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Como pensam as mulheres? Diferenças e estereótipos. image

Como pensam as mulheres? Diferenças e estereótipos.

S1 E7 · Ela por Ela
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57 Plays11 months ago

Neste episódio, trazemos-vos a nossa opinião sobre o que é realmente biológico e o que é socialmente construído na maneira como as mulheres pensam.

👇Índice

00:00:00 - Introdução

00:00:28 - Agradecimentos

00:01:15 – Porquê este tema

00:02:12 – Cérebro feminino e o multitasking

00:04:13 – O que é realmente biológico e o que é socialmente construído?

00:08:14 – Diferenças entre cérebros, existem?

00:13:58 – Cérebro frágil e que não pode ter educação superior

00:30:16 – Biologia está interligada com a cultura

00:55:33 - Os cérebros evoluíram

00:59:01 – Conclusão

💡Inspirações e recomendações referidas por ordem de menção:

Gina Rippon Ted Talk - https://www.youtube.com/watch?v=2s1hrHppl5E

Cordelia Fine - Delusions of Gender - https://www.goodreads.com/book/show/8031168-delusions-of-gender

Karissa Sanbonmatsu Ted Talk - https://www.youtube.com/watch?v=HLEgiR1Fsds

Rebecca Saxe Ted Talk - https://www.ted.com/talks/rebecca_saxe_how_we_read_each_other_s_minds

BBC - Is Your Brain Male or Female? - https://www.youtube.com/watch?v=oUk669IiOQw

Série Lessons in Chemistry - https://www.youtube.com/watch?v=-1PuK8mxASE

Bonnie Garmus - Lessons in Chemistry - https://www.goodreads.com/book/show/206305528-lessons-in-chemistry

🧐Onde nos podes encontrar:

https://www.instagram.com/elaporelapod/

👋Tens ideias para temas? Gostavas de vir falar connosco?

Envia-nos uma DM no Instagram @elaporelapod

Transcript

Introdução e Feedback dos Ouvintes

00:00:00
Speaker
Olá, eu sou a Andrea Balacó, uma Maria Rapaz que odeia generalizações. E eu sou a Andrea Candide Saraiva e graças aos estereótipos sinto que penso e sinto demasiado. Bem-vindos a Ela por Ela, onde a conversa é sempre entre amigas.
00:00:28
Speaker
Novamente, queremos agradecer o vosso feedback e por nos mostrarem que vos acompanhamos em várias situações do dia a dia. Tem alturas que não entendemos bem como tem sido tão positivo o feedback e que têm gostado do que temos estado a fazer, mas sabem que temos o nosso pingo de impostoras. Por falar nisso, se quiserem comentar no nosso Instagram qual o vosso pingo ou qual o vosso tipo de impostor, estejam à vontade.
00:00:51
Speaker
Olá, bem-vindos outra vez. Obrigada, como a Andrea dizia, às pessoas que nos mandaram feedback e que sofrem connosco neste síndrome de impostores. Estamos juntos. Esperamos que, de alguma forma, o episódio vos tenha feito sentir um bocadinho mais normais e menos sozinhos, porque acho que isso ajuda sempre.
00:01:15
Speaker
E hoje temos aqui um tema que André também vai encontrar, mas que nos foi sugerido também por uma das nossas ouvintes.

Diferenças Cognitivas entre Gêneros: Mito ou Realidade?

00:01:22
Speaker
É verdade, para o episódio de hoje decidimos abordar como é que as mulheres pensam. E pronto, é um tema também que tem pano para mangas e que interdica com várias coisas, mas pediram-nos para pensarmos um bocadinho
00:01:37
Speaker
como explicar esta temática e eu e a André aceitámos o desafio e, portanto, vamos ver. Degerindo assim um bocadinho as vossas expectativas para o episódio, será que as minhas pensão de alguma forma especial ou será que isso é apenas um mito cultural que fomos construindo ao longo dos séculos?
00:01:54
Speaker
Vamos descobrir o que a ciência tem a dizer sobre este tema e, acima de tudo, falar sobre alguns estereótipos famosos e, claro, fazer uma viagem divertida pelo complexo universo cognitivo feminino. Bora, Andrea, que este desafio não é fácil. Bora, estou preparadíssima.
00:02:12
Speaker
alguma vez te perguntaste porque é que se diz que as mulheres conseguem fazer uma coisa ao mesmo tempo? Será que é mesmo assim ou será que estamos a subestimar o poder do cérebro feminino? Estás-me a perguntar a mim? Eu acho que essa coisa de as mulheres serem capazes de fazer muitas coisas, está ao nível dos homens dizerem que não são capazes de fazer determinadas coisas.
00:02:38
Speaker
porque não querem fazer e porque querem que nós fazamos. Eu acho que isso surge porque a mulher tem, efetivamente, muitas funções dentro de casa, tem muitos papéis fora e dentro de casa e acaba por ter que se desdobrar em mil coisas. Está comprovado, cientificamente, que o nosso cérebro não é bom a fazer multitasking. No entanto, eu acho que é tipo o survival mode.
00:03:02
Speaker
Eu acho que é força da socialização e não tanto porque nós de repente nascemos com um cérebro mais multitasker do que os homens. Qual é a tua perspectiva sobre isso?
00:03:16
Speaker
Na minha opinião, e pelo menos daquilo que eu fui vendo, é assim, eu sinto que ao longo do tempo, por exemplo, falando pela minha experiência própria, havia alturas em que eu acreditava piamente que fazia multitasking. Bullshit, sabemos todos bem que não, mas nós gostamos sempre de acreditar que quando somos mais novos temos essa capacidade. Agora que a idade me pesa um bocadinho, tenho a plena noção de que se eu não fizer um ano, é sequer a task, ou seja, uma tarefa de cada vez, vai sempre dar...
00:03:43
Speaker
um problema maior. Aquilo que, da investigação que eu fui vendo, tanto os homens como as mulheres não conseguem fazer multitask, mas isso é genérico aos cérebros de cada um, e isto porque a verdade é que eles não são muito diferentes, não é? Porque como diz a Gina Ripon, se lhe apresentassem um cérebro de um homem e de uma mulher, ela não conseguia identificar pelo cérebro se era um ou se era outro, porque a verdade é que não para distinguir, não existe uma diferença específica.

