Introdução ao álbum 'Mil Coisas Invisíveis'
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Speaker
A psicanálise, o mundo e o rock'n'roll.
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Speaker
Todos os discos tocam a vida.
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Speaker
Todos os discos tocam lugares.
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Speaker
Todos os discos tocam amor.
A profundeza das músicas e álbuns
00:00:30
Speaker
Até o amor à morte.
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Speaker
Um dos meus favoritos de sempre.
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Speaker
Escolhemos os discos que tocam.
00:00:37
Speaker
Às vezes só uma canção em repeat e esquecemos o resto.
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Speaker
Outras vezes o repeat está dentro do disco e esquecemos tudo.
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Speaker
Outras vezes, ainda, não há repeat lá dentro e temos de voltar a ouvi-lo para o entender melhor.
Temas de continuidade e mudanças na vida
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Speaker
É disto que trata o disco de hoje.
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Speaker
A sensação de chegar ao lugar que já lá estava.
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Speaker
A sensação desse lugar tardar ou nunca lá se chegar.
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Speaker
O disco de hoje tem um ritmo homótono, como um contínuo na continuidade.
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Speaker
O conteúdo vai mudando à medida que o tempo passa, como na linha da vida, com princípio e fim, num contínuo que muda de cada vez que encontramos o outro, e o outro em nós.
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Speaker
É só disso que se trata.
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Speaker
o que o outro nos deu em nós.
00:01:32
Speaker
Este disco é sobre a busca da vida porque a vida está cá dentro.
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Speaker
Este disco é sobre a saudade que temos do outro porque o outro está cá dentro.
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Speaker
Este disco é sobre o amadurecimento infinito que acaba sempre na infância.
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Speaker
Este disco é sobre a maturidade enquanto se amadurece.
Apresentação da convidada Teresa Sgaio
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Speaker
Foi escolhido para o Três Divãs de hoje.
00:01:56
Speaker
É do Tim Bernardes, chama-se Mil Coisas Invisíveis e vai tocar todos, mas não todo, aqui na Casa do Comum.
00:02:04
Speaker
Intercalado com a conversa que eu e a Patrícia Câmara vamos ter com a nossa convidada, a Teresa Sgaio.
00:02:11
Speaker
Olá, Teresa, sejas bem-vinda.
00:02:14
Speaker
Olá, Ana Teresa, olá Patrícia, muito obrigada por convite.
00:02:16
Speaker
É um prazer estar aqui.
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Speaker
Tenho a palavra, que medo.
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Speaker
Bom, eu primeiro tenho que dizer, porque isto é muito esquisito para mim, porque eu passo os dias no meu ateliê sozinha, calada, e depois acontecem estes momentos em que eu tenho que falar e fico assim muito desconfortável.
00:02:36
Speaker
O que é que eu posso dizer?
00:02:40
Speaker
O meu nome é Teresa, nasci em Cristina Nazaré, e vim para Lisboa quando vim para a Faculdade de Pás-Belas Artes e fiquei por cá, por cá.
00:02:50
Speaker
Inicialmente o meu percurso tendeu mais para as ciências.
00:02:55
Speaker
Eu adorava as coisas exatas, matemática, números, tudo.
00:02:58
Speaker
Ainda adoro, mas eu comecei a sentir, quando comecei a crescer, que a ciência não me respondia às questões mais íntimas.
Desenho como canal de compreensão existencial
00:03:08
Speaker
E que havia uma coisa assim que não me respondia, mas que me permitia uma relação com essa inexplicável, que eu na altura não conseguia nomear, e era o desenho.
00:03:16
Speaker
E aí, sim, o desenho assumiu um papel central na minha vida.
00:03:20
Speaker
É através do desenho que eu sinto e que eu penso.
00:03:23
Speaker
É como se fosse um canal através do qual eu processo as coisas.
00:03:28
Speaker
Acho que tenho muita sorte por ter este canal.
00:03:33
Speaker
Para salvar a minha sanidade.
00:03:37
Speaker
Acho que a natureza dos meus desenhos são muito figurativos, acho que também numa tentativa de compensação não premeditada, porque abordam temas muito abstratos, como a passagem do tempo ou a condição humana, ou tantas coisas invisíveis para tocar no nome do nosso disco, que fazem parte deste inimigo, que é a nossa existência.
00:04:02
Speaker
O que é que eu posso dizer mais?
00:04:05
Speaker
Tudo o que tu disseste.
00:04:07
Speaker
O canal que liga à interioridade é fantástico.
00:04:11
Speaker
Qualquer coisa que permite que te faça a passagem com um olhar mais interessante.
00:04:15
Speaker
Não me dá respostas, mas eu sinto que estou mais perto da atmosfera.
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Speaker
Aliás, porque nem se pede resposta.
00:04:20
Speaker
Este lugar interno nem pede resposta.
00:04:23
Speaker
É mesmo que sou bonha?
00:04:26
Speaker
Eu ando sempre à procura de respostas para as coisas, mas sei que não as vou ter.
00:04:29
Speaker
É uma procura que à partida não sou mais que os outros, portanto não vou descobrir nada, mas tentamos sempre encontrá-las.
Escolha do álbum e nascimento do filho
00:04:39
Speaker
O canal, pode ser a resposta, o próprio canal.
00:04:43
Speaker
O exercício da procura.
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Speaker
Ou só o caminhar, não é?
00:04:46
Speaker
Só o caminhar, sim.
00:04:48
Speaker
E tocaste aí na questão, tocaste já no nome do disco, que aliás eu já disse, Mil Coisas Invisíveis, do Tim Bernardes.
00:04:55
Speaker
Por que é que escolheste este disco para conversarmos hoje?
00:04:58
Speaker
adoro o trabalho todo do time mas este álbum em particular escolhi para já este foi um exercício muito difícil, imagino porque se não fosse imposto nunca iria fazê-lo mas decidi escolher o último disco que eu ouvi de forma obsessiva e esse repeat que falaste na introdução acontece muito quando gosto muito de uma música fica em repeat e esses loops acabam
00:05:23
Speaker
Não, e esses lupus acabam por marcar fases, não é?
