Become a Creator today!Start creating today - Share your story with the world!
Start for free
00:00:00
00:00:01
Avatar
113 Plays4 months ago

Convidada: Ana Paula Afonso, a dona do Roterdão.

Transcript

Reflexão sobre mudanças no mundo e generosidade improvável

00:00:10
Speaker
3 Divãs, a psicanálise, o mundo e o rock'n'roll.
00:00:23
Speaker
O mundo era um outro lugar, dizia-me uma pessoa enquanto conversávamos sobre o disco de hoje de três divãs.
00:00:32
Speaker
Até os dealers doaram o dinheiro das vendas naquela noite.
00:00:37
Speaker
Solidariedade.
00:00:39
Speaker
O que é que aconteceu, entretanto, ao mundo?

Psicanálise e eventos históricos: integração de caráter e história

00:00:43
Speaker
Como é que viemos aqui parar?
00:00:46
Speaker
Ontem também alguém me dizia, não podes explicar factos históricos com a psicanálise.
00:00:51
Speaker
Não, não posso como devo e quero, porque me parece óbvio o oposto.
00:00:59
Speaker
Como podemos nós separar o caráter da história?
00:01:03
Speaker
Até os bem-intencionados se focam no tirar, não sabendo que ao ouvir se está a receber, e mais, a dar.
00:01:14
Speaker
Não é tão espetacular que numa ação caibam os dois mundos.
00:01:19
Speaker
Foi assim que chegámos aqui, pela incapacidade de escuta e, consequentemente, ficámos muito sós numa campânula que agora não conseguimos quebrar.

A importância da empatia e os perigos da falta de escuta

00:01:31
Speaker
E como é que podemos sair deste lugar de impotência, sabendo que não demos o nosso consentimento para tudo o que está a acontecer?
00:01:41
Speaker
E esse é o lugar onde eu posso escolher um disco, como o de hoje, e sentir o embalo do colo
00:01:51
Speaker
Nunca vivi o horror e sinto-me grata por isso.
00:01:55
Speaker
Também tenho farejado a submissão, mas quando ela se tenta impor, salto para o meu colo e deixo-a passar.
00:02:05
Speaker
Creio que não é necessário viver a ausência de liberdade para saber o que é.
00:02:11
Speaker
Voltamos à empatia, claro.
00:02:14
Speaker
Quem a saboreia não precisa de provar veneno para saber que mata.
00:02:19
Speaker
Quem não a tem, carrega o seu próprio, achando-se vivo, não sabendo, porém, que morto se está.

Solidariedade e responsabilidade derivadas da empatia

00:02:27
Speaker
Quer dizer, saber sabe, é por isso que não consegue parar.
00:02:32
Speaker
Sabe que cai para dentro do vazio de quem nada tem.
00:02:36
Speaker
A solidariedade, claro, deriva da empatia, claro.
00:02:41
Speaker
Até mimetizada é sempre bem-vinda.
00:02:45
Speaker
E, mesmo não tendo dado consentimento, é bom que saibamos a responsabilidade que temos sobre tudo isto que está a acontecer, pois, assim, distinguiremos os presentes envenenados.
00:02:58
Speaker
O disco de hoje é resultado de uma noite de beneficência que reverteu a favor da reconstrução.
00:03:04
Speaker
Doze músicos em palco, pelo menos.
00:03:08
Speaker
Excepcionais, daqueles que tocaram com todos.
00:03:11
Speaker
Dois amigos que zangaram e também se recompuseram.
00:03:15
Speaker
O ódio permanece quando encontra o ódio.
00:03:19
Speaker
se estraga uma casa.
00:03:21
Speaker
Nunca ficou, reparem.

Música como conforto e expressão política: Simon & Garfunkel

00:03:23
Speaker
Instala-se, tenta destruir...
00:03:25
Speaker
e, mais uma vez, é dissipado pela esperança.
00:03:30
Speaker
A convidada de hoje também tem tentado sobreviver.
00:03:33
Speaker
A muita coisa e a agonia do rock and roll.
00:03:37
Speaker
É uma miúda num mundo de gajos.
00:03:40
Speaker
Quando estamos na casa dela e espreitamos para fora, percebemos a inacreditável força do nosso amor ao rock.
00:03:47
Speaker
Basta olhar em redor.
00:03:49
Speaker
O estado do mundo está à vista.
00:03:51
Speaker
Ali fora, todos podem ver.
00:03:54
Speaker
Sim, sim, uma saída à noite também é um movimento político.
00:03:59
Speaker
E sim, é verdade, cada vez está mais despolitizado.
00:04:04
Speaker
É que me assombra a desesperança.
00:04:07
Speaker
Mas, depois, um aqui dentro e o Simon & Garfunkel ao vivo no Central Park.
00:04:13
Speaker
E voltamos a lembrar que o mundo foi assim e, claro, temo-lo de cada vez que o pomos

Introdução de Ana Paula Afonso e ativismo pelos direitos humanos

00:04:19
Speaker
a tocar.
00:04:20
Speaker
A luta hoje requer mesmo reinvenção.
00:04:24
Speaker
Haja inteligência, haja bondade e o rock and roll nunca morrerá.
00:04:30
Speaker
É por isso mesmo que eu e a Patrícia Câmara viemos hoje ao Cais de Sudré ter com a Ana Paula Afonso ao Roterdão para conversarmos sobre discos.
00:04:39
Speaker
Olá, Ana Paula!
00:04:45
Speaker
Sejas bem-vinda.
00:04:46
Speaker
Obrigada.
00:04:51
Speaker
Eu espero que goste de estar aqui.
00:04:52
Speaker
Se não as minhas palavras caem por terra.
00:04:57
Speaker
Tenho uma certa amizade por este espaço.
00:05:00
Speaker
Um certo carinho.
00:05:02
Speaker
Então vá, apresenta-te para as pessoas te conhecerem.
00:05:06
Speaker
Eu sou a Ana Paula Afonso e como fiz no outro dia no Renovar a Moraria, parecia que estava numa reunião de alcoólicos anónimos, mas aquilo era mais... Então disse que era... Olá, eu sou a Ana Paula Afonso e sou antifascista, mas eu me faço este movimento muitas

Natureza complexa de Ana Paula e seu envolvimento social

00:05:23
Speaker
vezes.
00:05:23
Speaker
E então, quando levantei a mão, parecia que estava a fazer outra coisa.
00:05:28
Speaker
Estou lá, estou na palavozição, não te faz disto, não te faz disto.
00:05:31
Speaker
E pronto, toda a gente riu um bocadinho.
00:05:34
Speaker
E quando a Ana Teresa fala da despolitização dos espaços, o Roteirão é um espaço que eu quero que tenha sempre personalidade, e é esta altura em que eu me emociono um bocado, e que tenha sempre uma postura de defesa de direitos humanos.
00:05:54
Speaker
sejam os quais forem.
00:05:57
Speaker
E quem é Ana Paula Afonso?
00:05:58
Speaker
Ana Paula Afonso veio de Angola e passou por aquele horror que tu disseste nunca viveste o horror, Ana Paula viveu esse horror em Angola com muitas situações que agora não vou descrever, mas fui acordada várias vezes como treinadoras apontadas à cabeça e disparos por cima da cabeça e coisas assim do género e sou uma sobrevivente.
00:06:18
Speaker
E...
00:06:20
Speaker
e trabalho muito com direitos humanos, eu faço observação eleitoral, trabalho de comparações de logística e segurança nas missões de observação eleitoral, vi agora pouco tempo em Moçambique, portanto todas estas questões me tocam sempre, tudo o que tem a ver com direitos humanos.
00:06:36
Speaker
Sou uma pessoa que eu gosto de dizer que sou simples, mas não, sou muito complicada,

Importância do protesto pacífico e anedotas sobre amor e paz

00:06:41
Speaker
tenho...
00:06:44
Speaker
Tenho vontade de fazer coisas diferentes, tenho vontade de lutar pelas coisas, tenho vontade de participar na melhoria ou na desconstrução de problemas que estão a aparecer na sociedade e que estão a movimentar
00:07:05
Speaker
pessoas de uma forma que eu não achava ser possível e portanto temos que nos unir e juntos vamos conseguir fazer disto outra vez um mundo melhor e quando eu falo disto falo outra vez na reunião sobre a migração na Associação Renovar a Moraria vou fazer publicidade, façam sócios que eles precisam de sócios e falaram era a descrição de vários cartazes para a manifestação do Não Desencostem à Parede
00:07:34
Speaker
E uma menina que faz um cartaz, enquanto todos os cartazes falam mais de revolta, de ódio,
00:07:47
Speaker
de raiva e de guerra, ela tenta levar a coisa pelo vamos voltar aos anos 60, 70 e vamos fazer o amor e não a paz.

