Become a Creator today!Start creating today - Share your story with the world!
Start for free
00:00:00
00:00:01
Avatar
209 Plays7 months ago

João Hasselberg, músico e fotográfo.

Transcript

Formação de emoções e simplicidade complexa

00:00:10
Speaker
3 Divãs, a psicanálise, o mundo e o rock'n'roll.
00:00:22
Speaker
E voltamos à complexidade do que é simples.
00:00:25
Speaker
Como é que se formam emoções a partir de um compasso de espera?
00:00:30
Speaker
Como é que se formam emoções a partir de um ritmo contido?

Perseverança e profundidade tonal

00:00:34
Speaker
E vem-me novamente ao pensamento da Paula.
00:00:37
Speaker
Ana, a vida traz...
00:00:40
Speaker
Será a preservança o lugar onde os sonhos acontecem?
00:00:44
Speaker
Se persistirmos em nós, de facto, chegamos à nossa tonalidade mais profunda.

Psicanálise como meditação

00:00:50
Speaker
Será a psicanálise uma forma de meditação?
00:00:53
Speaker
Melhor, na psicanálise também se medita.
00:00:57
Speaker
O nosso convidado de hoje escolheu um disco que me parece dizer muito sobre ele.
00:01:02
Speaker
E não, não é pertenciosismo, João.
00:01:05
Speaker
Passa de negação.
00:01:07
Speaker
É, de facto, admirável.
00:01:10
Speaker
Como é que a partir de um objeto único se consegue materializar a música e materializá-la também?
00:01:18
Speaker
A representação mental que me ocorre deste disco sou eu a dar um passeio pelos sonhos enquanto subo degraus infinitos de uma escada de madeira suspensa.
00:01:28
Speaker
Um degrau por nota.
00:01:31
Speaker
No último suspiro musical percebemos que chegámos ao lugar onde conhecemos o fim do nosso infinito.
00:01:38
Speaker
A intimidade.
00:01:40
Speaker
O lugar onde sabemos o que somos, o que queremos e do qual não abdicamos.
00:01:46
Speaker
O sítio da melhor companhia.

Jornada de João Asselberg na música

00:01:49
Speaker
João Asselberg, o convidado de hoje de três divãs, escolheu o Iki do Fujita, Yuzuki Fujita, para conversar aqui comigo e com a Patrícia Câmara, na Casa do Comum.
00:02:01
Speaker
Bem-vindos, João.
00:02:02
Speaker
Olá.
00:02:03
Speaker
Olá, Patrícia.
00:02:05
Speaker
Olá.
00:02:08
Speaker
Eu sou o João Gosto de ver beleza nas coisas Ou a beleza que eu consigo ver nas coisas E tento Trazer isso ao de cima Eu estudei música desde pequenino E academicamente também foi isso que estudei Portanto Eventualmente Uma e aqui utilizei mais tempo Para tentar
00:02:40
Speaker
vencer essa batalha de mostrar aquilo que é beleza foi através da música mas mais recentemente comecei também a fazer fotografia e vídeo e estou a enverdar por também gosto muito de música acústica, gosto muito de música eletrónica gosto muito de música composta gosto muito de música improvisada mas no fundo
00:03:06
Speaker
Gosto de passar os dias a ler ao sol.
00:03:09
Speaker
É isso.
00:03:11
Speaker
Portanto, eu acho que é isto que eu tenho a dizer sobre mim.
00:03:14
Speaker
E gostas de andar a pé.
00:03:15
Speaker
Gosto muito de andar a pé.
00:03:17
Speaker
Sim.
00:03:18
Speaker
Contemplar.
00:03:19
Speaker
Contemplar, sim.
00:03:20
Speaker
É um misto de necessidade, porque não tem carta, conduzo, mas não tem carta.

Escolha de música e introspecção

00:03:31
Speaker
E é isso O estado mental É uma coisa muito particular Quando se está a andar Portanto, tento aproveitar E conjugar essas duas Essas duas necessidades E fazes muito bem Eu, de vez em quando cruzo-me com o João na rua Porque eu também gosto muito de andar como eu Duas pessoas que eu dou a pirar Mas andar contemplando Contemplando Raramente com o telefone na mão
00:04:01
Speaker
Esse bicho horroroso que nos invadiu João Escolheste o Wiki Porquê tu escolheste este disco?
00:04:14
Speaker
Porque há alguma coisa que De inexplicável na música dele Eu descobri este disco em Março
00:04:25
Speaker
daquelas recomendações do Spotify, estava a ouvir não sei quem que recomenda, não sei quem que recomenda, não sei quem é este disco.

Simplicidade na música e sua interpretação

00:04:32
Speaker
E a partir do momento 0.1, fiquei tipo, uau, o que é que é isto?
00:04:38
Speaker
Ainda não sei, ainda não sei porque é que há de inexplicável ali.
00:04:43
Speaker
Mas é... um... Não sei, há uma sensação de espaço e contemplação gigantesca.
00:04:53
Speaker
Não uma imposição de...
00:04:57
Speaker
Nem de informação Não uma imposição estética Nem de ideologia Nem nada Nem sequer sei que género de música é que isto pode ser De tão especial que é Eu ia-te perguntar isto É que eu pensei que em que género é que isto Não é?
00:05:15
Speaker
Pois, eu não Eu também não sou especialista nestas coisas De encaixar as coisas em sítios Mas Sou especialista em desencaixar as coisas de sítios
00:05:27
Speaker
que é exatamente o que fazeste a noite pois, é isso começou com isso começou com este deslumbramento de não sei o que é isto deixa-me ouvir mais e mais e mais e passaram seis meses e estou no mesmo ponto de tentar descobrir o que é e espero que vocês me consigam ajudar
00:05:50
Speaker
Ou aguentar não sabermos, não é?
00:05:52
Speaker
Pois, é isso.
00:05:55
Speaker
Mas é, sem dúvida, é música muito especial.
00:05:59
Speaker
Muito... Eu não gosto de falar das coisas nestes termos, mas de uma forma geral, para que todos compreendam uma música muito simples tecnicamente.
00:06:11
Speaker
Mas que lhe traz um...
00:06:15
Speaker
um outro lado de dificuldade gigante, não é?
00:06:17
Speaker
Porque o material é muito simples, então o que é que isto é?
00:06:20
Speaker
Como é que se torna isto uma coisa especial?
00:06:23
Speaker
E para fazer isso não... pronto, não tem nada a ver com o material em si, tem a ver com como é que aquele músico interpreta aquele material.
00:06:35
Speaker
E isso, é muito mágico.
00:06:41
Speaker
E é incrível porque o Fujita criou um instrumento de propósito para fazer isto, não é?
00:06:52
Speaker
E é inacreditável como é que a partir de um instrumento nasce este objeto único, não