00:05:25
Speaker
E este disco marcou a fase mais incrível da minha vida, que foi agora o nascimento do meu filho José.
00:05:31
Speaker
Ó José, como nós o tratamos.
00:05:34
Speaker
E é muito incrível.
00:05:36
Speaker
E o Zé já tem um ano e meio, ou um bocadinho mais, e eu ainda me espanto todos os dias.
00:05:42
Speaker
Claro que eu consigo acionar o modo inseto e não pensar tanto sobre as coisas, mas inevitavelmente volto para lá e estou sempre, como é que isto é possível?
00:05:49
Speaker
Como é que isto aconteceu?
00:05:51
Speaker
Como é que nós temos este poder?
00:05:53
Speaker
O que é que andamos aqui a fazer?
00:05:56
Speaker
Eu fico sempre sem respostas, outra vez.
00:05:58
Speaker
Mas maravilhada, não é?
00:05:59
Speaker
Maravilhada, ou com mais perguntas.
00:06:01
Speaker
E acho que este é um disco que também tem muitas perguntas e muita reflexão.
00:06:06
Speaker
E que toca nestes mistérios todos.
00:06:10
Speaker
Então, acompanhou o nascimento do teu filho.
00:06:15
Speaker
Ou seja, este disco... E diz-me uma coisa, foi a fase pré-natal ou foi pós-nascimento?
00:06:23
Speaker
Em continuidade Sim, sim, sim Muito bem Foi, foi Até parece acompanhar a continuidade, estava a pensar no próprio disco Sentes isso no disco Uma coisa qualquer que parece mais interior e de repente vem para fora Que tem vida, que toma vida Diz-me uma coisa Eu pedi-te uma canção e tu deste-me a Mesmo se você não vê Eu podia escolher uma qualquer Porque eu gosto muito de todas
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Speaker
escolhi esta porque foi é quase uma canção de embalar, não é?
00:06:55
Speaker
que foi a banda sonora perfeita para muitos dos meus dias e é uma canção super apaziguadora e que dá colo, não só ao Zé que deu mesmo, dei eu, mas também a mim a ti?
00:07:07
Speaker
sim, então vamos ouvir-la e já conversamos um bocadinho sobre ela
00:07:16
Speaker
Meu bem, não chore Agora nem tem mais o que fazer Expire fundo Com calma tudo vai acontecer
00:07:46
Speaker
As ondas seguem me vendo Mesmo se você não vê As grandes dúvidas desaparecem
00:08:10
Speaker
Quando o sol aparecer Meu bem, não chore Você já é o que queria ser Respira
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Speaker
Vire fundo O mundo existe dentro de você O céu está sempre estrelado Mesmo se você não vêm
00:09:08
Speaker
As grandes dúvidas desaparecem Quando o sol aparecer Treza.
00:09:35
Speaker
Teresa, então, gostaste de ouvir a tua canção favorita.
00:09:38
Speaker
Gostei, não é bonita?
00:09:39
Speaker
Espero que vocês também gostem.
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Speaker
Alguma coisa nesta canção que... Porquê que a escolheste?
00:09:50
Speaker
Tu já disseste porque é que eu escolheste Mas eu estava a partir do ponto de vista se toca em algum sítio específico Não, gosto muito da questão também da relativização Que as coisas continuam a acontecer independentemente Nós somos muito pequeninos realmente E isso é uma coisa que põe tudo em perspetiva E acho que ajuda Eu estou sempre a fazer esse exercício
00:10:12
Speaker
E principalmente aqui na questão da... Porque, vamos ver, tu disseste que era uma boa canção de embalar.
00:10:18
Speaker
É. Mas também é uma canção não só de embalar, é uma canção de colo, não é?
00:10:25
Speaker
Porque o que nós presumimos é que está alguém triste a chorar e que esta letra vai um bocadinho ao encontro do apaziguamento dessa
Importância do apoio parental na infância
00:10:34
Speaker
dor, dessa tristeza.
00:10:34
Speaker
Sim, que vai ficar tudo bem, não é?
00:10:36
Speaker
E é aí que entra a relativização, não é?
00:10:39
Speaker
por muito mal que tu estejas ou quase não fiques tão mal porque o céu vai continuar a brilhar e tu agora não o vês mas um dia vais ver a outra vez Sim, as ondas vão e vêm mesmo que não estejas a ver isto Claro que sim Patrícia
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Speaker
E tu, o que é que estás a dizer sobre isto?
00:10:58
Speaker
O que é que eu tinha para dizer?
00:10:59
Speaker
Adoro o título da letra, mas tem a ideia de que há qualquer coisa que está lá permanente, mesmo quando não estás a ver.
00:11:04
Speaker
Portanto, tem a ideia de que é uma canção de embalar.
00:11:06
Speaker
É fantástica, porque transmite isto de continuidade, de presença.
00:11:09
Speaker
E eu senti isso a ouvi-la também.
00:11:11
Speaker
Esta ideia que nos dá uma espécie de banda sonora de fundo da existência e que acompanha.
00:11:17
Speaker
E a ideia também de que acalma-te.
00:11:19
Speaker
Se te acalmar, consegues ver a luz.
00:11:20
Speaker
O sol vai aparecer se conseguís encontrar este lugar de...
00:11:23
Speaker
tranquilidade interna que é dada exatamente pela companhia da voz doce porque eu acho que há aqui uma coisa incrível ele tem uma voz muito doce e esse lugar de tussura afasta esta companhia interna portanto é só aqui esta parte esta ideia de que as grandes do... é engraçado porque liga o que estava a dizer antes as últimas...
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Speaker
Os últimos dois versos são as grandes dúvidas desaparecem quando o sol aparecer, não é?
00:11:46
Speaker
Portanto, no fundo mesmo esta inquietação que às vezes parece transbordante da existência, se for acompanhada, se tiver tranquilidade, torna-se possível de ser vivida.
00:11:55
Speaker
Porque consegues ter esperança, ver a luz, não é?
00:11:57
Speaker
Portanto, achei a letra fabulosa.
00:12:00
Speaker
Que era disso que estávamos a falar no sentido de, além de ser uma canção de apaziguamento, não é?
