o disco todo tem isso, não é?
00:23:32
Speaker
Sim.
00:23:33
Speaker
Do individual ao coletivo e mostra que os movimentos de submissão e de tentativa de gestão interna, da angústia, desta ideia do grande pai, aparecem.
00:23:40
Speaker
E como é que eles podem ser, de alguma maneira, debelados.
00:23:42
Speaker
Exatamente, sim.

Censura e expressão metafórica na arte

00:23:44
Speaker
Na busca pela liberdade, claro.
00:23:45
Speaker
Na busca pela liberdade.
00:23:46
Speaker
E pela identidade.
00:23:47
Speaker
E pela identidade.
00:23:49
Speaker
Desculpa João, e tu estavas a falar nas várias camadas e eu estava aqui a pensar nesta questão de... Porque estava a pensar neste... Este disco apelou-me à censura, obviamente, porque de repente dei por mim a pensar, olha, eu e a Patrícia escolhemos canções que foram censuradas, o João escolheu canções, porque canções neste disco lindíssimas.
00:24:11
Speaker
Não foram?
00:24:12
Speaker
E nós não estamos a falar nelas, mas já canções nisto, lindíssimas, que aliás até são as prediletas das pessoas e que não foram censuradas.
00:24:20
Speaker
Mas nós imediatamente escolhemos canções que foram censuradas.
00:24:25
Speaker
Censuradas.
00:24:26
Speaker
E está.
00:24:27
Speaker
E eu peguei até nesta questão.
00:24:31
Speaker
E é o que eu tirei deste disco.
00:24:33
Speaker
Portanto, são as várias camadas.
00:24:35
Speaker
É esta linguagem metafórica, não é?
00:24:39
Speaker
Que a censura criou, não é?
00:24:41
Speaker
Sim.
00:24:42
Speaker
Que a censura permitiu que fosse criada é incrível, por ignorância, sabe?
00:24:47
Speaker
Neste caso, ignorância de ignorância mesmo, não é?
00:24:51
Speaker
E por isso é que eu acho que uma coisa aqui neste disco que é incrível e nesta canção especificamente que é a tonalidade.
00:25:03
Speaker
Não é por isso é que eu estava a dizer, que me parecia, que me sabia butre.
00:25:09
Speaker
Porque é, tu quando tens um discurso e tu tens várias coisas implícitas nesse discurso e no tom com que o discurso é dito e a forma como é dito e claro que tens...
00:25:22
Speaker
um conteúdo latente e tens um conteúdo manifesto, não é?
00:25:25
Speaker
E a forma como tu dizes, a forma como tu estás, e no conteúdo manifesto e no conteúdo latente tu podes tirar muito daquilo que é a personalidade de quem o está a dizer.
00:25:37
Speaker
Sim.
00:25:38
Speaker
E eu acho que eu não encontrei, é incrível porque isto pode ser a personalidade do Chico, pode estar aqui toda, e eu acho que é incrível...
00:25:52
Speaker
A forma como tu discursas sobre as coisas diz muito sobre ti.
00:25:57
Speaker
E às vezes... Repara, na introdução que eu fiz hoje, que foi à volta da censura, eu usei várias metáforas e estive constantemente a falar de ditadura e liberdade e empatia e falta dela sem nunca ter dito estas palavras.
00:26:17
Speaker
Sim, sim.
00:26:19
Speaker
E eu acho que hoje em dia vivemos momentos de discurso muito violento.
00:26:27
Speaker
O discurso é violento.
00:26:29
Speaker
O discurso de uns para os outros.
00:26:32
Speaker
E não é pela falta de empatia, mas mais ainda do que isso.
00:26:37
Speaker
É pela falta da linguagem simbólica.
00:26:40
Speaker
Porque um discurso que seja muito concreto acaba por ser mais violento do que de um discurso metafórico.
00:26:46
Speaker
Sim.
00:26:47
Speaker
Não é?
00:26:47
Speaker
Sim.
00:26:49
Speaker
E por isso é que a censura criou a metáfora.
00:26:53
Speaker
Porque, de facto, aqueles que são a favor da censura não aguentam o discurso metafórico.
00:27:00
Speaker
E precisam de violência.
00:27:05
Speaker
E é isto que eu acho que nós não nos podemos esquecer.
00:27:08
Speaker
Porque acho que isto está nos meandros dos meandros, que é o pensarmos que a simplicidade...
00:27:21
Speaker
Agora está-me a faltar a palavra Do concreto Que a simplicidade do concreto pode ser bonita Não, a simplicidade do concreto Pode ser muito violenta E pessoas Isto agora eu pongo aqui na questão das personalidades E das diversas personalidades pessoas que usam a simplicidade Como poesia E pessoas que usam a simplicidade Como arma de arremesso É
00:27:43
Speaker
E eu acho que nós estamos a viver nos dias de hoje, esvaziados de muita metáfora, estamos a viver discursos muito violentos e estamos a viver a violência na pele a toda hora.
00:27:54
Speaker
E foi isto que me fez lembrar o disco que tu escolheste.
00:27:59
Speaker
E se calhar foi por isso que eu escolhi.
00:28:02
Speaker
Eu acho que tu escolheste por imensas coisas, mas uma delas é, acredito, daquilo que eu conheço de ti, acho que sim.
00:28:11
Speaker
Essa simplicidade metafórica que pode ser bela e grandiosa Tu tens um poeta português que tem um heterónimo que é o Alberto Caio Sim, sim, sim Que eu adoro e aquela simplicidade é completamente... não é simples porque as coisas todas não são simples Embora o nascer do sol aconteça todos os dias
00:28:37
Speaker
pode dar-nos sensações diversas e tirarmos dele vários momentos e isso acontece no nosso dia-a-dia e é bom que nós não nos esquecemos disso porque as coisas vão-se repetir, têm beleza, têm a metáfora
00:28:58
Speaker
E não são aquilo que nós dizemos que são.