Instrumento único de Yuzuki Fujita

00:07:01
Speaker
é?
00:07:01
Speaker
Sim, sim, um instrumento que a luz é um...
00:07:05
Speaker
uma variação de um órgão de tubos que não tem teclado, são os tubos de metal e tem uma bomba de ar que toca com a mão esquerda, calculo, e com a mão direita vai puxando umas portinhas de bambu que é para o ar passar ou não passar pelos tubos, ou seja, quando ele abre essa porta o ar passa pelo tubo e aquela nota.
00:07:30
Speaker
Portanto, também é uma coisa que se ouve muito na gravação deste disco.
00:07:35
Speaker
Um é a bomba de ar e outro é o bambu a bater no bambu sempre que ele abre e fecha uma nota.
00:07:44
Speaker
E eventualmente as limitações desse instrumento também façam...
00:07:51
Speaker
Levem a criação da música para outro lado Porque não consegues mudar Três notas ao mesmo tempo, por exemplo Porque tens uma mão E elas não estão juntas Portanto, os desafios são outros Mas também cria resultados diferentes Por causa dessas limitações Sim Outra forma Como se cria essas sessões que valem por si próprias Sim E é um órgão de tubos Ou seja, o som que nós ouvimos é um bocado esse Que é
00:08:21
Speaker
É uma coisa muito... Não sei se é espiritual, mas é uma coisa muito ancestral em rituais humanos.
00:08:31
Speaker
Começa tudo com a voz.
00:08:34
Speaker
E um órgão de tubo é uma flauta, eventualmente, é uma tentativa de réplica daquilo que a voz faz, que é também uma cana a vibrar,

Conexão da música com espiritualidade

00:08:42
Speaker
não é?
00:08:42
Speaker
Como as cordas vocais.
00:08:44
Speaker
E mais tarde o órgão de tubos vai fazer isso, mas maioritariamente com tubos metálicos também é uma palheta a vibrar porque passa a ar.
00:08:54
Speaker
Neste caso, numa igreja, com a acústica, também torna as possibilidades de um instrumento outras.
00:09:00
Speaker
Mas é isso, é um som muito...
00:09:04
Speaker
Não é humano porque não é humano, mas qualquer coisa de divino.
00:09:08
Speaker
E é uma coisa de... foi a palavra que eu usei na introdução, de meditação, quase.
00:09:17
Speaker
vamos assim.
00:09:19
Speaker
Sim.
00:09:20
Speaker
Tivemos para que se encontre a si mesmo.
00:09:22
Speaker
Sim.
00:09:22
Speaker
São os sons que se encontram a si mesmo.
00:09:23
Speaker
Exatamente, exatamente.
00:09:26
Speaker
Agora uma curiosidade, eu sugiro que colocar já a música, porque estamos a conversar sobre estas coisas e para se perceber do que é que estamos a falar, mas ia-te fazer esta pergunta por curiosidade, porque tu ouves música enquanto andas a pé?
00:09:46
Speaker
Há alturas em que sim, há alturas em que não.
00:09:50
Speaker
Porque também o meu andar a tem funções diferentes.
00:09:55
Speaker
Estas duas últimas semanas estive a gravar aquilo que poderá ser o meu próximo disco e andava a precisamente para limpar a cabeça daquilo que estava a fazer e depois poder voltar a sentar-me e estar a gravar e a compor com...

Caminhadas e criatividade musical

00:10:12
Speaker
Ouvidos limpos, como costumamos dizer, e o andar servia para isso.
00:10:15
Speaker
Se eu fosse ouvir música... Contaminavas essa... Sim, ia contaminar também a minha forma de depois estar a ouvir aquilo que fiz.
00:10:26
Speaker
É uma espécie de criar uma tela em branco outra vez, ok, vamos recomeçar, pegar nas tintas e... A possibilidade do teu próximo, é o sétimo disco.
00:10:38
Speaker
Eu acho que contei seis, mas não tenho a certeza.
00:10:44
Speaker
Sim, seis.
00:10:44
Speaker
Portanto, será o sétimo.
00:10:47
Speaker
A solo e a parceria com o Pedro Branco, são seis, será o sétimo.
00:10:51
Speaker
Muito bem.
00:10:54
Speaker
João, vamos ouvir o tema... Ai, agora esqueci-me do nome de Sukima.
00:11:00
Speaker
E conversamos sobre ele.
00:11:06
Speaker
João, então, porquê o Sukima?
00:11:13
Speaker
Esta... Eu acho que esta faixa é muito diferente de todas as outras no disco porque é a única que tem períodos de silêncio.
00:11:26
Speaker
Todas as outras são contínuas e esta é a única que algum espaço entre as mudanças de acordos.
00:11:34
Speaker
pelo menos

