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191 Plays6 months ago

Bruno Henriques, Professor e investigator.

Transcript

A Nostalgia e a Jornada de Volta ao Lar

00:00:10
Speaker
Três divãs, a psicanálise, o mundo e o rock'n'roll.
00:00:24
Speaker
O lugar, às vezes, está todo na temperatura. Poderia ser outro. Não fosse a temperatura a reiterar que é aquele mesmo. É por isso que gosto tanto do sótavento algarvio. A sensação de chegar à casa depois de se deixar casa para trás.
00:00:42
Speaker
a reminiscência do lugar da primeira memória sublinhado pelo sopro do vento suão.

Influência das Experiências de Infância

00:00:50
Speaker
Num outro tempo, transportávamos-nos de um ponto para o outro ponto distante, para descansar. Transportávamos-nos de casa para casa para estar ainda mais perto da terra-mãe, o sítio de onde sopro quente. E o que era uma evasão é hoje um mergulho. Ou seria um mergulho evasivo?
00:01:14
Speaker
O que se passa na infância não fica na infância. A viagem. Saímos à procura de um encontro para regressar. Saímos de casa à procura de casa para voltar a casa. Uma vida ou uma história. Ou uma impossibilidade de estar na vida. Então, o que sou eu? Mal ou bom?

O Poder da Música nas Emoções e Viagens

00:01:42
Speaker
O disco de hoje leva-nos num caminho, um itinerário até ao DNA da tristeza, o lugar que agora é apagado pelo deserto, literalmente e metaforicamente. Vai mas volta, peço-lhe sempre eu, é no lugar da partilha que tudo acontece.

Introdução de Bruno Henriquez e Suas Aventuras

00:02:05
Speaker
Talking Timbuktu, de Ali Farkaturei e Ray Kudler, é o disco escolhido por Bruno Henriquez, o convidado de hoje, três divãs, aqui na Casa do Comum, para conversar comigo e com a Patrícia Câmara. Olá, Bruno. Sejas bem-vindo. Tens a palavra.
00:02:31
Speaker
Fiquei um bocadinho sem palavras com essa introdução. Começamos logo aqui por uma viagem para sul. Sempre assim que começam as viagens, pelo menos as minhas.
00:02:42
Speaker
É muito divertido, porque eu acho que desde muito cedo as pessoas sempre organizaram as suas viagens, sempre se nortearam. Ou a bússola, a própria bússola indica para norte. E eu sempre segui o caminho oposto. E é uma coisa que sempre me divertiu muito. O Sul é sempre muito mais divertido. E começou, quer dizer, começou muito antes disso, mas a parte mais divertida foi a primeira viagem em Marrocos.
00:03:08
Speaker
Gostava com os amigos, tínhamos falado uma coisa assim um bocadinho no ar e ninguém sabia muito bem como é que podia fazer aquilo. Depois a viagem borregou.
00:03:19
Speaker
E, de repente, dei comigo a pensar, bom, como é que vamos fazer isto? E no ano a seguir, eu no autocarro lembrei, vamos ao autocarro para Marrocos. E liguei-lhes para casa e disse, pá, acordem, vão tirar o passaporte e vamos para Marrocos para te guida com as mãos. E foi a primeira viagem em Marrocos. Lisboa, Algeciras, chegámos a Algeciras, comprámos os bilhetes aos marroquinos e aquilo foi logo um filme e chegámos a Tanger ao 1 da manhã.
00:03:44
Speaker
o pior momento de viagem que eu tive durante dez anos da minha vida. Não voltei a tanger durante dez anos. Fui a Marrocos várias vezes e contornava sempre tanger. E aquilo que me divertia era precisamente isso. Aquilo foi tão intenso, tão brutal, porque não se podia confiar em ninguém. Não se podia confiar nos policias, não se podia confiar nas crianças, nos velhos, nos pedintes. E vás-te a trazer um garrinho de massa de tabaco, olha para um miúdo e diz-se, eu dou-te este massa de tabaco e tu levas mais na sala

Desafios e Fascínios do Deserto

00:04:10
Speaker
do teu carro.
00:04:11
Speaker
e daí para frente a viagem foi brutal. O mundo passou a ter outra dimensão, a paisagem europeia tinha desaparecido, tinha ficado para trás, as paisagens começam a ter uma dimensão muito maior e nós não sobrevivemos ali.
00:04:25
Speaker
Nessa viagem, como a maioria das pessoas, isto foi para uma viagem em 99, 2000, e nessa altura havia o grande fascínio de ir ao deserto, não é? Como a maioria das pessoas, se calhar bem a Marrocos, quer dizer hoje em dia não, Marrakech é outra coisa, mas na altura, sim, o deserto. E lembro-me perfeitamente a minha primeira noite do deserto, que foi brutal. Quer dizer, mais ou menos, porque fizemos três horas de Camilo para chegar ao deserto.
00:04:54
Speaker
E foi uma cena insuportável. Mas de repente acordar no deserto outro dia de manhã compensou tudo aquilo. A partir daí, os regressos ao deserto tornavam-se uma coisa comum e voltei várias vezes em vários sítios diferentes. E tem um bocadinho a ver com isso. Mas eu acho que antes disso tem a ver com a coisa da infância e tem a ver com o sítio onde nós nos encontramos, quando nos começamos a identificar.
00:05:21
Speaker
E, antes de continuar esta conversa, gostava de vos perguntar uma coisa. Vais virar isto ao contrário? Não, não. Isto é uma coisa muito interessante para mim. Chuta. Quando eu era criança, havia aquela pergunta como o que tu queres ser quando fostes grande? Sim? O que é que vocês queriam ser quando vos perguntavam isso? Quando era para passar a resposta? Quando eu era pequenina. Sabes que eu nunca cresci. O meu também é quase o mesmo. Eu tenho sete anos de idade mental.
00:05:52
Speaker
Desculpem, eu tenho 90. É tudo que isso de cartão, de infantil. 90 dias. 9 meses.
00:06:05
Speaker
Mas o que é que tu querias ser? Tudo o que eu sou é mesmo estranho. Quando eu era pequena, o meu sonho era ser professora. Depois era escrever. Depois era conversar com as pessoas. me falta um. Também queria ser realizadora. Está quase, Patrícia. Está quase. Mas ainda assim faço filmes.
00:06:28
Speaker
Eu adoro ver filmes dos outros. Eu nunca vou ser a que eu queria ser. O que é que tu querias ser? Mas o mais incrível é eu ter agora uma referência que é o Oprah Winfrey. Tu? É isto não, mas isto é muito bom, porque é assim, eu queria ser professora de dança. Eu nunca vou ser professora de dança. és? Eu nunca vou ser professora de dança, era o que eu queria ser. E depois é espetacular. Porque? Um dia estava eu em casa
00:06:58
Speaker
E estava a ouvir o George Michael. Imagina, estava a ouvir o George Michael. Música. Father figure. Pá, que aquilo é uma cena tão brutal. E de repente eu olho para a televisão e está a Oprah Winfrey a dizer assim, tudo o creme cheiro aos 50 é o creme cheiro agora. Exatamente. E ela está a dizer isto, eu estou a ouvir o Father figure do George Michael e a pensar. Tudo certo.
00:07:26
Speaker
Agora ouçam o Father Figure e pensam em o que é que eu poderei ser hoje, que era aos 5. Basta o nome da música. Não é um Patrício, porque é muito marota. E agora, o que é que tu fazes com isto? Não, e o que eu faço com isto é o seguinte, quando fazia essa pergunta os meninos queriam ser, não sei lá,
00:07:50
Speaker
polícias, jogadores de futebol, as meninas que criaram, queriam ser escritoras, professoras, clubeireiras. Eu tinha uma coisa estranha, porque, então, dos primeiros anos que eu tenho memória, nós crescemos num mundo em que havia muitos conflitos. E o telejornal tinha imensa informação sobre conflitos em África, no Medio Oriente, e nós todos os dias, sem que se ligava a televisão em casa, no telejornal vinham essas notícias. E eu olhava para aquilo de uma forma muito... porque ele tocava-me.
00:08:19
Speaker
Sabia muito bem como. E aquilo que eu queria quando me perguntava, eu quero ser repórter de guerra. Era a coisa que eu queria ser quando era miúdo. Nunca fui isso. Aliás, nunca fui isso. Foi várias outras coisas.