Atmosfera acolhedora no Roterdão e escolhas musicais de Ana Paula

00:07:58
Speaker
Vamos fazer o amor e não a guerra, vamos fazer a paz.
00:08:03
Speaker
E isso emocionou-me, porque acho que é um caminho, é um caminho que podemos, em vez de ostracizar as pessoas e discutir com as pessoas e dizer-lhes que tu és parvo, não, vamos...
00:08:12
Speaker
tentar argumentar e vamos explicar às pessoas, vamos explicar que é preciso pesquisar, que é preciso não acreditar na primeira coisa que nós vemos nas redes sociais, isto e por fora.
00:08:22
Speaker
E vamos, vamos, eu quero pessoas felizes e o Roteiro não tem essa coisa, é o Happy Music, Happy People, precisamente.
00:08:29
Speaker
Porque o meu objetivo é sempre que isto tem um espaço para receber as pessoas e deixá-las felizes.
00:08:34
Speaker
Eu gosto muito de comer e pensei em ter um restaurante, mas o restaurante está muito trabalho, o bar é muito mais fácil.
00:08:39
Speaker
Eu quero que as pessoas sejam felizes quando estão aqui e quando me dizem que sim, para mim é suficiente e é mesmo o que eu quero.
00:08:49
Speaker
E não sei o que dizer.
00:08:50
Speaker
Havia muita coisa a fazer sobre mim, mas não.
00:08:53
Speaker
Pronto, é isto que tu queres dizer sobre ti, não é?
00:08:57
Speaker
Happy Hour, Happy People.
00:08:59
Speaker
Happy Music, Happy People.
00:09:01
Speaker
Ah, Happy Music.
00:09:01
Speaker
É o que ela queria.
00:09:03
Speaker
Também temos Happy Hour.
00:09:05
Speaker
Também temos Happy Hour.
00:09:06
Speaker
Era o que ela queria.
00:09:08
Speaker
Também temos, também temos.
00:09:09
Speaker
descontos, descontos.
00:09:12
Speaker
A malta hoje tem assim um certo ódio ao Freud, mas isto cai que nem ginjas sempre.
00:09:18
Speaker
Acho que é o sítio onde amamos sempre o Freud, em que estás... Pronto, já está.

Conexão pessoal com a música de Simon & Garfunkel

00:09:23
Speaker
Olha, Paula, voltamos a ti outra vez, vamos prosseguir com isto, porque precisamos de música.
00:09:28
Speaker
Escolher-te o Simon & Garfunkel no Central Park, que contrasta absolutamente com uma discoteca, mas eu acho que cá a pecado é entre tu.
00:09:36
Speaker
Então, porquê?
00:09:37
Speaker
Porquê é que escolher-te o Simon & Garfunkel no Central Park?
00:09:40
Speaker
Pronto.
00:09:41
Speaker
Primeiro, quando escolhe um disco, eu fico aflita porque eu gosto de música, mas eu não sou a melómana, portanto, eu não sei tudo sobre música, eu gosto de música.
00:09:52
Speaker
E pensei em vários.
00:09:53
Speaker
E a minha escolha, e tu sabes qual era era, eu era uma vez um rapaz do Sérgio Godinho, por acaso adoro esse álbum.
00:10:02
Speaker
Este álbum era um álbum que eu ouvia em repeat quando era mais nova, eu estava sempre a ouvir, eu sei as letras todas de cor, eu sei tudo, aliás, sei o discurso deles entre as canções, portanto, eu sei absolutamente tudo.
00:10:15
Speaker
e é um disco que

Reflexões sobre privilégios e dificuldades da vida

00:10:17
Speaker
ainda hoje ouço com muito carinho aliás, perdi-o e o Jorge Charfosa, meu namorado deve estar por aí, Augusto Jorge, onde é que tu estás?
00:10:25
Speaker
Olha, Ana Paula trouxe o disco
00:10:34
Speaker
Que bom, que bom.
00:10:36
Speaker
E estás muito contente.
00:10:38
Speaker
Estou.
00:10:41
Speaker
Mas, eu não deixei que a Ana Paula trouxesse Sérgio Godinho, porque o Nuno Saraiva, que escolheu Sérgio Godinho, o próprio Sérgio Godinho escolheu Sérgio Godinho.
00:10:50
Speaker
faltava a Ana Paula, agora escolheu Sérgio Godinho também.
00:10:53
Speaker
E então, eu disse, Ana Paula, lá.
00:10:55
Speaker
Outro.
00:10:56
Speaker
E a Ana Paula escolheu este.
00:10:57
Speaker
Mas este explica um bocadinho melhor.
00:11:00
Speaker
Era um disco que tu gostas muito e ouvia-se em repito.
00:11:03
Speaker
E o Jorge ofereceu-te hoje um novo, porque não estavas a encontrar o teu em casa.
00:11:07
Speaker
Então, mas diz-nos um bocadinho mais porque é que gostas tanto deste disco, ou conta-nos a história de porque é que o ouvias em repeat.
00:11:15
Speaker
É tão simples como gostava, porque gostava mesmo, gostava de todas as músicas e eu sempre fui música feliz, portanto, no disco as minhas músicas favoritas eram o Coda Chrome, era o Maybelline, era o Mrs. Robinson, não eram Like a Bridgewater, nem o Outro, sabia, mas essas não sei tão bem, porque eram mais tristes.
00:11:36
Speaker
Eu gosto das músicas felizes, gosto, gosto, para a tristeza basta a vida, sou um bocadinho assim.

Anedotas sobre concertos beneficentes e generosidade inesperada

00:11:42
Speaker
Achas que a vida é triste?
00:11:44
Speaker
Se olhares para o lado... Eu vivo ao da minha casa há muitos sem abrir, portanto, em baixo.
00:11:51
Speaker
Por muito mal que seja, e tente fazer o que podemos, o que está ao nosso alcance para facilitar a vida dessas pessoas também, para ajudar um bocadinho de alguma coisa quando podemos, é sempre aquele choque de realidade quando tu pensas, porquê eu, oh não, acontecem coisas tristes e chegas a casa e dizes, não, estou tão bem, sou uma privilegiada, pronto, e é sempre um choque de realidade.
00:12:16
Speaker
E realmente a vida não é fácil para a maior parte das pessoas, nós somos privilegiados, sim.
00:12:21
Speaker
Sim, sem dúvida.
00:12:22
Speaker
E só, aqui é um pormenor, porque eu comecei por dizer que alguém me disse o mundo era um outro lugar, até os dealers doaram o dinheiro das vendas naquela noite, é verdade, os dealers doaram o dinheiro para o sem-abrigo do Central Park, para reconstruírem o Central Park, o Presidente da Câmara e toda uma série de HBO e não sei quanta gente se uniu,
00:12:43
Speaker
para fazer dinheiro e no meio reconstruir o Central Park.
00:12:47
Speaker
Aqui quem dou os impostos de um concerto como o Calorama, que podia ser útil para fazer coisas em Lisboa com segurança e sem abrir registro.
00:12:57
Speaker
É verdade.

Interpretação revolucionária de 'Mrs. Robinson'

00:12:58
Speaker
E isto aconteceu em 1981, 19 de setembro de 1981, o dinheiro...
00:13:05
Speaker
do tráfico de droga naquela noite foi doado à Câmara Municipal para o Sem Abrigo do Central Park e por isso é uma coisa que é quase que nos parece tão remota a solidariedade emocional sempre seja qual for a forma sim então escolheste este disco por isto e a tua canção favorita é o Mrs. Robinson o Mrs. Robinson eu gosto muito do Mrs. Robinson porque gosto muito da música mas na minha cabeça
00:13:33
Speaker
Eu tinha lido ou tinha ouvido qualquer coisa sobre o assunto.
00:13:37
Speaker
A Mrs. Robinson seria uma música sobre a desinformação e...
00:13:47
Speaker
E os Estados Unidos e espionagem e o facto de estarem muito controlados e ser a forma... E estive a pesquisar agora porque queria trazer uma coisa concreta para dizer e afinal não, não tem nada a ver.
00:14:01
Speaker
Mas na minha cabeça, aquela parte em que sabemos todos os teus segredos e estas coisas...
00:14:08
Speaker
Para mim era um bocado assim, mas não, depois associou-se muito a um ministro irlandês, se não estou em erro, à mulher dele porque esteve envolvida com miúdos, então era a relação, a diferença de idades numa relação entre duas pessoas, não, não tem nada a ver com ela.
00:14:26
Speaker
Sim, é engraçado.
00:14:27
Speaker
Olha a minha cabeça toda.
00:14:28
Speaker
Exato, vamos ouvir o Ministro Robinson.
00:14:30
Speaker
Posso cantar?
00:14:31
Speaker
Com certeza, que cai que nem gijas no Fetardão.
00:14:35
Speaker
E este, vamos conversar sobre o Ministro Robinson.
00:14:54
Speaker
Nós gostaríamos de saber um pouco sobre você para o nosso final.
00:14:57
Speaker
Nós gostaríamos de você aprender a ajudar você.
00:15:03
Speaker
Olhe ao redor, tudo que você vê é simpathetic eyes.
00:15:11
Speaker
Estou em torno ao redor até você sentir em casa.
00:15:15
Speaker
E aqui é você, Mrs. Robinson.
00:15:18
Speaker
Jesus te ama mais do que você saberá.
00:15:22
Speaker
Oh, oh, oh, oh, oh God bless you please, Mrs. Robinson Heaven knows a place for those who pray Hey, hey, hey, hey Hiding in a hiding place where no one ever goes
00:15:50
Speaker
Música
00:16:33
Speaker
A nation turns its lonely eyes to you Woo woo
00:17:03
Speaker
Mrs. Robinson
00:17:32
Speaker
É mesmo isso, gosto da música porque é feliz e porque na minha cabeça era quase uma canção também de revolução porque era... Conta o Big Brother que is watching you e eu achava que era sobre isso e afinal não é nada.
00:17:49
Speaker
Mas não interessa, é uma canção revolucionária para mim.
00:17:53
Speaker
E é boa,