Música minimalista e emoções profundas

00:11:35
Speaker
em termos de notas, não é?
00:11:35
Speaker
porque estamos sempre a ouvir a bomba dar do órgão dele mas uma espécie de parece um lamento parece que é
00:11:50
Speaker
Há alguém que está a tentar dizer alguma coisa e não encontra forma de dizer aquilo a não ser por este som.
00:11:58
Speaker
Pode ser comparado a um animal ferido que está a morrer porque o pitch destas notas nunca é constante.
00:12:07
Speaker
Começa ligeiramente abaixo, vai à nota e depois morre.
00:12:11
Speaker
A entrada do ar nos tubos e depois o ar a desaparecer.
00:12:15
Speaker
Eu acho que isso me toca muito.
00:12:17
Speaker
Não, isso que tu disseste agora é incrível.
00:12:20
Speaker
Porque efetivamente, não tinha pensado que é isso que faz sentido, mas efetivamente agora que disseste, parece que encontro isso dentro de mim.
00:12:26
Speaker
Porque realmente há quase como uma espécie de sintonia, não é?
00:12:29
Speaker
Tu fazes um movimento sintónico, que de repente vem para trás, não é?
00:12:32
Speaker
Exato, é como anda.
00:12:34
Speaker
Exatamente.
00:12:35
Speaker
que faz esta educação interna.
00:12:38
Speaker
Mas isto estava a pensar mesmo no próprio espaço até mais melancólico, não é?
00:12:41
Speaker
Porque não tinha pensado nisso, tinha ficado a pensar na possibilidade de como é que uma nota te obrigava a toda a complexidade, como a Ana, como tu puseste também no teu texto, no princípio, não é?
00:12:53
Speaker
Como é que este lugar é atingido por estas coisas mais diferentes, aparentemente mais minimalistas ou minimalistas, se pensarmos nisso.
00:12:59
Speaker
no conceito mais sério, para o minimalismo mas como é que é possível agarrar o elementar?
00:13:04
Speaker
isso é indivíduo é que vá lá mas realmente se pode agarrar o elementar quando se consegue fazer esse movimento fazer de onda vens até ali, mas sabes que a partir dali não lugar sem dúvida sim, sem dúvida e também é isso não distrações é só, como disseste, o essencial isso para mim é
00:13:28
Speaker
E chegar em esse lugar é o trabalho que dá, não é?
00:13:30
Speaker
Porque é o trabalho que dá, conseguir chegar em esse lugar, quer dizer que devia ser uma coisa autêntica, não é?

Autenticidade na simplicidade

00:13:35
Speaker
Mas a verdade é que há uma desconstrução imensa preta portada.
00:13:38
Speaker
Pois é engraçado que nós estamos sempre a tentar construir a partir do zero, apesar de nunca começarmos no zero, não é?
00:13:46
Speaker
Mas chega a um ponto em que o trabalho é precisamente desconstruir, não é?
00:13:51
Speaker
Tirar as camadas todas como se fosse uma cebola e tentar chegar àquilo que seria uma essência.
00:13:57
Speaker
Pode ser na música, pode ser pessoalmente ou espiritualmente, nas relações que tens, no trabalho.
00:14:03
Speaker
Psicanálise, sim.
00:14:04
Speaker
Faça um psicanálise.
00:14:07
Speaker
Claro, claro.
00:14:09
Speaker
Mas efetivamente é isso.
00:14:11
Speaker
E também é onde é que está o limite, não é?
00:14:13
Speaker
Até onde é que podemos ir...
00:14:15
Speaker
Mas é que eu até estava aqui a conversar com o João, agora enquanto estávamos a ouvir a canção A canção não é um tema, não é uma canção, é uma música E eu estava-lhe a dizer isto, que as vezes que eu ouvi o disco ao longo desta semana
00:14:36
Speaker
Estava-me a levar para este lugar De desconstrução e construção de alguma coisa E por isso me fez lembrar o processo psicanalítico E este sítio que o João está a dizer Isso que vocês estavam a colocar Como se fosse uma onda, é espetacular E o João estava a dizer Mas em que lugar é que para?
00:14:54
Speaker
Aliás, tu disseste uma frase Diz João, porque tu disseste uma coisa muito boa Que a Patrícia e a Climbra Sim Em relação, sim
00:15:01
Speaker
ao número de vezes que se ouvia isto veio de no início da nossa conversa termos falado sobre o ainda não saber sobre o que é que isto é e porque é que eu fico deslumbrado ainda estou num crescendo de cada vez que ouço tentar perceber o que é e a minha questão é até quando é que eu vou continuar a ouvir e isto me vai dizer alguma coisa quando é que vai chegar a um ponto em que em que eu vou ficar satisfeito
00:15:31
Speaker
e é fabuloso, como é que o elemento está muito mais infinito e a partir disto é que eu pensei bolas, mas esse lugar de infinito esse lugar em que ficamos satisfeitos mas que é um infinito ao mesmo tempo é a mesma intimidade e eu fiquei a pensar nisto e por isso achei que é qualquer coisa que te convoca a uma intimidade sim, e
00:16:02
Speaker
E que é a mesma coisa no processo psicanalítico, não é?