Trajetória Profissional e Exploração Pessoal de Bruno

00:08:33
Speaker
Eu sou formado em arquitetura. Fiz arquitetura durante 10 anos. Depois comecei a fazer investigação. A investigação continua ligar a investigação à arquitetura.
00:08:43
Speaker
a construção virtual dos teatros desaparecidos na cidade de Lisboa, para localizar aqui um bocadinho o que aconteceu. Depois disso... Dos teatros desaparecidos? Sim, dos teatros desaparecidos. vários teatros que desapareceram da cidade de Lisboa. Por exemplo? Bom, o Pátio das Arcas, que desapareceu com o terramoto. para sujeitar aqui um bocadinho, que toda a gente sabe, o edifício da Pollux, foi construído para ser um teatro.
00:09:07
Speaker
Mesmo não sabia? Sim, era o Teatro da Fernanda. Depois foi a Fábrica de Papel do Prado, depois o Hotel Pelican, onde ficou o Basílio do Bessa de Queiroz, quando veio visitar a priminha. Verso da Father Figure. Sim, Father Figure, novamente. E vocês não se sabem? A intenção que não é o disco escolhido. Não, a gente vai. E depois agora também tenho de dizer, lembrai-me disto, porque eu cinco anos indulatrava ainda hoje o George Michael.
00:09:33
Speaker
Mas agora a propósito do Essas de Queiroz, porque eu esqueci-me de vos contar isto. O Essas de Queiroz, este podcast vai sair, hoje é dia 14 de dezembro, antes do Natal, este podcast vai sair dia 1 de dezembro e dia 5... Dia 1 de dezembro ou dia 1 de dezembro? Desculpem, dia 1 de de janeiro. E dia 6 de janeiro... Não é que... Eu ainda não te contei isto. Dia 6 de janeiro o Essas de Queiroz vai para o Panteão. Aham.
00:10:00
Speaker
Dia dos Reis, para vocês saberem. Aliás, não é logo dia 6, eu acho que ele vem dia 8 e o dia 6 vai ser velado.
00:10:09
Speaker
em cima, na terra dele, que eu não sei o nome. Não me lembro agora também, mas não interessa. Mas é um dos melhores autores que nós temos. Távamos aqui profissões. Então, eu queria ser repórter de guerra e depois não fui nada disso. E, às vezes, bom... Para quem não sabe, eu trabalho no incógnito. Portanto, os horários multiplicam-se e tem uma sequência, às vezes, difícil. E, às vezes, chega a casa, acho que da manhã, depois de fechar o incógnito,
00:10:39
Speaker
Eu tenho uma fotografia em casa, e é uma fotografia minha de miúdo, não sei porque eu acho muito pior aquela fotografia. Às vezes fico a olhar para ela e digo, o que é que tu estás a fazer? Isso ainda faz sentido. E que eu tenho ali um diálogo interior com aquela fotografia e sim, que é que a coisa continua a fazer sentido. Porque tem a ver com a necessidade de...
00:10:59
Speaker
De um lado, um pouco intelectual, continuares a desenvolver o trabalho que tu começaste a prescriver para a tua vida ou começaste a desenvolver na tua vida enquanto estudante. E depois tem a ver com uma necessidade incrível de viver, que é de dar prazer às outras pessoas. E a parte incógnita tem um pouquinho a ver com isso, dar prazer às pessoas quando elas vão sair à noite e porque elas te divertam. Depois, outra parte que é a pergunta, nós somos aquilo que fazemos ou somos aquilo que gostávamos de estar a fazer?
00:11:32
Speaker
Eu costumo dizer, às vezes, na brincadeira, que a única coisa que eu sei fazer bem na vida é viajar. Porque é a única coisa onde eu me sinto realmente muito bem.

A Solidão e a Introspecção nas Viagens de Bruno

00:11:42
Speaker
E, sobretudo, como iniciaste a conversa, novamente, para o sul, nas grandes paisagens e nas grandes dragófias. E é muito impressionante como tu te encontras e como encontras lugares entre ti que nunca tiveste a oportunidade de se entrar.
00:11:56
Speaker
Eu lembro-me, aliás, o disco escolhido tem a ver um bocadinho com esta viagem. Não é uma viagem iniciática, eu viajava muitos anos quando vi essa viagem, mas em 2014 eu acabei o mestrado e estava hiper cansado. E defendi a tese para ir no dia 3, numa sexta-feira.
00:12:14
Speaker
trabalhei no encontro e no dia 6 acarrei na mota e comecei a viajar e tive uma descineira Dakar. Porque tinha esta coisa de miúdo, Paris-Dakar, as viagens dos grandes heróis da minha infância e fui eu, peguei na mota, Dakar. Bem, ninguém sabia disto. E foi muito engraçado porque havia uma parte de Marrocos que eu conhecia muito bem e de repente cheguei a Tantan, Tantan Plaza, que era o sítio
00:12:44
Speaker
a partir do qual eu não conhecia nada, conhecia apenas o cheiro que me vinha do Sul.
00:12:51
Speaker
e domino daqueles hotéis de beira de estrada em África, que não é uma coisa muito apetecível, mas também não grandes opções. E lembro-me de ter chegado tarde, de deixar-me guardar a moto dentro do áterio do hotel, tipo, impecáveis, e deitar-me ouvir as famílias nos quartos ao lado e perceber que eles são famílias que estão, por exemplo, aos mercados o dia a seguir, ou que, se calhar, estão a possuir um futuro melhor na Europa, não me interessa. São outras conversas.
00:13:16
Speaker
E no dia a sair acordei e fiz uma viagem de Tantan a Dar-la, que é no sul de Marrocos, e são para pouco mais de 900 km. E é um dia inteiro que passar dentro de um capacete. E durante muitas horas. E eu sempre acho que da manhã é importante aquela coisa lindíssima de nascer do sol, que nós contamos na cidade às vezes perdemos muitas vezes. E ali estávamos em nascer do sol, entre o mar e o deserto, os dois ambientes onde tu não podes viver.
00:13:45
Speaker
É uma viagem incrível. Lembro-me daquele dia, eu acho que cantei, sorri, chorei, falei comigo próprio várias vezes. E, portanto, tu vais encontrando vários sírios dentro de ti e vais percebendo, se não, que lugar é que tu ocupas, porque nós não temos que falar de nenhum, mas perguntes qual é o nosso lugar dentro de nós. E eu acho que isso é a coisa importante na viagem, ou pelo menos eu viajo dessa forma, uma coisa de um outro. Ok.
00:14:15
Speaker
Qual é o nosso lugar dentro de nós? Tem que ficar speechless. Agora, antes de irmos lá. Não, a gente vai. Por que este disco? Porque, pronto, agora com essa descrição toda e com essa tua história, eu imagino que este disco, que foi para que me levou, eu imagino que a ti também te leva um bocadinho. Por que o Talking Timbuktu?
00:14:40
Speaker
Então, eu acho que isto, eu não sei se devo dizer isto aqui, mas não é ilegal ter os headphones dentro do capacete e estares a ouvir música enquanto conduzes, mas quero dizer, uma viagem no Sahara Ocidental, onde não ninguém na estrada, durante 900 km, eu acho que posso por os headphones. E esse foi o álbum que Henry Pitt tocou, se calhar não o dia todo, mas tocou com mais frequência e lembro-me perfeitamente
00:15:09
Speaker
A coisa da viagem, além do álbum, mas ao ver com as memórias que o teu corpo guarda, desde o acordar cedo, desde o parar, porque as primeiras impressões do nascer do sol, o aumento da temperatura, o cheiro do ar, o cheiro da maresia do lado, o cheiro do deserto do outro.
00:15:28
Speaker
de repente esse álbum que eu conhecia anos anteriores, de repente ali tinha a minha sentida, era a banda sonora perfeita para aquela viagem. Aliás, foi a banda sonora perfeita para outras viagens a seguir e continua a ser uma banda sonora para vários momentos ainda na cidade de Lesbó mas tem a ver com isso, tem a ver com esse encontro entre a paisagem
00:15:52
Speaker
entre a paisagem, entre o mar e o deserto. São dois ambientos onde nós não podemos viver. Por exemplo, isso é muito importante. Às vezes as pessoas não pensam sobre isso. Nós vivemos na Europa. Somos peregrinos, vamos imaginar. Vamos ver aqui a Fátima, uma coisa que algumas pessoas fazem. Nós chegamos e fizemos Lisboa, Vila Franca de Chira. Vila Franca de Chira carregado. E continuamos por aí. E sempre cidades de 20 ou 30 km a 30 km. Quando tu vende, quando tu começas a viajar no norte de África, quando tu começas a viajar em África, às vezes assim.
00:16:20
Speaker
Às vezes numa cidade, nessas distâncias, tu não sobrevives ali no meio. Não podes parar a meio do caminho.