00:12:07
Speaker
É uma canção de esperança também, como tu disseste agora.
00:12:11
Speaker
Mas é incrível como, tocando um bocadinho naquilo que eu disse na introdução, na questão da maturidade, do amadurecimento, é que de facto é exatamente este colo que é preciso para a maturidade.
00:12:25
Speaker
e é incrível como este este colo que nós pensámos nas fases primitivas da nossa existência a mãe ou o pai ou os cuidadores podem dar é fundamental para que de facto todo o nosso amadurecimento e toda a nossa maturidade seja bem constituída se é que se pode pôr assim esta expressão é feia mas é isto um bocadinho que eu quero dizer que é
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Speaker
Nós percebermos que independentemente daquilo que possa acontecer, pode iniciar-se um novo ciclo e novas coisas poderão vir.
00:13:03
Speaker
E isto só é possível também nós termos esta crença com nós próprios.
00:13:08
Speaker
se de facto tivermos este colo interiorizado que alguém nos deu.
00:13:14
Speaker
Nós primeiro temos de ter esse colo, temos de interiorizar para depois podermos embalar a nós próprios em momentos difíceis quando atingimos uma determinada maturidade e um determinado nível de autonomia.
00:13:25
Speaker
E eu acho que isto é importante reforçar, porque eu acho que há uma coisa que temos vindo a assistir muito, eu acho que a Patrícia também, acho que a medida da minha, disto que eu vou dizer,
00:13:37
Speaker
E agora vou usar a palavra perceção.
00:13:42
Speaker
Acho que todos nós temos um bocadinho a perceção de que possivelmente nos dias de hoje é muito mais difícil acompanhar os nossos filhos neste colo permanente do que alguma vez foi.
00:13:55
Speaker
Ou não, mas as circunstâncias são diferentes.
00:13:58
Speaker
E às vezes assistimos a isto que é, assistimos a cuidadores que estão pouco estimulados para dar este call, para dar esta atenção e sentimos que as crianças estão um bocadinho ao... Deus dará, neste sentido de... São um bocadinho entregues a si próprias na exploração de um crescimento.
00:14:20
Speaker
E isso é muito complicado porque de facto é quase impossível...
00:14:24
Speaker
que assim aconteça uma autonomização e esta possibilidade de termos o colo dentro de nós para quando somos adultos, consoante as adversidades, conseguirmos puxar desse lugar bom e por isso é que eu queria reforçar isto mas tu ias dizer uma coisa não, eu ia só dizer que estou a sentir isso muito na pele agora nos meus dias porque estou na fase, o Zé vai fazer dois anos agora este verão e eu estou na fase e ele está comigo em casa e tenho gerido entre
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Speaker
Eu e o meu marido temos gerido para ele, não está na escola ainda, não é?
00:14:58
Speaker
E visitei uma escola pela primeira vez agora porque estava, se ponho, não ponho, agora este setembro, porque queríamos que ele fosse só aos três, vai aos dois, vai aos três, porque aos três já falam.
00:15:08
Speaker
Mas como é que eu vou, pô-lo numa escola, como é que ele vai passar o dia sem colo?
00:15:11
Speaker
É isto que me está a atormentar.
00:15:14
Speaker
Acho que ele é muito pequenino, não está aí.
00:15:16
Speaker
E estou neste dilema de se ponho aos dois, se ponho aos três, porque acho que realmente isso contribui para... É uma fase essencial.
00:15:25
Speaker
Claro que é uma necessidade dos pais, e é por isso que as crianças têm que ir, mas eu vejo crianças tão pequeninas, já sem...
00:15:32
Speaker
nas escolas, mas tem que ser, eu sei que tem que ser por isso são as circunstâncias dos dias de hoje mas isso tem que ter repercussões nas crianças adultas Mas ó Teresa, eles deixam de ter ele deixa de ter o teu colo, passa a ter outro tipo de colos e passa a ter uma estimulação dos pares que também é diferente daquela que agora, depois chega a casa e o duvens que lhe dá colo Claro!
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Speaker
Tu estás a falar mesmo pais que não dão colo, em geral Sim, sim, sim
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Speaker
Ou então que dão aquele colo, sabes como é?
00:16:03
Speaker
Eu acho que estás a dizer duas formas.
00:16:04
Speaker
Mas isso é uma realidade.
00:16:05
Speaker
Estou a dizer das duas formas, porque a metáfora toca no literal, não é?
00:16:08
Speaker
Que é, vamos lá ver, nós temos crianças que têm colo literal e colo metafórico, mas há crianças que não têm nem uma coisa nem outra.
00:16:19
Speaker
E há crianças que podem ter um colo literal e nunca chegam à metáfora.
00:16:24
Speaker
temos de tudo pois estamos acho que cada vez mais a solidão se instala mais cedo é isso deixa-me lá perguntar o que estás a dizer só por causa da ideia das receitas de como dar colo porque hoje também podemos tocar aí porque atualmente é esta situação mas também tens o contrário são 50 mil receitas da maneira certa de dar colo que se traduzem na incapacidade total de dar colo temos esta dupla valência atualmente
00:16:48
Speaker
ou está a regressar aquela ideia de que existe cola mais que é perigosíssima mas a ideia contrária existe a maneira certa de dar cola e se tu fizeres assim assim assim assado garantes que estas receitas são perigosas porque no fundo são ausência de cola também
00:17:08
Speaker
porque o qual está nisto, na capacidade da continuidade em música de fundo de existência por isso é que acho que não vale a pena preocupar-se muito porque ele deve ter isso já lá dele e depois chega a casa tem o teu reforços não, isso tem eu acho que quando nós olhamos para esta letra, portanto, vemos o colo literal, mas é o colo no sentido de ser capaz de dar resposta às necessidades dos bebês e das crianças e acima
00:17:39
Speaker
angústias, é isto.
00:17:44
Speaker
E há uma coisa aqui que eu acho espetacular, não é?
00:17:50
Speaker
Que é esta parte da letra que diz, meu bem, não chore, você já é o que queria ser, respiro fundo, um
00:17:58
Speaker
existe dentro de você.
00:18:00
Speaker
E isto eu acho que toca neste lugar em que nós nascemos e o mundo está aqui para nós.