Intimidade pessoal através da música

00:16:05
Speaker
Porque tu estás, a partir de coisas tão elementares, a descascar a cebola, não é?
00:16:13
Speaker
Como o João estava a dizer.
00:16:15
Speaker
E, de facto, para chegares ao sítio onde tu, de facto, consegues estar numa intimidade profunda contigo.
00:16:22
Speaker
Ponto.
00:16:23
Speaker
Onde ouves o som do ar entrar, não é?
00:16:25
Speaker
Como tu dizias, porque era uma coisa que tinha passado completamente, eu ouvi o som, mas não percebia.
00:16:32
Speaker
E ficas satisfeito porque estás tão somente na tua própria companhia.
00:16:38
Speaker
E a partir daí, o que isto se pode fazer com o outro, que é extraordinário.
00:16:42
Speaker
Porque eu acho que quando tu não estás neste lugar, quando não consegues encontrar este lugar dentro de ti...
00:16:48
Speaker
Pode ser muito perigoso o que tu fazes para o outro.
00:16:52
Speaker
Aliás, está à vista.
00:16:55
Speaker
Está à vista, exatamente.
00:16:56
Speaker
E então, foi por isso que eu também na introdução levei isto para o processo psicanalítico, porque foi o que este disco também me fez sentir.
00:17:05
Speaker
E esta música tem sete minutos.
00:17:06
Speaker
É extraordinário, não é?
00:17:07
Speaker
Sete fósseis.
00:17:08
Speaker
Sim, sim, sim.
00:17:12
Speaker
E a minha pergunta também é porquê que isto acontece assim, não é?
00:17:15
Speaker
Porque é que estas coisas aparentemente mais simples tocam em sítios eventualmente mais complexos, assim mais profundo, que nós nem sequer muitas vezes não reconhecemos que estão lá, não é?
00:17:30
Speaker
Mas isto mostra-nos também tipo, ah espera, está aqui uma dorzinha, o que é que é isto?
00:17:36
Speaker
Porquê?
00:17:36
Speaker
Porquê que...
00:17:37
Speaker
E é o valor do eco interno, não é?
00:17:40
Speaker
Permites-te ouvir um eco?
00:17:42
Speaker
Sim.
00:17:42
Speaker
Que a intoxicação normalmente das notas múltiplas não se dá.
00:17:45
Speaker
Não, não permite-se, é isso.
00:17:47
Speaker
Sim.
00:17:48
Speaker
Se calhar tem a ver com o espaço.

Significado dos títulos das músicas

00:17:49
Speaker
Abra um espaço que tem de ser preenchido, mas não nada direto para preencher.
00:17:54
Speaker
Isso vai ao encontro daquilo que é a tradução do nome da letra, da música.
00:18:00
Speaker
Sim, Sukima, que é o espaço entre as coisas, ou brecha, não é?
00:18:04
Speaker
Eu também.
00:18:05
Speaker
Eu gosto.
00:18:06
Speaker
Faz-me sempre lembrar do Coen.
00:18:08
Speaker
Pela brecha entra a luz, tão bom E o espaço desta ideia também excelente, não é?
00:18:14
Speaker
O espaço entra, as coisas... O espaço é o que acontece, o espaço que é permitido
00:18:19
Speaker
Mas esta pergunta do João é muito boa, Patrícia.
00:18:24
Speaker
É verdade.
00:18:25
Speaker
Mas o João é brilhante.
00:18:27
Speaker
O João é brilhante.
00:18:29
Speaker
Para ficar como pergunta, não?
00:18:32
Speaker
Não, não, mas porque é que o elementar nos toca tanto e nos leva para a complexidade logo a seguir?
00:18:41
Speaker
Às vezes penso que se calhar estamos só em negação Ou seja, estamos sempre a encher-nos com coisas A achar que isso é salvação Podemos falar sobre coisas óbvias Tipo consumismo Ou comportamentos compulsivos Quando nós sabemos, no fundo Que o que nós precisamos é de pouco e de espaço Para poder existir Como na infância Como na infância, exatamente Mas trabalho, não é?
00:19:06
Speaker
E dói
00:19:08
Speaker
então mais fácil ir à zero a comprar roupa é o que eu disse isto e vai tocar nisto que também que foi uma das coisas que pela cadência e todo o ritmo do álbum e toda a cadência me levou para esta coisa da preservança é porque isto que tu estás a dizer é preservarça
00:19:31
Speaker
Porque trabalho, não é?
00:19:33
Speaker
trabalho vivermos com as coisas que precisávamos na infância.
00:19:41
Speaker
Mas, de facto, é a preservarança que depois nos traz os sonhos, não é?
00:19:49
Speaker
Como tu disseste, também a tua imagem mental, não é?
00:19:51
Speaker
A cadência dos degraus que vão subindo até o sangue, não é?
00:19:55
Speaker
Até o filho.
00:19:56
Speaker
Sim, sim, sim, sim.
00:19:58
Speaker
Aliás, até uma imagem mental parecida com o próprio nome dele, não é?
00:20:02
Speaker
Do Fujita.
00:20:02
Speaker
Do Fujita, com... Com os tubinhos.
00:20:04
Speaker
Com os tubinhos, exatamente.
00:20:07
Speaker
Que é tão fixe.
00:20:09
Speaker
Mas, assim... Mas é incrível, porque... É preciso mesmo a perseverança para chegarmos ao nosso lugar mais profundo, não é?

Espaço e tempo para música

00:20:27
Speaker
poder escutar isto que estamos aqui a ouvir é preciso convocar-nos porque muito rapidamente passarás à frente eventualmente também um espaço e um tempo certo mas no geral ajuda-se a houver um espaço e um tempo certo para ouvir esta música certamente não será num jantar com amigos que vais ouvir mas num espaço um pouco mais íntimo
00:20:54
Speaker
Mas olha que numa caminhada já me faria muito sentido Numa caminhada faz muito sentido Eu lembro-me que na semana em que ouvi este disco fui para Madrid E no último dia tinha de fazer o check-out do hotel ao meio-dia E tinha uma boa era às sete da tarde E passei o dia todo a caminhar pela cidade com esta faixa em repeat Nem foi o disco todo, foi mesmo tipo, ok, esta é a música
00:21:23
Speaker
E foi incrível.
00:21:23
Speaker
E sempre que oiço ainda estou em Madrid.
00:21:27
Speaker
Eu ouvi ontem.
00:21:28
Speaker
Eu ontem fui de casa até ao Saldanha a e ouvi o álbum em andamento.
00:21:34
Speaker
Foi bom, mas confesso que acho que gostei mais de ouvir em casa.
00:21:38
Speaker
Foi bom, mas eu acho que... Agora, é incrível, deixa-me contar-te uma coisa que eu disse à Patrícia...
00:21:43
Speaker
que disse logo quando tu escolheste o álbum e o pus a tocar é que a minha gata reagiu imensamente a minha gata é alta podemos andar a ouvir rock and roll o dia todo que a gata está a se alixar para a música a gata reage a este disco e aconteceu mesmo com o Maná Fondo David Silvino que foi um disco que o Bernardo Tringado escolheu e eu é que a gata fica mesmo desassossegada e a tentar perceber de onde é que o som vem
00:22:08
Speaker
ela fica