Superação de Desafios em Ambientes Inóspitos

00:16:28
Speaker
Tu sobrevives ali no meio. Na rock ainda é relativamente fácil, mas quando entramos na Mauritânia, por termos esta noção, foi o primeiro.
00:16:42
Speaker
Para arranjar o Atalasca, que é moeda na Mauritânia, temos que ir ao mercado negro. O Atalasca. estava por o Arrasca no meio. É moeda na Mauritânia e não se vende nos bancos. Portanto, tens de ir ao mercado negro de Darla para comprar. Tens de confiar em alguém.
00:17:05
Speaker
E de repente, chegas à Moritânia e tens 700km entre no Adibu e no Axiote. A minha moto até tem uma autonomia de 350km. Portanto, pode ser ali onde é que é uma coisa que te sabe, mas... Tu sabes, tu estás muito dependente das coisas que estão a acontecer. A viagem torna-se muito... Tu podes... Não moves ali. Porque as pessoas que vivem nos Aéreos estão sempre conto umas das outras. E tomam conta de ti também.
00:17:33
Speaker
Peraí, essa frase é ótima, mesmo metaforicamente. Estas pessoas no deserto tomam sempre contas. Moas das outras. Esta frase é outra. É ótima, mas... Desculpem interromper, mas tem... Não, mas é absolutamente incrível. Aliás, é a única forma de sobreviver ao deserto. É a única forma de sobreviver ao deserto. Metafórico. Estamos a falar do metafório, porque eu não tenho a certeza se este
00:17:54
Speaker
Mas eu não tenho a certeza se no deserto metafórico de agora nós sobrevivemos. Ah, isso é diferente. No deserto metafórico de agora não metáfora. Por isso mesmo, não é? Ou seja, voltamos ao literal. Mas no literal as pessoas ajudam-se, percebes? O literal que ele está a falar... Olha como ele se diverte depois de nos a falar. É a segunda vez que ele faz isto. Não sei se está a ver. Está a inverter isto. Eu faço sempre isto.
00:18:19
Speaker
Tens que ver mais vezes. Quem diz a verdade não merece castigo. É absolutamente. Agora, mas é isto, não é? Ele está a falar de uma coisa ou Bruno está a falar de uma coisa literal que metaforicamente não sobrevive agora. Não é? Pensa. Tens que dizer outra vez.
00:18:35
Speaker
O Bruno está a falar de uma coisa literal que aparentemente, que metaforicamente, deveria ser isso também, mas não é. Não acontece hoje em dia. Tu no deserto metafórico não sobrevives, porque o outro não te ajuda. Exatamente. Agora, no deserto real, tu sobrevives. Não, mas podes não sobreviver. Claro. A referência não é o deserto, é o outro no deserto, te ajuda ou não.
00:19:00
Speaker
E a experiência que tu tens é que no deserto ninguém deixa morrer ninguém. Mas no deserto metafórico hoje deixam. Mas sem ver com a experiência de vida das pessoas, daquilo que nós estamos a dizer. É muito fácil tu sobreviveres num ambiente onde...
00:19:16
Speaker
Estava a dizer, as cidades têm distâncias de 20, 30 km, tu consegues procurar isso. Quando tu sabes que a minha moeda que não tem autonomia para fazer aquilo que se ficasse sem gasolina, não sei se vai parar ali alguém, eu não sei se vai, normalmente, porque é uma coisa que acontece muito e é curioso.
00:19:35
Speaker
Deixamos-nos dizer disso, mas é que isso é metafórico mesmo. É brilhante. Isso é genial. Porque se nós pensamos qual é o espaço de autonomia que cada um de nós consegue suportar, no caminho, não é? Qual é o caminho máximo que tu consegues fazer com a gasolina? E é 355 quilômetros, no caso. Com a gasolina relacional que trazes dentro. E depois pior ainda, então, além disso, agora mesmo no plano físico, tu fazes no axote para...
00:20:04
Speaker
que é uma região ainda mais no interior da Mauritânia e são mais de 600 ou 700 quilômetros. E tu tens que comprar gasolina no meio. Mas não uma bomba de gasolina. Tu encontras imensas bombas de diesel, mas não gasolina. Tu tens que comprar gasolina a privados. E tu não sabes que estás a comprar gasolina. Eu não sou um perito em gasolina.
00:20:25
Speaker
E como tem que confiar? Confio que aquelas pessoas que vivem no deserto, ninguém vai deixar-me coer. Tanto eles que vendem gasolina. Portanto, tu compras aquilo e aquilo funciona. E é espetacular. Tu crias esta empatia, esta confiança com pessoas que tu nunca viste na vida. No deserto. Nunca viste na vida. Mas tu estás a ver. Tu estás a ver a cena. É porque até a mais...
00:20:50
Speaker
a pessoa mais autónoma do mundo. Precisa de gasolina? Não, não é precisar de gasolina. É acreditar que vai haver um outro que o vai salvar. Ou seja, tu mesmo no sítio mais árido de todos, a tua esperança não morre.
00:21:05
Speaker
E é que vive a minha esperança, percebes? É que no sítio mais árido de todos, que é este, o devaneio desta coisa toda que nós estamos a ver é que tem como fundo a esperança da salvação, de que na aridez venha alguém que te salve. E é por isso que eles nunca, nunca, nunca vão ganhar. Eles, os tipos que acham que... Que a humanidade sobrevive-se à humanidade. Que a humanidade sobrevive-se à humanidade, exatamente.
00:21:36
Speaker
Agora, se não estivéssemos aqui, podíamos brindar? Não, nós podemos brindar. Mas eu, se calhar, vou cortar o pior Bruno. Eu não sei o que o Bruno diga. Eu quero mesmo dizer isto. Ias dizer uma coisa que querias mesmo dizer ou nós podemos abrir uma canção. E deixámos-lo sem dizer a coisa que querias mesmo dizer. Mas eu não sei, porque eu não sei. Qual é a coisa que querias mesmo dizer? Nós interrompemos. Não, ele fez-nos interromper. O cupé todo a dia.
00:22:00
Speaker
Ias dizer alguma coisa que era fundamental? Estamos numa sociedade mercantil, não é? Mercantil é um eufomismo já. No sentido de mercadoria. Chegas à Drara e a Drara é uma sociedade muito no interior do deserto e, de repente, eu queria visitar o Richat, que é uma formação rochosa totalmente espantante.
00:22:28
Speaker
Eu não tenho noção das distâncias, mas imagina 380km para dentro a dar a ir. Não estrada ao Catuada. Tens que ir por pistas e vais passar uns dias em Shingeti, que é uma cidade muito no anterior. Depois fui para Udán e Udán fica a 80km de recheado. E em Udán eu precisava de gasolina, claro.
00:22:48
Speaker
enormemente, todas comprar gasolina privadas. E foi muito engraçado, porque eu cheguei, parei a moto à frente da casa do tipo, que me dizia, eu venho a gasolina e ele estava com os amigos todos. Eu entrei e disse-lhe, em francês, eu disse-lhe, olha, eu quero comprar gasolina e ele começa a pedir um preço exorbitante pela gasolina exorbitante. Era assim tanto, mas percebi que era inflacionado. E de repente, entra o amigo dele pela casa e diz-lhe, quem é aquela moto?
00:23:17
Speaker
E de repente houve uma reunião daqueles homens mais velhos que foram. E de repente a minha conversa com a pessoa que me estava vendo a gasolina foi completamente diferente.
00:23:34
Speaker
Foi muito bom. O preço estabeleceu-se num... um encontro de pessoas que se reconhecem, que se identificam, e que eu acho espetacular quando tu viajas por sítios que à perdida parecem mais inhóspitos, mas as pessoas são muito mais homenas, ou muito mais próximas daquilo que nós esperámos que fôssemos nos outros e que não conseguimos ser. E amo muito para agora. Então, vamos ouvir a canção favorita do Bruno, que é o Amandrai,
00:24:04
Speaker
e vamos conversar sobre a Laski.