00:18:10
Speaker
E se nós formos capazes de interiorizar de facto este símbolo, esta capacidade de focar o outro, mesmo quando ele não está, então já temos tudo dentro
00:18:21
Speaker
de nós e estamos preparados para tudo e podemos chegar a todo lado sem ser com esta angústia do e se eu não consigo, e se eu não chego ou se isto não é suficiente para mim e isto é bastante tranquilizador nesta quadra aqui
00:18:38
Speaker
É espetacular porque eu acho que cabe aqui a vida toda.
00:18:42
Speaker
Neste bocadinho aqui cabe a vida toda.
00:18:44
Speaker
Meu bem, não choro, você já é o que queria ser.
00:18:46
Speaker
Respiro fundo, o mundo existe dentro de você.
00:18:49
Speaker
E a forma como ele faz isto?
00:18:50
Speaker
São infinitas, infinitas as possibilidades, não é?
00:18:54
Speaker
Infinitas as possibilidades e infinitos os lugares que nós podemos alcançar na vida.
00:18:59
Speaker
Não, e a forma como ele diz isto?
00:19:01
Speaker
A forma simples e...
00:19:05
Speaker
E tão bonita, não é?
00:19:08
Speaker
Sim, bonita é isso mesmo.
Processo criativo e exploração emocional
00:19:10
Speaker
Vocês já ouviram ao vivo?
00:19:12
Speaker
Ele veio cá o ano passado, não foi?
00:19:14
Speaker
E já há mais tempo.
00:19:17
Speaker
Não, é que no álbum a gravada é muito bom, mas ao vivo é...
00:19:29
Speaker
Vais com a malta dos três divãs.
00:19:31
Speaker
E levamos estes amigos todos que estão aqui.
00:19:37
Speaker
Patrícia Câmara, tu escolheste A Beleza Eterna?
00:19:41
Speaker
Que é espetacular.
00:19:42
Speaker
Deixem-me dizer que era a minha canção favorita, eu entretanto escolhi outra, mas eu e a Patrícia estamos em força nesta Beleza Eterna.
00:19:50
Speaker
Patrícia, ouvimos primeiro?
00:19:55
Speaker
Eu às vezes me pergunto como tudo chegou nesse ponto é tudo tanto
00:20:05
Speaker
Eu vou acabar morrendo nas mãos de um celular Do computador, da máquina que tem o travelocidade Minha cidade Transa pensando no gosto, paga pra ver o final
00:20:33
Speaker
Da aflição e da angústia de ter que viver a vida inteira Que vida eterna De cansar da própria cara e não ter como descansar E ninguém poder sentir exatamente como um outro sente Embora tente
00:21:02
Speaker
Mas que música existe pra poder imaginar?
00:21:30
Speaker
Vê que o medo da mudança e do conflito são bem semelhantes Depois e antes Quando o choque te confunde você quer voltar atrás Quando o escuro é muito grande e sufocante De desconhecido Eu não consigo
00:21:58
Speaker
Não existe um horizonte, eu nem sei como explicar E querer ficar contente, mas ficar de fato não existe Estava estive, mas quem sabe andar contente é o polo só pra movimentar
00:22:45
Speaker
Sentindo tudo tão guardado e controlado pra seguir em frente É tão doente a vontade de chorar, de desistir, de desabar Quanta coisa a gente inventa de fazer pra ser bem sucedido
00:23:10
Speaker
É tão vazio O sentido nem sempre está escondido no final Mas que a vida nunca é curta Perto de tudo que ela é Bonita, vida infinita A beleza eterna que às vezes pode se enxergar
00:24:00
Speaker
Pois se o tempo andar pra frente Tudo que eu tentei manter comigo Foi destruído Mesmo que ficou igual Ficou igual em outro lugar Se os problemas vão e vêm Eu quero vê-los com simplicidade Sinceridade
00:24:28
Speaker
Se aparece falar alto que a verdade fale mais Que o peso da idade e do dinheiro não mate a beleza e a brincadeira Nem o meu brilho nos olhos de crescer e inventar Ararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararararar
00:25:19
Speaker
Que maravilha, não é?
00:25:20
Speaker
Cabe o mundo todo aqui, cabe tudo aqui.
00:25:23
Speaker
Estava aqui a pensar se dizia tudo ou só dizia metade, mas vou dizer tudo.
00:25:29
Speaker
Mas, deixa-me só dizer-vos, eu acho extraordinário, porque há um momento da música em que há duas vozes, não é?
00:25:38
Speaker
Que é exatamente o momento em que ele diz, mas que a vida nunca
00:25:46
Speaker
a beleza eterna que às vezes pode-se enxergar.
00:25:53
Speaker
a coisa mais maravilhosa.
00:25:55
Speaker
Há uma dupla voz, uma mão que se sobrepõe à outra e vai, este lugar que nós temos estado a falar.
00:25:59
Speaker
É porque eu estava ouvindo o disco todo e houve uma arte delas que eu adorava.
00:26:02
Speaker
E houve uma, que eu não me consigo lembrar agora ou não, porque não tenho isto aberto aqui, muito mal.
00:26:07
Speaker
Era duas antes, acho que eu.
00:26:10
Speaker
Mas que é mais ligada a um lugar mais triste, com menos esperança.
00:26:15
Speaker
Era assim um lugar mais de vazio.
00:26:18
Speaker
Era uma música que falava sobre o vazio.
00:26:20
Speaker
sobre este encontro com o vazio muito duro e eu tive prestes a escolher assim mas depois pensei não porque a tua mãe ensina-te que em todos os sítios mais horríveis tu consegues encontrar sempre um bocadinho de beleza e isto é mesmo verdade e pensei por isso e a seguir estava eu pensando nisto e aparece esta música esta beleza e ter uma espécie de volta é mesmo este lugar é este lugar que me define mais a mim até como sou eu estou sempre à casa deste sítio portanto pensei isto respeita-te mais do que ficar-se encarrada ou a fosso apesar da atmosfera mundial de estar a pedir tantas vezes que te esqueças disto
00:26:49
Speaker
O que é que eu acho que é brutal?