Expectativas Sociais e Papéis de Gênero

00:04:12
Speaker
E agora,
00:04:13
Speaker
Outra questão que eu acho que depois vai aqui desenvolver aqui um pouco mais o tema, que é o que é realmente biológico e o que é que é socialmente construído na maneira como as mulheres pensam? É pá, não sei, não consigo dar uma porcentagem, mas eu acho que grande...
00:04:27
Speaker
parte da forma como nós pensamos tem a ver com a nossa culturação, tem a ver com a socialização. São mais coisas que nos são incutidas ao longo dos tempos, à medida que crescemos, coisas que nós ouvimos e que nos dizem especificamente para fazer e que nós vamos interiorizando
00:04:46
Speaker
e que depois acaba por está, porque é essa a expectativa que se tem em relação ao género, acaba por ter essa ideia de que nós somos essas coisas todas, as mulheres são muito, muito melhores a cuidar, são muito melhores na vida da casa, são muito melhores, por exemplo, a cozinhar, como a outra cozinha está associada aos homens e aos chefes,
00:05:08
Speaker
não tanto esse estereótipo de a mulher é muito melhor a cozinhar e temos as duas coisas, não é? Os homens na vertente profissional e as mulheres em casa. se deixou de achar que era uma coisa estritamente feminina. Por acaso, este fim de semana nós falávamos sobre isso porque temos uns primes em que temos uma menina mais velha e um menino mais pequenino.
00:05:31
Speaker
e dizia-se, ah, ela-se mesmo que é aquela coisa de irmã mais velha, a cuidar, não sei o quê, e eu essas coisas-me logo, assim, fico logo enervada, não tenho nada, mas fico logo enervada, porque ela tem essa coisa, porque nós verbalizamos isso, nós dizíamos, toma conta do teu irmão, eu por exemplo, tinha uma amiga minha que me dizia que a filha tinha um primo,
00:05:55
Speaker
Eles eram da mesma idade e a avó ela dizia serve o teu primo. E ao contrário isso não acontece. São estas coisas todas que nós vamos interiorizando e que depois fazem com que nós tenhamos estas características que na verdade não temos. que crescemos ao ouvir tudo isso e também interiorizamos. Respondendo à tua questão acho que não sei, mas se calhar mais de 90% são coisas que nós aprendemos na socialização.
00:06:20
Speaker
Pois é, é super engraçado porque é mesmo isso. Estava-me a lembrar aqui tipo daquilo que tavas a dizer e estava-me a lembrar dos meus irmãos. Eu tenho quatro irmãos. Eu sou a única rapariga. E os mais velhos e os mais novos nunca foi... Nem os mais velhos lhes foi pedido para cuidar de mim, mas a mim foi-me pedido para tomar conta dos mais novos, pelo menos. Embora, claro que houvesse algum tipo de proteção na minha adolescência e por parte dos mais velhos, que é normal em algumas situações,
00:06:48
Speaker
mas nunca houve aquela questão do... e até mesmo essa questão do servir ou qualquer coisa. Por exemplo, eu trocava as faldas aos meus irmãos, eu vestia, eu tomava conta deles, etc. Nunca ninguém fez isso por mim, sem ser a minha avó ou meu avô, não é? Tipo, ou seja, havia aqui essa diferencia, se eu vir para casa é engraçado que tenhas apontado, porque agora estava para me lembrar desse tema e é real, é uma coisa que... é automática, não é?
00:07:14
Speaker
Sim, é porque é muita, mesmo a nível de, se pensarmos, a nível de casal, pergunta-se muitas vezes, é, tu como é que ele é com o pai? Muda fraldas, não sei o quê? Tipo, tu não perguntas isso a uma mulher, tu não espera, tu não perguntas à mãe se ela vai mudar a fraldas ou não. Claro, tipo, isso é um dado adquirido, a mulher vai cuidar do bebê.
00:07:35
Speaker
Porque, pronto, ok, nós temos a parte de amamentar, que é obviamente quase exclusivamente feminina, embora haja formas de envolver o pai, é quase exclusivamente feminina. Mas todas as outras coisas, elas podem ser repartidas de igual forma. Eu não sou necessariamente melhor a mudar fraldas do que o Rui, mas a mim ninguém sequer me pergunta se eu mudo fraldas ou não. E também ninguém me um prémio se eu mudar fraldas.
00:08:00
Speaker
Isso é outro tema, mas sim. São apropriados por esse prisma.
00:08:14
Speaker
Nem sei se foi chocada, porque eu acho que tinha um bocadinho esta percepção. Mas a verdade é que se não existe uma diferença em nada entre homens e mulheres, porque é que existe esta construção social à volta dos nossos cérebros, porque até a parte dos nossos cérebros eles tentaram associar ao género, ou seja, cada género tem um cérebro diferente, cada género tem capacidades diferentes e por isso, então, como as mulheres são mais emocionais têm que ser cuidadoras, os homens como são mais
00:08:41
Speaker
lógicos, têm que ser cientistas, ou seja, desde a nascença, a partir do momento em que se sabe que o feto é feminino, está automaticamente fadado para ser determinada coisa, mas efetivamente o nosso cérebro não tem diferenças, portanto, as capacidades de cada um é igual, por que razão?
00:09:00
Speaker
é que nós criamos estas coisas desde o início e ela desde a investigação inicial que se fazia até aos canos, aos raios X que se faziam ao cérebro e que se fizeram até inclusive a bebês, essas coisas todas, está-se a tentar enveredar por um caminho, logo automaticamente em fazer provar a diferença
00:09:19
Speaker
entre sexos e inclusive entre pensamento.

Estereótipos de Gênero como Ferramentas de Controle

00:09:23
Speaker
Mas isso para mim tem uma explicação muito óbvia, é uma ferramenta de controlo, é uma ferramenta de controlo de uma minoria, que não é uma minoria na verdade, é uma quase maioria, que é o género feminino, é uma forma de nos controlar, da mesma forma que quando existiam escravos,
00:09:40
Speaker
Quando existia a escravatura, existia uma série de trabalhos científicos que provavam, diziam eles, comprovavam que uma pessoa de uma outra etnia tinha uma anatomia inferior, que cerebralmente era inferior e incapaz de desempenhar determinadas tarefas e portanto também nessa altura havia essa justificação de
00:10:07
Speaker
As pessoas de raça negra, por exemplo, são escravas porque anatomicamente e a nível de estruturas cerebrais são inferiores e incapazes de desempenhar determinadas tarefas. É um instrumento de controle. E como é? Eu acho que é que acontece exatamente a mesma coisa. Os homens, não vou dizer o genérico,
00:10:30
Speaker
Neste caso não é jornalizar, mas a sociedade patriarcal não nos queria a fazer determinadas coisas, queria-nos em casa a reproduzir e a cuidar da prole e, portanto, definiu-se uma série de coisas e continua-se a perpetuar uma série de coisas para garantir
00:10:45
Speaker
que nós estamos focadas não se calhar em progredir a nível profissional, se calhar em sermos mais nas ciências e nas tecnologias, mas focadas nessas coisas e assim como existe isso, esses estereótipos todos que nós interiorizamos, existem as dietas, existe o mundo da beleza, todas essas coisas eu acho que são distrações.
00:11:06
Speaker
para nós, de repente, estamos super focadas nisso. São distrações que são difíceis de ignorar, porque são coisas que nós ao longo dos anos vamos interiorizando. São histórias que nós lemos. Às vezes as pessoas acham um bocado toda aquela coisa de, ah, e agora os meninos e as meninas não podem ter diferenças, mas é verdade, sim. São as histórias, são a forma como nós elogiamos as meninas, são os papéis que nós vemos,
00:11:31
Speaker
nas séries e nos filmes, na televisão, em que nós não somos, nós não ambicionamos ser aquilo que nós não vimos que podemos ser. E não havendo essa representatividade, quem vem depois é muito importante quem faz o papel de pioneiro. E portanto eu acho que essencialmente é uma ferramenta de controlo. É por isso que pessoas tão empenhadas em detectar diferenças onde elas não existem. Eu li um...
00:11:57
Speaker
Uma frase que eu achei que resume, nós temos mais coisas semelhantes do que diferenças. E a Gina Rippon, que tu estava a citar, também diz. A gendered world will produce a gendered brain. Um mundo enviesado pelo género vai produzir um cérebro para cada género também. Pronto, é uma tradução meio mazinga, mas é isso.
00:12:22
Speaker
Portanto, eu acho que é um instrumento de controle, é por isso que nós continuamos a preservar. Isto levou este cérebro aqui, mas levou este cérebro aqui a pensar o que é que terá sido, sei lá, uma mulher, tipo, antigamente, antes de começarem a fazer estes testes, iria definirem estas coisas para entender estas diferenças e começarem a fazer esta forma de controle, porque
00:12:47
Speaker
Alguma coisa uma mulher algo-uros teve que representar para ser uma ameaça para, porque é um bocado o que ela diz, os servos das mulheres são inferiores, no entanto
00:12:58
Speaker
Mais tarde começou-se a perceber, epá, é um bocado difícil nós andarmos aqui a dizer que são inferiores, então vamos começar a dizer que são boas para acompanhar os homens e serem mães. Isto foi aquilo que os estudos começaram a enviosar, mas a razão é, é o que ela diz, as métricas foram todas inventadas e cada vez que as mulheres saíam por cima, as métricas mudavam.
00:13:19
Speaker
que era para não deixar a coisa sair do sítio, e é uma coisa tipo assustadora. E depois uma coisa que ela diz também que é muito interessante, que é um bocado como acontece com os autistas, né? Que é o que ela diz, tu conheces um autista, conheces um autista, não os conheces a todos.
00:13:39
Speaker
É a mesma coisa com o cérebro, seja de homem ou seja de mulher, conhecendo um cérebro, conhecendo uma pessoa, não as conheces a todos. Estrapolar determinadas características é super problemático, mas foi isso que se acabou por fazer e por perpetuar através de determinadas coisas.
00:13:58
Speaker
E ela diz uma coisa super gira, que é, o cérebro da mulher, neste caso, é considerado frágil e diziam, ela dizia tipo em jeito brincadeira, que é uma coisa que eu também vou brincar aqui um bocadinho, que é, o nosso cérebro é tão frágil que nós não aguentaríamos estudar, não podíamos ter formação e educação superior, mas isso tudo porquê?
00:14:24
Speaker
sermos educadas e termos formação e termos capacidade para pensar por nós próprias e sermos independentes e a reduzir a chance de nos reproduzirmos e de sermos menos atractivas para nos casarmos. E isto é uma coisa tipo o que, biologicamente falando, é o que ela diz. Somos ótimas para ser princesas, mas não para sermos cientistas. Sim, porque isso significa partilhar coisas conosco, isso significa partilhar o poder. E a verdade é que o homem branco
00:14:53
Speaker
Esse género não gosta de partilhar o poder e, portanto, desenvolveu as estruturas nesse sentido,