00:29:02
Speaker
Às vezes espera que não seja.
00:29:06
Speaker
está.
00:29:07
Speaker
Eu acho que pode haver uma confusão entre concretude e simplicidade, que são coisas diferentes.
00:29:12
Speaker
São diferentes.
00:29:13
Speaker
Exatamente.
00:29:13
Speaker
São completamente diferentes.
00:29:14
Speaker
E eu acho que a simplicidade é complexa.
00:29:18
Speaker
Pois, é importante.
00:29:19
Speaker
Não é?
00:29:20
Speaker
Porque muitas vezes é difícil de aderir, não é?
00:29:23
Speaker
Exatamente.
00:29:26
Speaker
E agora, transportando isto de uma certa forma para a arte, às vezes aquilo que é aparentemente sublime e nós de repente ficamos assim, aparentemente pode parecer simples e até uau.
00:29:48
Speaker
mas isto está ali estava ali como é que eu não vi?
00:29:53
Speaker
isso tem um percurso tem todo um pensamento não é assim por acaso às vezes acidentes também mas pronto mas não é por acaso que as coisas acontecem não é um acidente foi um encontro eu e a Patrícia Câmara quando conversámos dissemos as nossas canções favoritas eram as mesmas
00:30:16
Speaker
Que é o Tanto Mar, e apesar de você.
00:30:20
Speaker
Então, o que é que decidimos?
00:30:22
Speaker
Decidimos que não íamos escolher uma e outra e tal, que íamos falar das duas, pronto.
00:30:26
Speaker
Sim, acho que vai falar das duas.
00:30:27
Speaker
Portanto, vamos começar por uma, que é o Tanto Mar.
00:30:30
Speaker
Ambas as duas.
00:30:31
Speaker
Ambas as duas.
00:30:35
Speaker
que é o Tanto Mar é tão nossa, não é?
00:30:42
Speaker
O Tanto Mar assenta no 25 de Abril e depois houve uma alteração portanto ela foi feita em 75 o Chico foi em 75 mas depois alterou um bocadinho a letra que foi esta que foi editada no disco que tu escolheste, o Chico Buarque em 78
00:31:00
Speaker
Opa, e... Já me gostaram.
00:31:03
Speaker
Foi bonita a festa, pá, o que é que nós queremos mais, não é?
00:31:06
Speaker
Foi bonita a festa, pá.
00:31:08
Speaker
Eu acho que esta frase é de uma alegria imensa e é de um sentimento de partilha, não é?
00:31:18
Speaker
Foi bonita a festa, pá, quer dizer, o reconhecimento da felicidade do outro.
00:31:25
Speaker
A festa é isso, não é?
00:31:26
Speaker
A festa...
00:31:27
Speaker
É o reconhecimento da felicidade do outro e onde nós todos podemos reconhecer a nossa felicidade.
00:31:33
Speaker
Por isso é que nós gostamos tanto de festas, não é?
00:31:35
Speaker
Porque nos estamos a reconhecer naquilo que é mais espetacular que é quando tu mesmo dentro, tu até podes ter um núcleo depressivo gigante, mas naquele momento tu estás a sentir...
00:31:49
Speaker
Alegria, estás a sentir leveza, estás a sentir partilha, porque a partilha traz leveza, às vezes pode trazer peso, mas traz sempre leveza, é uma coisa que é muito... Porque é assim, tu partilhas e podes partilhar uma coisa muito pesada e pode trazer sofrimento ao outro, mas traz leveza porque é sempre dois a carregar o peso que poderia ser de um.
00:32:09
Speaker
E portanto, em festa então, é espetacular e esta canção alusiva ao nosso 25 de Abril é incrível.
00:32:19
Speaker
Não é quero que eu diga qualquer coisa, eu vou dizer Diz, Patrícia Mas ia dizer, logo no princípio O João falava no entusiasmo Da criação E eu acho que esta música transmite um bocadinho Fala disto, deste entusiasmo Da capacidade de criar Tanto Marta também, eu estava a pensar nesta questão da complexidade Também tem o horizonte que se abre um horizonte que se abre quando se consegue isto Mas não deixa de ter sempre também um sítio que nunca é conseguido Ou seja, a música também te oferece sempre Um lugar que não pode ser consumado
00:32:48
Speaker
que existe como estrela guia, mas não como uma coisa em si mesma, tanto que há qualquer coisa da murcha, não é?
00:32:53
Speaker
Desde que eu estou à procura da letra e não consigo encontrar.
00:32:57
Speaker
Estamos as duas ótimas, mas vocês já... murcham tua festa, pá.
00:33:01
Speaker
Já murcharam tua festa, pá.
00:33:02
Speaker
Já murcharam tua festa, pá.
00:33:04
Speaker
Já murcharam.
00:33:04
Speaker
Portanto, também mostra isto, esta presença permanente deste outro lugar, não é?
00:33:07
Speaker
Deste outro lado com o qual está, que nós temos que debelar e com o qual temos que lidar a toda hora.
00:33:11
Speaker
Agora, interna e externamente, não é?
00:33:13
Speaker
Portanto, acho que também transmite isso.
00:33:15
Speaker
Acho que tem esse lado de entusiasmo de criação porque tem contida, nós não podemos fazer um podcast sem dizer esta parte, sempre que tem contida a síntese melancólica.