Reflexões sobre Tempo e Identidade

00:27:52
Speaker
e
00:28:36
Speaker
E
00:29:58
Speaker
Tais que um tani De pa jelivani Tutelari, hey, hey De pa jelivani Uwele gazirgi, hey, hey Tais que um tani
00:30:32
Speaker
Como a madra é tímida
00:31:32
Speaker
e
00:32:37
Speaker
Seja escanta a vida
00:33:26
Speaker
Então, neste álbum, esta é a única música cantada em Tamáshek. Tamáshek é uma língua cantada por uma gente que hoje mais conhecida, por causa do Justin Arieman,
00:33:44
Speaker
Eu sei umas coisas em árabe, consigo perceber umas coisas em francês e, portanto, consigo me relacionar, às vezes, com alguma facilidade. Tu sabes coisas em árabe? Sabe, sei umas coisas em árabe, mas coisas muito básicas, sobreviventes, sim? Excelente. E está-me a achar que é sempre uma coisa muito enigmática para mim. Quando comecei a ouvir Tinarío Beni e neste álbum, esta música, tu percebes que tem
00:34:09
Speaker
A forma de cantar tem um compasso diferente. um tempo diferente que tem a ver com o tempo em que tu sentes as coisas e que tu estás a viver as coisas. Vou-vos contar uma história de infância minha. A minha avó tinha uma casa na cova de vapor.
00:34:29
Speaker
E é uma das melhores memórias de infância que eu tenho, são as memórias de cova de vapor. Eu era muito pequenino e cova de vapor, quer dizer que estamos em 82, 83, as pessoas não viam muitos carros, as pessoas não viam um carro na cova de vapor, não viam muito trânsito e a nossa casa era a mesma em frente à praia.
00:34:45
Speaker
Portanto, eu podia acordar de manhã e, eu que nunca conseguia dormir muito bem, acordava sempre mais cedo que toda a gente. Aliás, sempre adorava isto. Às vezes era o primeiro a acordar na cova de vapor e sentia que ia ver o mundo a dormir ou ver o mundo a despertar. E ficava a passar pela cova de vapor, a ver o nascer do sol, a ver todas as transformações ao longo do dia, a ver as traineiras a sair, os pescadores, eles nem sequer tinham acordado e estavam na rua. E havia...
00:35:16
Speaker
tenho que focar aqui isto porque acho que é uma das medidas de vida mais importantes para mim, o tempo. O tempo é para mim a coisa que sempre me preocupou e isto começou inclusive na Cova do Vapor quando eu percebi que a primeira medida de tempo que eu tive foi o farol do bugil.
00:35:33
Speaker
Vocês sabem que os faróis têm um tempo de luz e um tempo obscuro. E os tempos são diferentes dos faróis para os outros, o que permite aos maquinheiros perceber onde é que estão e que faróis é que estão ao largo quando estão a navegar. E o farol do Bergiu era uma coisa muito fascinante, porque são 5h30 da manhã e eu estou sozinho na cova de vapor, passeando na rua, estou sentado em umas rochas a ver aquela coisa fascinante, aquela luz rotativa.
00:36:01
Speaker
E nessa altura eu percebi uma coisa que ainda hoje me intriga um bocadinho, que é a vida não tem tempo suficiente para aquilo que eu quero viver. E não vai ter.
00:36:12
Speaker
Mas eu tinha 4 ou 5 anos. E, portanto, o que é preocupação no meio do 4 ou 5 anos, a essa altura não interessa, é uma coisa muito passageira, mas para retomar aqui um bocadinho. Então, cova de vapor. Isto permitia uma imensa liberdade. Porque a minha avó ou os meus pais, que os meus pais, se salve seja, não é muito, deu um bocadinho fragmentada. Portanto, a minha avó ia a casa e nós, eu saía para a rua e a minha avó estava preocupada porque não havia trésito, não podia acontecer nada de errado. Não era uma coisa muito preocupante.
00:36:41
Speaker
E eu passava muitas horas sozinho de manhã a passear, ou na praia, ou a fazer buracos, ou a brincar com os cães, ou olhar para nascer do sol e a assistir. Aquelas coisas que eu acho que as pessoas hoje se afastaram um bocadinho disso. Hoje em dia, raramente, as pessoas vêm nascer do sol ou o pôr-do-sol, ou então vão num momento qualquer, vá, vamos, não sei onde, ver o pôr-do-sol.
00:37:00
Speaker
E, às vezes, esta medida de tempo, que eu acho que é a medida mais importante da nossa vida, porque isso nos torna trágicos, porque nós temos que nos morrer, assim que nascemos, começamos a morrer. Isto, para mim, é uma coisa que sempre me preocupou, nomeadamente, por saber que não tinha tempo para fazer tudo aquilo que queria querer fazer. Portanto, hoje, quando mais sossegado, muito mais tranquilo, apesar de algo nos assossegue ainda dentro de mim, porque é uma coisa natural,
00:37:30
Speaker
Isso continua um bocadinho a exigir de mim uma energia, e é impossível, tu não consegues resistir. Não consegues dormir porque sabes que uma coisa está a acontecer, ou porque trabalhaste bem incógnito, e se chegaste a casa às 5 da manhã, mas à manhã queres ir surfar não sei onde, ou... Ou dar uma aula. Ou dar uma aula, ou por exemplo, queres ir num Nualdas a seguir bem incógnito.
00:37:53
Speaker
Mas elas são incógnitas mesmo. São as duas igualmente exigentes. Mas sim, isto é para dizer que eu acho que isto é muito importante. O tempo para mim é uma...
00:38:08
Speaker
É a medida de tempo mais importante que nós temos. É a medida de quantificação de... Por exemplo, o Gaston Bachelard, que uns dias eu tinha uma conversa com uma amiga sobre isso, e o Gaston Bachelard... Quer dizer, que eu tive o prazer de coexistir, não coexistir, mas de partilhar o mesmo território com ele. Eu fiz as vendimas em França durante muitos anos. Fiz em Champagne. E o Gaston Bachelard é de Bar-sur-Roube, onde eu fazia as vendimas.
00:38:35
Speaker
E anos mais tarde, por um curiosamento de informação, eu fui parar um livro dele e ele dizia qualquer coisa como... As unidades de medida que realmente te interessam não são quantificáveis ou não são emensuráveis, ou melhor, aquilo que realmente te interessa na vida não é emensurável nas unidades de medida que nós temos.
00:38:53
Speaker
Os quilos, os litros, os quilômetros, as distâncias. Não, aquilo que realmente interessa é imensurável a uma outra coisa. E eu acho que o tempo pode ser uma resposta para isso, eu não quero ter uma resposta para coisa nenhuma, mas acho que o tempo é uma coisa importante, porque o tempo é o nosso tempo de vida.
00:39:10
Speaker
E a temporalidade está inscrita no tempo, não é? É a nossa temporalidade. E o que tu dizes é que esta música traz uma outra temporalidade? Sim, sim. Por outra marcação do tempo, é isso? Tem outra marcação do tempo, tem uns compassos mais longos, não te impõe um ritmo, é uma coisa muito parecida com o blues, não é? Porque você tem toda essa influência da Norte da África também.
00:39:31
Speaker
Tu tens tempo para sentir as coisas entre notas. Tu não tens que estar num compasso rápido ou não tens. Por exemplo, pensar um pouquinho até mesmo na ópera. Por exemplo, a diferença entre a ópera italiana, que é um pouquinho... vou usar uma expressão que não é minha, mas que é um chanchipam, que é uma coisa marcial, não é? Uma coisa de fanfare. E aquilo sempre coisas a considerar, é tudo muito emotivo.
00:39:52
Speaker
E, de repente, temos Wagner. E o Wagner tem o mesmo tempo, o mesmo compasso de tempo prolongado, que nos deixa sentir as coisas no nosso próprio tempo. E eu acho que isso... O teu tempo é igual ao do Wagner? Por exemplo, ou então, se calhar tem a ver... Se calhar não sou tão temperamental como os artelianos.
00:40:12
Speaker
Mas o que estás a dizer, no final, é um certo abrandamento do tempo, não é? Não, é um abrandamento para sentir. Para termos sempre a sentir. É engraçado porque eu estava a pensar... Ias dizer uma coisa? Não, não. Eu ia-te perguntar exatamente o que é que tu estavas a pensar. Não, eu estava a pensar nisto porque qualquer coisa na música que me faz sentir que uma coisa que fica suspensa, parada, não é? E outra que está a acontecer em simultâneo. Estava a pensar nesta coisa que tinhas dito da viagem. Não tinha vido falar sobre isto ainda. Mas esta ideia da viagem...
00:40:36
Speaker
qualquer coisa de um tempo que parece, porque estou pensando, não é? A passagem no deserto, qualquer coisa de uma paragem na paisagem, não é? Ou seja, uma amplitude que é dada pelo movimento, mas a própria temporalidade da paisagem, ou não? É o movimento das sombras. O teu tempo é o tempo do sol. E tu voltas a uma coisa muito ancestral, quando houve relógios, não houve tempo, o tempo era sol-sol. E quando tu viajas num ambiente mais hostil ou mais vazio, é o tempo da jornada.
00:41:04
Speaker
No tempo do jornal. Exatamente. E é que qualquer coisa aqui na música que te inscrevi, se eu não tinha percebido, porque eu sentia era isto, que havia uma coisa que estava parada e outra que estava a acontecer. E que havia duas temporidades que não se cruzavam.
00:41:19
Speaker
Agora percebe que o movimento da própria viagem faz cruzar essas duas temporalidades.