Normas Culturais e Socialização Emocional

00:15:02
Speaker
não é? No sentido de nós não nos desenvolvermos a nível intelectual. Isso está muito presente nos livros de época. Os comentários que se faziam e nas séries de época em que era tipo, nunca se atua a cabecinha com isso.
00:15:18
Speaker
Até uma coisa tão simples como a moda. E por exemplo, a altura em que se usavam os partilhos muito aportados e que nós vemos as peças de conteúdo sobre essa altura em que as mulheres estavam sempre afoguiadas e a desmeiar.
00:15:33
Speaker
Isso tinha literalmente a ver com o facto de elas estarem com um espartilho que as impedia de respirar. Agora diz-me, se tu vives numa peça de roupa que te impede de respirar, que cabeça é que tu tens para pensar seja no que for?
00:15:51
Speaker
Nem oxigena, tipo, tudo isto são coisas, mas é verdade, nós se pensarmos, nós formos ao pormenor de, nem as nossas roupas foram feitas para serem confortáveis, ao contrário dos homens. Diz-me quantas vezes tu ouves um homem que deixar-se uma roupa desconfortável?
00:16:10
Speaker
Pouquíssimas vezes. Todas estas coisas que nós... E que é engraçado porque as pessoas de repente, não é de repente ao longo do tempo, começaram a dizer que isto eram coisas do universo feminino. Na verdade, são tudo sub-refúgios para nós estarmos a pensar noutras coisas, para nós não estudarmos, para nós estarmos obcecadas na competição com as outras.
00:16:35
Speaker
para nós não disputarmos qualquer tipo de poder com o homem. Isso é super engraçado, porque, por exemplo, aquilo que tu estás a dizer é, efetivamente, é uma das coisas que dizem em relação às mulheres, que as mulheres se preocupam com a imagem, que se preocupam, pensam nessas coisas, e a verdade é que não é assim, nós temos muito mais para pensar.
00:16:56
Speaker
Mas, efetivamente, até a forma como as nossas roupas, ainda falávamos no outro dia isto, quando estávamos juntas, com a Marina, que era a questão dos números, dos tamanos em certas lojas, em certas coisas, que nos condicionam a estarmos confortáveis com uma determinada roupa ou até mesmo a comprá-la, porque muitas das vezes
00:17:15
Speaker
a pessoa fica tipo deprimida, de chegar a uma loja tipo e ver uma coisa que não cabe nem na cabeça, como o resto do corpo. Porque não cabes no padrão. E repara que tu normalizaste a ideia de estar desconfortável numa peça de roupa. As mulheres usam saltos altos, que não é um calçado confortável, embora muita gente que usa muitos anos e consiga encontrar um conforto, mas não é um calçado confortável de raiz.
00:17:44
Speaker
E nós normalizámos o estar desconfortável, nós normalizámos usar a roupa apertada, nós normalizámos uma série de coisas, está a indústria das dietas, todas essas coisas contribuem para nos ocupar com coisas que na verdade, pá, não são assim tão relevantes, mas que nos foram impostas ao longo do tempo. As meninas devem ser... as meninas são sempre as enfermeiras, não são os médicos.
00:18:13
Speaker
As meninas, tu elogias uma menina e dizes, é mesmo bonita, é mesmo não sei o quê. Tu não dizes, ela é superaventureira, corajosa. Não, tipo, uma menina que fala muito ou que fala alto, está constantemente a pedir para falar menos, para falar mais baixo. E é que entra o internalizado síndrome de impostor.
00:18:34
Speaker
também pronto olha isso não não sabia tás a ver não fiz esse connecting the dots é basicamente na parte que nos comparam com tu és tão perfeita mas um rapaz ele é elogiado porque porque é destemido é corajoso conforme tu vais recebendo estas pequenas mensagens tu estás a ser programada mas ao mesmo tempo estás
00:18:56
Speaker
a inserir dentro de ti que tu nunca vais ser suficiente. E por isso é que o síndrome de impostor faz o kick-in. É por isso que ele aparece e é uma cena super interessante. Ok, já. E por acaso quando estava a pensar sobre este tema lembrei-me de uma coisa, um exemplo tão simples. Muitas vezes nós vemos muita diferença nos rapazes que foram criados exclusivamente por mulheres. E isso para mim é prova de que a socialização e o que tu cresces a ouvir tem tudo a ver com a forma como tu te vais desenvolver.
00:19:26
Speaker
mas está interligado com outra coisa, que é aquilo que é visto super mal no pensamento da mulher, que é a mulher ter capacidade de fazer um pensamento muito mais ligado às suas emoções. Ou seja, senta-lhe demasiado, pensa-lhe demasiado, tem demasiada empatia. E essa ligação tem a ver com aquilo que a Gina também diz, que tem a ver com os nossos cérebros que estão programados para serem sociais, e é isso que nos torna diferente dos outros. Na realidade, não é o cérebro de um nem o cérebro de outro, são as nossas emoções.
00:19:56
Speaker
a capacidade de teres empatia, de teres um sentido que existe outra pessoa, que tens o teu sentido próprio, de ti próprio, um sentido de pertença. Isso é o que faz com que os nossos cérebros tenham pensamentos diferentes e que tenham a capacidade de se diferenciar dos outros. E é por isso que existe também aqui uma ligação, que eu não sei se um conecto adótico específico, mas intuição feminina, e isso-nos uma vantagem nas interações sociais e profissionais, que é aquilo que eu acho que
00:20:25
Speaker
tentam nos limitar por isso. Ou seja, até mesmo naquela questão da roupa que estávamos a falar para trás, quando são mulheres que são mais masculinas, ou que começam a vestir mais como masculino, ou que assumem as suas emoções e que têm capacidade de fazer uma maior empatia com as outras pessoas e que se conseguem relacionar melhor, isto é uma vantagem para ti. É uma vantagem para ti. E as pessoas começam a fazer aquilo que fazem com as minorias todas, que é
00:20:53
Speaker
Ah, é mal visto, tipo, uma mulher, tipo, justiça como se fosse um homem. Ah, é mal visto uma mulher, tipo, sentir tudo e mostrar as emoções todas e etc, etc e tal. Então, é a maneira que eles têm também de te controlar nesse sentido que é, bora lá, diminuir aquilo que é uma vantagem competitiva delas.
00:21:14
Speaker
Mas eu agora estava aqui a pensar, será que somos nós que somos mais emocionais ou são os homens que também, por força da socialização, são ensinados a reprimir as suas emoções? E daí vem a diferença entre um género e outro.
00:21:30
Speaker
Sim, eventualmente porque eles dizem que desde pequenos os miúdos, por exemplo, a tal questão de serem encorajados a serem mais destemidos ou mais corajosos ou que têm mais lógica, mas eles são sempre muito mais elogiados, sabes? E eu acho que no caso é, às vezes nem é que eles não desenvolvem essas emoções, eu acho é que acabam por reprimi-las, porque eu acho que...
00:21:56