00:33:22
Speaker
A Bela adora dizer isto.
00:33:24
Speaker
João, ela diz isto em todos.
00:33:25
Speaker
A sério.
00:33:25
Speaker
A síntese melancólica está presente.
00:33:29
Speaker
O que o João falou logo no princípio é isto.
00:33:31
Speaker
E eu acho que nesta música está muito presente.
00:33:33
Speaker
Porque está o entusiasmo, sente-se o entusiasmo, mas com a leveza que ele consegue.
00:33:35
Speaker
Tu dizias bocadinho a tonalidade da leveza, a suavidade.
00:33:38
Speaker
Sim.
00:33:39
Speaker
Que depois pode ser confundida, que também estava a dizer Iban, como dizia a minha aluna, a professora, mas gosta tanto.
00:33:44
Speaker
Isto é tão banal.
00:33:46
Speaker
Até dói.
00:33:47
Speaker
Mas olha... Mas essa banalidade é...
00:33:50
Speaker
O que é que é que eu ia dizer, João?
00:33:55
Speaker
Não, uma forma de estar e de escrever que eu acho que tem muito a ver com o povo brasileiro.
00:34:03
Speaker
Sim.
00:34:05
Speaker
Que dizem as coisas de uma forma tão aparentemente simples, solta.
00:34:10
Speaker
Aquilo, o Pilec, como é que é?
00:34:13
Speaker
No local, isso é o Pilec Homérico do Mundo.
00:34:17
Speaker
Exato.
00:34:18
Speaker
É fantástico, o pileque, o pileque é uma palavra, é um pileque, é um miúdo de rua, ou mérico do mundo, ou mesmo de repente vês aqui esta ligação toda, vai falar daquilo, voltamos à Grécia, devemos ir buscar os gregos.
00:34:36
Speaker
mas metido num pileque e isso é fantástico porque é uma ligação quase que tu faz ali uma ligação a ocidente no mundo mas de repente estamos a falar de tudo de uma forma muito simples que é um pileque e a liberdade é um compromisso com esse lugar é esse lugar
00:34:59
Speaker
E outra coisa que a Patrícia estava ali a falar, pá, que eu agora não me lembro.
00:35:03
Speaker
Não te lembro.
00:35:03
Speaker
Quem é que diz qualquer coisa de que não se aguentam os dias todos belos?
00:35:08
Speaker
Não sei, mas tu podias ter dito isso.
00:35:10
Speaker
Não.
00:35:11
Speaker
Ah, mas não fui eu, não fui eu.
00:35:13
Speaker
É difícil.
00:35:14
Speaker
Não fui eu, mas alguém, agora não me estou a lembrar, mas tem a ver com isto, não é?
00:35:19
Speaker
me deixaram a tua festa, pá, também tem a ver com isto, porque... Todos dizemos, não é?
00:35:24
Speaker
Também não se aguenta a beleza, não é?
00:35:28
Speaker
E por isso tu falavas da síntese melancólica, que está sempre presente.
00:35:34
Speaker
Muito bem, queria dizer aquilo da semente, porque não tinha letra a frente.
00:35:36
Speaker
Não, não, diz isso, que vocês estavam aí a falar.
00:35:38
Speaker
Estamos a falar da importância deste sítio de entusiasmo que tem a ver com a resistência, mesmo em momentos de desirrigação da humanidade, saber que existe qualquer coisa que está e que é possível ser resgatada.
00:35:50
Speaker
É para nos dar esperança a todos que isto não está fácil.
00:35:52
Speaker
Não, não.
00:35:58
Speaker
Rir para não chorar Mas esse sítio que eu acho que tu estás a dizer por outras palavras que tu disseste e eu agora vou exatamente expandir Não que é o sítio
00:36:15
Speaker
onde nós estamos a sentir estrangulamento, principalmente porque muitas pessoas que não conseguem sentir esse lugar de entusiasmo.
00:36:22
Speaker
É uma chatice, o entusiasmo chateia imenso, era o que nós estávamos a dizer, ofende imenso.
00:36:25
Speaker
Pois é isso.
00:36:26
Speaker
E voltamos a um outro lugar que nós gostamos muito.
00:36:29
Speaker
Um outro lugar que nós gostamos muito e que falamos em todos os podcasts, que chama Inverja.
00:36:34
Speaker
Maligna, maligna.
00:36:35
Speaker
Inveja maligna.
00:36:36
Speaker
Não, mas eu até gosto de chamar... Eu ainda vou ter aqui um... Se calhar o episódio de setembro vai ser eu e a Patrícia a discutirmos porque é que ela faz sempre esta ressalva e eu não.
00:36:47
Speaker
É para acentuar.
00:36:47
Speaker
Não, não, é para acentuar.
00:36:50
Speaker
Porque a inveja não é boa, ponto.
00:36:53
Speaker
É ao contrário, nós às vezes usamos a palavra inveja e até dizemos inveja da boa, inveja não sei o quê, para tirar a inveja deste sítio, para pormos a inveja no lugar da admiração.
00:37:05
Speaker
que a inveja é destrutiva, a inveja é o lugar onde tu admiras, mas precisamente por admirares, pervertes e queres destruir.
00:37:14
Speaker
Isto é inveja.
00:37:15
Speaker
E isto que a Patrícia estava a dizer, eu acho que é mesmo importante, que é o lugar do entusiasmo que outros não conseguem sentir, é exatamente o lugar onde nos tentam aniquilar.

Inveja e criatividade

00:37:25
Speaker
E nos tentam puxar para o buraco que eu falava ainda há bocado, que é aquele buraco que nunca saíram, pá.