A Viagem como Metáfora para a Jornada Interior

00:41:25
Speaker
Deixa-me perguntar. Não sei se vocês... vai. Não força para... Obrigado. Acho que é uma ideia romântica. As pessoas idealizam ir ao deserto e o porto do sol no deserto. Eu vejo muita gente. Às vezes tivemos alguns desertos e às vezes as pessoas querem ir ao deserto e ver o porto do sol. E vão todos juntos. Acho que é um ruído de comunão.
00:41:48
Speaker
porque eu acho que ir ao deserto e ver o pôr do sol é uma coisa solitária. Aliás, não me imagino quase sequer a dois estar a ver o pôr do sol no deserto. É uma coisa que tem a ver contigo. Se tiverem a dois, podem entrar os dois, cada um na sua dúna, a assistir àquilo. E em Yudan, quando fiz essa viagem na Mauritânia, houve um momento muito, mas muito engraçado. Eu passei imensas horas a passear no deserto, assim, tipo...
00:42:12
Speaker
E no final do dia, começa a entrar aquela coisa de luz-refusco. Não, aliás, pôr de sol, não é? Começa-se a pôr a luz-refusco. E eu sentei-me uma dona. E apareceu um tipo que estava a treinar um camelo. E eu pensei para onde? Vai passar, não? E ele sentou-se ao meu lado. Achei na praia a 2 metros. O camelo ao lado dele, todo camelo de salve seja um dromedário, não é? diferenças.
00:42:39
Speaker
E assistimos os três ao pôr-do-sol, ninguém disse coisa nenhuma a ninguém, quando o pôr-do-sol acabou, toda a gente se levantou, olhámos aos outros com grande respeito porque o que tinha acontecido e fomos embora. E isto foi absolutamente espetacular. Foi muito espetacular. Sim? Desculpem esta notificação. Não é porque quero ter a ideia que as pessoas têm.
00:43:07
Speaker
Olha, sabes que esta também é a minha canção favorita, é engraçado porque quando pedia para o Nathan-me a tua canção favorita, eu tinha a minha favorita, que é por isto, mas é por isto, porque é uma escala de blues. Ou seja, eu ouço este álbum e este álbum faz-me viajar a tudo, não teria escrito a introdução.
00:43:26
Speaker
Se não fosse este álbum, não é? Este álbum faz-me viajar e faz-me viajar a estes sítios. O Bruno estava a dizer que vou sempre para Sul e eu, como alentejana, chego a Algarve e estou num alentejo quente mais perto. É isso. um vento de suão que também no alentejo e principalmente naquelas tardes de setembro de torridas.
00:43:49
Speaker
em que se pode formar uma tempestade seca, que é igual ao Algarve. Mas no Algarve tem um mar, que é uma coisa muito incrível, que no Alentejo, na Planície seca, é mesmo uma tempestade crua, em que a única coisa que nos aquece é o vento suão.
00:44:05
Speaker
E quando tu chegas ao Algarve, tens o vento suão, mas tu tens, ao mesmo tempo, uma umidificação da maresia. É uma coisa espetacular. Um ar de mar. É porque é espetacular, porque é o mesmo vento que vem, traz sal, traz qualquer coisa diferente. Mas é tudo casa, por isso é que fiz aquilo na introdução.
00:44:26
Speaker
Esta era a minha música favorita por um motivo. Porque todo álbum é ciente numa série de coisas, mas esta e outra, que é uma música mais à frente, que é o I Do, que tem a escala de blues completa. O que tu dizes, I Do, é I Do?
00:44:52
Speaker
E como tem mesmo uma escala de blues, eu gosto muito de blues. Eu tenho uma sensação diferente do meu, porque o Bruno saboreou este álbum a atravessar o deserto. Eu saio do deserto quando entro neste álbum.
00:45:09
Speaker
Porque é o sítio do DNA dos blues, como diz o Scorsese. Isso porque os blues nasceram no Mississipi, mas na realidade eles nasceram no Mali. E é esta linguagem que o Ry Cooder vai buscar,
00:45:27
Speaker
E que entrelaça aqui com... São dois blues completamente diferentes, o que é extraordinário, tu sentires duas tristezas diferentes a fazer o mesmo caminho, que é espetacular, e é por isso que eu gosto disto. E esta canção não é canção, é mesmo melodia, é música, o Aidu tem.
00:45:47
Speaker
tem letra, vai buscar esta coisa do sítio, porque eu acho que é incrível, porque eu li esta expressão na net, Al Gures, o DNA dos blues, quer dizer, os blues não estarão no Mississipi, mas aqui é que está o DNA deles, como todos, eu não ensino a ler, mas eu não sei se o meu DNA não está na Terra-Mãe, não é? É um bocado isto. E é por isso que eu gosto desta canção.
00:46:09
Speaker
outras que eu gosto, mas é por isso que eu gosto desta canção. E porque me faz pensar, todo o álbum me faz pensar em viagens, e por isso é que foi a introdução, mas às vezes pergunto-me qual é a viagem maior, se é interna, se é esta que a gente se manda para o deserto. E nós mandamos para o deserto literal ou metafórico, não é? E qual é a viagem que fazemos quando atravessamos metaforicamente o verdadeiro deserto? Pronto, eu acho isto muito brutal, acho que isto é uma riqueza enorme.
00:46:40
Speaker
E pronto, é por isto que eu também gosto desta canção e porque provavelmente vamos ter tempo de passar a tua. Vamos ver se chegamos ao Aidu. Mas eu estou-me a fazer entender. Absolutamente. Pronto. Então eu agora não dizendo? Não, não, estou a pensar sobre aquilo. Espera que eu estava no deserto. Eu estava à procura do blues do deserto. Por exemplo, esta coisa de viajar para o deserto,
00:47:08
Speaker
Deixe-me fazer-te uma pergunta. A diferença entre viajar para o deserto e viajar em deserto? Não, não. Tu podes atravessar... Então, por exemplo, quando tu atravessas, no Adibu, no Akushoa, tu tens o Oceano de um lado, tens o deserto do outro, mas tens uma estrada. Atualmente tens uma estrada. E a estrada tem o quê?
00:47:26
Speaker
Esta é uma faixa, são duas faixas de algodão. Ok. Duas faixas de algodão, literalmente. E no meio das faixas de algodão, pontualmente, tens os miúdos, tens umas pessoas a vender gás óleo, gasolina escassíssima. Sim. uns anos atrás, a viagem para Noakxota, no Adibu, tinha que ser, ou do office versa, tinha que ser feita pela praia. E tu tinhas de apanhar as marés. Se as marés tivessem saído, tu não podias atravessar. Não é? Portanto, eu fiz uma parte dessa viagem, para ir a guia mesmo do giro, porque isto é uma coisa que te acontece sempre
00:47:56
Speaker
Não posso se generalizar isto, mas a mim sempre aconteceu. Eu saí da estrada e fui fazer um bocado da viagem pela praia. E fiz praia 60 km pela praia. 60? 60. Tipo na areia, tipo a conduzir pela praia. Estamos em Janeiro, mas tu estás numa latitude em que, como costumo dizer, a ursa se está a banhar.
00:48:19
Speaker
As nossas constelações estão a banhar, são outras constelações. E, de repente, dava calor e eu parei e fui dar um mergulho. Lembro-me, olhei para a frente, olhei para trás, não havia ninguém na praia, em quilómetros à minha volta. Despimei e fui tomar um banho, fui dar um mergulho, precisava de água. E, de repente, estou a sair d'água e vejo um casal, que não sei de onde é que aparece, mas aparece um casal, um homem e as jovens, e eu todo nu dentro d'água.
00:48:47
Speaker
Por que sempre alguém no meio do deserto? Sabe, nós todos estamos num nível simbólico fantástico, portanto mesmo no meio do deserto. Acho que sim, é importante.
00:49:10
Speaker
Por isso que está sozinho e sempre alguém ao teu lado. Por isso é que eu estava a fazer esta pergunta. Qual é a companhia? E isso que você estava a dizer, no fundo, é possível sobreviver no deserto porque momentos de companhia. momentos de companhia que não intoxicam, ou seja... Não, não, não é isso. Então clifica. O que eu estava a dizer acerca do deserto, antes desta história da praia e do bem, isto de ser uma parte, o que eu acho muito engraçado do deserto é...
00:49:37
Speaker
A partir de uma altura, comecei a ler umas coisas sobre viagens, e havia os tipos que escreviam sobre viagens, alguns infeliz eram mais do que outros. E o deserto era uma coisa muito presente, e eu comecei a ter esta ideia de, bem, eu quero ir ao deserto, eu nunca tinha entrado no deserto.
00:49:52
Speaker
E, de repente, tu chegas ao deserto, mas tu chegas à orla do deserto. Tu sabes que não podes continuar ali para frente. Tu não sobrevives. Não ninguém que sobreviva ali para frente. A não ser em caravana, era uma coisa muito acompanhada. É uma coisa de limite da tua sobrevivência. A tua humanidade acaba ali. Tu tens de saber os teus limites. E eu, que adoro experimentar tu... Os meus limites eram à porta do deserto.
00:50:16
Speaker
Agora não sobrevives se não for alguma coisa a acompanhar. E não sobrevives se não for alguma coisa a acompanhar.