Speaker
os homens acabam por ser mal vistos porque torna-se a ser feminino. É isso, é o não sejas uma menina, não sejas menina, não sejas mariquinhas, é isso é que eu achei, que às tantas não somos nós que somos mais emocionais, às tantas nós somos igualmente emocionais, claro que isso depois vai de pessoa para pessoa. Eu vou ser, eu posso ser menos emocional que tu e somos as duas raparigas, não é? Depois o grau, mas eu acho que se calhar eles verbalizam muito menos, porque desde miúdos...
00:22:26
Speaker
Exatamente, exatamente. Mas desde miúdos que são ensinados que não devem chorar, que não devem... que os homens não falam entre si. Muitas vezes temos esse... assistimos esse fenómeno que é um rapaz procurar uma melhor amiga para conseguir desabafar, para não se sentir julgado. Mas eu acho que isso não tem nada a ver com nós sermos particularmente
00:22:52
Speaker
empáticas ou sensíveis ou emocionais. Eu acho que isso tem a ver com a nós é-nos admitido ser assim. Aos rapazes não. E, portanto, acaba por gerar aqui uma diferença pelo mesmo motivo. Nós fomos socializadas para ser mais empáticas, eles foram socializadas para serem menos empáticos, mais brutos, mais diretos ao assunto, mais pragmáticos. Confere. Confere até porque tem a ver com a questão de...
00:23:20
Speaker
Tem a ver com a questão de sermos cuidadoras, ou se não nos deixassem mostrar as nossas emoções e desenvolver essas emoções, depois também não tínhamos como ser a cuidadora da coisa. Ou seja, eu acho que na generalidade, sim, é um bocadinho isso e acho que isso vai um bocadinho à questão
00:23:35
Speaker
também do estilo de liderança que as mulheres têm, que dizem que normalmente é um estilo de liderança mais colaborativo, mais orientado para o consenso, que também é desvalorizado. Porquê? Porque grande parte dos líderes hoje em dia são sempre homens. Mas a questão é, eu acho que isto vai tudo a um ponto muito específico
00:23:53
Speaker
tem a ver com a neuroplasticidade, que tem a ver com o facto de, independentemente do género, o nosso cérebro vai mudando a sua capacidade e vai se adaptando e mudando ao longo da vida, portanto. Ou seja, basicamente, o que nos molda é o ambiente, é a nossa experiência, é a nossa educação, portanto. Eu acho que por questões hormonais e por outras várias questões, existe qualquer coisa associada às emoções que estão um bocadinho mais extrapoladas do que nos homens, especificamente. Mesmo que eu for vendo aqui este...
00:24:20
Speaker
essa possibilidade de eles também socialmente ter havido uma construção de que não podem mostrar emoções e etc, mas existe aqui qualquer coisa a nível biológico que nos impele mais para esse lado. Agora, como é óbvio, mais ou menos conforme também
00:24:37
Speaker
Tudo o resto vem do ambiente da pessoa, da personalidade, etc. Eu acho que, eu pessoalmente acho que tem muito mais a ver com o meio do que com a genética ou com o género. Porque pá, eu conheço tantas mulheres que não são minimamente cuidadoras, que não são empáticas, e ao contrário também, também observo o mesmo. Acho que, não sei, não sinto
00:25:03
Speaker
que haja nada em nós. Ok, nós somos hormonais, mas mesmo o hormonal varia de pessoa para pessoa, não é? Tipo... hormonais que ficam, tipo, parece um nião numa jaula ou... Sim, tipo, à partida tu tens duas fases do ciclo, uma fase que te faz ser mais outgoing, não é? Mais extrovertida, ir à procura de parceiro, entre aspas, vai, é assim que...
00:25:26
Speaker
Tipo, a nível da natureza é assim que funciona. a fase da ovulação em que tu não sabes, mas o teu corpo sabe que estás a ovular e, portanto, ficas mais travertida, ficas com mais vontade de socializar, ficas mais atraente. E depois a fase lúdia em que ficas mais recolhida, mas com mais vontade de estar em casa precisamente porque supostamente aconteceu a fertilização ou o...
00:25:51
Speaker
pode não ter acontecido, mas passaste essa fase, não estás a ovelar e então partindo do princípio que essa fertilização possa ter acontecido, tu estás a fazer o ninho, estás a cuidar, estás a proteger, não queres ser apelativa para pós machos das redondezas e portanto estás em casa. E eu percebo que isso tem algum impacto na forma como nós nos comportamos,
00:26:15
Speaker
Não sei quando eu observo, quando penso um bocadinho nisso, acho que é muito mais... Quando pensas em situações concretas da tua vida, pelo menos, vejo que montes de coisas que me foram, que aos pouquinhos, estás a ver, nós fomos interiorizando, e que fizeram... É que na verdade, o que é que é realmente feminino? O que é que... Eu tive esta conversa com amigas minhas, tipo, o que é que é feminino? O que é que é de nós?
00:26:41
Speaker
E o que é que nos foi imposto? Porque eu, por exemplo, tanta coisa feminina com a qual eu não me identifico minimamente. Sempre achei que era Maria Rapaz e...
00:26:53
Speaker
Também tenho as minhas cenas de negagem, como eu costumo dizer, mas... Eu sinto-me muito mais confortável. Exato. Sinto-me muito mais confortável no espectro masculino de algumas coisas, precisamente porque privilige o conforto, porque privilige-o dedicar-me a outras coisas que não... Eu sinto-me tão estúpida quando perco tempo, quando não me sinto bem fisicamente e isso me está ocupando espaço mental. Porque eu penso...
00:27:23
Speaker
Eu tenho tanta coisa para aprender e tanta coisa para fazer porque é que eu estou a ocupar espaço mental com o facto de não encaixar num padrão que alguém definiu. Um padrão que foi mudando ao longo dos séculos e depois um dia gostava que nós fizéssemos um podcast sobre isso, sobre a cena da dieta e do padrão, daquelas que entram ou não no padrão.
00:27:43
Speaker
Esse próprio padrão, que era um bocado o que tu tavas a dizer pouco acerca de outra coisa, é a linha de chegada está sempre cada vez mais longe, está sempre mais longe, está sempre mais difícil de alcançar. E eu fico furiosa de perder espaço mental com isso, de perder tempo da minha vida e disso me afetar. E tenho plena noção que isso foi coisas que me foram incutidas, isso eram coisas que eu lia nas revistas, são as séries de televisão que nós vemos, os filmes, as novelas,
00:28:12
Speaker
Todas essas coisas, é a minha avó, é a conversa das avós e das tias, estás mais gordinha ou não sei quê, comporta-te como uma menina. Pá, todas essas coisas sempre me chatearam e por isso é que na minha família eu era conhecida como a senhora doutora.
00:28:32
Speaker
Porque eu estava sempre a cagar sentenças, basicamente. Que nerva-me desde sempre, essa distinção de, ai, comporta-te como uma menina, mas tipo, quem é que define o que é que as meninas fazem?