00:37:30
Speaker
E é para que nos tentam levar, pá.
00:37:33
Speaker
E é incrível E quando dizemos foi bonita a festa Esta malta fica A destilar ódio Porque não perceberam porque é que a festa foi bonita Entendes?
00:37:46
Speaker
Porque não sentiram Não, eu acho que sentem a vibração Não conseguem perceber do que é que se trata Então Faltam as festas do meu conchego
00:37:57
Speaker
Faltaram-lhes as festas de aconchego.
00:37:59
Speaker
Faltaram-lhes as festas de aconchego.
00:38:01
Speaker
Dizeste isso no princípio no teu texto.
00:38:02
Speaker
Sim, disse, disse.
00:38:04
Speaker
E acham que o aconchego resolvia tudo?
00:38:06
Speaker
Não, mas ajuda qualquer coisa.
00:38:07
Speaker
Não, não.
00:38:07
Speaker
Oh, João Didle.
00:38:08
Speaker
Estou a perguntar, amor.
00:38:08
Speaker
Agora o aconchego resolve muito na primeira infância, ali dos 0 aos 2.
00:38:10
Speaker
Pois é, isso que tudo é. Mas é isso.
00:38:11
Speaker
Mas é isso.
00:38:12
Speaker
O que?
00:38:12
Speaker
O que?
00:38:12
Speaker
O que?
00:38:13
Speaker
O que?
00:38:13
Speaker
O que?
00:38:14
Speaker
O que?
00:38:14
Speaker
O que?
00:38:14
Speaker
O que?
00:38:15
Speaker
O que?
00:38:15
Speaker
O que?
00:38:15
Speaker
O que?
00:38:16
Speaker
O que?
00:38:16
Speaker
O que?
00:38:16
Speaker
O que?
00:38:17
Speaker
O que?
00:38:17
Speaker
O que?
00:38:18
Speaker
O que?
00:38:18
Speaker
O que?
00:38:18
Speaker
O que?
00:38:18
Speaker
O que?
00:38:19
Speaker
O que?
00:38:19
Speaker
O que o que?
00:38:20
Speaker
O que?
00:38:20
Speaker
O que o que?
00:38:21
Speaker
O que o que o que?
00:38:21
Speaker
O que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que o que
00:38:35
Speaker
Pois eu acho que não.
00:38:36
Speaker
está, é um equilíbrio muito complexo entre aconchego e desaconchego.
00:38:40
Speaker
Não é?
00:38:41
Speaker
O frio é um problema.
00:38:43
Speaker
Não, o gelo é um problema, o frio não é um problema.
00:38:46
Speaker
Patrícia, não é?
00:38:48
Speaker
Quer dizer, eu não gosto muito de frio, mas... Sim, mas pensa assim.
00:38:51
Speaker
Então o problema foi a idade do gelo, é isso?
00:38:53
Speaker
Pode ter sido, sim.
00:38:55
Speaker
Criou...
00:38:56
Speaker
Não sei, porque também deixou bactérias em suspensão.
00:38:58
Speaker
Há que pensar sobre isto.
00:39:00
Speaker
Não tivesse eu começado pela censura ser a mãe da metáfora e estaríamos todos... E será que... Quer dizer, se não houver censura deixa-te haver metáfora.
00:39:11
Speaker
Não, não, mas ela é que a criou, que é incrível.
00:39:15
Speaker
Tu achas?
00:39:17
Speaker
Não sei.
00:39:18
Speaker
Ouve lá.
00:39:19
Speaker
Mas tem que ser assim.
00:39:20
Speaker
Não, não, ela é que me está a provocar.
00:39:22
Speaker
Eu também estou a provocar, portanto...
00:39:24
Speaker
É exatamente o mesmo paralelismo.
00:39:27
Speaker
É o que seria da coragem sem o medo.
00:39:29
Speaker
O que seria da metáfora sem a censura.
00:39:33
Speaker
Agora, é claro que a metáfora é...
00:39:35
Speaker
amplamente, mais, infinitamente mais rica do que a censura, que é nada.
00:39:41
Speaker
Mas não será a mesma coisa?
00:39:43
Speaker
O medo e a coragem?
00:39:44
Speaker
O medo e a coragem?
00:39:46
Speaker
Não.
00:39:46
Speaker
São da mesma família?
00:39:47
Speaker
Não, não, não.
00:39:48
Speaker
O que seria do medo sem a coragem, não é?
00:39:50
Speaker
Ou o que seria da coragem sem o medo.
00:39:53
Speaker
Mas podem ser da mesma família, mas o grupo sanguíneo é diferente.
00:40:00
Speaker
Tem um A ou um B ou um O em comum, mas é diferente.
00:40:05
Speaker
Outra canção que nós gostámos muito.
00:40:08
Speaker
Queres dizer mais alguma coisa, João?
00:40:09
Speaker
Olha, eu não te quero cortar o pio, nem muito menos a coisa.
00:40:12
Speaker
Não, não.
00:40:17
Speaker
É que nós adorámos o apesar de você Também eu me deste o mais escolher Estás a ver?
00:40:26
Speaker
Fui condicionado na minha liberdade Não, João Tu tiveste liberdade porque tiveste o poder de escolha Mas foi uma Uma para ti, uma para mim Uma para ela A Carolina é que está aqui A Carolina é que está ali Estás a ver quando começa Mas aposto que ela também escolheste, não escolheste?
00:40:46
Speaker
O problema começa aqui, que é quando tens hipótese de escolha, mas podes escolher uma.
00:40:51
Speaker
Não.
00:40:52
Speaker
E isso... Isto é mais uma provocação.