Conexões Culturais e Pessoais nas Viagens

00:50:36
Speaker
a rota da seda, ou as rotas das sedas que são várias, aquilo acontece porque se trocam uns com os outros. uma coisa contínua que vem da China até ao Medio Oriente para depois... Portanto, o deserto tem essa coisa. Todos nós podemos ter esta ideia fascinante do deserto e chegar e ver umas dunas, mas calma.
00:50:56
Speaker
E também é muito solitário. Sim, mas o solitário não é mal. Eu adoro essa parte do solitário. Sim, mas é este lugar de solidão seca. Eu ia fazer esta ressalva do Porto Santo, porque o Porto Santo tem 9km por 6km, mais ou menos, portanto é um deserto controlado.
00:51:16
Speaker
Não percebes o que eu quero dizer? Mas sentimos solidão. Eu tive lei, eu senti. Eu não senti. É um horizonte que não solidão. Nós temos histórias diferentes. Vocês não sentem mais solidão, às vezes, que rodeados de pessoas? Claro, isso acontece a toda hora.
00:51:35
Speaker
Porque este tipo de suídão é outra coisa, que eu acho que num por cento, nove quilómetros é o mesmo que tu sentes no Sara, que é esta coisa. Tens que estar contigo e contigo e acabou, tens que estar, ponto. Não outra forma de sobrevivência que não estares contigo.
00:51:50
Speaker
E saber estar contigo. E aprender a estar contigo. Não, o passo seguinte é esse. Porque tu de repente veste nisso e tens que estar. E não como não. Ou faz para o suicídio ou faz para outro sítio qualquer. Mas não como não. Por exemplo, deixa-me convocar aqui uma coisa. Por exemplo, me aconteceu várias vezes em viagem ficar sem livros. Sim? Estás em viagem. Estás em viagem um mês ou às outras semanas. Pronto, e o teu interlocutor passas a ser tu.
00:52:15
Speaker
Passas a ser tu. Então, eu lembro-me de aquilo que eu tenho na cabeça. Eu tive sempre com o caderno para escrever. Passas tu a ser o autor da tua vida. Passas tu a escrever as coisas. Tu eventualmente gostavas de estar a ler. E isto convoca-te para a coisa...
00:52:34
Speaker
Criativo ou não, se é espetacular ou não, são os desabafos teus. Passas a ser o teu interlocutor e para isso é preciso mesmo uma cena que é mesmo aquela coisa de... tens que predispor a ir aos lugares todos ou não?
00:52:48
Speaker
Mas é como tudo na vida, tu podes predispor ou não ir aos lugares todos, mas se for tu, o teu interlocutor, pode ser uma coisa enlouquecedora. E, portanto, quanto mais alternativa de lugares tu tiveres internos, menos enlouquecedora é, porque podes ir, podes ter ponto de fuga, como dizia o Axel Berg, 15 dias, um mês.
00:53:10
Speaker
Weisselberg dizia, tu na guerra tens que ter um ponto de fuga porque senão perdes a guerra ou deixas de dar hipótese que o outro te possa atingir ou não. E é isto, quando passas a ser o teu interlocutor tens que ir à procura de mais lugares para teres este ponto de fuga para não enlouquecer.
00:53:29
Speaker
Mas diz, temos que deixar falar a Patrícia, que a Patrícia hoje está... Patrícia, és tu. E pegando nisso tudo... Agora não sei. Agora estou exato. Eu tenho que estar a ver, a pensar. Não, estava mesmo à procura. Não, os vários interruptores que nós temos. Não, mas antes disso, ela estava num sítio antes disso.
00:53:51
Speaker
Ela estava num sítio antes dele. Onde é que eu estava? Porque estavas no porto de 109 km. Exato. Mas agora não sabia onde é que eu estava. Mas o que eu queria dizer, ou que eu estava a tentar entender, é qual é o sentido, qual é o sítio interno de onde partes para suportar esse deserto.
00:54:07
Speaker
E essa é que é a minha grande questão, ou seja, é um sítio de companhia interna que te permite sobreviver ao deserto ou é um sítio interno sem companhia que te diz que o sítio certo para viver é no deserto? E eu penso que nós andamos aqui, não digas que não, não digas que não, porque é que estás a dizer que não? Espera, deixa-me dizer até ao fim, eu não estou a dizer que isto é o sítio certo da vida. Eu não disse, eu banei a cabeça. Mas veja, está aqui a bloquear o pensamento, é a segunda vez que ela me faz isto, depois diz que é um vinho em casa, depois eu cupei do vinho e tinto.
00:54:32
Speaker
Eu banei a cabeça, tu é que tornaste isto literal, eu banei a cabeça. Me diz de outra vez, a minha questão é, e eu penso que isto é importante para o que estamos a viver agora, do ponto de vista mundial, não é? Como é que tu sobrevives? Agora ponte a coisa em outro lugar.
00:54:49
Speaker
Eu acho que tu me deres uma certa esperança com aquilo que estás a dizer, não é? Como é que se sobrevive no deserto relacional, ou no deserto que é causado pelo cru da guerra, por exemplo, sobrevive-se com esta sensação que tu tens tornado clara de que mesmo nesses lugares, mesmo nesses caminhos inauspitos onde sentes que não nenhum sítio onde se possa viver,
00:55:05
Speaker
Realmente o espaço do caminho, do percurso, se for encontrando pessoas que te alimentem de alguma forma nas suas necessidades básicas para continuar o percurso, é possível de ser realizado. Isso a mim uma esperança, percebes? Ou seja, tu conseguiste me dar as coisas que eu não estava a ver saída para o sítio do deserto em que, de alguma maneira, nós estamos a viver. E essa ideia de que, mesmo no deserto,
00:55:25
Speaker
Tu encontras, e talvez até no deserto, tu encontras essa companhia, que não se traduz numa companhia interna, que eu presto o que é que estás a dizer, estou de acordo. Não é uma companhia interna. Espera. Mas é uma companhia pelo caminho. Está-me a fazer sinais, ninguém vê? Diz, diz. Eu quero ouvir isso.
00:55:45
Speaker
Porque é, para descobrir um parêntese, porque é a cena do Anicote. Do Anicote. É o objeto transitivo. Sim, é um espaço. Que incrível que é o espaço do caminho a dar-se uma companhia interna. que eu nem podia ver assim. Deixa-me dizer. Porque normalmente o espaço transitivo é feito com uma companhia interna suficientemente quente para que todo esse espaço não se transforme num deserto no caminho.
00:56:08
Speaker
Obviamente. E que é preciso a linguagem simbólica para tu evocares essa companhia interna e a constância do objeto. Pensa que estamos a falar de outro lugar, que é o lugar onde não esse sítio, mas onde o caminho é na mesma possível, porque mesmo dentro dessa segura da ausência da companhia que devia ter estado, tu podes ir encontrando pelo caminho algumas fontes de energia interna que não são objeto original,
00:56:35
Speaker
Que não dão o acompanhamento interno o suficiente. Não, mas é que são o objeto original porque é um reconhecimento. Não, mas é que pode ser reconhecimento, percebes? Porque tu encontras o objeto original. Não é o objeto original, mas tu o encontras por reconhecimento, não tem que haver uma parte. Pode-se interromper. Pois não tenho a certeza disso. Pronto, então, mas desculpa. Peraí, deixa terminar o rádio cinema.
00:56:59
Speaker
E com isto eu quero dizer que me deu uma certa esperança de pensar que mesmo que alguns na vida as coisas se sequem dentro de nós a tal ponto que a gente não consiga conhecer o lugar onde a vida se de uma maneira mais, repare, enraizada internamente, não seja no sítio em que estás mais em contacto com a parte mais vulnerável de ti, mesmo nesse lugar.
00:57:19
Speaker
ainda uma possibilidade. Porque o que eu acho que difere aqui dois lugares, e foi isso que eu senti na música, é que tu tens a zona de vulnerabilidade que parece estar coartada, não é? Nesta música também parece. uma zona de vulnerabilidade a qual tu não acetes. uma coisa que está a acontecer em cima, que te permite continuar o percurso, mas com este sítio embaixo. Estou conseguindo explicar o que estou a dizer. E é este lugar, este lugar, que para mim às vezes é mesmo um deserto da impossibilidade, mas que com a tua interpretação me faz pensar, e é bom, que ainda assim qualquer coisa
00:57:50
Speaker
Mas é que a coisa não é da impossibilidade, porque pode ser impossibilidade porque está.
00:57:59
Speaker
Claro, mas a sua expectativa... não houveria reconhecimento, reconhecimento, porque está... está porque as expectativas inatas, não é? As nossas expectativas inatas são desse lugar. Mas é que eu não sei se é a sua expectativa, eu não sei se está a sementinha. Mas a semente vem disto, não é? A tu nem sei... Eu também estou a conversa do Abel e o Caim, porque é uma coisa bíblica, e quer queiramos, quer não, sejamos laicos, crentes, não crentes, pai, eu sou renegado. Não sou renegado porque rejeito a religião, é tipo eu não tenho essa função.
00:58:28
Speaker
Eu não tenho essa necessidade de ter uma entidade superior que me orienta ou que... tive episódios muito divertidos na minha vida acerca disto, mas não tenho. E a minha família é católica, tenho esses amigos de várias facções, não é isto que interessa. Agora, na sociedade em que nós vivemos, a sociedade judaica ou cristã, a bélica e caim,
00:58:53
Speaker
personagens conhecidas e sabemos que quem matou Abel, quem que era lavrador, que matou Abel, que era pastor. Quem estava preso a uma terra, tipo tinha que lavrar aquela terra todos os dias, Abel tinha que pagar no rabém e todos os dias ia correr bem ao local, durante uma temporada e a pastorar corre bem.