Conexões pessoais com a música e identidade

00:17:54
Speaker
é, é, é, é
00:17:57
Speaker
Então, como é que eu ia dizer isto?
00:17:59
Speaker
Deixem-me pensar.
00:18:00
Speaker
É porque eu estava a ouvir e estava a achar que, pelo contrário, eu acho mesmo que é uma música altamente revolucionária.
00:18:06
Speaker
Toda Ellen pela revolução, faz uma coisa, uma sátira imensa.
00:18:09
Speaker
Isso seria uma revolução bonita, como a nossa.
00:18:11
Speaker
Uma relação, olha mesmo o Freud hoje.
00:18:15
Speaker
vivo completamente vivo mas eu faço a coisa ao contrário eu acho que estou sempre tão agitada que vou em todos os álbuns à procura das músicas que me acalmam portanto são por isso mas a Mrs. Robinson pelo menos para mim tem sempre este duplo sentido desta descrição que é feita como se estivéssemos numa zona de superfície
00:18:36
Speaker
Não é uma descrição assim de como é a vida desta mulher, mas o que está por baixo, eu acho que é uma crítica serradíssima àquilo que seria a ideia da mulher, até no sonho americano e naquilo que se tornou.
00:18:46
Speaker
Portanto, eu acho, pelo menos para mim, que está cheia de lugares que são de revolução e que nos fazem falta agora.
00:18:53
Speaker
E mesmo a crítica religiosa.
00:18:56
Speaker
Jesus loves you more than you will know.
00:18:58
Speaker
Portanto, aqui qualquer coisa também de uma crítica muito grande, implícita à parte mais religiosa, parece-me.
00:19:05
Speaker
Agora tenho isto, Ana Tre.
00:19:08
Speaker
Pois sabes o que é que eu gosto na Mrs. Robinson?
00:19:10
Speaker
Tenta desenhar o que é que eu gosto na Mrs. Robinson.
00:19:13
Speaker
Eu acho que vi aqui a cada parte do gosto.
00:19:15
Speaker
Hiding in a hiding place where no one ever goes.
00:19:22
Speaker
É que ela conhece muito bem.
00:19:24
Speaker
É exatamente a marotice da Mrs. Robinson que eu gosto.
00:19:29
Speaker
Porque, assim como a Patrícia falava, dizia agora mesmo, é esta coisa de ver para além daquilo que se vê, não é?
00:19:42
Speaker
A Mrs. Robinson é uma canção de evolução porque nós percebemos que ela não é eventais e cupcakes, não é?
00:19:49
Speaker
É outra coisa.
00:19:50
Speaker
E a Mrs. Robinson é muito marota e ainda bem.
00:19:53
Speaker
E é isso que hoje em dia não é possível ser.
00:19:56
Speaker
Está no filme.
00:19:57
Speaker
Está no filme da Mrs. Robinson.
00:19:58
Speaker
Está no filme da Sinop.
00:20:00
Speaker
Com o da Sinop, não é?
00:20:03
Speaker
Mas ela não se chama Mrs. Robinson.
00:20:05
Speaker
Está lá.
00:20:06
Speaker
O Padrinho diz que ele chama-se The Graduate, mas nós aqui conhecemos com A Primeira Noite, não é?
00:20:12
Speaker
A primeira noite.
00:20:13
Speaker
A banda sonora toda é deles, não é?
00:20:15
Speaker
Agora, eu acho que é isto... Sempre usam de o Di Maggio.
00:20:19
Speaker
É tão bom, não é?
00:20:21
Speaker
Agora, o que eu acho é isto mesmo, que falta sujidade ao mundo.
00:20:28
Speaker
Mas da boa.
00:20:32
Speaker
Ou como ouviu o João ao jantar, badalhoquices.
00:20:35
Speaker
Badalhoquices.
00:20:35
Speaker
Eu não sei se ele está aí, mas o meu amigo Pedro Trindade queria plantar uma árvore ali para podermos fazer coisas às escondidas atrás das árvores.
00:20:45
Speaker
E é isto que falta ao mundo.
00:20:48
Speaker
Tá, olha, é isto que falta ao mundo.

Reflexões sobre o conceito de América através da música

00:20:50
Speaker
São árvores plantadas para se fazerem cenas atrás.
00:20:54
Speaker
Com grandes troncos.
00:20:56
Speaker
Com grandes troncos.
00:20:58
Speaker
Diz a Patrícia Câmara e ela que não gosta nada do Freud.
00:21:02
Speaker
Estamos a falar do que agora?
00:21:05
Speaker
Estamos a falar de uma coisa muito para além de tão antípodes, que é o falo.
00:21:10
Speaker
Sabes, o falo e a inveja do falo.
00:21:14
Speaker
É isto que a Patrícia estava a falar por outra linguagem.
00:21:18
Speaker
Bom, então, mas voltando ao Mrs. Robinson...
00:21:21
Speaker
É este lugar onde não perfeição, nem imperfeição, a capacidade e a vontade, é que acima de tudo é a vontade, porque às vezes não há a capacidade, mas a vontade de desfrutar uma coisa que não é linear.
00:21:39
Speaker
Aquela vontade, que é o mesmo que a gente encontra no rock and roll e na vontade de vir aqui ao Roterdão, independentemente de percebermos que à volta nem tudo está aprazível e até pode ser um lugar de não muita segurança e dentro encontrarmos um lugar de segurança, que é o lugar onde podemos ser nós próprios, onde podemos viver...
00:21:59
Speaker
a nossa vontade, não é?
00:22:02
Speaker
não digo desejo, porque podemos falar sobre o desejo, obviamente, mas acho que o desejo como uma subcamada da real vontade, seja isso desejo ou não, podemos ir a seguir.
00:22:17
Speaker
E é por isso que eu gosto da Mrs. Robinson, porque a Mrs. Robinson aparentemente não poderia mostrar a sua vontade, mas a sua vontade está toda nesta canção e está toda nesta letra.
00:22:30
Speaker
E é isso.
00:22:30
Speaker
Gosto da Mrs. Robinson por isto, porque é uma condecoração à mulher e acho bem.
00:22:39
Speaker
mas acho que por baixo dos cupcakes ela pode mostrar a liga e acho que isso é espetacular quando se tem vontade, quando não se tem vontade não se tem.
00:22:49
Speaker
E por isso é que é uma canção revolucionária, entre outras coisas, claro.
00:22:54
Speaker
Ana Paula.
00:22:55
Speaker
Sim.
00:22:57
Speaker
Tu podes pedir outra canção entre nós começarmos para aqui a falar, porque nós vamos começar a falar e depois já não nos calamos.
00:23:02
Speaker
Posso?
00:23:02
Speaker
Claro.
00:23:03
Speaker
Quero América.
00:23:04
Speaker
Tão bonita.
00:23:05
Speaker
Olha, nós vamos passar o América.
00:23:07
Speaker
Não era suposto.
00:23:08
Speaker
Eu posso dizer porque é que eu gosto de América.
00:23:09
Speaker
Claro.
00:23:09
Speaker
Na minha imaginação de menina de 13 anos, quando eu vi este álbum, ou 14, era...
00:23:18
Speaker
era sair de casa, deixar tudo para trás e arriscar e ir à descoberta do mundo.
00:23:26
Speaker
No caso, estava a falar da América, mas para mim era muito mais para além disso.
00:23:30
Speaker
Era sair e conhecer o mundo.
00:23:32
Speaker
E continua a ser uma coisa que eu gosto muito de fazer fora dos parâmetros de turismo.
00:23:40
Speaker
E é fantástica a sensação de chegar a um sítio
00:23:45
Speaker
e saberes que vais ter que viver ali dois ou três meses e descobrir as pessoas e descobrir tudo e esta música falava-me um bocadinho disso então vamos ouvir o América e voltamos à conversa
00:24:17
Speaker
Let us be lovers We'll marry our fortunes together I've got some real estate here In my bag So we bought a pack of cigarettes And Mrs. Wagner Piles And we walked off
00:24:57
Speaker
It took me four days to attack from Saginaw and I've come to look for a man.
00:25:30
Speaker
Played games with the faces She said the man in the gabardice suit was a spy I said be careful his bow tie is really a camera
00:25:59
Speaker
Toss me a cigarette I think there's one in my raincoat We smoked the last one and I'll brew cold So I looked at the scenery She read her magazines And the moon was born
00:26:27
Speaker
I'm empty and I'm aching and I don't know why
00:27:46
Speaker
o
00:28:30
Speaker
E isto nunca foi tão atual, não é?
00:28:32
Speaker
É. Ou seja, eu até achava que isto era fuleiro, confesso.
00:28:36
Speaker
Não ferindo o teu gosto e o meu, que eu toda a vida ouvi isto.
00:28:41
Speaker
Mas eu achava que isto tinha um... E isto, de facto, agora, anda tudo à procura da América, não é?
00:28:48
Speaker
E eu agora posso dizer mais uma coisa.
00:28:51
Speaker
Porque eu não me lembrava... Obviamente eu não ouvi esta música há...
00:28:57
Speaker
Pelo menos uns 30 anos, cada um lembro.
00:29:01
Speaker
E a minha aldeia na altura tinha a ver com viagens e com isso com alguém e depois há ali um momento quando acabam os cigarros que parece que as pessoas ficam tristes porque de repente o sonho de viajar, porque acaba o dinheiro e não podes continuar a fazer as coisas crias.
00:29:16
Speaker
E agora, eu estava a ouvir a música e estava a pensar no sonho americano e numa América que não é nada, provavelmente nunca foi, foi uma construção nossa da realidade que nos foram impingindo quando eram os miúdos, mas...
00:29:35
Speaker
Eu neste momento não tenho qualquer desejo de visitar os Estados Unidos, nunca estive nos Estados Unidos, e tinha algumas cidades que eu gostava de visitar, como São Francisco, mas já não, não tenho qualquer desejo.
00:29:49
Speaker
E caiu, não é?
00:29:49
Speaker
Essa vontade caiu e a referência dos Estados Unidos por uma série de coisas, olha, nem vai... Ouve lá, nós podemos ouvir esta canção e pensar na quantidade de bandas, de tudo...
00:30:01
Speaker
Estes tipos são folk rock, não é?