Carga Mental e Educação de Gênero

00:28:44
Speaker
Está a saber, vai tudo à cena que nós estamos a falar aqui, isso é pai nervoso. Tens as coisas tipo da condescendência e eu acho que com as mulheres somos todos muito condescendentes. Super! Com as meninas, com as crianças, com as meninas.
00:28:58
Speaker
com as adolescentes. uma coisa que sempre me irritou que é aquela coisa de estar sentada e se tiveres perna cruzada está tudo bem, mas se tiveres pernas abertas, tipo que não és um rapaz, não tens que estar assim sentada, que isso não é maneira de estar. E eu pergunto-me porquê? Porque se eles podem,
00:29:18
Speaker
Qual é o estresse? Ah está, uma vez mais vais a uma cena de conforto. Pode ser mais confortável para ti. Estás sentado de perna descruzada. Eu acho que o estar de perna descruzada é mais confortável do que a perna cruzada. Nós temos que estar desconfortáveis. As mulheres... Eu acho que esta é uma grande conclusão. As mulheres têm que estar desconfortáveis, porque se tiverem desconfortáveis, não estão focadas naquilo que deviam estar focadas, não estão focadas
00:29:43
Speaker
atingir mais em crescer, em desenvolver, se não estão apertadas, estão sem conseguir respirar, estão com dor nos pés, estão a pensar na morte da bezerra, tudo menos...
00:29:58
Speaker
Sabe que isto vem à cena da plasticidade do cérebro, mas também à cena do ser permeável, e o ser permeável é ele estar constantemente a levar no impacto do mundo neste caso, e este mundo é um mundo estereotipado, portanto é um bocadinho por que vai
00:30:16
Speaker
que vai às coisas todas, mas uma coisa que a Gina também diz que é muito importante que é a biologia está interligada com a cultura e uma coisa tipo, por exemplo, eu gosto muito tipo nos Estados Unidos que é aquela questão, e que também acontece com homens, pelo menos ainda não houve nenhuma mulher que tenha estado na área mais de liderança que possa fazer isto, mas eu gostava muito e ainda não teria tido muita discussão sobre isto, ficaram a olhar para mim como se eu fosse
00:30:42
Speaker
Alguém do outro planeta. Mas dias em que não me apetece escolher roupa. Não me apetece. Às vezes dias em que eu acordo de manhã e eu quero ir com esta roupa específica ou pensar que quero mostrar esta cor ou outra coisa qualquer ou vou expostear qualquer bocadinha nova que tenho ali no armário. Mas outros que não. outros que eu estou tão cansada que para me levantar e existir é uma dor. Portanto, aquilo que eu penso é... Primeiro é porqueria que vier à mão
00:31:10
Speaker
Seja confortável, deixem vir. Temos que ter a base do Steve Jobs e do Mark Zuckerberg. Sempre a mesma t-shirt, sempre a mesma calça, sempre a mesma camisola de malha e não sei quê, porque who cares? Eu estava a ler um artigo em que eles diziam que quanto mais poderosa é a mulher, mais eles vão começar a falar aquilo que ela veste.
00:31:36
Speaker
O exemplo da Kamala Harris e da Michelle Obama versus Melania Trump, tipo todas essas análises que nunca vejo fazerem sobre o homem. Eu aposto contigo que o Steve Jobs é um gênio porque e o Mark Zuckerberg porque decidiram usar sempre a mesma coisa, tipo turma da Mónica quando abriam.
00:31:53
Speaker
O armário estava sempre vindo de vestidinhos vermelhos. Eu sempre achei isso genial, by the way. A primeira vez que... Qual Steve Jobs? A primeira vez que eu vi isso foi na turma da Mónica. Todos eles... A Mónica tinha vindo de vestidinhos vermelhos. Mas eu aposto contigo que se fosse uma mulher... O Steve Jobs é um gênio, pouco a tempo. É um gajo que não está para se preocupar com as fertilidades, né? Se fosse uma mulher, conversa ia ser uma coisa completamente diferente, mas achava interessante que isso acontecesse.
00:32:23
Speaker
Estão todos do Steve Jobs e do Mark Zuckerberg, deu um estudo, e o estudo diz-te que tu usas tipo uma porcentagem do teu cérebro de manhã, que se tu for escolher roupa e não sei das quantas gastas logo uma certa porcentagem e não tens o resto do dia, é importante teres uma porcentagem. Agora imagina-se!
00:32:39
Speaker
Se tu em cima disso, em cima do escolher roupa, ainda tiveres o escolher roupa e a roupa que não te serve, porque o tamanho mudou, as coisas não são feitas para o nosso corpo.
00:32:55
Speaker
E é o que eu digo, é que depois gastamos 50% da nossa energia, não é? E depois, quando vamos para o trabalho, para não falar que depois de exemplo tínhamos um monte de papéis em casa, porque por isso somos tão bojos, é como dizerem, as mulheres lembram-se de tudo, as mulheres têm muita atenção ao pormenor. As mulheres têm muita atenção ao pormenor, porque têm que ter atenção ao pormenor, porque se elas não tiverem atenção ao pormenor,
00:33:18
Speaker
Mas ninguém vai ter e, portanto, a mulher está habituada a pensar. Eu costumo dizer isso agora, eu detesto fazer malas. Eu detesto fazer malas desde sempre. Eu agora não tenho que fazer a minha mal, como tenho que fazer a mal do Francisco. E, portanto, as mulheres estão sempre, ah, o que é que o meu filho tem que levar e depois tem que não sei o que, pá, e tenho que lembrar o que é preciso fazer.
00:33:39
Speaker
A cabeça da mulher, um... eles super engraçados em que é isso, tipo, o homem está a lavar a leuça, está a lavar a leuça. Está a lavar a leuça, tipo, na cabeça dele está a passar aquele coisa de palha no meio do deserto. A mulher não, a mulher está a pensar, ok, pus a roupa, marquei a consulta, será que é preciso... é preciso fazer alguma coisa para a escola. Mas não é para ela seja uma habituação porque tem que acontecer, porque aquilo tem que acontecer se algo não acontecer. Exatamente!
00:34:07
Speaker
Não é porque ela seja boa nisso, mas isso é... Olha, estás a ver, sou uma pessoa coerente, porque isso bate certo com a minha resposta inicial. Não é porque nós somos boas nisso, é porque nós somos obrigadas. Aliás, de onde é que vêm as falhas que tu costumas ter? É exatamente desse ponto que...
00:34:23
Speaker
tem tanta coisa a passar pela cabeça e como ninguém é bom, nem homem nem mulher, não é uma questão de género também, é questão que o cérebro não consegue comportar essas coisas todas. É engraçado que tu não vejo tantos homens, por exemplo, a falar de carga mental. Eu tenho essa curiosidade se a carga mental é uma coisa exclusivamente feminina, porque eu nunca vi homens a falar sobre isso. Eu acho que eles não falam, é essa a questão.
00:34:46
Speaker
Pelo menos essa é o meu take, mas eu também não tenho... Ou seja, têm a carga mental, mas não falam sobre isso. Exato. Outro, eu acho que outro estereótipo que me estava a lembrar é esta coisa das mulheres não sou boas a ciência e a matemática. Sim, ela também fala nisso. Ela diz que existe esta questão toda que vem da parte toda científica e que vem da definição do que é que cada um dos cérebros e cada uma das pessoas logo têm competência para fazer especificamente associado.
00:35:15
Speaker
a cada um dos sexos neste caso que é o tal criar um género para cada cérebro e ela diz que as mulheres nunca foram bem vistas na área da ciência especificamente e portanto nunca foram vistas como cientistas e isso tem a ver um bocadinho com o que está internalizado mas por exemplo linkada a isto queria-te fazer uma pergunta
00:35:40
Speaker
o que é que tu sentes sobre brinquedos diferentes para as crianças, como sejam raparigas ou rapazes, festas de revelação de género e as diferenças na educação para cada um, porque inicialmente havia alturas em que os homens deveriam receber educação e as mulheres não, portanto, agora não é tanto assim, mas até se tenta um bocadinho envio usar quais são os tipos de profissões das mulheres
00:36:05
Speaker
e o que é que elas devem tirar em termos de cursos e essas coisas todas e daí também em tronca com esta parte toda da ciência, ou seja, de as mulheres não irem tanto por esse caminho porque acham que não deveriam ser ou que não têm capacidade de peira porque é o que vem internalizado para trás.
00:36:22
Speaker
Eu acho, vamos por partes então, a primeira parte os brinquedos para meninos e para meninas, vou incluir também os livros. está, por ser uma coisa tão normal, quando nós éramos crianças, foi uma coisa que eu nunca tinha pensado até ter ouvido alguém falar sobre isso, mas eu super concordo que se calhar não deveria haver uma distinção de coisas para meninos e para meninas, porque
00:36:46
Speaker
Depois é um bocadinho aquele dilema do que é que nasceu primeiro, é o ovo ou a galinha, porque as meninas, está, gênese desta nossa discussão, é, as meninas preferem determinadas coisas porque preferem efetivamente ou porque é isso que estão habituadas a ver e com o qual estão habituadas a contactar, não é?
00:37:05
Speaker
As meninas gostam efetivamente de unicórnios e fadas e princesas, ou as meninas gostam de unicórnios, fadas e princesas, porque desde o início são vestidas com... é que repara, eu agora quando tive o Francisco eu notei muito isso, porque nota-se muita diferença para quem tem meninas e para quem tem meninos.
00:37:25
Speaker
E as coisas são diferentes desde o dia 1, desde o dia 1 que as meninas... eu às vezes até pergunto. Eu, por acaso, tive a primeira em diferente, era um rapaz a ter uma rapariga, mas eu digo que tive a sorte de ter um rapaz porque eu não sou nada pipoca, não sou nada desses... pronto, esses folhinhos e não sei quê. Acho super graça, mas não é a minha cena natural.
00:37:46
Speaker
A minha mãe ficou tristíssima, porque a minha mãe tinha toda uma cena de folhinhos e bolhinhas e pompons que ela queria comprar. Mas a cena é... Eu nem assisti como um carpaz, é tão simples quanto isso. É desde o início, porque é que... Eu às vezes pergunto isso, tipo, porque é que as coisas, as meninas, não existe um meio termo, tipo, uma menina que não seja tão...
00:38:08
Speaker
Não é? Então está de menina, tão feminina, que foi aquilo que nós aprendemos a associar ao feminino. E, portanto, é logo desde o início. E se é logo desde o início? Até que ponto é que isso não é, efetivamente, tudo interiorizado depois por nós? As crianças não são capazes de almejar serem uma coisa que nunca viram ninguém ser. Elas não sabem que existe aquela profissão. Não sabem que as meninas, se toda a vida, virem enfermeiras.
00:38:38
Speaker
Não sabem que podem ser médicas, não querem ser médicas, querem ser informeiras. Se toda a vida viram astronautas, homens, nem sabem se uma mulher pode ser astronauta, por exemplo. Felizmente isto está a mudar, mas a verdade é que aquilo que é perpetuado através dos brinquedos, através dos livros, através da roupa, porque reparam, um rapaz anda de casa com os vatranites, shirt e calções e de sapatilhas, não é? E salta por todo lado.
00:39:05
Speaker
a roupa das raparigas é desconfortável, as raparigas estão constantemente porrada de fora, usam os chapatinhos que não são nada confortáveis, felizmente essas coisas usam fitas na cabeça, turbantes, pá, fofos amorosos malta, não estou a criticar quem veste assim as miúdas, que realmente se vocês compararem um género e outro, a roupa dos rapazes é muito mais confortável para eles andarem a saltitar, que é o que eles mais gostam de fazer.
00:39:32
Speaker
Mas é uma cena super estranha e quando a Gina estava a falar nisso, foi uma cena que bateu aqui quase como se fosse um raio. Porque é que os rapazes brincam com legos e as miúdas...
00:39:48
Speaker
cozinhas tipo inventadas e barbies e princesas e não sei quê. Os rapazes também gostam de brincar com bonecas e com cozinhas, por exemplo. A bem ou a mal, olhei para trás e pensei assim, epá, a minha família de certa maneira alguma coisa fez de certo. Não sei se foi propositado, que eu acho que não foi, porque eu acho que no caso da minha família foi muito tipo do género.
00:40:12
Speaker
Ele gosta mais de coisas de miúda, então vamos lhe dar coisas mais de miúda e a ela vamos lhe dar coisas de rapaz, porque ela é mais Maria rapaz, mas eu acho que foi porque eles sempre acharam que nós nascemos os dois com o sexo invertido, do contrário. Mas a questão é...
00:40:28
Speaker
O meu irmão foi vestido de joaninha, uma vez tipo numa cena do carnaval, e eu ia vestida de príncipe. Ele vestido de vermelho, eu vestido de azul. Estás a ver? Mas assim, não é? Chega a um ponto em que é do género. Pá, pelo menos não me condicionaram de determinada maneira, ou seja, tipo... E nós brincámos com legos os dois, eu tinha tipo... Davam-me as barbies e as coisas, e não era eu que brincava com elas, era o meu irmão. Era ele que dava bem aos nenucos, eu não sequer tocava neles.
00:40:55
Speaker
Exato. O género. O meu irmão ganhava carrinhos tipo telecomandados e quem gostava de brincar com eles era eu. Voilà. Isto é um exemplo prático de que não nasceste condicionada para gostar de coisas vulgo de menina, não é? Exato. E achei super engraçado, sabes? Porque olhei para as coisas para trás e pensei assim, eu acho que não foi propositado, mas pelo menos alguma coisa correu bem nesta história toda. Em termos de festa de revelação de género.