00:40:54
Speaker
Claro que é!
00:40:54
Speaker
E é ótimo, mas sabes porquê?
00:40:56
Speaker
Porque essa é a verdadeira liberdade.
00:40:58
Speaker
É escolher uma?
00:40:59
Speaker
É. E viver as consequências da escolha.
00:41:03
Speaker
Eu não posso escolher três e viver essa consequência.
00:41:05
Speaker
Isto é mesmo espetacular.
00:41:07
Speaker
Porque tu ao viveres a consequência da tua escolha estás a viver todas as outras.
00:41:12
Speaker
E consegues num sítio viver tudo.
00:41:14
Speaker
É muito bom.
00:41:15
Speaker
Consegues, consegues.
00:41:18
Speaker
Diz então, porque não.
00:41:21
Speaker
Porque, evidentemente, a consequência de três escolhas é diferente da consequência de uma.
00:41:26
Speaker
Claro.
00:41:27
Speaker
Matematicamente, logo.
00:41:29
Speaker
Matematicamente e... E não só.
00:41:31
Speaker
Biopsicossocialmente.
00:41:33
Speaker
Eco.
00:41:34
Speaker
Eco-biopsicossocialmente.
00:41:35
Speaker
Ai, ajuda-me.
00:41:36
Speaker
Eco-biopsicossocialmente.
00:41:38
Speaker
Mas sim, faz sentido, não é?
00:41:42
Speaker
Faz sentido, faz sentido Mas dentro da escolha de uma ou duas Há a escolha de escolheres uma ou duas E essa escolha também tem uma possibilidade É uma escolha, claro que é uma escolha Mas Para o meu espírito criativo É muito difícil escolher uma coisa É sério É das coisas Das coisas piores Que é assim Aquela pergunta que te fazem crença Gostas mais da mãe ou do pai?
00:42:09
Speaker
Sim
00:42:12
Speaker
Se não tem resposta.
00:42:13
Speaker
Tem, tem.
00:42:15
Speaker
Não tem.
00:42:15
Speaker
Tem, tem.
00:42:16
Speaker
Nós é que temos medo de a dizer.
00:42:19
Speaker
É obrigatório ter medo de a dizer?
00:42:21
Speaker
Ela tem resposta, mas tu és castrado se a disseres, não podes dizer.
00:42:26
Speaker
Mas tu sabes.
00:42:27
Speaker
Mas temos uma maneira mais simpática de dizer isto.
00:42:29
Speaker
É com quem é que te entendes melhor?
00:42:31
Speaker
Pronto, assim a coisa sabe.
00:42:33
Speaker
Mas tem, João.
00:42:34
Speaker
Mas são coisas diferentes.
00:42:35
Speaker
Claro.
00:42:36
Speaker
Uma coisa é com quem me entende melhor.
00:42:38
Speaker
Outra coisa é se gosto mais da mente do pai.
00:42:40
Speaker
Claro, exatamente.
00:42:41
Speaker
Estamos aqui a falar de uma coisa muito... Olha, mas ainda bem que você disse isso.
00:42:45
Speaker
Peraí, peraí, peraí.
00:42:45
Speaker
Tão bom que vocês falaram nisso, porque isto vai ao sítio que eu acho que é mesmo importante falar, que é a violência do discurso que eu estava a falar ainda pouco, não é?
00:42:53
Speaker
Perguntarem, te gostas mais da mãe ou do pai, é de uma violência...
00:42:58
Speaker
Exatamente.
00:42:59
Speaker
Isto que a Patrícia diz.
00:43:00
Speaker
É uma coisa muito mais empática que vai ao encontro do outro.
00:43:03
Speaker
Não é?
00:43:04
Speaker
E, no entanto, tu tens resposta para isso.
00:43:06
Speaker
Mas é precisamente pela violência da pergunta que tu não consegues dar esta resposta.
00:43:11
Speaker
Porque esta resposta dentro de ti está lá.
00:43:14
Speaker
E está o quê?
00:43:15
Speaker
A mãe para umas coisas, o pai para outras.
00:43:16
Speaker
Mas, Patrícia, se tu me perguntares com quem é que eu me dou melhor, é diferente do que é que gostas mais de um não.
00:43:23
Speaker
Pois?
00:43:24
Speaker
Pois?
00:43:25
Speaker
E depois tu vais... E nem sempre é coincidente, nós sabemos, nem sempre é coincidente.
00:43:28
Speaker
E depois tu vais interpretar, tu faz a pergunta, com quem é que estás melhor?
00:43:31
Speaker
E eu disse, pá, eu se calhar dou melhor com a minha mãe, não me interessa.
00:43:35
Speaker
E tu vais ter a conclusão que eu amo mais a minha mãe.
00:43:37
Speaker
Não, não, não.
00:43:39
Speaker
Pronto, estou mais descansado.
00:43:40
Speaker
estou mais descansado.
00:43:42
Speaker
Com certeza, não, não, mais, mais.
00:43:43
Speaker
Não, eu também...
00:43:45
Speaker
Olha, então é como outra pergunta É como esta afirmação Eu gosto dos meus filhos da mesma maneira Fiz tudo por eles da mesma maneira Eu toquei-os da mesma maneira Eu gosto da mesma maneira, tenho um Ele e os vários outros deles Olha, se tivesses que escolher outro Não, é tramado, é tramado Eu não tive filhos, mas tive uma relação Onde havia três pessoas Três crianças E é difícil
00:44:15
Speaker
porque acho que se calhar faz parte de nós escolher qualquer coisa escolher qualquer coisa é um bocadinho redutor mas pronto, é não querer assumir a coisa mas tu sem querer se calhar as personalidades numa questão de personalidade sentes demais ligações com outra pessoa o que não quer dizer que não tentes fazer um esforço de dar uma educação igual
00:44:43
Speaker
E depois não é isso.