00:59:14
Speaker
E aqui uma coisa entre o ser sedentário e o ser não sedentário. Entre o ser que tem essa necessidade de sair de casa e de não saber quando é que volta e como é que volta. E tem a ver com isso a viagem. Nós não... Por exemplo... Eu não acho... Se uma viagem iniciática e nós achamos que aquilo tudo mudou a nossa vida. Tretas. Acho que nós estamos constantemente a crescer, e seja aqui, seja noutro sítio. umas pessoas que...
00:59:41
Speaker
têm desejos homologados e, portanto, vão de férias todos os anos para o mesmo sítio durante uma vida toda e a outras têm a necessidade de fazer coisas diferentes outros dias. umas pessoas que querem comprar uma casa de férias num sítio e passar o resto da vida delas a fazer férias naquele sítio e outras não querem. Eu acho que uma pessoa que não é sedentária tem a necessidade de estar constantemente a reinventar sítios novos para ir até aliás, eu não sei se vocês sentiram isto ou tiveram a oportunidade de sentir isto. Por exemplo, eu cada vez chego a um limite, eu cada vez chego a um limite de um sítio onde estive,
01:00:10
Speaker
-me a lembrar agora de um momento muito preciso. Lembro-me da primeira vez que estive em Budapeste. Fiz Erasmus em Budapeste, foi uma cidade que eu adorei, adorei viver. Aliás, tem aquela língua terrível que o Chico Buarque diz, é a única língua que o diabo respeita. Mas quando fiz Erasmus, fiz no segundo semestre, portanto, estamos a falar de fevereiro a junho, havia esta coisa de...
01:00:33
Speaker
Volta e meia eu pegava num comboio noturno e ia para Sarajevo, ou ia para Belgrado, ou ia para Praga, ou ia para Xepaquá, não interessa. Quando voltava, no final de semana, porque eu tinha aulas todas as semanas, quando o comboio atravessava a fronteira, eu começava a ouvir falar húngaro, e húngaricano, sem dizer três barbaridades. Não interessa.
01:00:55
Speaker
começava a ouvir aquilo no comboio e sentia-me em casa. Às vezes quando estás em viagem, estás constantemente a descobrir-te, e não és tu, és tu a descobrir-te a ti própria. E cada vez que avanças, cada vez que chegas a um limite teu, um vento que vem de outro sítio, que diz-te, outra terra para lá, e tu queres ir conhecer essa terra. Pronto, e tu dissestes assim, eu não sou como o comum das pessoas,
01:01:22
Speaker
Não disseste desta forma, mas disseste que havia qualquer coisa por causa do catolicismo. Eu agora ia-te perguntar então o que é que te guia, qual é a tua referência?
01:01:34
Speaker
É o tempo, pronto. E que tu falaste isso ainda a bocado. Disseste que era o tempo. Não, mas antes um grande desejo de conhecer o desconhecido. Pronto. E eu acho que em ti, como eu falava na introdução, o desejo de encontrar casa num sítio que é casa, é uma questão de reconhecimento, reconhecimento, mas a questão é... Então, e como é que tu encontras o tempo? Tu não encontras o tempo. Tu não desperdiças.
01:01:59
Speaker
Sim. Por exemplo... Às vezes acontece uma coisa muito curiosa que é... fui a Marrocos, sei lá, dez vezes. E... É em situações diferentes, não interessa. E às vezes sento-me visitar a mesma cidade, os mesmos sítios. E claro, tenho imenso prazer em estar ali. Às vezes vou me pensar, porquê que não foste a outro sítio? Porquê que não foste a um sítio que não conhecias ainda? Porque às vezes este deslumbre de querer voltar aos sítios. E sítios onde tudo se sente bem. Por exemplo...
01:02:30
Speaker
Porque o Bruno começa a procurar de casa. Não, não. Tu voltas ao sítio porque tu queres ir à procura de casa. Então vou-te contar uma coisa muito divertida. Eu tenho...
01:02:44
Speaker
Eu sou de Lisboa, não é? Quer dizer, tu não és de Lisboa. Tu também não és de Lisboa. Sei de onde é que eu sou. O único alfacinho aqui sentado sou eu. E, portanto, eu vou-vos dizer uma coisa. Eu não tenho essa coisa que vocês têm com Lisboa. Eu nem acho uma cidade muito bonita. Olha, deixa-me dizer-te uma coisa. Tu sabes que eu... Como um mudo mesmo que estás a dizer. Não achar bonita. não se sinto de casa. Não, eu vou explicar uma coisa. Toda a gente tem este fascínio por Lisboa.
01:03:13
Speaker
-se uma cidade de província, uma capital de província... Desculpem dizer isto, porque depois vai para o ar e sequer não pode ser cortado ou não, não interessa. Mas é uma capital de província aburguesada, sem grande piada. Agora, tem um fascínio brutal aqui, tem uma luz incrível. Mas eu acho que se nunca tivessem construído nada aqui, a paisagem continuava a ser absolutamente incrível.
01:03:36
Speaker
Quando chegamos a grandes cidades, às vezes, isso foi o que me aconteceu, e a minha primeira grande viagem, ou a primeira grande cidade onde eu tive, foi Madrid. E saí de Lisboa, cheguei em Madrid e, de repente, saí do autocarro. E estava na grande via e pensei, uau! Nunca vi nada assim. Isto é espetacular. Isto é uma grande cidade. A coisa mais próxima que nós tínhamos, daquela altura, se calhar, eram os Ambreras. Enfim, salva São Diogo.
01:04:03
Speaker
Que são espetaculares. São opiniões. Eu acho que para quem vive são espetaculares, porque não tem que ver mais nada à volta.
01:04:11
Speaker
As Amoreiras são das grandes coisas que se fez em Portugal, mas falamos sobre isso. Nós não falamos sobre isso, porque é o pós-modernismo. Eu e o Bruno concordamos sobre o Portugal. Mas sim, e portanto, quando chegamos a este sítio, eu queria dizer isto, por exemplo, é bastante legal a oportunidade de começar a fazer desvendimas em França e conhecermos pessoas em França e conhecermos amigos em Paris e, estranhamente, para aos 19 anos nunca tinha estado em Paris, até ter estado pela primeira vez,
01:04:41
Speaker
E desde o primeiro momento em que cheguei, sempre que volto e sempre que chego, sempre que a terra e sempre que chego não sei onde, eu sinto mais em casa do que em Lisboa. Aliás, em Lisboa eu sempre tive uma relação muito estranha com Lisboa hoje, muito mais pacificada, muito mais tranquila, mas durante muitos anos não era. Paris é a cidade onde eu me sinto em casa, portanto não tem a ver com essa procura nas viagens.
01:05:05
Speaker
A procura nas viagens, às vezes sem ver mesmo, tu não identificares nada na viagem, ou seja, tu estás à procura de algo novo, onde encontros dentro de ti um sítio novo. Ou seja, um sítio que tu ainda não conhecias entre ti e que estás a encontrar novamente. E tu precisas de como casa, é isso. Talvez, então.
01:05:21
Speaker
O assunto arrumado. Não, não está nada. Tantas horas de conversa. Dois rubalos para fazer. Olha, Patrícia Câmara, canção favorita da Patrícia, Sokura. Mas eu não sei o que quer dizer. Eu também não. Mas gostei da ideia de Sokura. Então. Sokura, não é? Estás a ver o som? Sokura. Porquê? Porque Sokura? Sokura ou Sokura? Sokura. Olha, eu preferi ouvir primeiro. É? Então vamos ouvir.
01:05:52
Speaker
E E
01:06:54
Speaker
A linda linda linda linda
01:07:29
Speaker
Jairabi su porasan Jairi Jairi su porasan Kanu kanu kanu kadinye Jairi su porasan Jairi Jairi su porasan Ulayana kanu kadinye Jairabi su porasan Jairi Jairi su porasan
01:07:59
Speaker
Eu não sei o que fazer, mas eu sei o que fazer Eu sei o que fazer
01:08:28
Speaker
O que diz o parata?
01:09:19
Speaker
Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na
01:09:50
Speaker
Pula Janaka Numan Binyen Jarabi Setorasan
01:10:51
Speaker
Eu não sei o que fazer, mas eu sei o que fazer Eu sei o que fazer
01:11:36
Speaker
Eu não sei, eu não sei.
01:11:56
Speaker
O que é que eu sinto aqui? Para me ser suportável a mim, essa traficinha no deserto, eu tenho que ir ao sítio e seguir ao sítio da melancolia. Certo? E esta canção, esta música, pelo ritmo que imprime,-me a mim. Essa companhia essencial é como se passasse ok. Eu passei esta zona do insuportável para mim, consegui uma síntese melancólica sobre o estado existencial em que estou a soz comigo, e a seguir, então, uma certa leveza, ritmada, de alguma hipótese de vida, e isso faz-me companhia.
01:12:26
Speaker
Que é o embalo autoassistido. Eu aprendi com o Bruno Brites um outro lugar que não é do embalo, mas é o sítio que vem a seguir o embalo, que é a agitação, a inquietação que te permite caminhar. Eu aprendi isto naquele episódio do podcast com o Bruno, que eu agradeço muito. Está aqui hoje e, portanto, é mesmo em homenagem, está a vir em gratidão interna, porque é este lugar.
01:12:50
Speaker
Mas essa inquietação... O embalo-te realmente a base para que a seguir tu possas fazer isto. E esta música permite-te este lugar segundo, que ele me ensinou a ouvir, porque eu não estava muito esperta para este lugar.
01:13:06
Speaker
Mas esse lugar é um desossego, a inquietação é o que é? Estou a perguntar porque é isso que eu sinto desde muito, muito pequenino. Aqui na sequência daquilo que o Bruno falou no podcast em que veio, é uma certa inquietação que eu acho que é um despertar para a