Desafios e orgulho na manutenção do caráter autêntico do Roterdão

00:30:03
Speaker
Mas o que mais é tipos de tudo o que é folk, blues, tudo, rock, tudo a fazer em turnés na América, à procura da América, não é?
00:30:11
Speaker
E ouvir o América dos Simon & Garfunkel, que é uma das coisas que...
00:30:17
Speaker
que sempre fiquei assim, look for America, eu lembro-me de ser muito nova e de pensar nos Estados Unidos como a terra da possibilidade, mas como a terra dos blues, essencialmente, e de pensar em toda a malta a tocar blues e andar pela estrada e os rockers todos e tudo, aquilo era tudo fascinante para mim.
00:30:35
Speaker
E agora podem-se rir, mas é verdade.
00:30:37
Speaker
E de repente é outra coisa, mas eu agora quero trazer isto para aqui, porque isto também acontece com a Astoria, Ana Paula.
00:30:46
Speaker
o que é que se passa no Castoré?
00:30:48
Speaker
não estou a perceber eu acho que tirando todas as pessoas novas de outros países que vêm ao Castoré cada vez que vêm ao Castoré estão à procura do Castoré não existe esse ciclo e agora deixem-me falar um bocado do Reterdão que é um menino e eu fiquei com o Reterdão em 2013 e teve fechado dois anos para obras para renovação porque estava tudo ilegal portanto eu tive muito tempo
00:31:15
Speaker
e em 2015 reabri o Roterdão e em 2018 é que eu consegui funcionar, em 2017 eu consegui funcionar até às 4 da manhã e em 2018 ou 19 é que eu consegui o horário até às 6 da manhã.
00:31:34
Speaker
Portanto, isto tudo demorou imenso tempo, entre licenças e requisitos.
00:31:39
Speaker
A Câmara Municipal chegou a dizer-me na altura
00:31:42
Speaker
Isto não está nos requisitos iniciais, mas nós achamos que é preciso para abrir.
00:31:45
Speaker
Então, apresentavam mais um documento qualquer que eu tinha que fazer, uma papelada qualquer.
00:31:52
Speaker
E eu tentei, na pista de cima, manter o traço original e manter aliás a fachada, se vocês virem, é a única fachada que resta do tempo dos marinheiros e prostitutas aqui na zona.
00:32:08
Speaker
E é um bocado a história de Lisboa e tenho muito orgulho neste espaço, tenho muito orgulho.
00:32:13
Speaker
É um facto que as pessoas não vêm tanto por causa da segurança, mas isto também é mais por causa das coisas que ocorrem nos noticiários e nas vistas...
00:32:26
Speaker
insegurança, como insegurança em toda Lisboa, e daí o meu comentário bocado sobre o milhão de euros de impostos perdoados ao calorama, que podiam ser utilizados para reforçar a segurança na cidade, e entre outras coisas que a cidade precisa.
00:32:45
Speaker
Mas eu quero que o retardão seja sempre um lugar de festa.
00:32:49
Speaker
E quero que as pessoas se divirtam.
00:32:51
Speaker
E quero poder brincar.
00:32:52
Speaker
Quero poder, durante a noite, passar a Marque Paulo se me apetecer.
00:32:55
Speaker
Ou passar doce.
00:32:58
Speaker
E quero ter muita música portuguesa.
00:32:59
Speaker
Mas também quero brincar.
00:33:00
Speaker
Quero que as pessoas se divirtam mesmo.
00:33:03
Speaker
O Roteirão é a casa onde eu gostava de sair à noite, por todos os motivos e mais algum.
00:33:09
Speaker
Pela segurança e higiene, etc.
00:33:11
Speaker
que dentro, mas sobretudo por causa da música, porque eu gosto muito, muito de dançar e gosto de dançar a música feliz, gosto de me sentir feliz quando estou num espaço.
00:33:21
Speaker
E o Roteirão é a minha casa, como eu estava a dizer há bocado, it's my party and I cry if I want to.
00:33:27
Speaker
E quero que as pessoas se divirtam cá.
00:33:29
Speaker
Pensei assim, se eu mudar isto para Kizomb e Reggaeton, que não tenho nada contra e não vou dizer que o meu gosto é a melhor que a das outras pessoas, é porque há espaços para tudo.
00:33:39
Speaker
Mas sei que aqui se eu passasse isto para Reggaeton e Kizomb, eu tinha a casa cheia todas as noites.
00:33:44
Speaker
Ia ter orgulho num espaço ou ia sentir que era o meu espaço?
00:33:47
Speaker
Não.
00:33:47
Speaker
porque não é a música com a qual eu me identifico mais.
00:33:51
Speaker
Então, vou continuar a lutar enquanto puder, e depois, quando não puder, pronto, paciência, passa-se a bola à outra e está.