00:44:45
Speaker
Depois ainda vem o sexo.
00:44:46
Speaker
Exato.
00:44:46
Speaker
E vem outra coisa que é esta... Nem sempre é conhecida.
00:44:49
Speaker
E esta complexidade que estávamos a falar.
00:44:52
Speaker
Porque tu quando tens um filho, a não ser que sejam gêmeos, tu tens um filho que vem num momento e tu nesse momento és uma pessoa.
00:44:59
Speaker
E tens um filho que vem num outro momento e tu num outro momento és outra pessoa.
00:45:04
Speaker
E tens outro filho que vem no outro momento e no outro momento és outra pessoa e portanto tu tens ligações sempre diferentes de pessoa para pessoa nos vários momentos diferentes e por isso é que nunca é igual e por isso é que dizer, ah eu amo os meus filhos de igual forma não, eu amo todos os meus filhos com todas as diferenças isso é bom é ótimo e isso é que também faz a individualidade de cada um deles porque se tu os amasses da mesma maneira eles eram iguais e não são
00:45:34
Speaker
Não.
00:45:34
Speaker
Não.
00:45:35
Speaker
Isso é que faz a individualidade de cada um deles.
00:45:37
Speaker
Mas estamos a falar de amor.
00:45:40
Speaker
Estamos a falar de amor.
00:45:41
Speaker
Sim.
00:45:42
Speaker
Aqui estamos a falar de amor.
00:45:43
Speaker
E apesar de você...
00:45:46
Speaker
Obrigada por dirigir-vos este podcast Em que nós nos perdemos completamente Não estou dirigindo-vos Mas achei que ligava, por exemplo Exatamente, ligava Eu também Patrícia, apesar de você Estou farta de falar Apesar de você
00:46:06
Speaker
amanhã antes de ser outro dia, um novo dia esta tem a guerra toda disto de prometer e garantir que independentemente está do tal cálice silenciador qualquer coisa que é mais forte que é o desejo de existir e está presente na letra toda a letra toda é incrível a dissecala infinitamente mas acho que mostra isto da ditadura interna e externa do tirano interno e do tirano externo como sobreviver a ele não é?
00:46:35
Speaker
e portanto a melhor é incrível mas está implícita também a ideia de que um apesar de você porque existe você, não é?
00:46:41
Speaker
que é um bocadinho o que tu estavas a dizer acho eu, para resgatar a tua ideia da censura é isso, não é?
00:46:48
Speaker
estou a dizer bem?
00:46:50
Speaker
é para me redimir mas também temos mas tem que haver um você
00:46:58
Speaker
é isso mesmo pronto, era isso não nada que eu possa dizer que seja maior do que isso é verdade é esse o lugar é esse o lugar está bem Ana Teresa?
00:47:11
Speaker
o que é isso?
00:47:14
Speaker
não, o que eu acho que é incrível é isto é seja o que for, tem que haver dois pelo menos não é?
00:47:24
Speaker
Pois, para não ser preciso o pai.
00:47:31
Speaker
É verdade.
00:47:32
Speaker
Mas, acho que, apesar de você ser outro dia, é verdade, mas é um sítio difícil, não é?
00:47:44
Speaker
E que é possível com aquilo que o João está a falar desde o início, que é com a criatividade.
00:47:49
Speaker
Não é?
00:47:50
Speaker
Ou seja, um outro...
00:47:53
Speaker
Faz atenção que pode haver a criatividade.
00:47:55
Speaker
Se tiveram dois.
00:47:57
Speaker
É isso que eu estou a dizer.
00:47:59
Speaker
um outro.
00:48:01
Speaker
Tu estás em relação com o outro.
00:48:03
Speaker
A criatividade é possível a partir daí.
00:48:07
Speaker
Mesmo que o outro te castre, e sim, com todos os outros que tu tens dentro de ti, tu consegues ir a um sítio que te resgata dessa castração e que te permite a liberdade interna mesmo que tu não a vivas eternamente.
00:48:23
Speaker
E a criatividade é o sítio Mas eu quero tudo Não quero ver Opa, não, nós não queremos Mas não, não é?
00:48:32
Speaker
Claro que não, João, mas houve uma coisa Apesar de você verá outro dia Ou seja, a dada altura Há aqui uma coisa que é espetacular Que é isto, como é que Desculpem Mas é qualquer coisa, como é que tu vais impedir O galo de cantar?
00:48:47
Speaker
Impunemente Exatamente
00:48:51
Speaker
De facto é impunemente que é importante.
00:48:52
Speaker
Faz toda a diferença, eu sei.
00:48:53
Speaker
E tem um lugar que nós falávamos bocadinho que não é possível, que é o lugar do perdão.
00:48:59
Speaker
Claro, você que inventou o castigo não consegue inventar o pardal Sim, você que inventou o castigo Exatamente Ora, tenho a fineza Sim Exatamente Desinventar Exatamente Então bom Queres cantar?
00:49:11
Speaker
É, um bocadinho por estava a suar, estava-me a suar porque era suar Olha, tu és ator Eu sou ator Não és cantor, mas por isso mesmo Agora que falas disso, depois eu fico inibido Não, tu podes começar, Ana Teresa Vamos ver você é quem manda Falou, está falando
00:49:28
Speaker
Não tem discussão, não.