Pais, Crianças e Identidade de Gênero

00:41:21
Speaker
o azulinho e o cor-de-rosinha e não sei das plantas. Olha, eu não sei. Eu acho que o Baby Power... Eu não consigo... Eu respeito, não é a minha cena. Não acho que seja um motivo para celebrar ou deixar de celebrar. A minha mãe se tivesse aqui dizia agora não se pode fazer nada.
00:41:44
Speaker
Nós problematizamos tudo, mas... Sabes que ela diz exatamente isso que é, as festas de revolução de gênero, sua primeira manifestação, como é que fazem usar as crianças no futuro?
00:41:57
Speaker
Sim, e tipo, imagina que o teu pai, a tua mãe, está contente ou não, quando tu se és uma menina. É um menino que uma coisa que tu não controlas minimamente. É, por exemplo, eu lembro-me que a minha mãe achava que eu ia ser um rapaz e quando eu descobri isso, eu ainda tive assim uns tempos em que eu sentia tipo, oh, foi que eu não fui aquilo que a minha mãe queria que eu fosse, tipo, eu não sou um rapaz. Estás a ver?
00:42:21
Speaker
Até que ponto é que isso não influencia outras coisas? O porquê de creres que sejam rapazes ou que sejam uma rapariga?
00:42:32
Speaker
Acho que isso diz logo, sobre a cena de, somos todos iguais mas uns que são mais iguais do que outros, tipo dois pesos e duas medidas logo à cabeça. Pra se tenho uma coisa pra te perguntar que é, achas que isso também é uma das coisas que podem vir a usar, o facto de por exemplo uma pessoa ser mais, por exemplo, eu acho que a minha mãe também devia querer ter primeiro um rapaz, por isso é que me tratou a mim
00:42:52
Speaker
sempre muito mais como rapaz, e depois quando veio o meu irmão, foi tipo do género, agora vem-te o pôr de rapaz, estou a tratar a outra como, agora vou tratar isto como rapariga, quase. É como o pôr de um comprito, mas assim não é, tipo, se tu passas isso para a criança, como aconteceu contigo, tipo, alguma coisa que te possa influenciar, por exemplo, eu sei, Maria Rapaz, ou vou tentar... Não sei, porque eu descobri isso mais adiante e nem foi a minha mãe que me disse, foi porque eu sou uma grande cusca e li umas cartas que a minha mãe escreveu para o meu pai,
00:43:22
Speaker
E descobri que ela achava que eu ia ser um rapaz. Mas foi mais à frente, ou seja, a minha personalidade de Maria Rapaz, ela existia. Agora, se foi porque a minha mãe queria muito que eu fosse um rapaz, não sei. Ela sempre me vestiu muito feminino e as coisas eram de menina e não sei o quê.
00:43:45
Speaker
Eu acho que naturalmente não sou tanto essa parte, né? E eu acho que ao longo dos anos, quanto mais confortável eu estou com a pessoa que eu sou, menos eu estou para esse lado, então até faço algumas coisas que são ditas femininas, mas, pá, tenho um...