Solidariedade, identidade e ego compartilhado

00:33:57
Speaker
Mas quero que as pessoas sejam felizes, essencialmente.
00:34:00
Speaker
E diz-me uma coisa, mas é porque, para sublinhar aqui, é porque o Roterdão, o Oslo, que mantém a fachada também.
00:34:12
Speaker
Não tenho noção, então se calhar mais antiga.
00:34:14
Speaker
O Oslo mantém, mas a música mudou pouco tempo, ainda assim.
00:34:18
Speaker
Tinha playlist de rock and roll e agora não é tanto.
00:34:21
Speaker
e o caso do pirata, que mudou a fachada mas que a música continua e para além do incógnito não são muitos os espaços onde podemos ouvir rock.
00:34:30
Speaker
Patricia Câmara, To Look For America.
00:34:34
Speaker
O que é a nossa América, Patricia?
00:34:36
Speaker
Eu estava a pensar, sabe-se o que é?
00:34:37
Speaker
Eu não consigo descolar do... Do Feebel.
00:34:41
Speaker
Posso dizer o Feebel?
00:34:42
Speaker
É isso?
00:34:43
Speaker
Sim.
00:34:43
Speaker
O Feebel, o conto americano, que era com os ratinhos.
00:34:47
Speaker
Cantavam todos contentes, there are no cats in America.
00:34:49
Speaker
Não sei o que é.
00:34:52
Speaker
É a imagem mental que eu tenho.
00:34:53
Speaker
Mas eu tenho que resgatar o sonho, porque eu acho que há qualquer coisa do domínio da possibilidade, não é?
00:34:58
Speaker
Porque eu acho que era o que tu estava a dizer também, que nesta música estava presente, havia qualquer coisa de um sonho de possibilidade.
00:35:02
Speaker
E vamos ver, os Estados Unidos produziram filmes como Do Céu, que é uma estrela, não é?
00:35:06
Speaker
Portanto, há qualquer coisa que é transmitida também nesta ideia das possibilidades que eu acho que toca no que tu disseste no princípio, que toca na ideia de solidariedade, não é?
00:35:14
Speaker
Esta ideia de There are no cats in America, depois descobrem que afinal está a vida dentro do barco, mas a ideia da possibilidade desse lugar está sempre presente.
00:35:22
Speaker
Por isso acho que é isso.
00:35:24
Speaker
E o que é a solidariedade, Patrícia?
00:35:26
Speaker
É isto que nós estamos a fazer aqui.
00:35:27
Speaker
Entre as solidariedades.
00:35:28
Speaker
Claro.
00:35:28
Speaker
O que é a solidariedade, Patrícia?
00:35:29
Speaker
O que é que é a solidariedade, Patrícia?
00:35:32
Speaker
É o contrário disto, há aqui uma parte na música, é isto que diz que eu tenho.
00:35:36
Speaker
Espera que eu perdi, mas já... Como se nós tivéssemos decorado isto, nós nunca falámos sobre isto, é a primeira vez.
00:35:42
Speaker
Não, não, não.
00:35:43
Speaker
Mas uma parte muito boa que diz, esperem lá, ah, ele diz às tantas, não sei onde é que está, mas diz, Ketty, eu estou perdido, não é?
00:35:52
Speaker
Eu disse-lhe, ainda que sabendo que ela estava a dormir, que ela estava a adormecer.
00:35:57
Speaker
Portanto, a solidariedade é o oposto disto.
00:35:59
Speaker
É a capacidade de nos mantermos acordados perante as adversidades.
00:36:03
Speaker
Se nós pensarmos isso, nós estamos a precisar agora, de alguma maneira, é não deixarmos adormecer a nossa capacidade de estar ligados.
00:36:09
Speaker
Mas é por isso que isto é maravilhoso.
00:36:10
Speaker
Eu não consigo ver quem está, mas estou muito contente.
00:36:14
Speaker
Sente-se o amor.
00:36:15
Speaker
Eu sim.
00:36:16
Speaker
Não é?
00:36:17
Speaker
E aqui, Ana Paula, receber-nos assim, desta maneira.
00:36:21
Speaker
Mas, acima de tudo, não nos deixarmos adormecer.
00:36:23
Speaker
Por isso, o sonho americano uma maneira naquilo que representa na sua origem.
00:36:26
Speaker
Está bem, mas é uma ação.
00:36:27
Speaker
Não é não te deixares adormecer.
00:36:29
Speaker
Tu podes não adormecer e ficar à espera.
00:36:31
Speaker
Claro, tens de pôr o despertador.
00:36:32
Speaker
É porque tu podes ficar à espera que outros façam.
00:36:34
Speaker
Tens de fazer psicanálise?
00:36:35
Speaker
As pessoas têm que ir fazer psicanálise.
00:36:38
Speaker
E vir ao roteiro de andançar?
00:36:39
Speaker
Ou fazer psicanálise no roteiro de andançar.
00:36:41
Speaker
Ou fazer psicanálise no roteiro de andançar.
00:36:43
Speaker
Como agora?
00:36:45
Speaker
Mas a questão é que toda a gente tem um despertador, certo?
00:36:49
Speaker
E uma dor que é mais aguda nos do que noutros, certo?
00:36:53
Speaker
E alguns que têm o ímpeto para a solidariedade.
00:36:57
Speaker
E o que é que é isso?
00:36:58
Speaker
Ter o ímpeto para a solidariedade?
00:37:00
Speaker
Não sei o que é que tu queres que eu responda hoje.
00:37:02
Speaker
Não sabes como não sabes.
00:37:06
Speaker
O que é que é a solidariedade para ti?
00:37:08
Speaker
Para mim?
00:37:09
Speaker
Sim.
00:37:09
Speaker
É isto.
00:37:10
Speaker
Estupração, capacidade de estar em conjunto, alimentar a parte saudável...
00:37:15
Speaker
Queremos estar nos cursos do prazer da partilha.
00:37:17
Speaker
É uma pré-expectativa inata.
00:37:18
Speaker
É isto que eu acho que eu diga?
00:37:19
Speaker
Ah, então vou dizer cientificamente.
00:37:21
Speaker
Então a solidariedade é uma pré-emoção que impela a relação e que nos permite verdadeiramente desenvolver-nos.
00:37:31
Speaker
É isto que eu acho que eu digo?
00:37:33
Speaker
O que acontece na vida é que os movimentos violentos, agressivos, que são o oposto disto, vão adormecendo, partes nossas, e nós, em vez de fazermos movimentos de cooperação e de entreajuda, começamos a fazer movimentos autocentrados.
00:37:46
Speaker
Se depois, a atmosfera toda diz que os movimentos autocentrados são aqueles que têm valor e validade, nós começamos a acreditar nisto.
00:37:51
Speaker
E começamos a ver predadores onde eles não estão.
00:37:54
Speaker
E não vemos que o predador original foi o que nos disse, cuidado com os outros.
00:37:57
Speaker
É isto que tu querias que eu dissesse?
00:37:59
Speaker
Jim Morrison.
00:38:04
Speaker
Isso é um solo de guitarra, percebes?
00:38:06
Speaker
Era isto que eu queria, só.
00:38:08
Speaker
Pronto, mas era mesmo que eu... Mas queres que eu posso dizer melhor?
00:38:11
Speaker
estava com medo.
00:38:12
Speaker
Se queres ser a Jimi Hendrix ou a Rory Gallagher, não.
00:38:15
Speaker
Agora, eu... Não, mas era exatamente que eu queria pegar.
00:38:19
Speaker