00:49:33
Speaker
Apesar de você amanhã de ser um novo dia Então, eu não consigo cantar isto agora porque eu estou muito focada numa coisa que é espetacular, que é o sítio do perdão, Paulo.
00:49:50
Speaker
É o sítio mais humano de todos.
00:49:52
Speaker
É de humanidade?
00:49:53
Speaker
É de humanidade, é mesmo de humanidade.
00:49:55
Speaker
De tentativa de reencontro, não é?
00:49:57
Speaker
Tentativa de reencontro de humanidade, de ausência, de perda de esperança.
00:50:03
Speaker
E que é este sítio que nós precisamos, mas que o João estava a dizer, mas eu quero tudo.
00:50:08
Speaker
Claro, nós queremos ficar... Eu nasci em 79, não é?
00:50:14
Speaker
E eu queria ficar assim, assim como temos estado até agora.
00:50:17
Speaker
Mas um sítio dentro que...
00:50:21
Speaker
todas as pessoas que me relembram qualquer coisa anterior a 74 não conseguem atingir e que é este sítio que estou-me a referir agora a crescer metafórica e que a generalizei espero que sim porque há pessoas de anos 74 claro
00:50:41
Speaker
Claro, meu amigo.
00:50:42
Speaker
Não é isso.
00:50:43
Speaker
Algumas espécies.
00:50:44
Speaker
Não é isso.
00:50:44
Speaker
É assim.
00:50:45
Speaker
O que eu estou a dizer é... Óbvio que eu estou a falar nos dirigentes deste país, anteriormente a 74.
00:50:55
Speaker
E lugares que... E que se repercutem pela vida toda, altamente ditatoriais até dentro de nós, não é?
00:51:05
Speaker
Que nós próprios, convocamos em nós próprios...
00:51:09
Speaker
Em que este resgate possível, através da relação com o outro e desta possibilidade de criatividade, em que nos podemos resgatar de uma prisão, que eu sei que tu queres tudo, mas, em última instância, este lugar nunca morre em nós.
00:51:24
Speaker
Como dizíamos no outro dia, a morte é finita.
00:51:27
Speaker
Percebes?
00:51:28
Speaker
O ódio é finito, o amor não.
00:51:31
Speaker
Não é?
00:51:32
Speaker
É isto.
00:51:34
Speaker
O amor não é tudo, não é?
00:51:35
Speaker
No outro dia, uma criança dizia, em Gaza, aliás, uma criança mesmo pequenina gritava e dizia, nunca nos vão poder, matem-nos todos, mas nunca nos vão poder matar.
00:51:45
Speaker
É isto, matem-nos a todos, mas nunca nos vão poder matar.
00:51:49
Speaker
Porque há um lugar que é riquíssimo em que
00:51:56
Speaker
Mesmo em silêncio e em aparentemente ausência de liberdade total externa internamente pode voar que é o lugar da criatividade que é esta liberdade interna de e não é a liberdade interna da criatividade é o tu saberes o que és se tu souberes o que és ninguém te pode fazer nada tu sabes mesmo que o outro não saiba ou inveja o teu lugar tu sabes
00:52:25
Speaker
E é isto que veio, é aqui que... Por isso é que eu gosto tanto desta canção.
00:52:30
Speaker
Não é?
00:52:32
Speaker
Sim.
00:52:34
Speaker
Vais de cá, este é um ponto que é... O que é, João?
00:52:37
Speaker
O que é, João?
00:52:38
Speaker
Esta questão, essa analogia com Gaza, porque... Sim, lembrei-me por causa de ver uma criança... Não, eu sei, eu sei.
00:52:45
Speaker
Mas... Houve civilizações, culturas que foram quase apagadas, foram exterminadas também.
00:52:57
Speaker
que pensar.
00:52:58
Speaker
Do ponto de vista identitário.
00:52:59
Speaker
Não é?
00:53:00
Speaker
Mas como dizia eu a um amigo meu agora no outro dia, estávamos a ver um filme com história, história, história.
00:53:06
Speaker
Um filme de uma história que ninguém se lembra.
00:53:10
Speaker
E houve alguém no mundo que recuperou aquela história e fez um filme.
00:53:14
Speaker
Entendes?
00:53:15
Speaker
Não é possível, não é?
00:53:16
Speaker
Não.
00:53:19
Speaker
Poderá haver lugares internos que se extinguem, e isso falámos imensas vezes em imensos podcasts dos lugares internos que não existem, e que nós às vezes a conversar com as pessoas percebemos que aquela pessoa não sabe do sítio que estamos a falar.
00:53:34
Speaker
E isto tem a ver com uma complexidade e com imensas coisas, pronto.
00:53:41
Speaker
Mas...
00:53:42
Speaker
Enquanto houver um, e se esse lugar for resgatar, isso não morreu, entendem?
00:53:47
Speaker
O ódio é finito, o ódio acaba ali na morte.
00:53:52
Speaker
O ódio é aquela coisa que se come ela própria.
00:53:54
Speaker
Exatamente.
00:53:55
Speaker
É isso mesmo.
00:53:56
Speaker
Ah, João, é agora tão fixe.
00:53:57
Speaker
É isso mesmo.
00:53:59
Speaker
O ódio come-se a ele próprio.
00:54:01
Speaker
E o amor expande.
00:54:02
Speaker
O ódio não expande, não é?
00:54:04
Speaker
O ódio pode propagar-se de alguma forma, mas não é expansão.
00:54:08
Speaker
Vai sempre tendo... É sempre com finitude, com finitude, com finitude.
00:54:11
Speaker
É o dia-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-
00:54:25
Speaker
Não, é que é tão bom, não é?