Efeito da música em animais

00:22:09
Speaker
mesmo desconcertada no espaço a correr de um lado para o outro a correr não, porque não é correr ela movimenta-se e movimenta-se com o ar atento e até com o ar aquela coisa do meio voar a caça meio estou em defesa porque eu não percebo o que é isto que está é mesmo engraçado
00:22:25
Speaker
E eu pensei, é incrível porque não é um animal e canções é que tem, ou que música é que tem este impacto nos animais.
00:22:33
Speaker
E esta Fujita tocou a minha gata.
00:22:37
Speaker
Se calhar ela partilha da minha opinião de que parece um lamento de um animal cedido, não é?
00:22:45
Speaker
E para ela também faz sentido.
00:22:47
Speaker
Incrível.
00:22:50
Speaker
Mas a associação foi excelente.
00:22:51
Speaker
Sim, eu tinha uma gata uns anos, que era a Clarice, por causa da Clarice Lispector, que tinha pavor a Morten Feldman.
00:23:00
Speaker
Sempre que eu metia a Morten Feldman a tocar, ela começava a andar super rentinho ao chão, tipo, o que é que se passa aqui?
00:23:06
Speaker
O que é que se passa aqui?
00:23:07
Speaker
E ficou com alerta.
00:23:09
Speaker
A minha gata fica mesmo alerta.
00:23:11
Speaker
Pois.
00:23:13
Speaker
Mas, ó João, é incrível, pá.
00:23:15
Speaker
Isto tudo disseste ao início e agora estamos a falar, dizer, pá,
00:23:18
Speaker
Um lamento.
00:23:19
Speaker
É incrível, porque é mesmo isso.
00:23:22
Speaker
Pois, também é uma palavra forte contra os significados, não é?
00:23:26
Speaker
Pois é. E como ao mesmo tempo, às vezes o lamento não nos leva a lado nenhum.
00:23:37
Speaker
E ao mesmo tempo, como às vezes o lamento não nos leva a lado nenhum.
00:23:41
Speaker
Porque é dizer, não deixa de ser uma respiração.
00:23:43
Speaker
E é um luto, não é?
00:23:51
Speaker
Não é contra Não é criado para ser contra Mas esta possibilidade De criares esta Bolsa de entrada de ar Faço afim, não é?
00:24:00
Speaker
Sim
00:24:02
Speaker
suspende o ferrezinho mas quantas pessoas nos dizem e acho que te acontece a ti ai Ana, não me consigo ouvir a mim mesma não me pare de lamentar venho aqui para me lamentar e é isto mas a maior parte das vezes que falta é isto é um lamentar que

Contemplação interna e complexidade pessoal

00:24:20
Speaker
não tem lamento mas as pessoas fazem isto às vezes na intimidade e depois não conseguem fazer no dia a dia corremos esse risco
00:24:30
Speaker
Por isso esta possibilidade nos inquieta.
00:24:32
Speaker
Eu quando ouvi a primeira vez, falei assim, ah, me inquieto.
00:24:34
Speaker
A primeira sensação foi de uma certa... Por conta, em vez de ser uma coisa de contemplação, o primeiro movimento foi de inquietação interna.
00:24:42
Speaker
E depois a hora que eu ouvi, é que se começou a transformar num outro lugar.
00:24:45
Speaker
Porque realmente no final, no final de cada som, eu não tinha ouvido.
00:24:49
Speaker
Estou farta de pensar sobre isto, como é que eu tinha escotomizado a parte da pomba da... Mas no final de cada som, realmente há qualquer coisa que não te deixa, apesar de te deixar, ou seja, que a nota tem valor por si própria, porque não te deixa completamente sozinho.
00:25:02
Speaker
Porque no final uma coisa qualquer que fica curva.
00:25:05
Speaker
Esse lamento que tu dizes é, de certa maneira, coisa que não é abrupta.

Jornada contínua de descoberta musical

00:25:08
Speaker
Sim.
00:25:09
Speaker
E é extraordinário.
00:25:09
Speaker
Como é que numa coisa que aparentemente seria abrupta, não é porque são os sons que se hão, mas que estão cheias de continuidade, estão cheias de gerúndio.
00:25:16
Speaker
É um gerúndio que nunca te deixa cair.
00:25:20
Speaker
É quase que se oferecesse a possibilidade de exater um lugar, tens que recolher, mas não cair.
00:25:25
Speaker
Sim, e mesmo o silêncio, quando aquela... Da forma como a nota anterior começou e como ela acabou, e um silêncio, nós já sabemos, este silêncio é uma espécie de...
00:25:35
Speaker
prelúdio à próxima nota até não haver a próxima nota portanto eu acho que essa ressignificação e essa ressignificação contínua provavelmente nunca vai passar provavelmente nunca chegas ao dia em que o mundo toca pois, eu acho que não se nos mantivermos humanos se nos mantivermos humanos bem incrível
00:26:01
Speaker
Sim, sim, diz isso outra vez, porque eu acho que essa frase faz falta agora.
00:26:05
Speaker
Se nos mantivermos humanos.