Era nisso tudo que eu estavas a dizer, porque acho que é importante percebermos onde é que ela fica ancorada, não é?
00:38:26
Speaker
que é na vontade de estar com o outro.
00:38:29
Speaker
Na impossibilidade de não estar.
00:38:31
Speaker
E na impossibilidade de não estar.
00:38:32
Speaker
É isso que falta dizer, é essa parte por isso que eu estava a dizer isto, porque nós sabemos, não é desde que toda a gente sabe isto, que se não houver um outro que nos acolha, que faça esse movimento de origem.
00:38:42
Speaker
Nós não conseguimos... Queres que eu traduz?
00:38:45
Speaker
Não, não, é porque no outro dia a mesma pessoa que me dizia assim, e pá, é espetacular porque até os dealers doaram as receitas daquela noite aos sem-abrigo do Central Park.
00:39:01
Speaker
A mesma pessoa que diz isto diz-me assim mas como é que eu posso procurar o amor se eu não sei o que ele é?
00:39:07
Speaker
A gente vai querer os dealers desculpe.
00:39:08
Speaker
Não, não.
00:39:08
Speaker
Muito bom.
00:39:18
Speaker
Eu acho que... Isso se orientam-se bem.
00:39:24
Speaker
A questão é a mesma pessoa que me perguntava isto dizia mas como é que eu posso procurar o amor se eu não sei o que ele é?
00:39:32
Speaker
Ou seja, uma coisa que eu nunca tive, como é que eu posso procurá-la?
00:39:37
Speaker
Mas enquanto se encontra, sabe-se que se encontra.
00:39:41
Speaker
A questão é que eu acho que a solidariedade é um bocadinho isto.
00:39:45
Speaker
Que é o sítio onde tu vais à procura desse encontro na expectativa que esse encontro também te reconheça.
00:39:54
Speaker
Eu acho que parte sempre de tudo, independentemente do altruísmo que possamos atribuir a cada ação, parte sempre de tudo de um certo egoísmo.
00:40:03
Speaker
Agora, acho que um egoísmo que é completamente... Como é que tu dizes uma carga de ossos?
00:40:07
Speaker
Como é que tu dizes o egoísmo sem carne?
00:40:10
Speaker
É, é o seu escuro.
00:40:11
Speaker
Mas tu tens outra palavra ainda para isso.
00:40:12
Speaker
um egoísmo sem carne que não espera sequer o... Nem sequer espera o espelho.
00:40:19
Speaker
espera poder agir qualquer coisa que o faça sentir vivo.
00:40:25
Speaker
E depois um outro egoísmo que, através da partilha, espera reconhecimento.
00:40:31
Speaker
Sim.
00:40:33
Speaker
E que não ache que não seja todo mau porque é uma coisa de reciprocidade, não é?
00:40:37
Speaker
Por que é que estás a chamar egoísmo?
00:40:39
Speaker
Porque é um egoísmo.
00:40:40
Speaker
Porquê?
00:40:40
Speaker
Então pensa lá.
00:40:42
Speaker
Se tu precisas porque tu dás qualquer coisa na expectativa de a receber.
00:40:49
Speaker
Mas isso é egoísmo mesmo.
00:40:52
Speaker
Está centrada em ti.
00:40:53
Speaker
Eu penso em um shopping pobre.
00:40:54
Speaker
Sim, mas eu disse que nós quando começássemos a falar uma com a outra... Mas isso não deixa de ser egoísmo.
00:41:00
Speaker
Mas não significa que seja um egoísmo como aquele egoísmo que nós dizemos, ah, és tão egoísta.
00:41:05
Speaker
E nós fazemos isto, uma coisa depreciativa.
00:41:06
Speaker
Eu não acho nada... É assim, eu acho que pode ser depreciativo tu teres qualquer coisa com quem podes partilhar e não queres partilhar e os outros que se lixem.
00:41:14
Speaker
Isso é um bocadinho mal.
00:41:15
Speaker
Mas, porque é na ordem da partilha, mas tu podes ter um egoísmo mesmo muito bom de alimento e de...
00:41:22
Speaker
Porque se for um egoísmo com essa consciência de que para estares com os outros precisas de estar contigo, então é uma coisa de partilha brutal, é uma coisa mesmo de dinâmica, não?
00:41:35
Speaker
Ok.
00:41:37
Speaker
Ego-ismo.
00:41:40
Speaker
Mas é ou não?
00:41:42
Speaker
É. É. Então pronto, é por isso que eu chamei egoísmo.
00:41:46
Speaker
Não tem que ser do ego.
00:41:48
Speaker
Mas a questão é, eu acho que... Mas temos de ser mais bonitos.
00:41:52
Speaker
Então diz, diz outra coisa.
00:41:53
Speaker
Egoísmo me faz-me impressão.
00:41:55
Speaker
Então diz.
00:41:56
Speaker
Mas isto é um problema que eu tenho.
00:41:57
Speaker
Eu estou a pensar que isto é um problema que eu tenho.
00:41:59
Speaker
Mas diz.
00:42:02
Speaker
Não, mas é que eu sequer não percebi.
00:42:03
Speaker
Estás a falar na partilha identitária, não é?
00:42:05
Speaker
Claro, mas é a partilha identitária, mas espera...
00:42:12
Speaker
benefício nisso.
00:42:13
Speaker
Claro.
00:42:14
Speaker
Mas o benefício é sobreviver.
00:42:15
Speaker
Mas espera que eu vou dizer o que é que é. É um benefício maligno.
00:42:18
Speaker
É uma coisa de... Mas é que a humanidade sobrevive se houver a irrigação dessa partilha.
00:42:21
Speaker
Obviamente.
00:42:22
Speaker
Pronto, é isso, é isso, é isso.
00:42:24
Speaker
É isso, é isso.
00:42:25
Speaker
É isso, é isso.
00:42:27
Speaker
Então, vamos passar o Boxer, que é uma das que a Patrícia escolheu, não sendo a favorita dela ou não sendo... Eu acho que não sei de cor.
00:42:34
Speaker
O Boxer, não sabes?
00:42:36
Speaker
Então nós vamos ouvir o Boxer.
00:42:39
Speaker
Posso só, antes de pôr o Boxer, pedir desculpa ao David Bowie, pronto, eu escrevi onde digo, se escreveu.
00:42:45
Speaker
Ele estava é representado.
00:42:47
Speaker
Mas tinha tanques que não sabia por onde ir.
00:42:50
Speaker
O David Bowie sabe muito, Paula.
00:42:55
Speaker
Olha, eu é que não encontro o Boxer, mas... Está aqui, está aqui, está aqui.
00:43:01
Speaker
Sim, vamos ao Boxer e o David Bowie com certeza gosta de ti à mesma hora.
00:43:06
Speaker
Como você está?
00:43:07
Speaker
Você está frio?
00:43:07
Speaker
Deus, você parece muito grande.
00:43:36
Speaker
I am just a poor boy, though my story seldom told.
00:43:41
Speaker
I have squandered my resistance for a pocket full of mumbles such I'll promise has.
00:43:52
Speaker
All lies and jests till the man hears what he wants to hear and disregards the rest.
00:44:10
Speaker
Quando eu deixei meu casa e minha família Eu não sou mais que um jovem em companhia de estrangeiros Em quieto da railways, estacionada, morrendo com medo Laying low, seeking out the poor quarters Where the ragged people go
00:44:41
Speaker
La la la la
00:45:12
Speaker
eu declaro que momentos que eu estava tão lonesome que eu tenho um conforto