00:26:51
Speaker
Porque é música que toca neste sítio de desesperança, dos sítios de desencontro, de tristeza.
00:26:57
Speaker
E mesmo a tocar no sítio onde parece tudo ficar quase passível de ser desirrigado de vir, aparece este lugar a duas vozes que se diz, não, mas tu vires bem, a vida realmente é bonita quando é vivida a duas vozes.
00:27:12
Speaker
Quem diz duas vires a este lugar de encontro, que são as pessoas que quem bala e recuperas o lugar de esperança outra vez.
00:27:19
Speaker
Mais 50 mil coisas para dizer sobre, mas este é o ponto principal que me tocou mais nesta música.
00:27:23
Speaker
Que é o lugar da esperança.
00:27:24
Speaker
Que é o sítio de beleza interna, é o sítio do encontro.
00:27:25
Speaker
E do encontro e da esperança.
00:27:29
Speaker
Treva, eu agora queria... Tu também gostas desta canção?
00:27:37
Speaker
Mas vou sair um bocadinho disto que temos estado aqui a conversar, porque isto também se encontra nos teus quadros, não é?
00:27:45
Speaker
Nos teus desenhos.
00:27:47
Speaker
Quadros, nos teus desenhos.
00:27:48
Speaker
Eu tenho quase a certeza que para mim o desenho é um canal, assim como para a música é um canal.
00:27:54
Speaker
A música é o canal do Tim, assim como o desenho é o meu canal.
00:27:59
Speaker
E deixa-me dizer-te uma coisa.
00:28:03
Speaker
Eu gosto de todos os teus desenhos, todos.
00:28:05
Speaker
Às vezes é difícil escolher um.
00:28:09
Speaker
E principalmente todos aqueles em que vocês têm que, quem não conhece, tem que conhecer o trabalho da Teresa Gai.
00:28:16
Speaker
Porque a Teresa Gai tem uma coisa espetacular que é desenhar muito bem.
00:28:22
Speaker
Não, mas para além disso, o trabalho da Teresa Gai é quando a Teresa resolve fazer também os transparentes.
00:28:29
Speaker
Aquela coisa dos véus, daquele quadro gigante que tu tens.
00:28:33
Speaker
Que é uma estátua.
00:28:34
Speaker
Exatamente esse, que é uma perdição.
00:28:38
Speaker
Todo aquele véu, todo aquilo, aquilo é espectacular.
00:28:40
Speaker
Posso-te perguntar quanto tempo é que tu demoras a fazer?
00:28:42
Speaker
Quer dizer, eu percebo que deve ser o teu rico, mas aquilo é isso.
00:28:47
Speaker
Em média, aquilo demora-te quanto tempo a fazer?
00:28:50
Speaker
Isso é uma pergunta difícil.
00:28:52
Speaker
Aliás, tenho aprendido muito sobre o tempo com os meus desenhos.
00:28:56
Speaker
Sobre o tempo, que é tão bom.
00:28:58
Speaker
Porque os meus desenhos têm muito tempo, são eles que editam o meu calendário, não sou eu.
00:29:02
Speaker
Como vocês estavam a falar ainda há bocado das agendas, não, o mim, os desenhos é que editam a minha agenda.
00:29:09
Speaker
e cada desenho é muito particular.
00:29:11
Speaker
Eu não consigo dizer, em média demora.
00:29:12
Speaker
Não, porque há desenhos que eu faço num dia e há outros que faço num mês e já passei um ano a desenhar um elefante e um rinoceronte, por exemplo.
00:29:22
Speaker
E eu parti para esse desafio, por exemplo, com uma ingenuidade que hoje me dá pena, porque eu achei que ia fazer aquilo aí em três meses.
00:29:33
Speaker
Mas essa estátua, essas transparentes... Essa estátua demorei, eu acho que um mês.
00:29:40
Speaker
A outra um bocadinho mais, porque eu tenho duas estátuas.
00:29:42
Speaker
Mas diz-me uma coisa, tu pintas ou desenhas, qual é o teu rito miliário?
00:29:48
Speaker
Tu podes começar a pintar ou a desenhar e estar ali um dia todo?
00:29:52
Speaker
Tu pintas, tu estipulas o tempo que vais pintar?
00:29:54
Speaker
Sim, eu sou um bocadinho disciplinada nisso.
00:30:00
Speaker
Há aqui um antes e um depois Mas antes do Zé eu trabalhava 10, 12 horas por dia 10, 12?
00:30:08
Speaker
Entrega mesmo Agora menos Mas eu vou em breve Encontrar esse
00:30:14
Speaker
Eu tenho uma curiosidade, como é que tu fazes as pausas?
00:30:17
Speaker
Por exemplo, 10 horas a trabalhar.
00:30:19
Speaker
Quando é que tu entendes que tens de fazer pausa?
00:30:21
Speaker
Às vezes preciso parar.
00:30:23
Speaker
Mas não é assim, vou parar?
00:30:24
Speaker
Não, às vezes preciso parar, ler um bocadinho para sair dali.
00:30:30
Speaker
Mas mesmo durante o desenho, eu nem vejo o tempo a passar.
00:30:34
Speaker
A alegria de fazer o que gosto.
00:30:35
Speaker
Mas estou sempre a ouvir podcasts, ou...
00:30:39
Speaker
E o tempo passa muito rápido.
00:30:43
Speaker
É mais o... Tenho que parar do que... Como é que vou continuar a risar?
00:30:48
Speaker
Então, e a beleza eterniza-se nos desenhos, não é?
00:30:54
Speaker
Um desenho bonito é eterno.
00:30:56
Speaker
A beleza eterniza-se, não é?
00:30:58
Speaker
Ou a beleza da possibilidade de o fazer.
00:31:02
Speaker
Eu trabalho com... O meu suporte não é o mais eterno de todos.
00:31:06
Speaker
Já experimentei outras coisas, mas é... O papel?
00:31:14
Speaker
Não, é muito mais frágil que uma tela, não é?
00:31:18
Speaker
Mas o que está ali é bonito para sempre, não é?
00:31:22
Speaker
Neste sentido que se eterniza.
00:31:26
Speaker
Nós às vezes nos tornamos muito feios.