00:54:27
Speaker
O que tu acabaste de dizer é maravilhoso Portanto, se calhar ficamos por aqui Não, vamos ouvir a nossa canção Mas antes de ouvirmos a nossa canção Sim João Queres dizer mais alguma coisa?
00:54:41
Speaker
Tu gostaste de estar aqui Mas antes de dizer mais alguma coisa?
00:54:45
Speaker
Até sobre esta frase que tu agora disseste que é maravilhosa Queres dizer aqui a te dar de longe?
00:54:51
Speaker
Não, tem que estar, sim, metáforas.
00:54:56
Speaker
Sim.
00:54:59
Speaker
Agora vou personalizar muita coisa.
00:55:02
Speaker
Força.
00:55:06
Speaker
Eu acabei na altura da quarta classe, que hoje em dia é o quarto ano.
00:55:09
Speaker
Sim.
00:55:10
Speaker
E...
00:55:13
Speaker
E é para o ciclo preparatório, que hoje em dia é o sexto ano.
00:55:17
Speaker
Sim.
00:55:18
Speaker
Mas a metáfora para mim é...
00:55:26
Speaker
Eu não tinha escola, porque de repente houve assim um florescimento, toda a gente se quis, não sei, parece que toda a gente se quis inscrever nas escolas, eu não tinha na minha área escola disponível para começar o psicoproperatório, ou o atual sexto ano.
00:55:45
Speaker
E o que é que aconteceu?
00:55:48
Speaker
Havia um edifício que ia ser um hotel em Miraflores, que hoje ainda existe.
00:55:56
Speaker
Eu estou a dizer hoje ainda existe porque isto depois faz parte da metáfora que a obra que tinha sido embargada, não sei os meandros, mas o que é facto é que
00:56:13
Speaker
Eu para ter aulas, nós, nós, e quando eu digo nós, nós, eu, os pais, os professores e as Forças Armadas, construíram uma escola num sítio de cimento,
00:56:30
Speaker
estava cru, ele me deu para aquele sítio, pregar e pintar, e recuperar carteiras, e o MFA, como nós conhecíamos, trazia carteiras e os professores, e os pais e os alunos, e criámos uma escola para eu ter aulas.
00:56:48
Speaker
Esse dia hoje é um centro comercial.
00:56:51
Speaker
Querem a melhor metáfora?
00:56:52
Speaker
Não, porque não queremos.
00:56:58
Speaker
Mas é triste.
00:56:59
Speaker
É triste.
00:57:00
Speaker
Por isso é que eu falei na educação ao princípio.
00:57:05
Speaker
Sim, claro.
00:57:07
Speaker
Por isso é que eu também disse que o perdão tem que ter os limites da realidade.
00:57:12
Speaker
Mas, apesar... De você?
00:57:15
Speaker
Não, não.
00:57:16
Speaker
Apesar do centro comercial, apesar da tristeza,
00:57:24
Speaker
Tu estás aqui connosco, João Didley, a dizer estas coisas.
00:57:28
Speaker
Percebes?
00:57:28
Speaker
Essa é a mesma.
00:57:29
Speaker
Sim, eu sei.
00:57:30
Speaker
Percebo que estou a dizer.
00:57:31
Speaker
Boa.
00:57:32
Speaker
Ainda bem.
00:57:35
Speaker
Então, vamos ficar por aqui.
00:57:36
Speaker
Gostaste de estar aqui connosco.
00:57:38
Speaker
Gostei muito.
00:57:39
Speaker
Obrigado pelo convite.
00:57:41
Speaker
Ficava aqui mais tempo a falar.
00:57:42
Speaker
E ficamos.
00:57:43
Speaker
que agora temos de desligar o microfone.
00:57:44
Speaker
Agora desligamos os microfones e depois...
00:57:47
Speaker
Quero deixar agradecer a vossa presença e a vossa paciência das pessoas que estão aqui a assistir ao Três Divãs na Casa do Comum.
00:57:55
Speaker
Quero agradecer à Joana Bernardo que voz a este jingle, ao jingle do nosso podcast.
00:58:02
Speaker
Quero agradecer aos Dirty Mac e à Yoko Ono, do Rock and Roll in Circus, já estava a falar do David Bowie para falar dos Rolling Stones.
00:58:11
Speaker
Vai sempre ao David Bowie.
00:58:14
Speaker
E quero agradecer à Patrícia Câmara por estar aqui connosco, a ti João Didley, à Carolina que esteve a fazer o som, à Climépsi que nos emprestou este material todo, à Casa do Comum disse.
00:58:24
Speaker
E ao vinho branco também, hoje é branco.
00:58:31
Speaker
E apesar de você, Chico Buarque, 1970, amanhã vai ser outro.
00:58:39
Speaker
Não, não, ela foi escrita em 1970, mas ela foi depois editada, porque ela foi censurada.
00:58:46
Speaker
E foi censurada porquê?
00:58:47
Speaker
Porque houve um tipo que agora não me lembro o nome,
00:58:50
Speaker
que na rádio disse assim os putos da terra cantam mais o Apesado de Você do que o hino nacional pimba acabou-se foi como a grândula ninguém percebeu muito bem esta canção ela andava a circular e os miúdos cantavam, cantavam, cantavam mas houve um tipo na rádio que disse os putos cantam mais o Apesado de Você cantam o Apesado de Você como se fosse o hino nacional a partir desse dia acabou-se porque era um samba e depois saiu em 1978 até à próxima muito obrigada
00:59:27
Speaker
3 Divãs.
00:59:28
Speaker
A Psicanálise.
00:59:29
Speaker
O Mundo.
00:59:30
Speaker
E o Rock'n'Roll.