Experiências Pessoais e Quebra de Normas

00:44:05
Speaker
eu no fundo estou num...
00:44:08
Speaker
num meio termo super confortável, tipo que é, eu sou o que sou, eu gosto destas coisas, eu até costumo brincar às vezes conforme eu me costumo vestir, porque às vezes, pá, eu gosto muito mais de cenas andrógenas, muita coisa do universo mais clean, eu vou muitas vezes às compras e eu gosto mais das coisas da parte do rui do que da parte das mulheres, tipo...
00:44:35
Speaker
Mas a cena é essa, é que cada pessoa é uma pessoa e se a pessoa quiser ser super feminina, vamos chamar assim, tudo bem, bacana, faça aquilo que a faz feliz. Eu acho é que não devíamos condicionar as pessoas, nem devíamos esperar.
00:44:49
Speaker
que uma mulher seja melhor a cozinhar, melhor a cuidar do irmão ou do pai ou do avô. Todos esses estereótipos que nós achamos, isso é que eu acho que nós devíamos combater, não para nós mulheres, porque é muito menos limitante, mas também para os homens. Porque um homem, por exemplo, o shaming que aos enfermeiros homens,
00:45:14
Speaker
Não é? Um enfermeiro homem é sempre visto... sempre aquela piadola, tipo, o enfermeiro... Epá, mas porquê? Porquê que o enfermeiro não pode ser...
00:45:23
Speaker
não pode ser homem, é uma estupidez. Porque é que os homens não podem cuidar, tipo... Existem estereótipos até inclusivamente, tipo, na área mais LGBT, não é? Tu tens, por exemplo, e contra mim falo porque tinha muita satanésia no início e depois mudei um bocadinho a minha maneira de falar deste tema, mas na área de relações públicas, nas empresas, não é? Quando é homem, normalmente o que se diz é que normalmente é gay.
00:45:52
Speaker
Ah, sim, sim, sim, sim, sim, pois... Porque a gente acha que as condições públicas a maioritariamente se mudam. Sim, sim. No entanto, eu trabalhei com muitos que não eram e que trabalhavam em áreas... Ah, está, porque isso não... Mas o pessoal acha que, efetivamente, isso é uma coisa. Sim, mas eu acho que também...
00:46:11
Speaker
Existe que houve coisa, tipo, também na área de social media, tipo... Achas? Por acaso a social media não tem essa percepção? Não tem essa ideia? Menos às vezes ouvi alguns comentários, tipo, que era preciso ser bom a escrever e que os homens normalmente não são... Ah, isso é outra coisa. Os homens não são bons a escrever. Temos literatura que agora é que estamos a fazer a luta
00:46:34
Speaker
pela literatura feminina, porque até aqui era quase homens, mas os homens não são bons a escrever. Eu acho sempre, por isso é que eu digo isso, é aquilo no início, isto é a minha teoria, que os homens nunca são bons a fazer aquilo que eles não querem fazer.
00:46:49
Speaker
E, portanto, quando eles não querem fazer alguma coisa, é assim, ah, mas eu não sou tão boa, eu não sou tão boa a escrever coisas, a escolher prendas. Ah pá, eu também, às vezes, não me apetece procurar uma prenda, percebes? Mas é fácil, enquanto o homem dizer, ah pá, as mulheres são muito melhores a escolher prendas, a embrulhar, não sei o quê, tipo, porra, nós somos melhores porque temos que fazer, porque senão ninguém faz.
00:47:12
Speaker
Eu acho que essa é a cena. E outra coisa que eu me estava a lembrar agora por causa disso que estávas a falar é... Uma coisa que ainda não falámos aqui é... Nós, enquanto seres humanos, eu acho que é a nossa forma de interpretar a realidade. Nós temos mesmo esta coisa de pôr as coisas em caixinhas, arrumar as coisas em caixinhas. E eu lembro-me por causa que estávas a falar da questão do LGBTQ e é verdade. Tipo, quando vês um casamento gay, com dois homens ou duas mulheres ou outro...
00:47:40
Speaker
não binário, ou seja, tens essa questão de quem é que é o noivo e quem é que é a noiva? Epá, francamente, o que é que isso interessa são as duas noivas, são duas mulheres, são duas noivas, são dois homens, são dois noivos, são duas não binárias. Por isso é que eu acho que o não binário gera tanta confusão, porque a pessoa não consegue arrumar aquela pessoa numa caixa. E todos estes estereótipos e estas ideias que se vêm associar às mulheres ao longo do tempo, assim como a outras minorias, a outras
00:48:09
Speaker
classes diferentes, tem a ver com isso. É controlar, manter a pessoa dentro daquela caixa, nós temos que haver ali. Sabes que, por exemplo,
00:48:22
Speaker
o ano passado quando foi a história do casamento, não é? Eu sempre quis fazer tipo uma coisa que fosse para mim e para os meus, portanto não me preocupei propriamente tipo o que é que se diz, o estilo de roupa e coisas não sei o que é da pessoa, o estilo, aquilo que quis, não impus nada a ninguém, mas até mesmo para mim inicialmente ainda fui naquela do
00:48:40
Speaker
Deixa-lhe abrir, é um dia diferente, vou ver um vestido e tal, e não sei o que. E confesso, eu mandei vir um vestido para casa, veio da asa, escolhi, tipo, não sei do que vesti, e eu até talvez tive naquela, pronto, é um dia diferente, vou levar aquilo e não sei das quantas. E curiosamente, quem é que me tirou da ideia, tipo, isso, que não devia ter visto o vestido naquela altura, mas eu também não tinha mais ninguém para ver se aquilo estava bem ou se estava mal, portanto, foi o Bruno. E o Bruno olha para o vestido e diz-me assim,
00:49:06
Speaker
Tu faz assim, e eu diz sim. Sim, porquê? Não achas bem, não sei o que, eles assim. Não és tu. Pois. Não és tu, percebes? E aquela cena de te meter numa caixinha, é um bocadinho isso que é, tipo, deixando o ar por momentos, tipo, naquela cena do, epá, o casamento, vou-te vestir, vou-te branco, vou-te não sei o que, e depois tu pensas, mas porquê? Tenho que estar confortável, tenho que me sentir bem, e depois acabei por ir com calções e etc, tipo, que é aquele que é o meu estilo.
00:49:34
Speaker
Sim, porque é que tu tens aqui fantasiado, não é? Tipo, eu percebo. Se a pessoa quiser ir de vestido e não sei quê, tudo ótimo. Eu provavelmente quando me casar eu vou levar um vestido e está tudo ok. E nesse dia vou estar mais pipoquinha do que costumo estar normalmente.
00:49:50
Speaker
Mas também é ok, se eu disser não me identifico, tipo não faz sentido para mim, independentemente se isso é o espectável ou se não é o espectável. Eu acho que nós devíamos ter essa possibilidade, mesmo por exemplo, quando vamos escolher coisas para a escola, materiais para a escola.
00:50:08
Speaker
Mas por que é que as coisas têm que ser ou estupidamente feminino, ou as coisas do surf e do não sei que tipo? Percebes? Agora não sei como é que é, mas na minha altura havia muito essa coisa de aqui estão as coisas raparigas e aqui estão as coisas dos rapazes.