Musings filosóficos sobre amor e ódio
00:31:29
Speaker
Mas a beleza de facto... Sim, desculpa.
00:31:36
Speaker
O que me leva a fazer um desenho, por acaso, eu não penso na beleza.
00:31:41
Speaker
Não penso se vai ficar bonito ou não.
00:31:45
Speaker
Às vezes eu já fiz desenhos feios.
00:31:48
Speaker
Sei lá, andei... Por exemplo, quando andei, eu nasci na Nazaré e andei muito tempo lá a trabalhar sobre...
00:31:54
Speaker
pescadores e andei no arquivo de Ilha, andei a ver as fichas e o meu critério de seleção, por exemplo, aí, porque eu andava a trabalhar o noveiro e a falta de visibilidade, selecionei fichas de pescadores que tinham aquelas fotografias de tipo passe, em que eram as que estavam destruídas, por exemplo, na zona dos olhos, em que havia uma impossibilidade física ali nos pescadores, ou tinha um agrafo, ou estava com ferrugem,
00:32:20
Speaker
E eu não achei aquilo nada bonito, mas há qualquer coisa que me diz que eu tenho que fazer aquilo.
00:32:24
Speaker
Mas é impactante, tu tinha luz na corduaria, não tinhas pausa.
00:32:28
Speaker
Houve qualquer coisa assim, tens que fazer isto, e eu fiz, mas eu sei que aquilo não é bonito, não é?
00:32:34
Speaker
Mas é impactante, sim, sim.
00:32:36
Speaker
Olha, eu gosto muito, Patrícia.
00:32:39
Speaker
Aqui nesta letra eu gosto muito disto que é se há aparência falar alto que a verdade fale mais que o peso da idade e do dinheiro não mata a beleza e a brincadeira nem o meu brilho nos olhos de crescer e inventar.
00:32:57
Speaker
É espetacular, não é?
00:32:59
Speaker
Que era exatamente isto que a Teresa estava dizendo.
00:33:03
Speaker
E eu acho que nós as quatro aqui nesta mesa sabemos, não sei se as outras pessoas sabem, mas nós sabemos, é que de facto não há nada que mate isto.
00:33:16
Speaker
E nem podemos deixar.
00:33:17
Speaker
Há várias tentativas de matar isto, mas não mata.
00:33:22
Speaker
Nem podemos deixar, porque estava a pensar, estava a dizer da beleza, estava a pensar mais na questão até do impacto estético, que tem ética implícita, não é?
00:33:28
Speaker
Que é o teu, este maravilhamento, ou qualquer coisa que te convoca a isto.
00:33:31
Speaker
Que tem que ser, de alguma maneira.
00:33:34
Speaker
Há uma coisa, e agora por causa disto, porque quando eu estava a dizer, é impossível acabar com isto que está aqui escrito nesta estrofe.
00:33:45
Speaker
Há uma coisa que eu estava a pensar no outro dia, que é o ódio é finito.
00:33:52
Speaker
É morto em si mesmo.
00:33:54
Speaker
O amor é infinito.
00:33:56
Speaker
Portanto, basta isto para nunca deixarmos morrer a esperança, não é?
Reflexão final sobre arte e introspecção
00:34:02
Speaker
Porque, de facto, o ódio provoca destruição, ou tenta, não é?
00:34:06
Speaker
E provoca destruição, mas nunca é uma capacidade em pleno, porque é finito.
00:34:15
Speaker
O amor continua sempre e tem uma expansão infinitamente também superior à do ódio.
00:34:23
Speaker
E, portanto, eu acho que, seja lá o que isto for, ou que nos possa vir a acontecer, temos que nos agarrar a esta questão que eu acho que é mesmo...
00:34:38
Speaker
Para mim isto é pragmático, o ódio é finito, o amor não.
00:34:43
Speaker
Não há nada a saber aqui.
00:34:48
Speaker
Patrícia, tu tens que ir ver uma exposição de atrevo.
00:34:50
Speaker
Pois, agora estou a ter.
00:34:51
Speaker
Não, aliás, estou te enervada com isso.
00:34:55
Speaker
Mas a Patrícia conhece o teu desenho que está na minha casa.
00:35:03
Speaker
Sabes o que é que às vezes acontece?
00:35:04
Speaker
É as pessoas entrarem lá e acharem que é uma fotografia.
00:35:07
Speaker
E depois dão um passo em frente, abres a porta e ele está logo à entrada.
00:35:11
Speaker
E as pessoas acham que é uma fotografia.
00:35:14
Speaker
Aqueles especificamente, porque, por exemplo, se virmos o Dallas ou...
00:35:19
Speaker
vê-se que é desenho mas há essa confusão há uma confusão e as pessoas depois dão um passo e quando percebem que é desenho depois há sempre um segundo olhar e as pessoas ficam isto é desenhado então depois há três passos à frente e toda a gente vai com lupa olha nós estamos aqui a gravar há 45 minutos ou há 40 sensivelmente
00:35:47
Speaker
Vamos passar a minha... Porquê que eu escolhi isto?
00:35:50
Speaker
Eu achei extraordinário porque a Teresa avançou indecisa com a bebê Garupa de Mota Amarela e avançou então com a que depois eu podia parecer só uma com mesmo se fosse em não.
00:36:07
Speaker
Então, e a Teresa de repente escolhe uma canção de embalar e a seguir a Patrícia Câmara escolhe a beleza eterna.
00:36:14
Speaker
Pai, é incrível como... Não, e depois isto lembrou-me a questão da vida, que é dizer que quando se nasce o colo que é necessário, que a Teresa trouxe nesta canção, o colo que é necessário, o embalo que é necessário para a vida...
00:36:27
Speaker
E a Patrícia traz aqui a esperança, com todas as adversidades, versus a esperança perante elas na vida e a forma como isto... Ou seja, as vossas escolhas foram um contínuo e por isso é que eu nem mexi na ordem pelas quais elas surgiram aqui.
00:36:45
Speaker
E eu depois pensei, vou sair um bocadinho disto.
00:36:49
Speaker
só para trazer o shot eu vou trazer o shot à vida vou trazer o shot a este contínuo que é o momento em que nos apaixonamos não é?