Tensão emocional na música

00:26:10
Speaker
Obrigado.
00:26:10
Speaker
Olha, eu tinha proposto não ouvirmos mais temas, mas vale a pena, porque os temas são grandes, mas eu creio que... Mas eu que apelava mesmo ao Gerúlio, não é?
00:26:20
Speaker
O que é?
00:26:20
Speaker
E qual é que vos apetece ouvir?
00:26:22
Speaker
Não tinha pensado... Tu tinhas falado numa que dava mesmo esta ideia de continuidade de Gerúlio, não é?
00:26:26
Speaker
Será logo a primeira?
00:26:27
Speaker
Sim.
00:26:29
Speaker
Não, vamos ouvir o líquido.
00:26:33
Speaker
Pode ser?
00:26:34
Speaker
Que é o Nami.
00:26:35
Speaker
Excelente.
00:26:36
Speaker
Vamos lá.
00:26:41
Speaker
Onde é que nós íamos?
00:26:42
Speaker
Que eu fiquei perdida agora Nós íamos num estado de tensão implícito Que esta música traz Pelo menos a mim trazia-me um estado de tensão Parece que é um estado de tensão que não se resolve Um estado de tensão permanente Sim, estávamos Estávamos Mas tu ias dizer qual é a tradução do nome da música Não é?
00:27:01
Speaker
É líquido É engraçado ser líquido Porque realmente a mim fez-me sentir uma coisa de tensão permanente Qualquer coisa que está Numa espécie de terror Hum
00:27:13
Speaker
Mas nós até estávamos a falar do terror aqui, pelo menos.
00:27:16
Speaker
Nos silêncios da música, no espaço entre nós.
00:27:19
Speaker
Nos espaço entre nós.
00:27:19
Speaker
É verdade.
00:27:23
Speaker
Então, agora desculpem, fiquei aqui um bocadinho perdida porque nós estávamos a ter aqui uma conversa em off.

Impacto da falta de contemplação interna

00:27:32
Speaker
sobre a desumanização na realidade sobre a desumanização e acho que diz Patrícia uma espécie de autorização atualmente uma autorização para a ação das partes mais primárias que existem dentro de nós não é primitivas primárias
00:27:53
Speaker
Não elaboradas, como se faça uma determinada circunstância, uma determinada situação, nós tivéssemos o direito de agir sem este espaço interno de contemplação.
00:28:04
Speaker
E causei este espaço de terror.
00:28:06
Speaker
É que esta música fez-me sentir-se quase uma espécie, num espaço de terror em que tu ficas, exatamente pela impossibilidade ou pela sensação de que existe, que há uma autorização, volto a dizer, uma autorização para que haja um julgamento sobre todas as coisas que acontecem sem pensamento, sem reflexão.
00:28:22
Speaker
Exatamente.
00:28:23
Speaker
E isto, a mim...
00:28:24
Speaker
Isso aniquila-me num sítio É uma aniquilação da primeira música Mas isso a mim aniquila-me num sítio Porque É isto que Volto a dizer, também estamos sempre a dizer Que é a falta destes lugares internos No outro
00:28:42
Speaker
Se focam, mas não consigo conversar com as pessoas.
00:28:45
Speaker
Nós estamos a ter dificuldade em conversar com as pessoas.
00:28:49
Speaker
Porque estamos nessa coisa linear.
00:28:51
Speaker
Porque muitas vezes é o estado líquido das coisas.
00:28:54
Speaker
Mas por acaso acho que é mais o estado de sol.
00:28:56
Speaker
por ser quase gelo.
00:28:58
Speaker
Sim, é gelo.
00:29:01
Speaker
E isto... É que as certezas de humanização desumanizam Porque ainda há bocado eu me perguntava Então como é que se humaniza mais?
00:29:08
Speaker
Claro

Importância da maturidade em adultos

00:29:10
Speaker
que não nos vamos pôr aqui a dizer o que é que se tem que fazer com os bebés E o que é que não se tem que fazer com os bebés Mas também no outro dia Alguém me dizia, num ciclo de cinema de psicanálise Alguém dizia, mas como é que humanizamos estas pessoas?
00:29:25
Speaker
Porque as pessoas que estão mais desumanizadas
00:29:29
Speaker
unem-se para fazer coisas e nós não nos unimos para humanizar eu acho que nós nos unimos, nos fundimos exatamente, que é outra coisa mas a minha pergunta é como é que tu falas com bebês
00:29:47
Speaker
Como é que tu falas com bebês Com uma forma adulta Sim Beber com dentes adultas Exato, não é?
00:29:57
Speaker
Porque é o que eu costumo dizer A maturidade, eu digo isto nas aulas A maturidade Na infância É uma oportunidade Desculpem, a imaturidade na infância É uma oportunidade de crescimento Na adultice é uma arma de arremesso Boa, espera que essa frase Vou registá-la, está muito boa
00:30:17
Speaker
Eu digo sempre nas aulas, nas aulas que às vezes dou contigo, tu me ouviste a dizer isto.
00:30:23
Speaker
É muito boa.
00:30:24
Speaker
Repete-a, repete-a.
00:30:25
Speaker
Que é isto?
00:30:26
Speaker
A imaturidade na infância é uma oportunidade de crescimento, na adultícia é uma arma de arremesso.
00:30:34
Speaker
Pá, nessa é brilhante.
00:30:35
Speaker
Acondensaste tudo nessa forma.
00:30:36
Speaker
Acho que podemos arrumar isto.
00:30:39
Speaker
Ainda por cima acontece uma coisa que eu acho que caiu nisto de chamar imaturas às pessoas ou a alguém específico que não interessa.
00:30:50
Speaker
E disto ficaram para a sã.
00:30:51
Speaker
E não é uma coisa séria.
00:30:53
Speaker
É uma coisa séria.
00:30:54
Speaker
Uma coisa mesmo séria.
00:30:57
Speaker
Nós estamos constantemente a ser atacados por adultos que são bebés.
00:31:02
Speaker
Constantemente e não conseguimos... E para a gente são bebés, mas são bebés em sufraguidão da ausência, não é?
00:31:07
Speaker
Exatamente.
00:31:07
Speaker
Se fossem bebés bem nutridos, mas são bebés em sufraguidão da ausência.
00:31:11
Speaker
Exatamente.
00:31:13
Speaker
É o bebê tirano em vez de ser o bebê filósofo, não é?
00:31:16
Speaker
E deixas de ter paridade, não é?
00:31:18
Speaker
E as pessoas sugam-te vampirescamente.
00:31:21
Speaker
Sim.
00:31:21
Speaker
Eu estou muito cansada disto.
00:31:23
Speaker
Muito, muito cansada.
00:31:25
Speaker
Mesmo sendo psicanalista e passamos o dia nestas coisas, mas... É precisamente isso, não é?
00:31:30
Speaker
Porque é preciso estar todos os dias a transformar a linearidade numa equação de complexidade, não é?
00:31:37
Speaker
A toda hora.
00:31:38
Speaker
Sim.
00:31:39
Speaker
Mas...
00:31:42
Speaker
Fazemos isto no nosso dia-a-dia de manhã, em todos os lugares.
00:31:48
Speaker
É como dizia a outra pessoa.
00:31:50
Speaker
Eu acho que se a psicanálise nos pode dar alguma coisa verdadeiramente