Desafios de liderança feminina em indústria dominada por homens

00:45:30
Speaker
Now the years are rolling by me, they are rocking evenly And I am older than I once was, and younger than I'll be That's not unusual
00:45:45
Speaker
No, it isn't strange, after changes upon changes, we are more or less the same.
00:45:53
Speaker
After changes, we are more or less the same.
00:46:02
Speaker
La, la, la, la, la.
00:46:22
Speaker
La la la la Then I'll lay out my winter clothes Wishing I was gone, going home Where the New York City winters are bleeding me Bleeding me
00:46:59
Speaker
Em um clígado está um boxeiro e um combate por sua trade E ele traz o lembrem de todos os que levam ele, tudo cut em um cúmulo, até que ele cria, em sua dor e sua culpa Eu estou deixando, eu estou deixando, mas o combate ainda ainda ainda
00:47:48
Speaker
La la la la
00:48:12
Speaker
De Boxer, Patricia.
00:48:16
Speaker
Patricia, tell me about De Boxer.
00:48:20
Speaker
De Boxer.
00:48:22
Speaker
Então?
00:48:23
Speaker
Então, foi uma escolha muito da vida.
00:48:27
Speaker
Ouve-se?
00:48:29
Speaker
Ouve-se.
00:48:30
Speaker
Era o que tu dizias, este álbum marca a vida, está desde sempre.
00:48:35
Speaker
Mas para mim foi.
00:48:36
Speaker
Está aqui uma amiga minha que é a Isabel, também é da Madeira.
00:48:39
Speaker
Conhece este senhor que eu vou falar.
00:48:42
Speaker
Não, mas o primeiro concerto que eu fui na vida foi com o amigo do meu pai, em que eu adoro música e tinha uma banda.
00:48:47
Speaker
E foi em 1991, acho eu, que foi quando o Paul Simon veio cá.
00:48:50
Speaker
Portanto, a ideia de ir de repente ao estádio de Alramado, que por acaso quer enfrentar-me a minha casa e de vez em quando via...
00:48:56
Speaker
concertos, mas era de fora, de repente estava dentro.
00:48:59
Speaker
E esta música marcou-me profundamente.
00:49:01
Speaker
Porquê?
00:49:02
Speaker
Era porque pelo lai-lai-lai no estádio.
00:49:06
Speaker
De repente estava toda a gente, que era uma coisa que eu nunca tinha imaginado, toda a gente a cantar aqui em Uníssono.
00:49:12
Speaker
E foi uma coisa grandiosa que eu guardei para sempre.
00:49:15
Speaker
Para responder à solidariedade, estás a ver?
00:49:16
Speaker
Mas agora, ao fim deste tempo,
00:49:19
Speaker
e acho que mostra profundamente, e acho que nós precisamos disto, hoje houve mais uma coisa espetacular no Parlamento, mais direitos foram retirados e mais tentativas de tornar o mundo um lugar horrível, mas o núcleo central da identidade não desiste de si, e eu acho que isto apresenta profundamente nesta letra toda, qualquer coisa, não é?
00:49:36
Speaker
The fight still remains, ou seja, eu posso ter que desistir de alguma maneira, durante alguns momentos eu posso ter que fazer movimentos internos
00:49:45
Speaker
para ganhar força, para lidar com as coisas, mas a verdade é que o meu número de central de identidade não se pode perder.
00:49:51
Speaker
Acho que isto está lá, está com uma garra incrível.
00:49:53
Speaker
E se eu puder dizer agora alguma coisa sobre isso?
00:49:56
Speaker
Obrigada.
00:49:57
Speaker
Tem a ver com o facto de ser mulher e estar à frente de um clube noturno.
00:50:02
Speaker
Eu tive uma missão este ano, ano passado, 2024, no Senegal, e estava como adjunta de segurança e fui substituir alguém.
00:50:13
Speaker
E o responsável de segurança foi pesquisar sobre mim, não o conhecia, e disse, a sério, vamos receber uma mulher, dona, é francês, dona de uma boate noturna, e ela sabe alguma coisa de segurança?
00:50:26
Speaker
E...
00:50:28
Speaker
E este tipo de atitude reflete-se também no retardão e em muitas situações falavam com o Jorge porque não queriam falar comigo.
00:50:35
Speaker
Mas a Ana é que é dona, a Ana é responsável, não tem nada a ver com isto.
00:50:38
Speaker
Mas eu queria falar contigo porque ela é mulher.
00:50:41
Speaker
E tinha proposta à sociedade que eu ficava com as relações públicas e de coração e eles ficavam com a gerência do espaço.
00:50:46
Speaker
Isto é muito...
00:50:52
Speaker
e tenho que ir buscar a lutadora dentro de mim muitas e muitas vezes primeiro para não dar respostas erradas a estas pessoas porque ouço sempre todas as propostas nunca sabe quando pode vir alguma que me interesse mas de facto para não ser agressivo e para não responder mal vais buscar o teu lado quantas mil vezes e depois pensas que tens de continuar a lutar e tens de continuar a lutar numa sociedade altamente misógena portanto...
00:51:21
Speaker
Traz um pouco de... Eles ficam ainda um bocadinho mais autorizados a ser assim.
00:51:26
Speaker
E estarei aqui.
00:51:27
Speaker
Sim, sim, sim.
00:51:28
Speaker
Eu agora tive aqui uma branca.
00:51:29
Speaker
Porque eu ia pegar numa coisa, mas entretanto lembrei-me de outra, que foi um reel.
00:51:35
Speaker
Eu ainda bocado vi um reel de Reese Riverspoon, ou como é que ela se chama, a dizer exatamente isso, em que mostrou uma série de cenas cinematográficas onde todas as mulheres diziam numa situação limite...
00:51:47
Speaker
E que se viravam para o homem e diziam, o que é que fazemos agora?
00:51:50
Speaker
E depois vinha outra cena e ele dizia, o que é que fazemos agora?
00:51:53
Speaker
E ela dizia, o que é que fazemos agora?
00:51:55
Speaker
Sempre virada para o homem.
00:51:56
Speaker
E o que é que fazemos agora?
00:51:57
Speaker
E ela, dada a altura que estava numa atribuição de prémios, qualquer coisa diz assim, mas alguma vez vocês ouviram dizer uma mulher em situação limita a um homem, o que é que fazemos agora?
00:52:06
Speaker
Sim.
00:52:10
Speaker
E eu ainda há bocado vi isto, isto é completamente aleatório.
00:52:14
Speaker
E se coisa que eu gosto mesmo muito é de poder perguntar a um homem o que é que fazemos agora.
00:52:22
Speaker
É verdade?
00:52:24
Speaker
Vocês não.
00:52:24
Speaker
É verdade?
00:52:27
Speaker
Olha a cara deles a olhar para mim.
00:52:30
Speaker
Quanto mais não seja pelo desafio na espera da resposta.
00:52:35
Speaker
Não, não, não, não, não
00:52:53
Speaker
É mesmo, mas para mim aqui reside o sinal da esperança, não sei onde é que desido para vocês, mas aqui reside poder perguntar a um homem o que é que fazemos agora e mais, poder vir ao caixote de Ré e entrar no Reterdão e ouvir, sei lá, ouvir o, sei lá...
00:53:16
Speaker
Como é que se chama ouvir os manos?
00:53:19
Speaker
Os manos das teclas e da bateria?
00:53:20
Speaker
Modern talking?
00:53:22
Speaker
Não.
00:53:26
Speaker
White stripes, por exemplo.
00:53:27
Speaker
Ah, esses.
00:53:28
Speaker
É o que reside a minha esperança.
00:53:32
Speaker
É por isso que é verdade.
00:53:37
Speaker
Porque não é de outra forma.
00:53:39
Speaker
Bom.
00:53:40
Speaker
Eu não sou tão radical.
00:53:42
Speaker
Mas tu achaste que eu fui radical agora?
00:53:46
Speaker
Porquê que não vemos que me podia perguntar a um homem o que é que fazíamos agora, se eu não souber a resposta?
00:53:50
Speaker
É isso, é que reside a minha esperança, eu podia perguntar.
00:53:54
Speaker
Não é porque entrámos num sítio onde não podemos, Ana Paula.
00:53:57
Speaker
Eu estou a dizer isto exatamente porque entrámos num lugar em que eu vejo um reel a gozar com isso.
00:54:05
Speaker
É isto que eu não gosto.
00:54:06
Speaker
Ou seja, eu estava a ser irónica, não é?
00:54:09
Speaker
A minha dificuldade hoje em dia tem sido em encontrar interlocutores através da ironia e da metáfora.
00:54:15
Speaker
É exatamente o contrário, eu quero poder perguntar a um homem o que é que vamos fazer agora e ele dizer, não sei.
00:54:23
Speaker
está, porque estava a dizer não sei.
00:54:25
Speaker
Se ele disser não sei, se ele disser eu sei, ótimo.
00:54:28
Speaker
Assim como eu.
00:54:29
Speaker
Se eu perguntar o que é que vamos fazer agora, eu parto de dois princípios, que eu posso não saber o que fazer, ou então não vou impor aquilo que eu sei ao outro.
00:54:39
Speaker
Vou perguntar ao outro o que é que ele tem para dizer e podermos, através daí, construir uma resposta conjunta.
00:54:45
Speaker
Isso é o que eu quero.
00:54:47
Speaker
Mas quando tu vais para a internet e vês este, por exemplo, vês a Reese Riverspoon a dizer isto, e é cómico.
00:54:54
Speaker
Claro que é cómico, com toda a história que tu sabes, tu deixas-te embalar nisto, e de repente o fascismo entra por sítios onde nós menos esperamos.
00:55:03
Speaker
Eu hoje vi uma coisa que eu não quis ficar em alemão, mas era basicamente...
00:55:09
Speaker
os marretas no espaço e ofereceram à Miss Piggy uma tábua de passar a ferro e um ferro dentro do mar.
00:55:16
Speaker
Eu não percebo nada porque é alemão e eu não percebo alemão.
00:55:20
Speaker
E obviamente a Miss Piggy também não gostou da prenda porque atorou com o ferro dentro do mar.
00:55:25
Speaker
Mas não percebo o contexto.
00:55:28
Speaker
Estou à espera de falar para alguém que saiba alemão para explicar.
00:55:31
Speaker
Porque eu sou essa coisa toda e vejo uma tábua de engomar a passar e eu me espio.
00:55:35
Speaker
Mas tem a ver com isto, com preconceitos que existem, mas que está na nossa mão desconstruir.
00:55:42
Speaker
Porque eu acho que realmente somos todos iguais.
00:55:46
Speaker
E não é só... Eu acho que é o lugar onde eu tocava.
00:55:49
Speaker
Ainda há bocado no sítio que...
00:55:51
Speaker
Poder escolher um disco.
00:55:54
Speaker
Quantas vezes nós usamos, e uns com os outros usamos a expressão guilty pleasure, não é?
00:55:59
Speaker
Mas o que é que é um guilty pleasure?
00:56:01
Speaker
A minha questão é essa.
00:56:02
Speaker
Tu sai dos cajas da gobu?
00:56:04
Speaker
Está bem, mas não é isso, não é?
00:56:06
Speaker
Não, está.
00:56:07
Speaker
Então, estás a ver, estás a contradizer porque é que isso é um guilty pleasure, é um guilty pleasure.
00:56:13
Speaker
Porque é assim, a partir do momento em que nós nos posicionamos no lugar em que esperamos que o outro nos reconheça, ou seja, nós estamos num lugar em que ficamos à espera, em que aquele lugar é o lugar em que nós achamos que vamos ser reconhecidos pelo outro, esse é o lugar mais falso.
00:56:36
Speaker
Não guilty pleasures e não há a questão.
00:56:39
Speaker
é possível encontrar a paz, seja ela qual for, a paz interna, a paz na relação com o outro, a paz com o Trump, a paz com o mundo, a paz com toda a gente.
00:56:51
Speaker
Se tu conseguires, na realidade, perceber que tu não tens guilty pleasures, tu tens uma identidade, ponto.
00:56:59
Speaker
E quem não aguenta com ela a paciência?
00:57:02
Speaker
A questão é que nós estamos constantemente a ir atentar ao encontro da identidade que achamos.
00:57:08
Speaker
É que é incrível.
00:57:09
Speaker
Porque é assim.
00:57:10
Speaker
Se fosse a identidade que os outros esperam de nós...
00:57:14
Speaker
Nós até podíamos fazer uma aposta, quase uma coisa até de manipulação, que é aquele tipo espera isto de mim.
00:57:21
Speaker
E como aquele tipo espera isto de mim, eu vou-lhe dar aquilo que ele espera e estávamos num jogo de manipulação.
00:57:26
Speaker
A questão é que a manipulação é sempre connosco próprios, porque nós partimos do princípio
00:57:32
Speaker
Eu parto do princípio, não parto, mas isto é... Eu parto do princípio que a Patrícia Câmara espera que eu dizer aqui uma coisa quando estamos no terreno falso,