Desafiando Estereótipos e Promovendo Diversidade

00:50:24
Speaker
E depois é capaz de ser verdade aquilo que tu estás a dizer do síndrome do investor e outros complexos que se geram, que é quando tu não te identificas, quando tu não sentes que pertences.
00:50:36
Speaker
Começa-se a gerar uma série de complexos e de problemas emocionais que tu não sabes gerir e que tu não falas, porque como não vejo ninguém igual a ti, não é? Depois isso tu faz interiorização dessas coisas todas.
00:50:51
Speaker
E por isso é que é tão importante haver diversidade e representação de outras formas, outras profissões, outras formas de estar na vida, de se vestir, de interpretar as coisas. É super importante. Nós não somos capazes de ser...
00:51:07
Speaker
aquilo que não vemos, nem todos nós nascemos com super espírito pioneiro, efetivamente essas pessoas que foram uma pedrada no shark e que mudaram o mundo, mas a meia parte nós, nós precisamos de ver alguém para conseguirmos também tipo ir, olha eu acho que gostava de ir por ali, olha aquilo que faz-se, eu acho que gostava de fazer, olha aquela rapariga que eu acho super interessante não sei o que,
00:51:30
Speaker
usa um corte de cabelo não sei o que mais ou veste-se na parte masculina. Olha, isso pode-se fazer. Olha, tu também queres. Isso era uma cena fixe para mim. E eu acho que é importante haver esta representatividade. De caso lembras-te que no outro dia estávamos a falar sobre essa história dos cabelos e de ter o cabelo curto ou ter o cabelo cobrido, etc. E das coisas tipo que... Chegámos um bocadinho à conclusão na conversa que tinha a ver com isso que é. Houve alturas na minha vida em que eu pensei
00:51:57
Speaker
vou cortar assim mesmo curtinho e ver tipo o que é que é porque é mais fácil de gerir é mais fácil de coisa e etc tipo eventualmente até fica bem mas depois que tens aquele receio
00:52:07
Speaker
tão habituada a ver um tipo de cabelo comprido, ou de cabelo pelo menos que fica pelos ombros. Tipo, será que isto se ficar mais curto? Tipo, eu vou gostar de me ver, é que depois não é irreversível tão rapidamente. Não. Não, vou ali, tipo, colar um bocadinho de cabelo para voltar ao normal. E então, tem sempre esse receio. E eu acho que, por exemplo, o cabelo é uma coisa que está muito associada à imagem da mulher. Super. Conscientemente, eu acho que isso
00:52:34
Speaker
fiquem realizados também culturalmente, que é como é que eu quero a aparência da mulher, e isto é uma coisa que a mulher pensa também, que é o pensar tipo o que é que os outros vão pensar, o que é que os outros vão...
00:52:44
Speaker
vão entender de mim se eu tiver um estilo diferente, se eu tiver o cabelo diferente, etc. Sim, porque está definido um padrão, não é? Está definido um padrão onde nós encaixamos ou não. Apesar de haver cada vez mais diversidade, a verdade é que ainda existe esse padrão e o cabelo comprido.
00:53:04
Speaker
é uma das coisas. Eu por acaso sempre achei, sempre tive o cabelo comprido e a minha mãe sabe que a culpa é dela. Mãe, desculpa, vou dizer, é verdade. A minha mãe quando eu era miúda cortava-me sempre o cabelo, ela nunca me deixou ter o cabelo comprido. Era o meu desgosto, eu queria ter um cabelo de princesa e a minha mãe não me deixava ter o cabelo comprido. E então, quando comecei a mandar no meu cabelo, eu não queria cortar o cabelo nem por nada.
00:53:34
Speaker
não queria cortar. Mas a verdade é que eu comecei a perceber que as mulheres que eu mais admirava, que eram mais livres, que eram mais interessantes, muitas vezes eram mulheres que usavam o cabelo curto e que eu achava que eram bonitas e que eram interessantes e eu admirava-lhes a coragem, porque era do género, o cabelo não me define, tipo, eu uso aquilo que eu quiser, elas eram bonitas na mesma e não tinham um corte de cabelo
00:54:03
Speaker
convencional, mas é um... nós damos muito mais valor ao cabelo do que pensamos e nós damos por isso quando fazemos um corte muito mau e pá, parece que o mundo vai acabar.
00:54:18
Speaker
E a verdade é que eu recentemente, eu acho que foi depois de ter tido o Francisco, tive um bocado as sequências, o meu cabelo estava super comprido e eu pensei, não, eu vou, pá, estou farta, estou que se lixa, ele está assim, o cabelo do pós-parto é muito ranhoso, e no momento o meu, mais ainda, e eu, pá, não vou cortar, não quero saber, e senti uma libertação foi de género, pá.
00:54:42
Speaker
Fala saber, tipo, isto não me define, tenho mais como me preocupar. E acho que é uma boa quando tu chegas a esse patamar em que pensas, não, tenho outras cenas, isto agora não me preocupa assim tanto. Isso preocupa, está tudo ok, isso não diz nada acerca de ti, mas acho que é libertador tu não te sentir escastrada pelas normas que alguém que não tu
00:55:05
Speaker
impôs, porque a questão é essa, não foste tu que decidiste que ias usar a cor de rosa e que as mulheres tinham que... se tu quiseres ir arranjar as unhas todos os meses ou todas as semanas, good for you, mas tipo se tu quiseres depilar dos pés à cabeça, good for you, mas tipo que não tenhas que o fazer, porque alguém te impôs isso. Mas a questão é muito boa, e é fazendo aqui um ponto tipo final aqui no tema,

Reconhecimento da Capacidade Feminina e Apoio ao Empoderamento

00:55:33
Speaker
os nossos cérebros evoluíram, sejam de homem ou de mulher, os cérebros evoluíram e são conscientes das outras pessoas, conscientes das necessidades das outras pessoas, como é que nos relacionamos com outras pessoas e como é que elas relacionam conosco. No entanto, existe isto que não é tanto um cérebro de homem ou mulher, é um cérebro auto-limitador que faz silenciamente, que mexe com a nossa autoestima e que é uma ameaça através dos estereótipos.
00:56:00
Speaker
Por isso, esta questão toda das diferenças entre cérebros vem da autoestima e o nosso cérebro guia-se por toda a informação externa que vem de fora e diz-nos que aquele tema não é para nós, porque é a maneira que ele tem de nos proteger. Portanto, não é bem uma maneira como a mulher pensa. Basicamente, a mulher, normalmente, todos os seus pensamentos, o que é que ela pensa, o que é que ela decide, normalmente é em modo de auto sobrevivência e tentativa de preservar a sua autoestima.
00:56:29
Speaker
Espero que tenhamos respondido às vocês que estão relacionadas com esse tema, que não foi nada fácil. Não sei se foi muito caótico, mas de uma forma geral acho que fomos ao quê da questão, que não é a forma como nós, não é o cérebro que nós nascemos com, é a forma como nós fomos condicionados a pensar.
00:56:49
Speaker
e isso é mal para nós mulheres como também é para os homens porque os homens também são sensíveis e também são cuidadores e também querem chorar e também querem desabafar e dizer coisas, falar sobre as suas emoções e não podem fazer nada disso porque também lhes disseram que isso não é uma coisa que um homem
00:57:10
Speaker
que faça, um homem não chore. E, portanto, acho que quanto mais nós combatermos essa ideia de que coisas para as meninas e coisas para os homens, melhor, sinceramente. Acho que é um mundo muito mais interessante de se viver, para porque nós vamos estar ocupados com coisas muito mais interessantes, vamos estar mais, todos mais confortáveis e a respirar melhor.
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Speaker
o que puderem fazer para isso, façam com as vossas crianças, mas também não só. Eu às vezes dou por mim a pensar coisas que são estereótipos que me foram passados e que eu enraizei, são preconceitos. E todos nós temos muitos preconceitos por muitos desconstruídos que nós achemos que somos. Eu acho que mesmo as mulheres
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Speaker
é aquilo que se diz, muitos machistas, mas muitas mulheres machistas também e nós passamos isso na forma como comentamos as nossas mulheres e como comentamos as outras mulheres junto das nossas, portanto os comentários que nós fazemos sobre as outras mulheres também
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também informam as nossas mulheres, as mais pequenas e as mais velhas, como é que elas devem comportar e posicionar na sociedade. Portanto, acho que é um bocadinho, quando podemos, tentar fazer esse espaço, gerar esse espaço entre ação-reação e sermos mais conscientes disso. Na GENES, acho que é aproveitarmos a nossa neuroplasticidade para sermos um bocadinho melhores e, acima de tudo,
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para além de todas as crianças e sejam meninas ou adolescentes ou até mesmo rapazes. Ou rapazes, exatamente, era o que eu ia dizer. Basicamente é tornarmos o mundo um pouquinho melhor e que isto também bate um bocadinho com a questão da terapia, que é o melhor ato de amor próprio, mas acima de tudo também para com os outros.
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Speaker
E portanto, termino um bocadinho aqui isto que é. Hoje sei que é bom sentir tudo e processar as diversas situações, porque vivi. E gostava de deixar uma nota que as mulheres são capazes de pensar, de resolver problemas, de equilibrar a lógica e as emoções de uma forma fantástica. nos falta...
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uma das grandes palhas que o mundo ainda não resolveu, que é termos ambientes que nos reconheçam e valorizem por essas capacidades. Inevitavelmente, quando isso acontecer, nós também vamos ser capazes de fazer isso conosco próprios, porque muitas vezes é o que tu dizias, nós desenvolvemos esse síndrome de impostora precisamente porque esse ambiente é hostil, porque esse ambiente não é propício a isso.
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Speaker
Quando os outros começarem a olhar para nós dessa forma, nós também vamos começar a sentir-nos capazes e a sentir-nos cada vez menos impostoras, porque quando... e a Michelle Obama tem essa frase que eu adoro, que é, os miúdos sentem aquilo que nós esperamos deles e quando esperam muito nós, nós somos capazes de dar muito. Então, acho que é um bocadinho inverter a forma como as coisas são feitas.
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Speaker
E, acima de tudo, acho que também protege e ajuda-nos a conciliar e é que a nossa criança interior também tem orgulho em nós próprios, não é? Que também é muito importante daqui para a frente. Bom, espero que tenham gostado do tema. Este foi o Ela por Ela, onde a conversa é sempre entre amigas.
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Speaker
It goes through the night