Psicanálise e pensamento complexo

00:31:53
Speaker
é isto.
00:31:53
Speaker
É esta noção de que temos de estar permanentemente a perceber quais são os momentos em que deixamos de ter capacidade de não agir de forma primária.
00:32:02
Speaker
O momento em que passamos a agir de forma primária é que não mentalizamos.
00:32:05
Speaker
Se a psicanálise nos alguma coisa é isto.
00:32:07
Speaker
Por a complexidade onde estás a ser ligada.
00:32:09
Speaker
que estavas a dizer bocado de ser permitido esse comportamento primário, mais do que isso parece que é incentivado.
00:32:18
Speaker
Incentivado, exatamente.
00:32:19
Speaker
Que isso é que me preocupa mais, porque ser permitido muitas vezes pode ser só...
00:32:25
Speaker
De uma forma paternalista ou não, coitadinho, não para mais.
00:32:30
Speaker
Mas o ser incentivado é também desaparecer essa figura paterna que faria esse paternalismo e é outro bebê a ter esse paternalismo consigo mesmo.
00:32:43
Speaker
Não, isto não pode ser como temos de fazer e é o único caminho.
00:32:46
Speaker
Isso é um problema.
00:32:48
Speaker
Absolutamente, porque tu
00:32:51
Speaker
Portanto, levam sempre a uma atitude fascista da mente na relação com os outros.
00:32:55
Speaker
Exatamente.
00:32:56
Speaker
Atitude fascista da mente.
00:32:57
Speaker
Repete lá.
00:33:00
Speaker
É verdade, é exatamente isso.
00:33:02
Speaker
E retirando saúde, não é?
00:33:03
Speaker
Porque a saúde está na alternativa sempre.
00:33:05
Speaker
A saúde está na liberdade e está na possibilidade de escolha.
00:33:09
Speaker
E nesta ressignificação, por meio que a primeira música era, traz esse lugar sempre, não é?
00:33:13
Speaker
Todos os sítios podem ressignificar permanentemente.
00:33:15
Speaker
Nunca se fecham, nunca se encerram.
00:33:16
Speaker
A partir do momento em que os encerras, perdeste completamente o sítio.
00:33:19
Speaker
Sim.
00:33:19
Speaker
Portanto, não estás a lutar por nada.
00:33:21
Speaker
É o Gerundio que tu falavas.
00:33:23
Speaker
É o Gerundio.
00:33:23
Speaker
Adorado.
00:33:24
Speaker
Não é a música do Gerundio.
00:33:25
Speaker
Mas uma outra cama que quer dizer...
00:33:27
Speaker
Não, não, tu é que falaste nos... Não, isto nos foi a partir do... As músicas do álbum, uma que tu disseste qualquer coisa, uma que remeteia para isso, não?
00:33:37
Speaker
Não, não, é o nome do álbum.
00:33:39
Speaker
É o nome?
00:33:39
Speaker
Ah!
00:33:39
Speaker
Traduzida a letra é Hindu.
00:33:41
Speaker
Hindu.
00:33:42
Speaker
Hindu.
00:33:43
Speaker
De... Caminhando.
00:33:45
Speaker
Hindu.
00:33:45
Speaker
Vamos, Hindu.
00:33:46
Speaker
Que introduz.
00:33:49
Speaker
este sítio de contemplação, garantes ou tentas garantir que consegues ir numa escuta mais cuidadosa daquilo que está à tua volta se perdes o sítio de contemplação estás em intoxicação por meio em relação a essa ideia de haver uma alternativa que estavas a dizer que aquilo que nos uma sensação de crescimento ou de ser é poder haver uma alternativa faz-me lembrar
00:34:18
Speaker
uns anos eu era uma pessoa que não escolhia as batalhas coletada.