Exploração, Curiosidade e Crescimento Pessoal

01:13:21
Speaker
vida, não é? Ou seja, tu precisas do embalo que te sentido de vida e que te permite essa sinta melancólica de existência, mas a seguir tu precisas despertar para a vida, com uma inquietação que pode ser o instinto epistemófico, a curiosidade, não é? O desejo de conhecer. Sim.
01:13:37
Speaker
É aquilo que eu falava na introdução, que é a impossibilidade de estar na vida. Desculpa, Ana. o lugar da impossibilidade de estar na vida, que é igual. Claro. Que é o mesmo, sim. Na fase contrária, não é? Que a diferença se sente entre.
01:13:49
Speaker
A capacidade de estar com o outro, ou a adrenalina? Claro. Está a fazer uma coisa importantíssima. É uma coisa importantíssima porque é isto que a gente está a ver. Um Putin não consegue fazer isto. Claro, deixa-me dizer isto. E isso é a diferenciação máxima, porque este lugar que estou a falar é o lugar que pressupõe um estado melancólico anterior.
01:14:09
Speaker
Este lugar que estou a dizer não é adrenalinérgico. Este que estou a dizer não propõe um estado. É uma coisa crua. Outra coisa é o deserto cru. Quando estamos a falar do deserto cru, realmente estamos a falar do sítio onde a única coisa que nos sobra é a tentativa de encontrar uma sensação qualquer que sentido de vida sem o dar verdadeiramente. É uma agitação. Uma coisa é a inquietação da vida. Outra coisa é a agitação para sentir vida. Não é para sentir vida. Mas ainda uma terceira. Porque é o sítio onde tu tens zero.
01:14:39
Speaker
E tudo zero.
01:14:42
Speaker
Claro que é óbvio. Imagina. Tu tens um lugar, com o teu amadurecimento, tens um lugar do trauma, onde aquela fase do amadurecimento não foi preenchida. E tens um lugar em branco. E o lugar em branco faz-te ir à procura dessa toda adrenalina que te preencha um lugar em branco, mas que na realidade não vai preencher, porque não é uma coisa substancial, é uma coisa fugaz. Pronto. Isto é uma coisa.
01:15:11
Speaker
Outra coisa é o lugar no sítio do lugar, que é o sítio onde tu de facto estás num processo de amadurecimento, não és traumatizado e de facto vais encaixando as peças todas até chegares a qualquer sítio, não interessa porque é infinito. Outra coisa é, nem sequer o lugar para ser preenchido.
01:15:33
Speaker
nem sequer ao mapeamento do lugar para ser preenchido. Mas qualquer coisa que te denuncia casa naquele lugar que não existe. E eu acho. E o que eu acho é... Estás muito otimista. Ah, vai-te deixar. Eu acho é que não hipótese... Eu acho é que mesmo dentro da pura maldade um sítio onde uma semente. Não.
01:16:05
Speaker
Não. Pronto. Se calhar isto é esperança, não é? Isto é esperança, se calhar, não é? Nós somos os três da mesma idade. Sim. Não, tu és o mais velho. Desculpem. Pronto, eu sou o mais velho. Tu és o mais velho. Eu sou o cotão. A seguir faço eu. Eu sou o cotão. Com dois meses de diferença e a seguir faz ela com seis meses de diferença. Mas se custa dizer, ainda a bocado falávamos disto, quando estávamos a falar das profissões queríamos ser. Eu lembro quando éramos miúdos houve uma delas feita prisão.
01:16:34
Speaker
E houve aqui um grito de liberdade, houve aqui uma coisa que nós nem sequer sabíamos o que tinha acontecido para trás, mas houve aqui uma noção que era transmitida pelos mídias no mundo inteiro, que é o mundo está a mudar para o seu dia melhor. E nós acreditámos que realmente o mundo estava a mudar para o seu dia melhor.
01:16:52
Speaker
Tu que te identificaste e os que não se identificaram. Não, o que aconteceu foi que nos últimos anos mudou tudo e parece que é o mundo ao contrário para essa barca dos loucos e nós deixámos os perversos ganhar. Exatamente, porque começámos a achar que tens de ter cuidado colgada a semente.
01:17:11
Speaker
Eu sei que tu sabes... Não! Mas é que é assim. E se tu sabes dizer, chama-se perversão. E isso está a acontecer. E a perversão o que é? Deserto cru. Deserto cru. Mas eu... Tu acredita nisto a 100% porque a perversão vem dentro de um ser humano, é por isso que eu... Meu irmão morreu.
01:17:27
Speaker
A humanidade dentro do ser humano, para ver se não está lá. Ou seja, tu não acreditas mesmo na hipótese. Cada vez que acreditei, bati-lhe com a cabeça. Estou sempre a bater com a cabeça, mas agora é assim. Mesmo em terapias. Porque tu tens uma coisa que... Esta parte cortas também. Não, uma coisa é uma semente. Uma coisa é uma semente. Uma semente. Tu podes ter a semente num frasco e nunca pôres a semente na terra. Outra coisa é um músculo. Um músculo tem todo o potencial para desenvolver.
01:17:53
Speaker
Ponto. Não tem. A perversão não tem qualquer músculo, mas achas que ela pode ser uma semente ou não? Não. Ou seja, tu achas que pode... Como é aqueles embriões brancos que tu abortas de um ser que não te divestes? Os ossos não têm irrigação de humanidade. Posso? salvaram alguém? Metafórico ou literal?
01:18:15
Speaker
Não, literal. Tipo CPR? Não, não, imagina. Estás num sítio de conflito e tiveses que arranhar em alguém e tirar aquela pessoa de uma zona de... Já. Ok. Eu salvei, assim. Eu os contei no Adibu. Desculpem-me para sempre nesta coisa, desta viagem, mas foi mesmo muito engraçado. Tu tiveste? Sim, mas houve outro sítio sobre a viagem. tive sítios mais arriscadas do que esta. Esta foi porque alguém no dia em que eu cheguei tinha escrito no Facebook uma barbaridade qualquer sobre a lá. E a cidade estava virada de pedras para o ar.
01:18:45
Speaker
E eu lembro de estar a sacar de moto, aquilo estava sendo muito complicado. Estacionei a moto e depois saí para ver o que se passava. Havia conflitos entre dois grupos. E as tendas, a polícia começa a disparar a gás lacrimogénio. E as pessoas começam todas a fugir e eu refugi-me numa mercíria. E quando o tipo da mercíria está a fechar as portadas, eu vejo que uma mãe com uma criança fora e diz-me, não pode fechar a portada se eu isto trazer para dentro.
01:19:13
Speaker
E eu saí, fui buscar outros. Então, tu salvas uma pessoa. Tu não sabes se ela é perversa, se não é perversa, se é esquerda, se é direita, se é o que quer que seja. Tu salvas a pessoa. Tu não pensas nisso. Tu salvas a sua mãe. Claro que não. um... desculpa. Não. E depois tive uma outra situação. Alguns anos mais tarde, a primeira vez fui eu ir a um...
01:19:31
Speaker
Eu voei para Estambul, depois fiz a troquia toda de autocarras e cheguei a Dogobayazit. E na altura estava a começar o conflito na Síria e havia algumas coisas esquisitas. Eu estava no meu hotel, tinha de visitar o Monte Ararat, onde aparentemente o nué encalhou com a arca e com os animais todos.
01:19:53
Speaker
E, de repente, desde, volto ao hotel, estou no hotel de escrever umas coisas e começo a ouvir tiros. Eu tipo, que estranho, o que é que está a passar? Venho à janela, vejo uns tanques, vejo umas pessoas a disparar e eu pensar, pai, eu amanhã tenho de entrar no Irão, como é que eu saio daqui? Porque os vídeos no Irão tinham os dias contados e era uma coisa muito controlada.
01:20:14
Speaker
E tente falar com os soldados que estavam naquela coisa toda. Ninguém falava inglês, ninguém falava coisa nenhuma. E vou dar a volta ao Cordeirão, na rua atrás, haviam os velhotas de jogar xadrez. E eu achei que o mundo continua a acontecer. O que é que está a acontecer? O mundo continua. Agora, somos mais do que eles, somos mais organizados do que eles, somos menos organizados do que eles. É uma sinalizada. Oh Bruno, a questão é que nós estamos cheios de cordeiros disfarçados de lubos aqui ao nosso leito.
01:20:42
Speaker
Essa é a questão. A questão é que nós todos podemos dizer, ou ser otimistas ou ser pessimistas, a questão é a diferença entre, tu sabes o lugar,
01:20:57
Speaker
Ou tu tens uma ametização daquilo que tu achas que é o lugar? Posso dizer uma coisa? Essa é que é a diferença. E está tudo certo que... O que ele está a dizer é uma mensagem de esperança, não é? O Bruno está-nos a dar uma mensagem de esperança. Duma guerra está a acontecer um jogo de xadrez. O que não deixa de ser um jogo de xadrez.
01:21:14
Speaker
Não é? Ainda um outro lugar. outro, diz-lá. Eu ia dizer, que eu sei que me parece que é uma coisa que é importante nós pensarmos, que é qual é, se perguntaste um bocado, uma coisa que eu respondi, e assim é direito. Mas eu acho que é possível, ou algum potencial de semente, se houver uma baliza bem posta, bem definida. Não é? Ou seja, se tu balizar... Se o semento germina, se for regalo, certo? Mas eu acho que é um bocadinho.
01:21:42
Speaker
É mesmo a reposição dos lugares,

Reconhecendo Perigos e Manutenção de Limites Morais

01:21:44
Speaker
não é? Eu não posso confundir sítios, não é? Eu não posso confundir estes lugares. Eu tenho que saber que aquilo que é perverso, na instância daquilo que está em aparência na relação, é morte e vai matar. Por exemplo, eu tenho que balizar este lugar e depois, a partir daí, quem sabe, alguma coisa possa acontecer. Mas eu tenho que reconhecer, não é? Sim, me parece que é mesmo fundamental e que nós não estamos a fazer bem, na atualidade, é que nós estamos a permitir que aquilo que é uma linguagem perversa, que, efetivamente, traz não uma viagem, mas a aniquilação completa das viagens, apareça como uma viagem.
01:22:11
Speaker
E esta confusão, que é uma linha muito ténue, é aquilo que pode condicionar uma expansão de humanidade, uma inquilação total dela. E esta, eu penso, é a nossa função. Nossas terapeutas psicanalíticas no mundo. Então, espera aí, porque estou a tentar perceber onde é que quer chegar. Eu estou a perceber onde é que tu quer chegar. O que é que está a ser dito?
01:22:37
Speaker
Aqui, entre nós, não está a ser dito. Eu acho que é reiterar este... Não, eu sei, honestamente, eu estou a pensar se posso ter dito uma coisa um bocadinho ao lado. Não, estou a recuperar o que estás a dizer, o que eu quero acentuar é este lado, que é... Não, tu falaste na pergunta, perguntaste-me isso da semente. Eu acho que isso pode ser possível se tiveres a certeza que está balizado, que não é confundido o lugar.
01:22:56
Speaker
Pronto, mas atenção, mas a questão é essa, porque entre os perversos, eu acho que sítios em que uma semente que pode estar balizada, e sítios onde não totalmente semente, mas não deixa de ser perversão, percebes? Ou seja, não é por haver semente que se vai transformar num lugar espetacular, não é? E tu não acreditas?
01:23:18
Speaker
Pronto, eu preciso viver mais tempo para perceber. Eu não preciso viver mais tempo, porque isso é impossível. Nós, tragicamente, vamos morrer. Isso é impossível pedir. Mas uma coisa que a nossa geração,
01:23:36
Speaker
Na nossa geração, finalista de 70, a princípio de 80, nós subíamos as árvores, nós caíamos, nós tropeçávamos, falávamos os joelhos. Eu costumo dizer a brincar, aliás, que uns dias no aniversário de Bruno Brito, se eu disse isto, ou Paulo, alguns de nós é uma deixarmos vivos, porque fizemos imensos disparates. E a verdade é que isto nos ajudava os outros, porque mesmo que fizéssemos disparates, ninguém queria chegar à casa
01:24:04
Speaker
Ou ninguém queria voltar à casa com o amigo e dizer, ah, ele partiu-se todo. Não, não, vamos disfarçar isto. A tua mãe não pode saber que tu caísse, partiu-se todo. É, mas é que estás a dizer, é uma coisa muito importante mesmo. Tu podias fazer os disparates todos ou não podias ser apanhado. Sim, isto é uma coisa muito importante. Tinhas a consciência de transgressão. A partir do momento em que desaparece este lugar de consciência de transgressão é a perversão escolar. E agora a questão é, esta perversão onde desaparece a consciência da transgressão pode ser a mãe ou não? Não.
01:24:30
Speaker
Eu não sei. Meus queridos, Bruno Brito, não vamos a música nenhuma. Ai, o Bruno Brito! Estamos completamente fixados. Não, é porque o nosso pai está aqui, o nosso pai está aqui, nós não conseguimos...
01:24:47
Speaker
Ai, o Edip! É que o nosso pai aqui. Eu nunca me lembro do pai do Edip. Eu nunca me lembro do pai do Edip. Eu me lembro da Jucajta. Espera lá. Qual é o nome do pai do Edip? Espera lá, não. Espera lá. Espera lá. Não, temos que acabar isto. A mãe é Jucajta. Espera um bocadinho. Espera, eu vou chegar lá. Calma. É Edip, não percebem. É o Edip. O pai é o Edip. É isto, muito bom. É o Edip. Tão bom. Tão bom.
01:25:22
Speaker
Três divãs. A psicanálise, o mundo e o rock'n'roll.