00:37:00
Speaker
e foi por isso que eu escolhi BB Garopa de Moto Amarela que era uma das favoritas também da Teresa vamos ouvi-la e já conversamos tudo em volta tem-me confirmado bebê que eu e você
00:37:17
Speaker
Somos coisa de alma O universo tem deixado claro, bebê Só quem não quer ver, não enxerga Namora
00:37:52
Speaker
Quero ser, tenho que estar do seu lado Já me apaixonei, ficando cedo, bebê Com você o sonho de olho aberto, bebê Quero amar e sempre ver de perto você
00:38:26
Speaker
Vamos explorar Santa Cecília, bebê Eu sigo você sossegado Pode me seguir também Vou te fazer bem Podemos curtir de mãos dadas Você
00:38:52
Speaker
Fica também Mil cores melhores amigos Nós não vamos mais ser tão sozinhos, bebê Conto com você Pode contar comigo Já me apaixonei Ficando cego, bebê
00:39:19
Speaker
Com você o sonho de olho aberto, bebê Quero amar e sempre ver de perto você
00:39:51
Speaker
Teresa, vou passar para ti porque foi uma das canções que tu me disseste que estavas indecisa.
00:39:56
Speaker
Ah, isso é batota.
00:39:57
Speaker
Não, eu gosto de todas.
00:39:59
Speaker
Eu já te digo porque é que gosto, mas porque é que tu gosto?
00:40:01
Speaker
Aliás, já enunciei isso, eu acho que esta coisa de de repente estamos numa coisa contínua e de repente...
00:40:07
Speaker
como diz um amigo meu que é o Pedro Elís espanhol, cada vez que acontece alguma coisa marcante ele olha para mim e diz Ana, trá trá e isto é o que acontece com a paixão, de repente cruza um olhar e de repente trá trá pronto, e então é por isto que só para interromper aqui a nossa coisa da continuidade e da linhagem da linha do amadurecimento
00:40:35
Speaker
Porquê que tu também gostas muito desta canção?
00:40:37
Speaker
Olha, por exemplo, este verso... Onde é que está?
00:40:42
Speaker
Com você o sonho de olho aberto, por exemplo.
00:40:45
Speaker
Com você o sonho de olho aberto, sim.
00:40:48
Speaker
Eu sonho pouco quando durmo.
00:40:50
Speaker
E o meu marido, por exemplo, sonha muito e acorda sempre a contar aos seus sonhos e eu não sonho.
00:40:55
Speaker
Mas eu acho que é porque eu vivo mesmo o sonho acordado.
00:41:00
Speaker
Eu tive a sorte de o encontrar.
00:41:06
Speaker
É mais do que eu podia pedir ou sonhar.
00:41:10
Speaker
Isso, é aspecto claro também, não é?
00:41:16
Speaker
Sim, e eu acho que... E esta música é isto.
00:41:19
Speaker
É assim, eu me passei feliz.
00:41:22
Speaker
Esta música eu me passei feliz.
00:41:26
Speaker
Eu nunca tinha pensado, esta ideia de sonhador é aberta, é fabulosa.
00:41:29
Speaker
É melhor que sonhadores de baixo, não é?
00:41:30
Speaker
É possibilidade de sonhador.
00:41:32
Speaker
Porque no início eu ficava triste porque ele sonhava.
00:41:34
Speaker
Não, eu tenho mais...
00:41:47
Speaker
O meu sonho está aqui à vista.
00:41:54
Speaker
Sim, e eu sublinhei também esta parte com você, o sonho de olho aberto, porque é isto que tu estás a dizer, Teresa, que é...
00:42:06
Speaker
achas que de facto é isto os teus sonhos são diurnos não é?
00:42:11
Speaker
e nós tínhamos um professor que era o professor Coimbra de Matos que passava o tempo a dizer isto Teresa que os sonhos mais importantes eram os sonhos diurnos não eram os noturnos porque são os que se vivem e o que mostra o entusiasmo à vida
00:42:23
Speaker
Os outros podem nos dizer algumas coisas, mas é como se nos dissessem qualquer coisa que já é do passado.
00:42:29
Speaker
Mas lá está teu tal no voeiro.
00:42:32
Speaker
Claro que os sonhos noturnos também nos dão imensas coisas, mas o sonhar acordado é outra coisa e eu também sublinhei isto por causa disto.
00:42:39
Speaker
Lembrei-me das palavras do professor Coimbra de Mães.
00:42:42
Speaker
Mas também há outra coisa que eu acho que é desta coisa de... não só da ordem da paixão, mas até da ordem do amor, que é...
00:42:51
Speaker
Usando isto como metáfora, que é quando tu és capaz de sonhar dentro daquilo que é a realidade no dia-a-dia, se tu és capaz de sonhar na realidade que se impõe, então há ali mesmo vida e poderá mesmo haver amor, não é?
00:43:08
Speaker
E eu acho que esta frase diz isto também.
00:43:11
Speaker
É essa frase, não é?
00:43:12
Speaker
É meu feriado favorito de você.
00:43:19
Speaker
E também foi por isto que eu gostei muito.
00:43:21
Speaker
Patrícia, queres dizer alguma coisa sobre... Não, eu queria dizer isto.
00:43:25
Speaker
Era pelo menos uma retrata.
00:43:27
Speaker
Esta frase ficou meio claro.
00:43:33
Speaker
O meu favorito... Ai, não consigo.
00:43:36
Speaker
O meu criado favorito.
00:43:40
Speaker
Que é isso que tu dizes.
00:43:41
Speaker
No fundo também é a possibilidade de que eu descanso em ti.
00:43:45
Speaker
É o sonhar a cor da vida.
00:43:47
Speaker
Eu posso descansar aqui.
00:43:49
Speaker
Que é... Como dizia a atriz, é uma rarinha.
00:44:00
Speaker
E mais vezes tem outra frase para isso, que é, tu disseste, Patrícia, eu descanso em ti, não é?
00:44:08
Speaker
Que é, quando tu te podes deixar cair, não é?
00:44:12
Speaker
Poderes deixar cair, é qualquer coisa, é espetacular.