Alternativas e crescimento pessoal

00:34:23
Speaker
E todas.
00:34:24
Speaker
E depois... E se calhar tem muito a ver com este episódio que eu vou contar.
00:34:32
Speaker
Que eu tocava numa banda e havia sempre conflitos, ou com editoras, ou com agências, que é uma coisa que geralmente acontece.
00:34:43
Speaker
Eu não escolhi as batalhas nessa altura, então ia full on, tipo, bora.
00:34:48
Speaker
Pegava na minha armadura todas as armas que tinha em casa, ele e eu.
00:34:53
Speaker
E um bom dia em que um pianista desta banda me disse uma coisa.
00:34:56
Speaker
porque me veio a ler A Arte da Guerra do Lao Tzu ele disse pá, João tu leste A Arte da Guerra tu tens de perceber que se fazes um ataque tens de deixar pelo menos um ponto de fuga ao adversário e que tu sabes qual é ao adversário porque tu sabes qual é é tipo tu encurralas mas deixas um ponto de fuga portanto se ele tentar fugir tu sabes onde é que ele está e apanhas
00:35:23
Speaker
não estás a encurralar uma pessoa e a ficar sem noção de qual é que vai ser a resposta desta pessoa.
00:35:29
Speaker
Porque aqui tu tens um passo à frente, não é?
00:35:31
Speaker
Estás a encurralar a pessoa, deixas um lugarzinho.
00:35:35
Speaker
E isto é no nosso pensamento também, acho eu.
00:35:38
Speaker
Acho que nós não conseguimos...
00:35:40
Speaker
coexistir connosco próprios sem ideia de possibilidade de haver uma alternativa isso é super importante podem chamar-lhe esperança não sei qual é que será o termo esperança esperança serve eu gosto muito é isso eu chamo-lhe ideia de possibilidade sim possibilidade é uma morte lenta é uma agonia
00:36:08
Speaker
Sim, é um círculo fechado e tu estás dentro.
00:36:10
Speaker
Sim, um círculo fechado é uma agonia, mesmo.
00:36:13
Speaker
Parece que a gente precisa de querer impor a morte aos outros, não é?
00:36:15
Speaker
Exato.
00:36:17
Speaker
E que eu acho que nos está a acontecer um bocadinho.

Desafios de manter a complexidade

00:36:21
Speaker
Porque, de facto, acho que sobre isto que temos estado aqui a pensar, creio que temos vindo a sentir mais impotência, não é?
00:36:31
Speaker
E estamos nesse lugar, não é?
00:36:33
Speaker
Ou seja, a complexidade neste momento está num lugar de agonia que é horrível.
00:36:37
Speaker
Está, porque uma hipercognição permanente.
00:36:39
Speaker
Claro.
00:36:40
Speaker
E este é o problema.
00:36:41
Speaker
Sim, sim.
00:36:42
Speaker
Há uma cognição racionalizada tremenda que esconde coisas altamente perversas.
00:36:47
Speaker
Parece que estão a favor do bem.
00:36:49
Speaker
Aliás, nós sabemos que o pior dos perversos é o que está a favor do bem.
00:36:51
Speaker
Claro.
00:36:53
Speaker
com esses que temos que ter mesmo muito cuidado são mais visíveis agora a perversidade que aparece com a mascarada de banho é bastante perigosa estamos cheios de lobos disfarçados de cordeiro estamos cheios de lobos disfarçados de cordeiro é isso mesmo com poucas casas mais membranas
00:37:16
Speaker
não, não, não ia dizer nada eu estava aqui a ver que apesar de estar a custar muito a conversa está na nossa hora sim, podíamos continuar por mais 15 horas sim, mas eu ia-te perguntar João, se te apetece dizer mais alguma coisa assim, em conclusão desta última parte da conversa eu gostava que as pessoas pensassem um bocado antes de
00:37:47
Speaker
de reagir, ou seja, que não reagissem, mas que agissem, que não fossem vítimas do eu animal que somos, mas que também usassem um bocadinho do nós humanos que somos.
00:38:05
Speaker
Ou seja, nós temos a hipótese de não reagir, de não sermos vítimas da reação.
00:38:13
Speaker
Basicamente é isso.
00:38:15
Speaker
Acho que isso é importantíssimo, é ser mesmo o povo.
00:38:17
Speaker
Sim.
00:38:18
Speaker
Não sermos vítimas da reação.
00:38:20
Speaker
Sim, não sermos vítimas da reação.
00:38:21
Speaker
E isto vale para tudo.
00:38:22
Speaker
Vale para relações interpessoais, vale para... Laborais.
00:38:27
Speaker
Laborais, boletim de voto, tudo.
00:38:29
Speaker
Mas isto tu disseste, é incrível porque é isto, não é?
00:38:31
Speaker
Porque faça um desconhecido interno.
00:38:34
Speaker
Se tu pegas, usando a mesma palavra, uma crença cognitiva, um pensamento, mas que é completamente deslocado, daquilo que não estás a ser capaz de dar significado, mas se arranjas uma cognição qualquer, que ainda para mais que eu dizia bocadinho e tu ainda reformulaste

Ação refletida vs. reação instintiva

00:38:49
Speaker
melhor, mas com esta ideia de que socialmente consentia, não é como se canalizasses todo um sítio que é de ódio e de morte a favor de um lugar que na realidade vais aniquilar.
00:38:58
Speaker
não vais nada fazer espanhol e isso acontece na relação diária mas acontece em lutas perubriais que satisfam-se ideais à custa disso dizem sim, vamos fazer um esforço
00:39:10
Speaker
Espetivam-se pessoas.
00:39:11
Speaker
Espetivam-se pessoas.
00:39:12
Speaker
Espetivam-se pessoas.
00:39:14
Speaker
Espetivam-se pessoas.
00:39:16
Speaker
João, muito obrigada por ter estado aqui connosco hoje.
00:39:21
Speaker
Foi um gosto.
00:39:22
Speaker
Gostei mesmo de estar contigo.
00:39:23
Speaker
Já era uma coisa que era para ter acontecido.
00:39:27
Speaker
Quero agradecer à Carolina, que esteve aqui a fazer o som.
00:39:31
Speaker
Quero agradecer ao Rogério e ao César que nos têm estado aqui a aturar nesta sala.
00:39:37
Speaker
Quero vos dizer que a voz do Gingale e da Joana Bernardo, que o material é da Climepsia Editores.
00:39:47
Speaker
Quero agradecer à Patrícia Câmara, que está aqui também sentada.
00:39:49
Speaker
É um prazer que eu me desce de volta.
00:39:52
Speaker
À Casa do Comum e ao Miguel Ribeiro.
00:39:57
Speaker
A canção do nosso single é dos Dirty Mac e da Yoko Ono, que é mesmo nice.
00:40:04
Speaker
Eu sou a Ana Teresa Sanganha e estamos de volta para o mês que vem.
00:40:07
Speaker
Até lá.