Importância da autenticidade pessoal e rejeição de pressões sociais

00:57:42
Speaker
não é?
00:57:42
Speaker
Aquilo que a gente chama falso self, que é... Eu parto do princípio que a Patrícia Câmara acha uma coisa de mim que eu não faço a mínima ideia se ela acha ou não.
00:57:50
Speaker
Então, subo para aquele patamar porque eu acho que ela vai ter um juízo de valor a partir daquilo que eu acho.
00:57:55
Speaker
Claro.
00:57:56
Speaker
Aquilo que eu acho nada tem a ver com o que a Patrícia acha, porque eu não estou dentro da Patrícia para saber o que é que ela acha sobre mim.
00:58:03
Speaker
A única coisa que eu posso ter, eventualmente, e se tiver acesso a uma linguagem simbólica, a metáfora, a ironia, é uma representação interna daquilo que eu acho que a Patrícia pensa.
00:58:12
Speaker
São 11h30 da noite.
00:58:14
Speaker
Até a próxima.
00:58:16
Speaker
E portanto, estamos num sítio completamente falso e completamente esvaziado.
00:58:24
Speaker
Pronto, e isto, eu acho que completamente à toa com a letra do Boxer.
00:58:29
Speaker
Eu não sei se o Boxer diz isto ou não.
00:58:30
Speaker
Eu não faço a mínima ideia.
00:58:37
Speaker
A minha pergunta é, a Simone realmente conseguiu falar?
00:58:39
Speaker
Sim, sim.
00:58:40
Speaker
Diz lá.
00:58:48
Speaker
Agora é o memorial para pôr os sounds of silence.
00:58:57
Speaker
Estamos a gravar uma hora.
00:58:59
Speaker
Vá, então.
00:59:00
Speaker
Eu não vou terminar sem agradecer a equipa fantástica que eu tenho no retardão.
00:59:08
Speaker
E agora é quando eu fico emocionada, porque todos, todos eles, desde...
00:59:13
Speaker
Me apoiam, me dão ideias, estão comigo, fazem tudo, são maravilhosos.
00:59:19
Speaker
Portanto, obrigada, equipa.
00:59:33
Speaker
Nós vamos fechar com o Sounds of Silence, como é óbvio, para ser... Não, não quer dizer, mas depois tu disseste, subes, carinha.
00:59:40
Speaker
Essa é a música que tu menos gosto no disco.
00:59:43
Speaker
Tu menos, não menos gosto.
00:59:44
Speaker
Porquê, Ana Paula?
00:59:45
Speaker
Porque é que tu menos gosto.
00:59:48
Speaker
É triste, é triste.
00:59:50
Speaker
Mas alerta.
00:59:51
Speaker
Mas está, para responder àquela pergunta do princípio, é uma música que nos alerta.
00:59:54
Speaker
A minha favorita de todas, sempre...
00:59:58
Speaker
É incrível, porque até é um cover, mas eu fico mesmo muito comovida.
01:00:03
Speaker
É comovida, é uma coisa que é visceral, pá, é o Scabrofare.
01:00:08
Speaker
é qualquer coisa que não sei, acho que é o encontro é o encontro na tristeza eu acho que isso é mesmo muito humano sei lá, mais do que o encontro na alegria o encontro na alegria é ótimo mas nós sabemos, quando estamos aqui todos em estas na alegria há uma camada profunda de tristeza porque é mesmo assim, sei e eu gosto muito do Scarborough Fair, é a minha favorita mas não é a que vamos passar, claro até porque temos que fechar com os gachos fecham que é com o Sounds of Silence
01:00:38
Speaker
Mas também outra coisa que eu gosto mesmo, mesmo, que é o Still crazy after all these years.
01:00:48
Speaker
Eu adoro esta frase, não é?
01:00:50
Speaker
É um rasgo de saúde.
01:00:55
Speaker
E por isso, não indo passar o Scarborough Fair, porque ficávamos aqui numa cena e agora o Bruno Brits vai passar som a rasgar para nós e o Scarborough Fair ia contra isto tudo.
01:01:11
Speaker
Eu agradeço mesmo muito contente por todos terem estado aqui e pelo facto de a Ana Paula...
01:01:18
Speaker
a poder partilhar este momento connosco e nós podermos partilhar um bocadinho do retardão com a equipa do retardão e com todo o retardão e com o Cais de Sudré que assim como tu tentaremos manter vivo dentro daquilo que nós conhecemos como a identidade do Cais de Sudré se o Cais de Sudré mudar de identidade a gente vem mesmo
01:01:40
Speaker
não qualquer problema podemos não passar tanto tempo mas aqui dentro sim guardaremos sempre isso e vamos acabar com o Sounds of Silence, claro que é triste mas que me parece que é aquilo que estamos a precisar de ouvir o silêncio, não Patrícia?
01:02:01
Speaker
Absolutamente Porquê?
01:02:05
Speaker
E porquê, Patrícia?

Silêncio como espaço para reflexão e conexão

01:02:06
Speaker
Porquê é que estamos a precisar de ouvir o silêncio?
01:02:07
Speaker
Ela faz isto agora assim de repente, que hoje ficamos a ensar.
01:02:10
Speaker
Porquê é que precisamos de ouvir o silêncio?
01:02:12
Speaker
Porque a única maneira que temos de entrar em contacto connosco é isto que acho que eu digo.
01:02:16
Speaker
Não é nada.
01:02:18
Speaker
Não é nada.
01:02:18
Speaker
Achas que eu estou disparado?
01:02:21
Speaker
Eu vou-lhe dizer, é porque nós não conseguimos fazer um podcast sem falar sobre melancolia.
01:02:25
Speaker
Eu estava a pensar, não vou dizer, não vou dizer, mas ela está-me a obrigar a me expressar.
01:02:29
Speaker
A culpa não é minha, é mesmo dela.
01:02:32
Speaker
O Sounds of Silence diz isto, não é?
01:02:34
Speaker
Diz da importância da síntese melancólica da vida, que é a única hipótese de nos resgatar destes lugares que nos estão a secar, não é?
01:02:40
Speaker
Porque nós pensamos, isto que tu estás a dizer é importantíssimo,
01:02:43
Speaker
Porque esta tentativa de aniquilação da identidade do outro seca a humanidade e, portanto, este resgate que acontece na possibilidade de se estar com o outro garantindo identidade sem querer a fusão identitária ou totalitarismo psíquico, não é?
01:02:56
Speaker
Tu tens que ser eu, ponto final.
01:02:58
Speaker
É isto que és que eu diga.
01:03:00
Speaker
E, portanto, sem esta hipótese, sem este som do silêncio, que é possível porque existe um outro em nós,
01:03:07
Speaker
então não é possível haver irrigação da humanidade e estamos condenados à secura infinita é isso, é o que nós não queremos agora foi dinâmico no podcast número 3 foi com a Maria João Luís e a dada altura eu perguntei-lhe sei lá, na nossa conversa foi para aí e eu a dada altura perguntei-lhe ao João onde é que tu te sentes realmente tu própria e ela disse na depressão
01:03:38
Speaker
E é por isto que eu escolhi o Sons of Silence, porque é o sítio em que não é a depressão de tudo, mas o sítio onde eu me sinto mais eu própria é na sua vida.
01:03:52
Speaker
Hello darkness, my old friend I've come to talk with you again Because of a vision softly creeping
01:04:07
Speaker
Left its seeds while I was sleeping And the vision that was planted in my brain Still remains Within the sound of silence In restless dreams I walked alone
01:04:37
Speaker
Narrow streets of cobblestone Neat the halo of a street lamp I turned my collar to the cold and down When my eyes were stamped By the flash of a neon light That split the night
01:05:05
Speaker
E tocou o som do silêncio E na luz da luz eu vi 10,000 pessoas me voando O mundo falando sem falar
01:05:29
Speaker
People hearing without listening People writing songs That voices never shared No one dared disturb the sound of silence
01:05:55
Speaker
Fools that I do not know Silence like a cancer grows Hear my words that I might teach you Take my arms that I might reach you But my words like silent raindrops fell
01:06:29
Speaker
Echoued in the wells of silence E as pessoas pediam e pediam Para o Deus que eles fizeram E as signos flasharam its warnings Em palavras que ele estava formando
01:06:59
Speaker
And the sign said the words of the prophets are written on the subway walls and tenement halls and whispered in the sounds of silence.
01:07:37
Speaker
3 Divãs.
01:07:38
Speaker
A Psicanálise.
01:07:39
Speaker
O Mundo.
01:07:40
Speaker
E o Rock'n'Roll.