00:44:16
Speaker
Por isso é que se diz cair da boca, não é?
00:44:18
Speaker
E voltamos ao colo, exatamente O colo tem que estar lá, porque não é vazio Eu acho que é aqui que temos que ter os olhos muito abertos Naquilo que pode ser amor ou não ser amor É porque o colo tem que lá estar Se o colo não estiver lá É que é livre com os troncos Exatamente Há outra coisa que eu gosto aqui Que voltamos a este sítio O colo tem que lá estar Que é Nós não vamos mais ser tão sozinhos Bebê Pronto
00:44:46
Speaker
A relação está aqui.
00:44:48
Speaker
E isto é que é espetacular, que é o poderes dar as mãos e nunca sentires que vais cair, que é o sítio que tu queres que aconteça na escola do teu filho.
00:44:55
Speaker
Alguém dê a mão até ele te poder, quando tu lhe largas a mão, não haja cada livre.
00:45:00
Speaker
Alguém lhe dê mão lá dentro para tu depois voltares a pegar nessa mão à saída.
00:45:05
Speaker
Mas olha, o que o teu filho vai estar a construir contigo é tudo isto, que é a capacidade, mesmo não estando tu lá para lhe dar a mão, ele leva-te dentro dele e vai começar a fazer.
00:45:15
Speaker
A ida para a escola dele é o cidadão que vai começar a construir isso sozinho.
00:45:20
Speaker
Sozinho não, com os outros Mas numa coisa mais dentro dele Nada, porque eu acho que é essa a ideia do disco Pelo menos eu senti assim, não é?
00:45:28
Speaker
Que há ali um momento em que tu estás até na elaboração de uma separação Não parece que há uma separação qualquer Uma elaboração dessa separação Que depois lá está, é permitida pelo que é a presença interna, não é?
00:45:37
Speaker
Às vezes ele diz algo de uma delas Mas não sei qual é Qualquer coisa nesta linha, não é?
00:45:41
Speaker
Mesmo que o resto não esteja Está aquilo que já houve e que existe dentro de mim E isso é fantástico Não sei
00:45:50
Speaker
lá está, é mesmo a banda de fundo da existência é aquilo que permite tudo o resto como tu estavas a dizer Ana Teresa, vamos terminar vamos terminar não é Teresa, queres dizer alguma coisa que não tínhamos tocado aqui e que te apetece ainda a referir
00:46:20
Speaker
Vais ter aula na exposição brevemente?
00:46:21
Speaker
Não, agora estávamos a conversar sobre isso e ainda não tens data marcada, não é?
00:46:26
Speaker
Vamos ter que aguardar até a tua data surgir.
00:46:28
Speaker
Quando eu tiver um corpo de trabalho que acho que está bom para mostrar-se.
00:46:34
Speaker
Esta questão do tempo que a Teresa estava a introduzir também é fantástica.
00:46:38
Speaker
Esta é a questão do tempo, de temporalidade.
00:46:43
Speaker
Normalmente as pessoas dizem a tela branca que dá... Mas a mim não, a mim não é a tela branca que é o mais desafiante.
00:46:52
Speaker
A mim é quando já fiz muito e já estou envolvida demais para desistir e ainda o fim está tão longe que parece inatingível.
00:46:58
Speaker
Aí é que é o momento mais difícil para mim.
00:47:00
Speaker
O momento de se perca.
00:47:02
Speaker
e que eu tenho a resiliência entre... Olha como nesta música da Belezinha, quando assisti que as ticas de coisa assim de repente... Tem mesmo neste podcast!
00:47:10
Speaker
Isto bem, é que é uma... Está animado, está animado!
00:47:15
Speaker
Não, há uma coisa que eu tenho de dizer, eu esqueci-me disto, que eu tirei esta nota, está numa canção dele, é logo na segunda...
00:47:21
Speaker
a segunda canção do Tim Bernardes que se chama Fases.
00:47:28
Speaker
Ele a dada altura diz assim Fé e dó do mundo Há restos de um amor profundo Lua, sede verdadeira Falta algo assim e assim mesmo É sempre um buraco inteiro
00:47:44
Speaker
Eu fiquei, adorei isto, porque eu e a Patrícia conversamos muito sobre esta coisa.
00:47:51
Speaker
Eu e a Patrícia conversamos muito sobre esta coisa, quando se cai no buraco.
00:47:56
Speaker
E este buraco que é mesmo vazio e que nos pode levar para um sítio de ansiedade muito grande e de pânico.
00:48:04
Speaker
E de repente, e eu queria mesmo falar nisto, nesta linha do amadurecimento que este disco mostra mesmo, às vezes há buracos, mas se o colo estiver lá, o buraco é sempre interno.
00:48:19
Speaker
Nunca é um buraco de pânico.
00:48:22
Speaker
Os buracos têm que existir, nós não crescemos de outra forma, mas se o colo estiver lá... Sim, mas pode não ser um buraco escuro, não é?
00:48:30
Speaker
Sim, um buraco negro, não é?
00:48:31
Speaker
Não é buraco negro.
00:48:34
Speaker
Gostamos mesmo, gosto mesmo de ter aqui.
00:48:37
Speaker
Eu também gostei muito.
00:48:37
Speaker
Peço desculpa por esta barulheira, mas... Faz parte, é animado.
00:48:40
Speaker
Faz parte, muito animado.
00:48:42
Speaker
Patrícia Câmara, muito obrigada.
00:48:44
Speaker
A invisibilidade, sobre todas as suas formas.
00:48:46
Speaker
Não diminui a sua presença.
00:48:48
Speaker
Exatamente, é isso, Patrícia.
00:48:49
Speaker
Obrigada, Carolina.
00:48:52
Speaker
Obrigada à Casa do Comum.
00:48:54
Speaker
Obrigada à Climeps e Editores que nos dá este material todo, nos empresta este material todo.
00:49:01
Speaker
Nós estaremos cá para o mês que vem.
00:49:03
Speaker
O meu nome é Ana Teresa Sanganha.
00:49:04
Speaker
Bom fim de semana.
00:49:13
Speaker
3 Divãs, a Psicanálise, o Mundo e o Rock'n'Roll.